O carro desenvolvido pela Sony e pela Honda vai estar disponível nos Estados Unidos em duas versões, o Afeela 1 Origin e o Afeela 1 Signature, com preços desde 89900 e 102900 dólares respetivamente. A confirmação foi dada pela Sony Honda Mobility numa conferência de imprensa na CES 2025. Nesta fase, apenas os residentes da Califórnia podem fazer a pré-reserva do modelo, mediante o pagamento de uma taxa de 200 dólares, com as entregas a começarem a ser feitas em 2026 (Signature) e 2027 (Origin). Para já, ainda não há previsões quanto à chegada do carro a outros estados ou mesmo a outros países.

Pelo preço inicial, os utilizadores vão receber uma subscrição de três anos para várias funcionalidades do carro, incluindo o assistente à condução de Nível 2+ e um assistente pessoal que tira partido de Inteligência Artificial. No que toca a especificações, a autonomia anunciada é de 300 milhas (480 quilómetros) e compatibilidade com a rede Tesla Supercharger.

No carro é possível encontrar ecrãs por toda a largura do painel no interior, 40 sensores para condução semi-autónoma, tração integral e alguns apontamentos de integração de realidade aumentada e mundos virtuais. Durante a apresentação, Yasuhide Mizuno, CEO da Sony Honda Mobility demonstrou uma das capacidades mais avançadas, ao ‘convocar’ o carro a aparecer dando o comando de voz no telemóvel ‘Come on out, Afeela’ e o carro a aparecer no palco, embora não tenha confirmado que esta funcionalidade vá estar disponível no Afeela que será vendido ao público.

Com a chegada de Donald Trump ao poder (e previsíveis cortes nos apoios ao fabrico de carros elétricos) e o aparecimento da China como produtor dominante, os próximos tempos devem ser de parcerias e acordos entre empresas para se conseguir avançar no segmento da mobilidade elétrica.

A Nvidia revelou na CES 2025 que vai lançar, dentro de poucos meses, um supercomputador pessoal para executar modelos sofisticados de Inteligência Artificial. Equipado com um processador GB10 Grace Blackwell Superchip este será um modelo que cabe numa secretária de trabalho. O computador pode ser alimentado com uma fonte de energia doméstica, é capaz de processar 200 mil milhões de parâmetros e vai estar disponível com preços a partir dos três mil dólares.

Em comunicado de imprensa, o CEO Jensen Huang afirma que “a IA vai ser mainstream em todas as aplicações em todas as indústrias. Com o Project Digits, o Grace Blackwell Superchip vai chegar a milhões de programadores. Colocar um supercomputador de IA nas secretárias de cada cientista de dados, investigador de IA e estudante dá-lhes o poder para entrarem e moldarem a era da IA”, cita o The Verge.

Dentro de cada um destes supercomputadores, há 128 GB de memória unificada coerente, até 4 TB de armazenamento NVMe e a possibilidade de usar duas máquinas de forma síncrona para se poder lidar com modelos que tenham até 405 mil milhões de parâmetros. Para se perceber melhor o potencial, o melhor modelo atual da Meta, o Llama 3.1 tem 405 mil milhões de parâmetros. O processador GB10 consegue atingir 1 petaflop de desempenho em IA com uma precisão FP4. O sistema tem núcleos CUDA de última geração e Tensor Cores de quinta geração ligados com NVLink-C2C para uma CPU Grace com 20 núcleos ARM eficientes.

Além do hardware, a Nvidia quer disponibilizar também acesso à biblioteca de software, incluindo kits de desenvolvimento, ferramentas de orquestração e modelos pre-treinados. Os utilizadores vão poder desenvolver e testar os seus modelos de IA localmente e depois lançá-los para serviços na nuvem ou centros de dados.

A NASA anunciou uma nova abordagem para o programa de Retorno de Amostras de Marte, apostando em duas formas de aterragem simultâneas. De acordo com a agência espacial, esta estratégia visa incentivar a inovação, promover a concorrência e reduzir custos e prazos, aumentando as hipóteses de sucesso na missão.

O programa, que procura determinar se Marte já teve registos de vida e aprofundar a compreensão do universo, será confirmado em meados de 2026, juntamente com a definição da arquitetura final.

A agência está a explorar dois métodos distintos para aterrar a plataforma de carga em Marte. A primeira opção utilizará o sistema de entrada, descida e aterragem já testado, o Sky Crane, que foi bem-sucedido nas missões Curiosity e Perseverance. A segunda alternativa irá explorar capacidades comerciais inovadoras para colocar a carga à superfície do planeta vermelho.

Ambas as opções envolvem o uso de um sistema de energia baseado em radioisótopos em vez de painéis solares, permitindo operações mais fiáveis durante as tempestades de poeira marcianas. Além disso, um redesign no sistema de carregamento das amostras reduzirá a complexidade, ao evitar o acúmulo de poeira na cápsula que retornará à Terra.

Tubos de amostras recolhidas pelo rover Perseverance | Imagem: NASA/JPL-Caltech/MSSS

A cápsula em órbita transportará 30 tubos com amostras recolhidas pela sonda Perseverance. A viagem de retorno das amostras contará com a colaboração da Agência Espacial Europeia (ESA), que fornecerá um orbitador para capturar a cápsula em órbita marciana e devolvê-la à Terra.

Em comunicado, Nicky Fox, Diretora de Missões Científicas da NASA, destaca a importância da missão: “O retorno de amostras de Marte permitirá aos cientistas compreender a história geológica e a evolução climática do planeta, além de fornecer pistas sobre o sistema solar primitivo e preparar-nos para futuras missões tripuladas.”

Bill Nelson, administrador da NASA, realça a magnitude e a importância deste esforço: “Estas amostras têm o potencial de transformar a nossa compreensão de Marte, do universo e de nós mesmos.” A revisão estratégica, liderada pela cientista Maria Zuber, forneceu recomendações para um plano robusto, com estimativas detalhadas de custos e prazos.

Com a análise de duas abordagens simultâneas, a NASA quer assegurar flexibilidade e resiliência no programa, reforçando a meta de trazer as amostras de Marte na próxima decaa e preparar o terreno para missões humanas no planeta vermelho.

O portátil com ecrã que se desenrola da Lenovo é finalmente uma realidade, no modelo ThinkBook Plus Gen 6 Rollable AI PC. Este portátil, apresentado agora na CES 2025, tem um ecrã de 14 polegadas e um botão que o ‘estica’ para passar a ter 16,7 polegadas, aumentando a área de trabalho disponível. O ecrã desenrola-se a partir da parte de baixo do teclado, com um pequeno e ruidoso motor a demorar alguns segundos até o aparelho assumir a forma definitiva. Em alternativa, pode ser usado um gesto em frente à webcam para ativar o mecanismo.

Veja o ThinkBook Plus Gen 6 Rollable AI PC

A orientação em modo de retrato quando tem o ecrã desenrolado torna este portátil indicado para programação ou trabalhar em documentos. Com o Windows 11 a ajustar-se automaticamente à nova resolução quando se pressiona o botão, há ainda software adicional da Lenovo que permite transportar a parte inferior do ecrã em segundo ecrã virtual.

Segundo um porta-voz da Lenovo, ouvido pela Forbes, a empresa gostaria de trabalhar numa versão idêntica, mas com ecrã tátil. Nesse caso, a fabricante teria também de trabalhar no equilíbrio da máquina, pois com um ecrã mais alto e tátil, é possível que acabasse por tombar para trás.

Nos Estados Unidos, a máquina vai estar à venda ainda neste primeiro trimestre com um preço de 3499 dólares.

Além deste portátil, a Lenovo apresenta na CES várias outras máquinas, como o Slim 9i, com um rácio de ecrã-corpo de 98% onde nem sequer há um compartimento para a webcam e esta surge integrada por baixo do ecrã, como acontece nos smartphones, os X9 14 e X9 15 Aura Editions, portáteis empresariais premium com Copilot+, e acessórios como adaptadores GaN, docas de carregamento, ratos, auscultadores e uma capa Origami com dupla funcionalidade.

Em declarações à rádio France Inter, Barrot reforçou que a Gronelândia é “um território da União Europeia” e que a UE não irá permitir “ataques” às “fronteiras soberanas” do bloco europeu.

Também Mette Frederiksen, primeira-ministra dinamarquesa, já se tinha pronunciado sobre o assunto, sublinhado que a Gronelândia “não está à venda”. “A Gronelândia pertence às pessoas da Gronelândia”, defendeu ontem Frederiksen, na sequência de uma visita do filho do líder republicano, Donald Trump Júnior, à ilha ártica.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que toma posse no próximo dia 20 de janeiro, tem vindo a expressar publicamente as ambições expansionistas de anexar a Gronelândia e o Canal do Panamá “pela força se necessário”, ideias que já tinha defendido durante o anterior mandato, chegando até a propor a compra da Gronelândia em 2019.

Quando questionado sobre o recurso às Forças Armadas para anexar o Canal do Panamá – local estratégico para a navegação internacional – e o território dinamarquês, Trump disse não poder apresentar qualquer garantia. “A Gronelândia é um lugar incrível assim como os habitantes locais, quando fizerem parte da nossa nação, vão beneficiar enormemente (…) ‘MAKE GREENLAND GREAT AGAIN!'”, pode ler-se numa publicação do republicano nas redes sociais, numa clara referência ao seu slogan de campanha, “Make America Great Again”.

A população da Gronelândia tem vindo a procurar a independência da Dinamarca ao longo dos anos, contudo, continua financeiramente dependente de Copenhaga. A região é muito cobiçada pelos seus recursos naturais – apesar da exploração de petróleo e urânio estarem proibidas – e por ser um importante ponto geoestratégico.

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Mais de um ano após o anúncio da sua trasladação para o Panteão Nacional, Eça de Queirós junta-se finalmente, esta quarta-feira, ao conjunto de notáveis portugueses que “descansam” na Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa. O romancista de grandes obras da literatura portuguesa do século XIX – como Os Maias ou o Crime do Padre Amaro – torna-se na 13ª personalidade portuguesa a ser distinguido com as “honras do Panteão”.

O escritor morreu em Paris, em 1900, e o seu corpo foi transferido para Portugal, no mesmo ano, para o jazigo dos Condes de Resende, no cemitério do Alto de São João, Lisboa, onde permaneceu até 1989, altura em que foi transladado para um jazigo em Santa Cruz do Douro. Os seus restos mortais regressam agora a Lisboa, um ano após a data inicialmente prevista, a 27 de setembro de 2023, na sequência de um processo muito criticado pela sua família e de uma providência cautelar, instaurada pelos seus bisnetos.

O que é o Panteão Nacional?

Criado, por decreto, em 1836, o Panteão Nacional só foi inaugurado em 1966, cerca de 130 anos depois. Só nesse ano, em pleno Estado Novo, a Igreja de Santa Engrácia recebeu os seus primeiros ocupantes – Almeida Garrett, João de Deus, Sidónio Pais, Guerra Junqueiro, Teófilo Braga e Óscar Carmona.

O seu propósito, de acordo com a lei que regula e define as honras do Panteão, passa por “homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao País, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade”, pode ler-se aqui. Hoje, várias personalidades portuguesas de diferentes áreas ocupam o Panteão, tendo sido transladadas já em democracia.

Nem todas as personalidades dinstinguidas com estas honras têm os seus restos mortais sepultados na Igreja de Santa Engrácia. O corpo de Aristides de Sousa Mendes, por exemplo, apesar de o diplomata ter sido distinguido em 2021, permanece no Carregal do Sal existindo uma “lápide alusiva à sua vida e à sua obra” no edifício lisboeta.

A mudança de Eça de Queirós para o Panteão obriga os serviços a abrir a última sala livre, sobrando apenas mais três lugares.

Como são dadas as honras do panteão?

Segundo a lei, “a concessão das honras do Panteão é da competência exclusiva da Assembleia da República”. No entanto, qualquer cidadão da sociedade civil e membros da classe política são livres de organizar e realizar campanhas para que determinado cidadão venha a receber esta distinção.

Por exemplo, a trasladação de Eça de Queirós teve início com uma campanha levada a cabo por um dos seus trinetos Afonso Reis Cabral, presidente da Fundação Eça de Queirós. A campanha foi posteriormente apresentada pelo ex-ministro da administração interna José Luís Carneiro, na Assembleia da República, e aprovada a 15 de janeiro de 2021 por unanimidade.

Quem pode ser escolhido para ocupar o Panteão?

Teoricamente, qualquer cidadão português pode ser escolhido para ocupar um lugar no Panteão Nacional, desde que esta decisão seja aprovada na Assembleia da República. Desde 2016, no entanto, que existem novas regras para as honras do Panteão que definem que as mesmas “não poderão ser concedidas antes do decurso do prazo de um ano sobre a morte dos cidadãos distinguidos”. É assim obrigatório esperar 20 anos desde a morte da pessoa distinguida para a sua consideração ao Panteão (cinco anos para uma lápide comemorativa).

“Estabilizou-se esta ideia que é importante que haja um consenso e alguma distância entre o momento do falecimento e o momento em que se definem as honras de Panteão”, explicou Pedro Delgado Alves, coordenador do grupo de trabalho responsável pela trasladação de Eça de Queirós, ao Observador.

Quarenta e oito espetáculos de teatro, dança e música, três exposições, e um programa alargado para as crianças, com 13 peças e 25 sessões de oficinas criativas, são as propostas para 2025 do Teatro Municipal Joaquim Benite (TMJB), em Almada.

O primeiro grande destaque do ano é o concerto Grandes Coros de Ópera (11 jan), durante o qual o Coro do Teatro Nacional de São Carlos e a Orquestra Sinfónica Portuguesa, sob a direção de Antonio Pirolli, interpretarão obras de Bellini, Donizetti, Verdi, Borodin, Wagner, Bizet e Alfredo Keil.

Do teatro…

Quanto ao teatro, no primeiro trimestre, destaque para De Mary para Mary (18,19 jan), monólogo da atriz, encenadora e dramaturga espanhola Paloma Pedrero, que ficcionaliza as últimas horas de Mary Wollstonecraft, com encenação de Maria do Céu Guerra; Rua do Inferno (31 jan,1, 2 fev), com encenação de Hugo Franco, que se debruça sobre a história de três mulheres cujas vidas se entrelaçam no pequeno universo de um supermercado; MARIA (21-23 fev), com encenação de Daniel Gorjão, que fala sobre o luto e a condição de uma mulher em luto recente; e Uma Barragem Contra o Pacífico (14 mar – 6 abr), encenado por Álvaro Correia, que constitui a estreia absoluta no nosso país de um romance seminal de Marguerite Duras.

Em maio, À primeira vista, monólogo encenado por Tiago Guedes e interpretado por Margarida Vila-Nova, que esgotou durante meses o Teatro Maria Matos, em Lisboa, passará, no dia 17, pelo TMJB. Segue-se Class Enemy (23-25), encenado por Teresa Sobral, que fala de um grupo de adolescentes deixados pelo caminho pelo sistema de ensino público.

Como já é habitual, julho será marcado pelo Festival de Almada, cuja programação integral é conhecida apenas em junho de 2025.

Depois do verão, estreia-se Elogio do riso (31 out – 30 nov), reflexão de Maria Rueff e Rodrigo Francisco sobre as origens do riso.

À música e à dança

No campo musical, o TMJB acolhe, em maio e junho, três concertos do Festival de Música dos Capuchos, passando também pela sua Sala Principal intérpretes como Rita Vian, JP Simões, Club Makumba, Prétu, Ana Lua Caiano e Katia Guerreiro.

No âmbito da 5.ª Mostra Internacional de Artes Performativas de Almada, em abril e maio subirão ao palco coreografias da francesa Nacera Belaza, do brasileiro Cristian Duarte, da grega Katerina Andreu e do português André Uerba.

Em julho, a Companhia Nacional de Bailado apresentará um programa duplo que inclui Quatro cantos num soneto, de Fernando Duarte, e The Look, de Sharon Eyal; em outubro Paulo Ribeiro traz a Almada Maurice accompagné, e, em dezembro, Solange Melo e Fernando Duarte apresentam Murmúrios de Pedro e Inês.

Foi com a visita regular de jornalistas a sua casa que Paulo Gurgel Valente percebeu que a sua mãe era conhecida e lida por muitos. E com ela aprendeu a importância da palavra, a saber contar uma história e a amar os livros, independentemente do que fizesse.

Mais novo dos dois filhos de Clarice, Paulo Gurgel Valente é economista de profissão, mas a escrita sempre foi a sua paixão, que primeiro concretizou no campo da literatura infantil e mais recentemente no romance histórico.

Grande divulgador do ofício da mãe, adianta ao JL como vê o relançamento da obra de Clarice em Portugal e o fascínio que os seus romances, contos e crónicas continuam a exercer em leitores de todo o mundo.

Qual a imagem mais forte que guarda da sua mãe?

A de uma pessoa muito sensível e amorosa, ocupada com o bem-estar dos filhos.

Em Clarice, vida e literatura confundiam-se? A escrita estava sempre presente, mesmo quando não estava a escrever?

Certamente, se observarmos a evolução de seus 85 contos, podemos verificar que as personagens, geralmente femininas, vão evoluindo de jovens até mulheres maduras.

E podemos procurar nos seus livros pistas para entender a sua vida? Biografia e escrita também de misturam?

Não é difícil entender sua vida, inclusive há muitas biografias de qualidade, com aspetos diferentes sendo apresentados. É impossível que as experiências pessoais não estejam refletidas na escrita. Mas é claro que nem tudo é ipsis literis. Por exemplo, Clarice como qualquer dona de casa no Rio de Janeiro, tinha de lidar com o problema das baratas, como no conto ficcional A Quinta História. É óbvio que também não provou da massa da barata. A esse respeito há uma história curiosa. Nelson Rodrigues, talvez o maior teatrólogo brasileiro, escrevia colunas diárias sobre futebol, a vida e os fait divers; numa destas colunas escreveu que Clarice comia baratas; Clarice teve de pedir ao amigo comum, Otto Lara Resende, que convencesse Nelson de parar com estas colocações.

A obra de Clarice Lispector continua a cativar sucessivas gerações de leitores e de escritores. Como vê este renovado interesse? E o que lhe parece ser a fonte de um fascínio tão grande?

Para mim a obra de arte existe a partir do momento em que se descobre que outra pessoa tem os mesmos sentimentos que nós temos e nem sabíamos nos expressar. Isto é o que, em minha opinião, motiva as pessoas. E também, como muitos dizem, a obra é tão atual que parece que foi escrita na noite anterior à leitura.

Apesar de ser mais conhecida pelos romances, Clarice escreveu uma grande diversidade de textos, incluindo contos e crónicas. Em que medida estes escritos são importantes para o retrato completo da escritora?

Inicialmente, Clarice foi conhecida pela publicação de seu romance Perto do Coração Selvagem, em 1943, que causou grande alvoroço favorável na receção crítica; os contos começaram a ser publicados na década de 1950 em revistas e trouxeram grande notoriedade, até hoje alguns críticos dizem que é melhor contista do que romancista, mas não é a maioria. Mas as crónicas que publicou no Jornal do Brasil aos sábados, de 1967 a 1973, é que a tornaram de fato bem mais popular, pois o Jornal do Brasil tinha sempre colunistas bem notórios e a edição de sábado era esperada por muitos leitores para ler Clarice. O retrato completo é lendo a obra toda, mas há uma seleção de crónicas todas na primeira pessoa do singular que são autobiográficas, editada no Brasil com o título Aprendendo a Viver, espero ver também esta edição em Portugal em breve.

Qual a sua obra preferida de Clarice?

Não tenho uma preferida, mas gosto especialmente dos contos mais tardios e modernos em Onde Estivestes de Noite, A legião estrangeira, os contos de Laços de Família, A Hora da Estrela e A paixão segundo GH, além das crónicas e das cartas: pronto, acabei citando praticamente tudo.

Em Portugal, a obra de Clarice vai ser relançada pela Companhia das Letras. Como valoriza esta presença noutro território da língua portuguesa?

Tive uma grande identificação com a maravilhosa equipe da Companhia das Letras Portugal, seu entusiasmo, as edições modernas, com lindas capas, textos de posfácio e a seleção de especialistas portugueses na obra, com textos originais e com visões que eu não conhecia. Assim tenho a certeza de que os leitores portugueses terão muitas alegrias em perceber a obra bem tratada e bem difundida.

E qual o estado das traduções? Clarice continua a ser procurados por outros universos linguísticos?

São mais de 40 países diversos, em todas as línguas mais conhecidas da Europa Ocidental mais a Europa do Leste, Oriente Médio e Asia, além da America Latina; assim temos galego, catalão, polonês, finlandês, árabe, hebraico, coreano, japonês, chinês, incontável variedade.

Podemos esperar, nos próximos tempos, a revelação de material inédito?

Eu espero publicar no futuro as traduções teatrais que fez, de Ibsen a Garcia Lorca, passando por Lilian Helman e Sotoba Komach. A maioria ela fazia em conjunto com a Tati de Moraes, primeira mulher do Vinicius, e é muito interessante ver os manuscritos com as correções, em que Clarice colocava as falas coloquiais como devem ser no teatro na versão brasileira; ela tinha muitos amigos no teatro e vivia bastante no meio teatral 

De que forma a sua mãe influenciou o seu percurso literário no campo da literatura infantil?

Na verdade, são estilos bem diferentes, mas o exemplo foi que se pode escrever um livro. Eu tenho além dos três livros infantis, tenho cinco livros profissionais de economia e dois de ficção histórica, A morte do embaixador russo, publicado em 2023, e Heróis por acaso, sobre espionagem no Brasil durante a II Guerra Mundial e problemas do holocausto. Este sairá em abril de 2025 em comemoração aos 80 anos do final da guerra na frente europeia, espero que em breve um editor de Portugal se interesse.