As ondas de rádio podem ser a solução para desenvolver robôs com uma capacidade avançada de visão. As soluções atualmente disponíveis para permitir aos robôs verem assentam em câmaras, LIDAR ou radar, todas elas com as suas dificuldades. As câmaras veem como os humanos e são afetadas por fumo, nevoeiro ou reflexos, o LIDAR recorre a lasers para mapear o ambiente e também ‘sofre’ com fumos e reflexos, enquanto o radar pode ver através de obstáculos, mas oferece imagens de baixa resolução. Uma equipa da Universidade da Pensilvânia sugere recorrer a ondas de rádio e um sistema de Inteligência Artificial para passar estas dificuldades.
O PanoRadar está atualmente a ser testado para aferir a viabilidade de substituir soluções atuais. O sistema funciona de forma semelhante ao LIDAR, com um motor em cima de um cilindro com 1200 antenas sintéticas que emitem ondas de rádio em todas as direções. Quando as ondas interagem com o ambiente, o sistema é informado de que há um objeto nas redondezas. As ondas de rádio conseguem passar por fumo e vidro, incrementando a capacidade de visão. O tempo de voltarem ao sistema é o que permite ao PanoRadar construir uma espécie de mapa de calor do ambiente envolvente. Depois, um algoritmo de aprendizagem de máquina permite reconstruir uma imagem 3D, de elevada resolução e vista panorâmica.
Veja o vídeo
A equipa antevê que o sistema possa ser usado em drones de busca e salvamento, robôs de defesa e segurança de instalações. “Cada sensor tem as suas forças e fraquezas e ao combiná-los de forma inteligente, podemos criar robôs que estão mais bem equipados para lidar com desafios do mundo real”, conta Mingmin Zhao, professor assistente da UPenn que liderou estes trabalhos.
Um novo modelo de Inteligência Artificial capaz de detetar pedaços de tumores cerebrais que possam ter passado despercebidos a cirurgiões na altura da remoção é o avanço mais recente conseguido pela IA no domínio da saúde. Uma equipa de investigadores das universidades do Michigan e de São Francisco desenvolveu o FastGlioma, uma “tecnologia [que] trabalha de forma mais rápida e mais precisa do que o standard atual dos métodos de deteção de tumores e pode ser generalizada para outros diagnósticos de tumores em crianças e adultos”, conta Todd Hollon, neurocirurgião e um dos autores deste trabalho.
A solução adequa-se a situações de remoção de tumores, onde nem sempre é possível distinguir tecido cerebral saudável de tecido que tenha tumores. Assim, a possibilidade de permanecer tecido maligno mesmo após a remoção é real e pode conduzir a complicações como tonturas, infeções, dores de cabeça, deterioração cognitiva e disfunção motora, avança o website o New Atlas.
O FastGlioma só precisa de poder de computação e o modelo de código aberto para fazer a deteção, recorrendo a modelos fundacionais para aprender padrões, perceber linguagem e classificar imagens. A solução foi treinada com mais de 11 mil espécimes cirúrgicos e quatro milhões de campos de visão microscópica, recorrendo também a imagens de alta resolução. Com imagens de elevada resolução, o sistema foi capaz de detetar tumores em 100 segundos, com uma precisão de 92% e com imagens de resoluções inferiores conseguiu deteções em apenas dez segundos e uma precisão de 90%. A rapidez na deteção permite aos cirurgiões atuar mais rapidamente.
Newsletter
Aditya S. Pandey, co-autor do estudo, conta que “em estudos futuros, vamos focar-nos em aplicar o FastGlioma a outros cancros, incluindo do pulmão, próstata, peito, cabeça e pescoço”.
A Comissão Europeia confirmou em comunicado a aplicação de uma multa de quase 800 milhões de euros ao grupo Meta, acusando a empresa de Mark Zuckerberg de práticas desleais, por mostrar anúncios online do Facebook Marketplace na rede social Facebook e por impor condições de mercado desfavoráveis aos rivais.
A Meta confirmou a multa e avança que vai recorrer pela via judicial, mas comprometeu-se a trabalhar rapidamente no sentido de lançar uma solução que permita endereçar o tema. A União Europeia começou as diligências deste processo em junho de 2021, mas só mais tarde, em dezembro de 2022, levantou a hipótese de a Meta estar a ligar a rede social Facebook aos serviços de classificados online.
O regulador europeu considera que a Meta impõe o Facebook Marketplace aos utilizadores da rede social de uma forma “ilegal”, mas a Meta defende-se dizendo que os utilizadores podem escolher se querem a ligação ou não e salienta que muitos optam por não ter os serviços conectados.
Newsletter
Por outro lado, a Meta salienta que a Comissão alegou que este comportamento tinha o potencial de afetar muitos outros mercados online rivais, mas que não encontrou qualquer evidência de dano efetivo nos concorrentes.
Subia todos os dias as escadas de madeira até ao quarto andar. O velho edifício era como um barco. Do topo avistava-se o Tejo e em cada piso remavam tripulações nem sempre articuladas. Vivemos aí muitas tempestades. E, tendo passado antes por outras redações, foi aquela em que primeiro me senti parte de uma grande família disfuncional, com amores e ódios, muitas noitadas, zangas, gritos, gargalhadas e piadas que mais ninguém entendia. É difícil explicar a quem nunca viveu numa redação (porque se vive lá dentro) o que é esta coisa de ser jornalista. Visto de fora, parece insano. E é.
A um jornalista que se preze nunca ninguém precisa de mandar trabalhar. Nunca paramos. Alguma coisa nos agita as antenas e aí vamos nós, lançados, atrás da magia da notícia. É um vício. Às vezes não dá para pagar as contas. E quem está de fora pergunta muitas vezes porque é que insistimos nesta relação tóxica. Mas é difícil sair. Na verdade, sai-se da profissão sem nunca se deixar de ser jornalista. É uma coisa que nos fica colada à pele, um instinto, uma maneira de ver o mundo.
As paixões são incompreensíveis e ridículas. E, por isso, estas linhas não dizem nada a quem não está apaixonado por fazer jornalismo. Soam a uma excentricidade fora de moda, uma arrogância fora de tempo, uma irracionalidade fora de pé. E é mesmo assim. É isso tudo. E é por isso que talvez não devesse tornar pública esta declaração de amor. Os amores segredam-se. Não se gritam.
Newsletter
Talvez não devêssemos deixar que soubessem o quanto amamos esta profissão. “Não é uma profissão, é um ofício”, dizia-me ontem uma camarada (porque é camaradas que somos). E tem razão. Nem sei se não será mais do que um ofício, uma forma de ser. Porque ninguém pode deixar de ser o que é, porque um vício é uma coisa que nos comanda, porque a paixão nos faz pairar acima das coisas comezinhas, tira-nos o sono e a fome. E, afinal, porque é que nos deviam pagar para fazer uma coisa destas? Uma coisa que não conseguimos parar de fazer?
Naquele edifício nau, estive várias vezes à beira do naufrágio. Em todas as redações que se seguiram, cada vez mais encolhidas, cada vez mais vergadas, encontrei o mesmo amor e as mesmas tempestades. A nave vai, mas adornando.
Sim, não devia insistir nesta imagem quixotesca, que nos faz parecer antiquados, obsoletos, desligados do mundo, convencidos de termos sido ungidos por uma força maior. E, sobretudo, incapazes de autocrítica, quando na verdade nos consumimos tantas vezes na frustração e no desespero dos amores que não conseguem ser perfeitos e sucumbem à realidade.
Há nas fábricas operários que resistem quando a empresa ameaça falir. Há amor em quem faz sapatos. Há nas caixas de supermercado quem encontre camaradagem nos colegas de trabalho. Há paixão cega em quem ensina. Há esforço e dedicação em quem trabalha em hospitais, limpa casas, monta janelas e caixilharia. Não há nada de tão especial assim em quem faz jornalismo. O amor só é especial para quem o vive por dentro. Visto de fora, é tão banal.
Os tecnocratas assépticos que desenham folhas de Excel, os que vivem deslumbrados com a magia dos algoritmos e da inteligência artificial, os que não querem saber porque já sabem tudo, os que querem que os outros não saibam nada, os que vivem enrolados dentro seu umbigo, os que deixaram de saber questionar-se, os que seguem a manada, os que perderam a fé na Humanidade e no fundo anseiam ser substituídos por androides sem paixões… Esses não precisam de nós. Espera-os um amanhã feito de verdades alternativas e trevas, com tribos desavindas incapazes de comunicar entre si.
O futuro não tem de ser assim. Nada do que ainda não aconteceu está escrito. Assim tenhamos nós a força e a coragem para resistir, porque a paixão não nos falta.
O setor aeroespacial continua a ser um dos que mais fascina a humanidade: da primeira ida à Lua, em 1969, aos milhares de satélites colocados em órbita nas últimas décadas, até à ambição de colocar os primeiros humanos em Marte. Para a concretização destes marcos históricos e para alimentar a ambição que ainda persiste é necessário um avultado investimento por parte de empresas e governos.
Um dos temas em debate durante a a Web Summit Lisboa 2024, que a Exame Informática esteve a acompanhar, foi “Can Europe build a SpaceX?” (ou “Pode a Europa construir uma SpaceX?”, em português), no qual executivos de várias empresas internacionais ligadas ao Espaço, como Mark Boggett (Seraphim Space), Christian Mittermaier (Constellr) e Volodomyr Levykin (Skyrora), partilharam ideias e perspetivas sobre os desafios e as oportunidades que o ‘velho’ continente enfrenta para alcançar a liderança neste setor.
O painel de discussão iniciou-se com a reflexão de Mark Boggett, diretor executivo da Seraphim Space, uma empresa britânica de investimento focada em startups espaciais. Para ele, o sucesso da SpaceX, liderada por Elon Musk, é um reflexo da capacidade do empreendedorismo em criar empresas altamente inovadoras e disruptivas. A SpaceX não apenas revolucionou a indústria de lançamentos espaciais, mas também estabeleceu um novo padrão para o risco e a ambição no setor. “Para construir uma SpaceX europeia, precisamos de mais do que uma figura como Elon Musk. Precisamos de uma rede de pessoas dispostas a correr riscos e investir em inovação”, afirmou Boggett, destacando a necessidade urgente de mais talento e investimento no ecossistema europeu.
Newsletter
12 November 2024; Mark Boggett, Chief Executive Officer, Managing Partner, Seraphim, on New Energy Summit stage during day one of Web Summit 2024 at the MEO Arena in Lisbon, Portugal. Photo by Ramsey Cardy/Web Summit via Sportsfile
A falta de empreendedores em série na Europa é uma preocupação constante, pois, ao contrário dos Estados Unidos, onde muitas empresas começaram com o apoio de grandes investidores e uma cultura de risco, a Europa tem sido mais conservadora. Mark Boggett comparou a criação de unicórnios na Europa com os Estados Unidos, notando que, embora a Europa tenha melhorado, ainda está longe de alcançar o mesmo nível de investimento e ambição. “Precisamos de mais apoio ao risco, mais confiança no nosso talento”, afirmou.
O Papel da Constellr: Monitorização espacial e sustentabilidade
Christian Mittermaier, vice-presidente da Constellr, uma empresa sediada em Friburgo, na Alemanha, também partilhou a sua visão sobre o futuro da Europa no setor espacial. A Constellr é especializada na monitorização do Espaço e na utilização de dados para resolver problemas globais, como as alterações climáticas e a sustentabilidade. Para o executivo alemão, a chave para o sucesso da Europa não está apenas na construção de rockets (foguetes, em tradução livre), mas na aplicação dos dados espaciais a setores como a agricultura, a meteorologia e a gestão de desastres.
“Não precisamos de criar uma SpaceX na Europa. Podemos construir empresas que aproveitem os dados do espaço e a inteligência artificial para resolver problemas no nosso planeta”, afirmou Christian Mittermaier. O vice-presidente da Constellr defendeu que, embora a Europa possa não ter a ambição de construir uma empresa da dimensão da SpaceX, tem uma oportunidade única de liderar áreas como a monitorização ambiental e tecnológica.
Skyrora: Construir uma base de lançamento na Europa
Volodomyr Levykin, cofundador e diretor executivo da Skyrora, uma empresa escocesa de tecnologia espacial, partilhou uma perspetiva sobre a evolução do setor na Europa. A Skyrora tem vindo a desenvolver lançadores espaciais com o objetivo de fornecer serviços de lançamento a clientes comerciais e governamentais. O executivo ucraniano acredita que a Europa tem as condições necessárias para desenvolver a sua própria indústria espacial de sucesso, mas, para isso, será fundamental fazer mais investimentos e melhorar a colaboração entre os diferentes países e empresas do continente europeu.
“Precisamos de algo mais do que apenas o financiamento para construir a nossa própria SpaceX. Precisamos de colaboração entre países, apoio governamental e uma regulamentação mais flexível que permita o desenvolvimento rápido de novas tecnologias”, afirmou. A Skyrora tem demonstrado um compromisso em construir uma estrutura com capacidade de lançamento independente na Europa, com a ambição de reduzir os custos e aumentar a competitividade com a América.
Os executivos concordam que a Europa necessita de melhorar e de estar unida para alcançar o sucesso aeroespacial.
Volodomyr Levykin também falou sobre a necessidade de inovação no setor, destacando que muitos dos lançadores e tecnologias espaciais em uso hoje têm mais de 15 anos. Na opinião do diretor executivo da Skyrora, a Europa precisa de ser mais agressiva na adoção de novas tecnologias, como materiais avançados e técnicas de produção modernas, se quiser competir com empresas da dimensão da SpaceX. A criação de uma indústria espacial competitiva na Europa passa por melhorar a eficiência, reduzir os custos e aumentar a frequência dos lançamentos.
Os desafios e as oportunidades para a Europa
A conversa entre os três especialistas destacou vários desafios que a Europa precisa de enfrentar para se tornar líder no setor espacial. Um dos maiores obstáculos é a falta de infraestruturas robustas para o lançamento de satélites e outros projetos espaciais. Embora a Europa tenha a Agência Espacial Europeia (ESA) com um orçamento considerável, a região ainda depende em grande medida de lançadores dos Estados Unidos ou da Rússia, o que limita a sua própria autonomia no espaço.
Além disso, o ambiente regulatório na Europa, com diferentes normas e requisitos entre os países, é também um desafio. “Se conseguirmos criar um ambiente de colaboração mais forte, onde os governos e as empresas trabalhem em conjunto, poderemos competir com qualquer um”, afirmou Levykin.
No entanto, os especialistas concordam que a Europa tem uma grande oportunidade à sua frente. Com o crescente interesse pelo setor espacial, tanto a nível comercial como governamental, o continente pode tornar-se um centro de inovação em áreas como a monitorização espacial, a sustentabilidade e a exploração espacial. “A Europa tem as bases para ser um líder na exploração do espaço. O que precisamos agora é de mais coragem para assumir riscos e investir em novos talentos”, concluiu Christian Mittermaier.