O VOLT Live é um programa/podcast semanal sobre mobilidade elétrica feito em parceria com a Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE).
No VOLT Live 91 apresentamos as muitas apps disponíveis para os utilizadores das redes de carregamento disponíveis em Portugal, explicamos as diferenças entre elas (incluindo tipologia de custos) e comentamos a evolução destas aplicações
Nos polos positivo e negativo, comentamos um novo estudo sobre o nível de satisfação dos utilizadores de veículos elétricos, que revela que apenas 1% destes utilizadores consideram voltar a veículos com motores térmicos, e a confirmação do fecho da fábrica da Audi em Bruxelas.
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Em produto da semana analisamos os pontos fortes e fracos do Cupra Tavascan VZ
E em eDicas, explicamos o que é e para que serve o pré-condicionamento das baterias.
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Estamos muito habituados a ‘palavreado’ de marketing que pouco ou nada significa para a experiência de utilização. Ora, não é, de todo, o caso desta máquina de barbear da Philips. O sistema SkinIQ, uma tecnologia que deteta a pressão aplicada pelo utilizador, funciona mesmo. O resultado é um barbear uniforme, que evita irritações na pele. O que pode ser reforçado pela utilização da app, que ajuda a otimizar a técnica do barbear.
O pequeno ecrã frontal apresenta várias informações, com destaque para a percentagem da bateria. A anel de luz LED muda de cor para ajudar o utilizador a aplicar a pressão certa. Na traseira há um pente aparador.
Afinadíssima
A Philips continua a evoluir a ciência do barbear. Nesta Series 9000, as cabeças de lâminas rotativas estão ainda mais eficientes. São uma autêntica obra de engenharia de precisão, que permite, simultaneamente, fazer cortes rápidos, rentes à pele, sem que as lâminas tenham de tocar nela. O mecanismo e design destas lâminas rotativas resultam num processo que começa por levantar os pelos para facilitar o corte. E como estas três lâminas estão montadas em cabeças oscilantes, adaptam-se às curvas naturais do rosto. Também se nota o deslizar fácil, que resulta da nanotecnologia: a superfície de contacto das cabeças com a pele tem até 250000 microesferas por centímetro quadrado.
Desenvolver a técnica
Uma luz LED muda entre verde, laranja e vermelho de acordo com a pressão que fazemos ao barbear. Deste modo podemos corrigir a pressão aplicada para obter um barbear mais uniforme, confortável e que resulta em menos irritação na pele. Nota-se bem a diferença quanto tentamos manter o verde. Como esta máquina é à prova de água, podemos usar a máquina durante o duche. A Philips garante que as lâminas e mecanismos foram concebidos para não perderem desempenho, mesmo quando se usa espuma de barbear. De outro modo, com esta máquina a barba pode ser feita a seco ou a molhado.
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O pack completo: além da máquina, é fornecida a base de carregamento, um estojo de transporte e o sistema de limpeza automática
Manutenção
A máquina é acompanhada de um kit de limpeza e lubrificação, baseado num líquido criado para o efeito. Basta colocar a máquina virada para baixo na base, onde está o líquido, e pressionar o botão Power para que o processo seja realizado em um minuto. A máquina deteta que está acoplada ao sistema de limpeza e tudo acontece automaticamente. Esta solução é mais eficiente do que a limpeza usando água e permite prolongar o bom desempenho das lâminas. É fornecida uma dose de líquido (Clean Pod) e cada um destes cartuchos tem uma duração estimada para três meses. A Philips vede cada kit de 2 cartuchos por cerca de €16.
A app regista cada barbear, dá recomendações para melhorar o processo e a manutenção da máquina e dá acesso ao suporte
Tudo registado
A app GroomTrib regista cada barbear e dá algumas recomendações para melhores resultados. Também podemos fazer registos, como associar uma queixa de irritação na pele, de modo a personalizar o processo de barbear. Para irmos desenvolvendo a melhor técnica. Sinceramente, não sentimos grande vantagem em usar a app, já que o sistema de luz LED pareceu-nos já muito eficeinte. E experimentámos problemas de deteção da máquina pela app. Mas é uma mais-valia, que, acreditamos, pode trazer vantagens a médio prazo.
Autonomia para as férias
O kit inclui base de carregamento, o que é feito, dos 0 aos 100%, em cerca de uma hora. Mas será muito raro esperar tanto tempo, já que a autonomia também é de cerca de uma hora. Como, em média, são necessários apenas alguns minutos para fazer a barba, a bateria acaba por estar quase sempre próxima dos 100%. A grande vantagem desta autonomia é que é possível levar esta máquina em viagens de alguns dias e deixar o carregador em casa (também é fornecida um estojo de transporte). O pequeno ecrã OLED apresenta o nível de carga, o que significa que dificilmente o utilizador será surpreendido por falta de bateria quando estiver a usar a máquina.
Tome Nota Philips Shaver Series 9000 – €329,99 philips.pt
Construção Excelente Autonomia Muito bom Ergonomia Muito bom Velocidade corte Excelente
Características 165000 cortes por minuto, 72 lâminas (mecanismo Lift & Cut) ○ Autonomia: 60 minutos ○ Sistema de limpeza e lubrificação incluído ○ Bluetooth (para ligação a app) ○ Ecrã OLED (indicação da autonomia e funções) ○ Sensores SkinIQ ○ Tecnologia Power Adapt (deteção de densidade dos pelos faciais)
Em entrevista à VISÃO, a autora do livro “Fale para ser ouvido”, Carla Rocha, consultora de comunicação e locutora de rádio, explica o maior erro que se pode cometer quando se tenta passar um ponto de vista e deixa alguns conselhos às famílias para comunicarem de forma harmoniosa durante a época festiva.
Este livro reúne muito do que aprendi ao longo de vários anos de rádio e de investigação. Há já algum tempo que tinha esta ideia de organizar e sistematizar o que sabemos hoje sobre comunicação eficaz e que tenho tido oportunidade de pôr em prática em salas de formação, com líderes e as suas equipas, em diferentes funções e setores de atividade. O que sinto, muitas vezes, é que nos falta a tomada de consciência de como estamos a comunicar e o impacto que as nossas palavras têm nas pessoas à nossa volta, no seu bem-estar e na forma como se vão ligar (ou não) a nós. Com este livro acredito que posso dar a cada pessoa estratégias claras e práticas neste sentido, que podem aplicar quando estão à frente de uma grande audiência ou em cima de um palco, e também quando estão nas suas casas (nas conversas com os filhos, por exemplo).
Porquê este título?
Quantas vezes terminou uma conversa com um amigo, com a sua mãe ou os seus filhos, e sentiu que foi mal interpretado? Quantas vezes teve dificuldade em pôr em palavras o que sentia em relação a um projeto na sua empresa? Ou não conseguiu manifestar-se numa situação em que discordava de um colega? Somos seres sociais. Todos os dias interagimos com pessoas com perfis muito diferentes e quando olhamos em perspetiva, no final da semana, provavelmente vamos recordar um ou dois momentos em que não fomos ouvidos, ou em que não fomos sequer capazes de assumir a nossa voz. Isso cria mal-estar – em nós e, a longo prazo, nas nossas relações. Todos queremos sentir-nos escutados. Este título reflete esse desejo e esse direito que todos temos.
Como consultora de comunicação, qual considera ser o maior erro que cometemos ao tentar marcar o nosso ponto de vista?
Não estarmos de mente aberta. Estarmos mais concentrados em vincar o nosso ponto de vista do que em ouvir o ponto de vista do outro e tentar compreendê-lo. Às vezes estamos só à espera da nossa vez de falar, para atirarmos os nossos argumentos e defendermos a nossa posição. Para ganharmos a batalha. E neste processo ignoramos o que o outro nos está a transmitir. O livro chama-se “Fale para ser ouvido” e isto funciona num duplo sentido. Queremos ser ouvidos, mas os outros também querem. Quando nos dispomos a ouvir o outro, quando criamos um ambiente seguro para que o outro apresente os seus argumentos e nós os respeitamos (mesmo não estando de acordo), a conversa flui melhor, com menos tensão e menos conflitos. Às vezes até somos surpreendidos por uma perspetiva que não tínhamos considerado antes. É no equilíbrio de falar e ouvir que nasce verdadeiramente a comunicação (e o nosso crescimento pessoal).
Que tipos de comunicadores existem e como pode uma pessoa identificar qual é?
No livro divido os comunicadores em três grupos. Mas atenção que não são compartimentos estanques e já vou explicar. Temos os comunicadores agressivos, que impõem as suas ideias, ignorando as dos outros ou sobrepondo-se eles, interrompendo-os frequentemente; os comunicadores passivos, que têm dificuldade em expressar o que pensam e sentem, e que não se manifestam quando estão em desacordo para evitar conflitos; e temos os comunicadores assertivos, que defendem os seus direitos e permitem que os outros o façam também, expressando-se com base no respeito e compreensão. É importante perceber que nós não somos só um tipo de comunicador – o contexto, a audiência, o momento, tudo pode ter influência na forma como comunicamos. Mesmo a pessoa mais permissiva pode ser assertiva em situações que mexem com os seus valores mais profundos. Mas há efetivamente um estilo que sobressai, que é aquele que adotamos mais vezes e durante mais tempo nas nossas interações. Pense como age e reage mais frequentemente. Mais permissivo ou mais agressivo? Ou mais assertivo? Tendo essa consciência, a minha sugestão é que procure mais vezes a assertividade no seu dia a dia, porque lhe vai trazer um maior equilíbrio pessoal e nas suas relações. Permita-se mais vezes dar a sua opinião. Pode começar por contextos e temas menos sensíveis. Experimente dizer que não a um pedido, oferecendo de seguida uma solução. Se não lhe parece uma tarefa fácil, confirmo já que não é. Exige esforço e persistência. Aproveite cada conversa para praticar.
Que conselhos pode deixar para quem tem dificuldade em expressar-se nesta quadra festiva?
Quem tem mais dificuldade em expressar-se, em dizer o que pensa ou estabelecer limites, nesta altura consegue certamente antecipar alguns cenários que podem tornar-se desconfortáveis. O meu conselho é: prepare-se para eles. Pense como pode responder a cada situação. Se prevê, por exemplo, que podem desafiá-lo para uma atividade em que não quer participar, ensaie uma forma educada de agradecer o convite e dizer que desta vez vai passar. Se vai estar com alguém que lhe pode fazer perguntas a que não quer responder, encontre uma forma sua de dizer que não é o momento adequado e introduza outro tema. Se não quer repetir a dose de bacalhau, mas a sua tia insiste e parece que leva a mal se não comer mais, faça um elogio. Diga-lhe como estava bom, reconheça como ela se deve ter esforçado e, quem sabe, poderá comer mais tarde. Faça tudo isto usando frases curtas, sem demasiadas justificações, com um sorriso no rosto e mantenha o contacto visual, para transmitir confiança e respeito. Seja sempre gentil – é fundamental para passar de um registo mais passivo para um mais assertivo.
Seja num ambiente formal ou informal, atualmente, todos nós estamos em constante interação com os outros. Mas será a nossa comunicação eficaz? Que tipo de comunicador é? A sua mensagem passou realmente para o outro? No livro “Fale para ser ouvido” a autora Carla Rocha (aqui em entrevista, onde oferece alguns conselhos para melhorar as conversas nesta época de festas) reúne as melhores estratégias e técnicas para ajudar o leitor a partilhar, com maior eficácia, as suas ideias e a defender os seus pontos de vista. Aqui publicamos uma parte de um capítulo.
Pensar antes de falar: a solução para muitos males
Se pudéssemos imobilizar as nossas palavras no momento imediatamente antes de saírem da nossa boca e nos detivéssemos a analisá-las, uma a uma, com cuidado e atenção, quantos seriam os momentos em que iríamos querer apagá-las ou editá-las? Tenho esta ideia de que as nossas relações (pessoais e profissionais) seriam mais gratificantes se nos déssemos ao luxo de pensar antes de falar. Este é um comportamento que só depende de cada um de nós. Requer autocontrolo e persistência, é verdade. Pode tornar-se mais fácil à medida que vamos ganhando maturidade e para algumas pessoas parece ser mais simples do que para outras. Ainda assim, deveria ser ensinado nas escolas desde tenra idade e deveria ser uma preocupação constante para todos.
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Tenho a certeza de que muitos mal-entendidos e conflitos poderiam ser evitados se estivéssemos dispostos a este pequeno esforço.
Sempre que tiver um conflito com alguém, há um fator que pode fazer a diferença entre prejudicar o relacionamento e aprofundá-lo. Esse fator é a atitude
William James
Na caixa do supermercado
Gosto de observar a forma como as pessoas interagem em contexto de conflito. A fila de um supermercado é um local propício ao desagrado coletivo, se o tempo de espera se estende ou se alguém tenta passar à frente, se a empregada se ausenta da caixa para resolver alguma questão. Tudo isto é suficiente para exaltar os nimos. Uma vez, numa fila de um supermercado em pleno verão, no Alentejo, sou eu que provoco uma pequena revolta. Um saco de mexilhões que me preparava para pagar na caixa estava sem código e a empregada teve de sair para resolver a questão. Nos primeiros minutos ninguém disse nada, continuámos todos à espera, mas, à medida que o tempo foi passando, foi aumentando a inquietação, os olhares, os suspiros de desespero e as frases de indignação.
Quando a empregada volta, passados mais de cinco minutos, tem à sua espera um grupo de pessoas exaltadas, prontas para deitar cá para fora tudo o que lhes vinha à cabeça naquele momento. «Não se admite», «Devia ter vergonha», «Sair assim da caixa e deixar todos à espera, só neste país», «Não podia ter chamado um colega? Que falta de profissionalismo» e outras considerações que a rapariga ouvia, de cabeça baixa, enquanto se concentrava na longa lista de dígitos que tinha de introduzir no computador e que, desejavelmente, iriam desbloquear a situação. Tentou uma vez. Duas vezes. E nada. O código continuava sem passar e o desagrado subia de tom. Tentei abordar algumas pessoas, numa tentativa de as apaziguar e fazer ver que a empregada da caixa estava a tentar resolver a situação com os meios que tinha. Nada parecia resultar. Foi então que propus que atendesse toda a gente na fila e só depois voltasse a mim.
Quando ficámos sozinhas, perguntei-lhe: «Como consegue manter a calma neste tipo de situações? Qual é o segredo?» A resposta foi simples: «É a prática. Nem imagina o que ouvimos o dia todo. Se não tivesse um filtro, já não estava aqui.»
Analisando este episódio na viagem até casa, percebi que houve claramente razões que levaram esta funcionária a ausentar-se da caixa: era verão, grande parte do pessoal estava de férias, não tinha quem pudesse chamar. Tentou ser rápida quando foi ter com o colega da peixaria, mas o problema não se resolveu nas várias tentativas que fez. Fez o melhor que conseguiu, teve as suas razões para se ausentar, mas ninguém à espera na fila quis saber. Ninguém perguntou. Apenas se limitaram a julgar e a ofender, tão centrados que estavam em si e no tempo que estavam a perder.
Somos surpreendidos a toda a hora com situações deste género, em que a falta de cuidado com o outro, a intolerância e o tom acusatório imperam.
Não damos o benefício da dúvida. Não nos questionamos sobre que razões terá alguém para agir assim. Apenas supomos e fazemos das nossas suposições a verdade absoluta. Temos mesmo de nos comportar desta forma?
A descoberta, no início deste mês (dia 3), de mais um laboratório industrial para produzir cocaína em Portugal está a fazer soar os alarmes junto das autoridades que combatem o tráfico internacional de droga em território nacional. Apesar da satisfação por (mais) uma operação “bem-sucedida” – desta vez batizada de Pacoba (o fruto da bananeira) –, os elementos da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes (UNCTE) da Polícia Judiciária estão conscientes que a multiplicação destas estruturas pelo País representa “o acentuar de uma mudança de estratégia” e de “uma melhoria dos métodos” utilizados pelas organizações criminosas para conseguirem importar a droga, proveniente da América do Sul, para a Europa, explica, à VISÃO, fonte da PJ. “É algo que pode vir a dificultar muito o nosso trabalho”, admite a mesma fonte.
Para se compreender o problema, é preciso viajar às raízes do negócio, nas zonas rurais da Colômbia, Bolívia e Peru, onde a folha de coca brota em quantidades enormes. Antes, os produtores de cocaína apostavam em montar, nestes países, os seus laboratórios clandestinos, nos quais, com recurso a químicos fortes, conseguem extrair, daquela planta, o máximo de pasta de coca (também chamada de pasta base), matéria em estado líquido, que, depois, vai ser transformada em cloridrato de cocaína, a versão em pó (popularmente conhecida), pronta a ser introduzida nos mercados consumidores.
Clandestino O grupo de sete homens montou laboratório num armazém em Campelos (Torres Vedras). Pelo menos uma tonelada de cocaína terá sido ali produzida
Agora, à Europa, chega (também) a pasta de coca; e o processo de transformação para pó faz-se em laboratórios montados deste lado do Atlântico. Porquê? A alteração no “modelo de negócio” dos cartéis não acontece por acaso. “Continua a chegar, em grandes quantidades, cocaína em pó, naturalmente. O que as organizações criminosas perceberam é que a pasta de coca não é detetável. Os cães não a conseguem farejar e os testes de campo (testes rápidos), utilizados pelas autoridades, nos portos [marítimos] e aeroportos, não são capazes de identificar a presença daquele estupefaciente”, confessa a fonte da PJ.
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Assim, os narcotraficantes aumentam as possibilidades de “fintar” as autoridades portuguesas e europeias (focadas no cloridrato de cocaína), reduzindo os riscos de possíveis apreensões, minimizando, ao mesmo tempo, eventuais prejuízos por cargas perdidas, e beneficiando, ainda, do aumento da qualidade do produto produzido, graças a um mais fácil acesso aos “ingredientes” (químicos produzidos na China e na própria Europa), e também à qualidade das “cozinhas”, laboratórios mais sofisticados, e melhor localizados.
A exceção que se tornou regra
Corria o ano de 2012, quando uma megaoperação policial – designada de Nações Unidas pela Polícia Federal brasileira (que contou com a participação da norte-americana DEA [Drug Enforcement Administration] e das polícias de Portugal, Espanha, Colômbia e Uruguai) – permitiu apreender uma significativa quantidade de pasta de coca, que era transportada dentro de sacos de gelo, que serviam para manter frescos os carregamentos de peixe vindos da América Latina, que tinham a Galiza (Espanha) como destino final; o líquido, porém, não era água, mas o tal extrato da folha de coca. Aparentemente, o plano era infalível, mas a investigação conseguiu desvendar o esquema, o que levou à detenção, no Brasil, do barão da droga colombiano Alexander Pareja Garcia, fugitivo desde 2005.
Passou mais de uma década, e o “método” de Pareja Garcia parece ter chegado para ficar. É preciso know-how, evidentemente, mas mesmo pequenos grupos parecem mostrar capacidade de seguir esta receita. “Não é uma novidade, mas é, cada vez mais, uma aposta forte daqueles que se dedicam ao tráfico internacional de droga”, confirma, à VISÃO, Sylvie Figueiredo, investigadora em crime organizado e terrorismo.
A especialista considera que esta “é uma resposta” das organizações que atuam neste submundo, pois considera que o combate ao narcotráfico internacional em Portugal e no espaço europeu “está hoje mais robusto, mais afinado”. “Na prática, esta é a forma que os narcotraficantes encontraram para contornar as dificuldades com que se deparam, pelo facto de as autoridades nacionais e europeias terem consolidado a legislação, os planos de combate, a cooperação internacional, e ainda terem adotado um conjunto de medidas, em colaboração com os Estados Unidos da América, mas também com outros países da América Latina, para combater mais eficazmente o gigantesco tráfico de cocaína para a Europa”, afirma Sylvie Figueiredo.
“É algo que pode vir a dificultar o nosso trabalho”, admite fonte da PJ. Se a cocaína não chega a Portugal “cozinhada”, os cães não farejam e os testes não detetam
A quantidade de laboratórios de cocaína detetados já denunciava este retrato. Nos últimos anos, dezenas destas estruturas foram desmanteladas em países como Espanha, Países Baixos, Bélgica ou Alemanha, territórios tradicionalmente apontados como “portas de entrada” da cocaína na Europa. Portugal entra agora no lote.
Ainda em setembro deste ano, uma operação conjunta da Polícia Nacional espanhola, Polícia Judiciária e Polícia Nacional colombiana tinha permitido descobrir aquele que, ainda hoje, é considerado o maior laboratório clandestino de produção de cocaína alguma vez encontrado na Europa. A “fábrica” de droga, operava 24 horas por dia, funcionava na região de Pontevedra, na Galiza, a apenas uma hora da fronteira portuguesa.
A Operação Mourente permitiu desmantelar o grupo criminoso, e prender 18 pessoas (que continuam detidas), que conseguia produzir 200 quilos de cocaína diariamente. De acordo com a investigação, a principal matéria-prima para a produção do pó tinha chegado à Europa através do porto marítimo de Leixões, em Matosinhos – foram apreendidos 1300 quilos de pasta de coca.
Em novembro de 2023, a PJ também já tinha desmantelado um laboratório do género em Portugal, que operava na freguesia de Gondomar, no município de Guimarães. O laboratório, descrito, pela Polícia Judiciária, como tendo “dimensões consideráveis”, funcionava numa “vivenda”, situada num local “rural e isolado”. Na operação, foram detidos quatro indivíduos estrangeiros – que permanecem em preventiva –, e foram ainda apreendidas pasta de coca e cocaína “suficientes para cerca de 250 mil doses individuais”. A operação permitiu ainda encontrar “armas de fogo e munições, uma viatura e mais de €17 mil e moeda estrangeira”, comunicou a PJ.
Portugal alerta?
O laboratório detetado em Torres Vedras funcionava numa quinta abandonada, afastada das povoações vizinhas, na freguesia de Campelos. O espaço será propriedade de “amigos” do alegado líder do grupo, Ercílio Ribeiro (ver caixa), que aparentemente não sabiam o que lá se passava. Há uns anos, o espaço tinha sido alvo de buscas policiais, mas as autoridades, na altura, encontraram haxixe, e esqueceram o assunto. Desta vez, o caso foi mais grave: sete pessoas foram detidas, quatro portugueses, e três estrangeiros (dois colombianos e um marroquino), que a investigação acredita estarem ligados ao transporte e produção do produto encontrado; os estrangeiros, trabalhadores, foram detidos enquanto dormiam, no interior do laboratório.
A presença dos cidadãos colombianos, alegadamente responsáveis por “cozinhar” a cocaína, “comprova que as organizações criminosas estão a colocar os seus homens na Europa”, alerta Sylvie Figueiredo. A especialista em segurança, intelligence e investigação criminal insiste que este facto “pode mudar a Europa”, pois, agora, “temos elementos destes grupos com um pé deste lado [do Atlântico], capazes de encetar contactos, e de se fixarem nos países consumidores”.
Foto: PeopleImages/Dreamstime
A VISÃO apurou, junto de fonte da investigação, que a pasta de coca encontrada no armazém de Campelos “estava misturada com café”. As autoridades acreditam que, daquele laboratório, equipado com prensas, cubas e sistemas de refrigeração, terá saído, pelo menos, uma tonelada de cocaína, que serviu o mercado interno, mas que também entrou no circuito internacional.
Em conferência de imprensa, Artur Vaz, diretor da UNCTE/PJ, descreveu a estrutura como o “maior laboratório encontrado até hoje em Portugal” e “um dos mais importantes da Europa”. A operação envolveu várias autoridades estrangeiras, como a Polícia Nacional de Espanha e a Polícia Nacional da Colômbia, e ainda a DEA e a Homeland Security dos Estados Unidos da América – a PJ apreendeu 460 quilos de cocaína processada e outros 32,5 quilos em processo de transformação.
A investigação aponta para ligações a cartéis internacionais, com ligações ao submundo do crime organizado do Brasil e da Colômbia.
Nos gabinetes da Gomes Freire (sede da PJ), chega-se à conclusão de que há uma nova montanha para escalar (e alta). “A Europa é o segundo mercado de cocaína mais rentável do mundo (apenas atrás da Austrália). O problema é que o mecanismo de combate ao narcotráfico continua todo montado a pensar no cloridrato de cocaína [pó]”, sublinha Sylvie Figueiredo. “Existe, neste momento, uma grande lacuna na deteção de pasta de coca [líquido]. Os mecanismos que funcionam para detetar o pó não servem para detetar o líquido”, resume a especialista.
Ercílio, camiões e cocaína
O empresário “importante” e “pacato” da Lourinhã é apontado pela PJ como o “dono” do laboratório. Ercílio esteve preso dois anos em França e viajou dezenas de vezes ao Brasil, desde 2017
A habitual pacatez de Reguengo Grande (Lourinhã) viu-se abalada, nos últimos dias, com a notícia da detenção de um dos mais ilustres filhos da terra: Ercílio Ribeiro, 56 anos, apontado como o “dono” do laboratório que servia para produzir cocaína, que a Polícia Judiciária desmantelou, no passado dia 3, numa quinta abandonada em Campelos (Torres Vedras). Localmente, Ercílio reúne apenas opiniões positivas, conhecido por ser um empresário “importante”, membro de uma família “trabalhadora e pacata”, que, desde 2017, construiu “um império dos camiões”, à frente de uma empresa de transporte de mercadorias, que devora alcatrão em Portugal e no estrangeiro. Aparentemente, os vizinhos desconheciam o que será uma vida dupla, ligada ao universo do narcotráfico. Até aqui, Ercílio não tinha tido problemas com a Justiça portuguesa, embora constasse dos radares das autoridades europeias desde 2021, quando um dos seus camiões foi intercetado em França, carregado com €500 mil em dinheiro vivo. O português não soube explicar a origem do dinheiro; e o silêncio valeu-lhe dois anos numa cadeia francesa, por branqueamento. A versão da família colocava-o “a tratar dos negócios” no estrangeiro; Ercílio tinha alargado a sua atividade, abrindo empresa no Brasil. Nos últimos sete anos, o suspeito fez dezenas de viagens para a América do Sul, a última no mês de setembro, quando passou quatro dias em São Paulo. Na terra, “ninguém estranhou” a longa ausência. Solto em 2023, Ercílio regressou a Portugal. O passado trouxe-o, porém, na bagagem (ainda sem saber). As autoridades francesas ativaram uma Decisão Europeia de Investigação (DEI) em seu nome, insistindo numa investigação ao homem, que passou a estar “controlado” pela PJ. A principal suspeita passava por “ligações ao narcotráfico”, naturalmente. Os crimes foram “rapidamente confirmados”, apurou a VISÃO. A investigação aponta para relações com organizações criminosas internacionais, como o Clã do Golfo (da Colômbia) e o PCC (do Brasil). Ercílio acompanha o inquérito em prisão preventiva.
As grandes histórias de amor medem-se pela dimensão dos obstáculos. No caso de Romeu e Julieta, o clássico de Shakespeare, o obstáculo era o ódio visceral entre duas famílias. Em O Meu Bolo Favorito, da dupla iraniana Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha, o obstáculo é um país inteiro. No Irão, o amor pode ser confundido com um inimigo de Estado, segundo os preceitos mais zelosos das brigadas morais e daqueles que as suportam.
O Meu Bolo Favorito começa por ser um filme de mulheres.Da condição feminina daquelas que ainda viveram antes da revolução islâmica e que mantêm viva a memória de um tempo de liberdade de costumes. Passados 50 anos, o conflito não só se mantém aberto como é resgatado pela geração mais nova. O Irão vive uma dicotomia constante entre a esfera pública e a esfera privada. O Estado não quer apenas controlar a oposição política, mas sente-se no dever de zelar e controlar a moral e os bons costumes. Esse peso social condena Mahin à solidão.
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Na segunda parte, o filme transforma-se numa inesperada e improvável história de amor, enriquecida com todos os pormenores de delicadeza. Mahin, numa idade em que já tem pouco a perder, revela-se uma personagem forte e determinada. Vive com Faramarz uma espécie de Antes de Amanhecer (Richard Linklater, 1995) aplicada à realidade dos idosos iranianos deste início de século. É devastadoramente belo e cruel.
Os realizadores dão-nos acesso ao mundo interior das personagens, aos seus recalcados desejos, ao mesmo tempo que mostram efetivamente a possível vida interior dos espaços, das casas. Os gestos, os espaços, os tempos, os detalhes. Tudo é terno, delicado, recitável, emoldurável. O filme faz coincidir uma bela história de amor com a oposição ao regime. Se as ditaduras são formas de ódio, o amor incomoda-as e é uma forma de as combater.
Estreado em Berlim, O Meu Bolo Favorito é o quarto filme que a atriz Maryam Moghaddam realiza em conjunto com o seu marido, Behtash Sanaeeha. O filme anterior, O Perdão, é uma obra maior do cinema iraniano recente.
O Meu Bolo Favorito > De Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha, com Lily Farhadpour, Esmail Mehrabi > 97 min
O PCP reúne-se em Almada nos próximos dias, no seu 22.º Congresso, para analisar os desafios internos do partido e a situação política nacional e internacional e enquadrar as próximas eleições. Paulo Raimundo mantém-se enquanto secretário-geral do partido, mas o Comité Central vai sofrer alterações e integrar mais mulheres e membros mais jovens.
Na sessão de abertura, que decorreu esta manhã, Raimundo criticou a ação do partido socialista por “cumplicidades” com o Governo de Luís Montenegro e sublinhou a história da luta comunista contra as “injustiças e desigualdades”. “Aqui olhamos para a vida e para a evolução da situação a partir dos interesses de classes dos trabalhadores e do povo, dos explorados e oprimidos. Aqui não assimilamos, pelo contrário: damos combate aos interesses e à ideologia e objetivos do capital”, defendeu.
O líder comunista referiu ainda que está atualmente em curso uma “ofensiva anticomunista” e uma “campanha de desinformação à escala global”. “A alternativa patriótica e de esquerda é a grande batalha para a qual estamos todos convocados. Demore o tempo de demorar, daqui convictamente reafirmamos: O PCP vai empenhar todas as suas forças para romper com a política de direita e concretizar os direitos e as condições de vida que têm sido negados aos trabalhadores e ao povo”, defendeu.
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O congresso decorre no complexo dos desportos de Almada até ao próximo domingo.
O 24º Congresso Nacional da JS arranca hoje. É o primeiro disputado em 18 anos, um facto que surpreende um total de zero dirigentes da Juventude Socialista. Às vezes a política tem destas coisas inorgânicas e previsíveis, as fações, os grupos, as influências, os pares de óculos que nos levam a ver a realidade com um filtro diferente.
Diz-se que a Sofia Pereira é a candidata da continuidade e Bruno Gonçalves a mudança. Engraçado, há 4 anos a Sofia Pereira era a mudança e Bruno Gonçalves a continuidade. Mas importa perceber, continuidade de quê e mudança para quê?
Há quatro anos, a Maria Begonha era a Secretária-Geral da JS. A ela agradeço-lhe profundamente o ter investido em mim e me lançado como dirigente. Mas tenho de reconhecer, foi um mandato que não correu bem por um conjunto de fatores. Sobretudo, a pressão externa e interna de que a Maria foi alvo depois de um conjunto de notícias que a punham em causa. Nessa altura, surgiram partidos como o Chega e a Iniciativa Liberal, a principiar um conjunto de narrativas e formas de estar na política bastante arrojadas e a JS ainda estava muito presa na bolha do formalismo. E, no geral, foi um mandato pouco dinâmico, fechado na cúpula dos dirigentes e distante dos militantes. Tenho pena que tenha acontecido o que aconteceu à Maria, que a impediu de mostrar o seu real valor.
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Nisto, surge o Miguel Costa Matos. O mais jovem deputado de sempre e ex-adjunto do Primeiro-Ministro, com apenas 23 anos, fez uma entrada em grande e mostrou ao que vinha. Na campanha, e mesmo nos primeiros meses de mandato, com a pandemia a surgir, a JS renasceu. De repente havia dinâmica, iniciativa, contactos regulares, posições políticas fortes no Parlamento, na imprensa e nas redes sociais e, sobretudo, liderança.
Ao longo destes 4 anos, acompanhei o trabalho no Secretariado Nacional. Vi o Miguel percorrer o país inteiro e muitas vezes fui com ele. Conhece as pessoas pelo nome, sabe que trabalho têm, que curso estudam, o que se passa na vida delas, sabe tudo o que as pessoas lhe dão a conhecer de si e tem uma preocupação genuína com todos. Tem uma capacidade de se interessar e de ouvir sobre humana, e uma disponibilidade imensa para ajudar. Tem um coração verdadeiramente bom e isso é especial na política. E além disso, é técnica e politicamente brilhante, sempre muito avançado para a sua idade. Demonstra uma enorme capacidade de adaptação e de aprender com o tempo e com as pessoas. Sabe ser o que os tempos e os desafios exigem de si e isso é, também, uma caraterística muito rara e fundamental num mundo em rápida transformação.
O seu mandato foi histórico em muitos sentidos e, na história da JS, talvez só comparável a Sérgio Sousa Pinto e a Pedro Nuno Santos. E ainda assim, aparentemente não conseguiu unir toda a estrutura. Porquê? Na minha opinião, é difícil fazer bem o que quer que seja, sem criar algum tipo de fraturas. E as mudanças positivas deixam sempre para trás quem beneficiava do status quo. Essa é uma realidade infeliz dos partidos.
Pedro Nuno Santos foi o último grande Secretário-Geral da JS. E no PS, tal como no PSD há de acontecer com a JSD, o presente e o futuro são, e serão cada vez mais, ditados pelas tendências da JS. Todos os secretários gerais mais recentes da JS são pedronunistas. Os projetos políticos são geracionais e a JS é a chave para isso.
Ora, o Miguel Costa Matos não era o herdeiro preferido da linha do João Torres na JS e é aí que está a raiz desta disputa. Essa quebra aconteceu de forma natural, porque a JS do João Torres se fechou em si mesma. Era uma JS protocolar e formal, pouco inovadora e pouco dinâmica. A diferença que já enunciei, entre o mandato da Maria Begonha e os mandatos do Miguel Costa Matos, é bem ilustrativa.
Curiosamente, o líder que nos últimos 4 anos trouxe uma nova forma de fazer política à JS, é agora criticado por um candidato que diz vir trazer uma nova forma de fazer política. Mas o Bruno Gonçalves é a continuidade da JS aparelhística, tem-no sido no Secretariado Nacional e não há nenhum marketing político que mude isso. A proposta de renovação do Bruno Gonçalves é vaga e assente mais num ajuste de contas que numa mudança de práticas concreta. Já a Sofia Pereira é verdadeiramente herdeira do dinamismo, da inovação e do humanismo que caraterizaram estes últimos 4 anos, porque ela própria tem liderado assim no Secretariado Nacional e na Federação a que preside.
Assim, a Sofia Pereira é a continuidade da mudança, de quem quer mudar a política fechada e distante, trazer visão de futuro e coragem para defender transformações reais ao mundo. E o Bruno Gonçalves é a mudança para a continuidade de um status quo político tradicional, que tem levado à crise da maioria dos partidos dos arcos de governação, pela inação com que abordam os problemas que se agravam no mundo inteiro.
E sobretudo, a Sofia Pereira é a candidata de um projeto orgânico que entende a necessidade da política mudar. O Bruno Gonçalves é o candidato a quem uma agência de comunicação, paga a peso de ouro, disse que tem de falar de mudança, enquanto tem por detrás um conjunto de barões que só querem controlar a estrutura para alcançar o poder.
A morada de Anthony Esteban Weijl era o mar – a vida, desde a primeira hora, nunca lhe impôs âncoras. Filho de mãe belga e pai holandês, Anthony nasceu em Barcelona, Espanha, em abril de 1970. A infância foi vivida com a mãe – os seus pais separaram-se tinha ele apenas um ano –, mas, dos tempos de criança, guarda as melhores recordações dos momentos em que o pai o levava, pela mão, a passear no barco da família. Nas águas do Mediterrâneo, moldou um “temperamento calmo”, como descrevem as autoridades.
Apaixonado pelo “grande azul”, Anthony estudou na Marinha Mercante, apesar de não ter completado os estudos a nível superior. Em Barcelona, com o olhar perdido no horizonte, aprendeu o suficiente para se dedicar à construção e reparação de barcos, atividade a que passou a dedicar-se a tempo inteiro. Nos intervalos, por lazer, não perdia a oportunidade de participar em provas náuticas, enfrentando as ondas.
Lançou-se ao trabalho aos 23 anos. Primeiro, como marinheiro em embarcações de luxo, ao longo de quatro anos. A seguir, fez-se sócio de uma empresa de aluguer de barcos, que manteve em funcionamento por uma dúzia de anos. Aos 40, Anthony criou uma nova sociedade, abrindo uma casa dedicada à construção e manutenção de barcos. O negócio funcionou durante 10 anos, até que decidiu vender a empresa, corria o ano de 2020.
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Com dinheiro na mão, Anthony quis mudar de vida – radicalmente. Comprou o seu próprio veleiro, que batizou de Mobasi, uma embarcação de recreio com cerca de 16 metros de comprimento. O sonho passava por “viajar por vários locais do mundo”. Em 2021, com 51 anos, Anthony estava casado com uma cidadã brasileira (desde 2015) e tinha uma filha única (hoje com 26 anos), fruto de um relacionamento anterior. As residências fixas eram em Tarragona (100 quilómetros a sul de Barcelona) e no Brasil. Era hora de se lançar à aventura. Nessa altura, ninguém poderia imaginar a borrasca que se aproximava.
Vigiado pelas autoridades
Durante os dois anos seguintes, Anthony não teve morada certa e residia no seu veleiro. Nesse período, viajou sozinho, deixando para trás o Mar Mediterrâneo, atravessando o Oceano Atlântico, em direção a sul, rumo ao Pacífico; passou pelas regiões da Argentina e do Chile. Para subsistir fazia “alguns trabalhos de reparação de barcos em regatas”, que ocorriam nos locais em que aportava. No início de 2023, permaneceu “dois a três meses no Brasil”, onde se dedicou “à reparação de um veleiro que participava numa regata”. O salário, por estas tarefas, era incerto e variável, mas Anthony garantia ganhar uma média entre os €2 500 e os €5 000/mês.
O Mobasi, de Anthony Esteban Weijl, transportava uma tonelada de cocaína
A vida aparentemente pacata de Anthony, viria a revelar-se uma fachada. No dia 29 de maio de 2023, o veleiro Mobasi partiu do Suriname. A bordo, Anthony seguia sozinho, como habitualmente – desconhecia, porém, que as autoridades já vigiavam de perto todos os seus movimentos.
No âmbito de informações da norte-americana DEA [Drugs Enforcement Administration] e dos franceses da DNRED [Direction Nationale du Renseignement et des Enquêtes Douanières], também com o apoio do MAOC-N [Maritime Analisys and Operations Centre – Narcotics], a Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes (UNCTE) da PJ foi alertada.
Anthony cumpria nova travessia Atlântica, e o destino final seria Portugal. As autoridades acreditavam que o Mobasi (com pavilhão da Polónia) viajava carregado com “uma grande quantidade de cocaína”. O holandês aventureiro estaria ligado ao narcotráfico?
€34 milhõesem cocaína
Eram 03h05 da madrugada do dia 31 de maio de 2023. Anthony navegava em mar alto, ao largo da costa portuguesa. A UNCTE/PJ desencadeou, então, a designada “Operação Mónaco”, que contou com o apoio da Marinha. Uma unidade de homens daquele ramo das Forças Armadas abordaram, a essa hora, o veleiro suspeito, tomando rapidamente o seu controlo. A embarcação seria escoltada até à base naval do Alfeite, em Lisboa.
Horas depois, já com o sol a pino, inspetores da PJ haveriam de encontrar, dissimulada no interior do veleiro, uma tonelada de cocaína (cloridrato de cocaína), no valor de quase €34 milhões. As autoridades apreenderam ainda quantias em dinheiro e criptomoedas que terão servido para pagar a Anthony o transporte daquela mercadoria. O holandês ficou preso, naturalmente.
Anthony foi levado, de imediato, para a prisão anexa à sede da PJ, na Rua Gomes Freire, em Lisboa. Desde fevereiro deste ano, o holandês vive no Estabelecimento Prisional de Caxias, trabalhando no bar daquela cadeia. As autoridade garantem que o recluso tem adotado “uma postura adequada” atrás das grades.
Anthony Esteban Weijl, hoje com 54 anos, ficou agora a saber que vai permacer naquela morada por mais algum tempo. O holandês foi condenado, pelo Tribunal Central Criminal de Lisboa, a uma pena única de nove anos e seis meses de prisão efetiva, pelos crimes de tráfico de estupefacientes agravado e associação criminosa. Após cumprir a sentença, Anthony vai ficar proíbido de entrar Portugal, por outros sete anos.
Há vários anos que a comunidade científica tem vindo a investigar formas de fazer com que os medicamentos cheguem diretamente às zonas do corpo onde precisam de atuar. Para tal é necessário encontrar partículas que sejam capazes de se ligar aos ingredientes ativos dos medicamentos. No entanto, este tipo de partículas tem de preencher um conjunto de requisitos específicos – o que se tem afirmado como um desafio para os investigadores.
Agora, uma equipa de investigadores, liderada por cientistas do ETH Zurique, acredita ter encontrado uma resposta para o problema com uma abordagem que recorre a micropartículas com um aspecto que se assemelha a pequenas flores de papel.
Dong Wook Kim / Max Planck Institute for Intelligent Systems
Os cientistas explicam que as partículas em questão necessitam, por exemplo, de absorver o maior número de moléculas possível da substância ativa dos medicamentos. Além disso, tem de ser possível guiá-las pela corrente sanguínea através de técnicas simples e que essa ‘viagem’ possa ser acompanhada através de métodos de imagiologia não invasivos.
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As partículas desenvolvidas pelos investigadores são compostas por pétalas extremamente finas. Estas micropartículas podem ser criadas a partir de uma variedade de materiais, com diversos tipos de revestimento consoante o seu propósito.
A equipa, que publicou as conclusões do seu estudo na revista científica Advanced Materials, explica que esta estrutura traz duas grandes vantagens. Em primeiro lugar, as partículas têm uma grande área de superfície em comparação com a sua dimensão. Os espaços entre as pétalas, que têm apenas alguns nanometros, são capazes de agir como poros. Isso significa que conseguem absorver grandes quantidades das substâncias ativas dos medicamentos.
Em segundo, a estrutura das pétalas permite a dispersão de ondas sonoras, podendo ser também coberta de moléculas que absorvem luz, algo que as torna visíveis durante ultrassonografias, por exemplo.
As primeiras experiências realizadas demonstraram resultados promissores. Os cientistas pretendem agora refinar o conceito desenvolvido, avançando com mais testes em animais. No futuro, a equipa espera que a descoberta possa ajudar a tratar pacientes com doenças cardiovasculares ou com cancro.