Em cima da mesa está o elefante do assédio no jazz português. Em poucos dias, quase 30 pessoas do meio artístico foram identificadas em mais de 80 denúncias de assédio, abuso, violação e agressão partilhadas após a DJ Liliana Cunha ter acusado o pianista de jazz João Pedro Coelho de violação e stealthing (não utilização de preservativo sem consentimento do/a parceiro/a).

O músico já refutou as acusações, reclamando “total inocência”. O facto de ter sido professor da escola do Hot Clube de Portugal (onde não se cruzou com Liliana Cunha) e de ter acompanhado ao piano os espetáculos de Elas e o Jazz levou-nos a querer ouvir Joana Machado.

Além de compositora e investigadora, com um doutoramento em Artes Performativas, a cantora é professora no Hot Clube e na Universidade Lusíada, em Lisboa. Aos 46 anos, tem já uma longa carreira. E vontade de ver mais paridade entre mulheres e homens na música e no ensino.

Sabemos que o assédio sexual é transversal e sistémico na sociedade. É pior na música? E mais ainda no jazz?
Não sei se é pior na música e mais ainda no jazz. Do que conheço, os ambientes na música clássica são hoje paritários, por exemplo, no contexto das orquestras que adotaram o conceito das “provas cegas” nas audições de admissão. E são, sem dúvida, mais mistos na dita música mainstream, havendo mais mulheres instrumentistas e outras que fazem parte do staff que acompanha as bandas. No jazz, estamos a falar de organizações muito pequenas (com frequência, são sempre só aquelas duas, três a cinco pessoas a deslocar-se para os concertos, em clubes) e de uma esmagadora maioria de bandas compostas por homens. Que sempre houve ambiente propício para um copo a seguir, e que há algum “clima” de engate nesses ambientes de trabalho noturnos, sim. Assédio, não consigo associar de imediato. Verifico que as situações de assédio começaram a ocorrer mais no contexto das escolas, a partir do momento em que muitas das pessoas que circulam pelos palcos começaram a dar aulas. E, como sabemos, as aulas de instrumento são one-on-one [um a um, em inglês], adotando supostamente o conceito da mentoria.

O assédio surgiu nessa altura?
A partir do momento em que se criaram as escolas de jazz, tendo professores por vezes muito jovens e sem a noção da responsabilidade para com o seu aluno ou a sua aluna, começaram a surgir algumas situações anómalas. Sobretudo porque os professores eram homens, na sua maioria, à exceção das aulas de voz. Ou seja, havendo alunas mulheres, esses professores ou tinham fortes princípios éticos ou podia dar-se o caso de pisarem o risco. Sem referir nomes, quando entrei para a escola do Hot Clube, em 1998, não era anormal que professores andassem com alunas, fosse dentro da escola ou à noite no clube. Não se falava em assédio e parecia tudo consensual, mas temos de perceber que o vocabulário é recente.

Foi há dois anos, quando o Hot Clube tinha uma presidente,que despediram dois professores e criaram um código de conduta, um gabinete de apoio ao alunoe um canal de denúncia.
De facto, em 2021/2022 foram identificadas situações que configuravam assédio, com a descoberta de que havia contacto (por mensagem, WhatsApp, Instagram) inapropriado com alunas, que lhes trazia desconforto e as punha numa posição de fragilidade, e foi preciso identificar e resolver o assunto.

O mundo da música, e o do jazz em particular, ainda é dos homens?
Gosto de pensar que não. A história do jazz é que é muitas vezes contada no masculino, deixando-se de fora nomes de grandes mulheres instrumentistas, compositoras, mecenas, etc. Há um preconceito em relação aos skills [habilidades] das mulheres instrumentistas, mas creio que é mais profundo do que “não tocam tão bem como os homens”. Em Portugal, se analisarmos os corpos docentes das licenciaturas em Jazz, não há quase representatividade feminina. Acredito que é um fator de desânimo para as mulheres que querem prosseguir os seus estudos. Inclusive, esse preconceito é enunciado por alguns professores, de forma mais ou menos subtil.

E depois também não tocam muito.
Sim, existe a questão da absorção no mercado. Como não há estruturas formais, “chamar” uma miúda para a banda não tem sido uma opção dos trios ou dos quartetos predominantes na “cena” jazzística. Talvez porque sentem que têm de ser mais comedidos na linguagem, não sei, mas também porque acreditam que elas não estão à altura. A verdade é que, como professora no Ensino Superior, verifico que, entre as bateristas, contrabaixistas, guitarristas, saxofonistas que pude acompanhar (em classes de conjunto), poucas estão aí a fazer carreira.

É um mundo que cria as condições para o assédio, ao ter normalizadoa mulher como bibelot?
Discordo dessa ideia de que as mulheres eram encaradas como adornos do palco. Os grandes nomes femininos do jazz que integram as páginas da história são mulheres com enormes capacidades musicais e muito admiradas pelos seus pares. Sejam as cantoras Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Carmen McRae, Anita O’Day, Billie Holiday, Norma Winstone, Betty Carter (responsável, inclusive, por criar um programa de residência artística no Kennedy Center, o Jazz Ahead, que foi mantido e cujo líder é hoje o pianista Jason Moran, apadrinhado por ela), as pianistas Carla Bley, Alice Coltrane, Mary Lou Williams, a maestrina Maria Schneider e, mais recentemente, as bateristas Cindy Blackman e Terri Lyne Carrington ou a baixista Meshell Ndegeocello – e atenção que estou a deixar imensos nomes de fora.

Elas no jazz “Faltam professoras no Ensino Superior. Porque os ambientes seguros dependem desse equilíbrio”

E por cá?
Também há imensas instrumentistas a surgir em Portugal. Tenho de referir nomes como Margarida Campelo, Clara Lacerda, Inóspita, Eugénia Contente, Maria Carvalho, Catarina Rodrigues, Jéssica Pina, Eunice Barbosa, Juliana Maria, Maria Fonseca… São muitas! E é um orgulho imenso acompanhar o seu trabalho, a par, claro, do das cantoras Mariana Dionísio, Leonor Arnaut, Filipa Franco, Nazaré da Silva, Madalena Caldeira… Mas faltam mulheres professoras no Ensino Superior, esta é a grande questão. Porque os ambientes seguros dependem desse equilíbrio também no lado do poder ou da vantagem. Há imensos jovens a optar por ir estudar para o estrangeiro, onde as instituições têm ambientes controlados, há gabinetes para tudo e mais alguma coisa, e são, sem dúvida, escolas seguras.

Qual é o lugar da mulher no jazz? E qual devia ser?
É aquele que ela quiser! Recentemente descobri o documentário The Jazz Baroness, da BBC, que conta a história de Pannonica Rothschild e do papel imperativo que teve na vida de muitos músicos de jazz, sobretudo nos anos 50, porque os escudou do racismo e pagou, literalmente, as suas contas para que pudessem fazer a sua música. Inseriu-os no circuito dos clubes nova-iorquinos e nas festas privadas da high society americana. Este documentário é esclarecedor e tem testemunhos de músicos ainda vivos, como Sonny Rollins.

Como é que a Joana lidava ou lida com o desconforto?
Sempre fui rija, digamos assim. Tive bandas na adolescência, os meus melhores amigos eram todos homens e conhecia bem as dinâmicas deles com as miúdas (nada de assédio, claro). Vim do Funchal para Lisboa para tirar um curso antes de poder ser cantora, porque os meus pais não me deixavam. Quando cheguei à escola do Hot Clube (que fiz ao mesmo tempo da licenciatura em Design Industrial), senti essa onda de insinuações subtis por parte dos professores e algum bullying dos colegas “porque as cantoras não percebem nada de jazz”. Ou nas jam sessions, quando eu queria cantar, ouvia “Epá, já tocámos muitas canções lentas, agora a malta vai tocar um uptempo [ritmo musical acelerado]” ou outras coisas meio hostis. As jams ainda são assim.

E a pior situação por que passou?
Foi com um professor em Nova Iorque, um supercraque que eu admirava, o baterista Joe Chambers. Ele foi assistir a um recital meu e no final veio ter comigo, todo elogios, e pediu-me o número de telefone. Fiquei em êxtase, a sonhar que ia chamar-me para tocar com ele, e no fim telefonou-me a convidar-me para jantar e sair… Desliguei o telefone de repente. Foi uma desilusão e foi um bocado patético, porque ele tinha 60 anos e eu 23. Denunciei na escola, mas disseram-me, em 2002: “Oh, he’s an old dog, don’t make a fuss about it” [à letra, “Oh, ele é um cão velho, não faças alarido com isso”]. Fiquei zangada. Pouco depois, saíram acusações graves contra um contrabaixista, o Cecil McBee, que teria violado uma aluna, e as medidas tomadas foram sérias, inclusive houve toda uma reportagem na imprensa. Eu… casei-me aos 26 anos e fiquei, assim, protegida do assédio. Foi inconsciente, mas factual. Mas não sou o tipo de mulher que fica desconfortável e não manda uma boca. O meu pai era filho de militar e a minha mãe era uma mulher com bastante garra, tive bons exemplos de como não me ficar.

O que está a acontecer no jazz português é uma revolução?
Na verdade, não tinha ideia de que estávamos neste ponto e atribuo isso à facilidade com que hoje se contacta uma pessoa. As redes sociais, o Messenger, o WhatsApp, etc. É verdade que o sucesso dos músicos pode ser um fator de atração para uma jovem admiradora, e também é verdade que há relações consensuais e que faz tudo parte, mas situações forçadas? Perseguições? Violações? Não tinha mesmo ideia e penso que é preciso denunciar, bloquear, espalhar aos sete ventos, porque só assim se controla, fazendo com que os agressores percebam que não são inimputáveis. Não sei se os canais de denúncia melhores são os das instituições, porque os alunos estão em desvantagem e têm medo de que nada seja feito e de que as suas denúncias sejam expostas. Um “ralhete” da escola não vale nada para um professor que tem más práticas, mesmo sendo afastado. Não fica com cadastro, portanto facilmente integra outro corpo docente noutra escola.

Um  ‘ralhete’ da escola não vale nada para um professor que tem más práticas, mesmo sendo afastado. Não fica com cadastro

Aparentemente, o assédio estava normalizado.
O que estava normalizado eram as piadas sobre as mulheres, os comentários que objetificam e sexualizam as mulheres (na sociedade) e desvalorizam o seu trabalho. Mas as instituições não souberam lidar logo com as queixas sobre estes comportamentos abusivos por parte dos professores. Penso que será necessário haver ações de formação, porque muitos músicos não têm sequer práticas pedagógicas salutares, catalogam os alunos como “fracos, médios e fortes”, insultam-nos e humilham-nos nas aulas. Há muitos problemas a decorrer em simultâneo.

A palavra de ordem parece ser “reparação”. De que maneira?
Estar a par da legislação e do que constitui cada situação: assédio moral, assédio sexual, abuso de poder, violência psicológica, etc. Falar abertamente sobre elas e criar alertas na consciência de professores e alunos. Promover ambientes paritários, porque não pode continuar a haver estruturas de poder tão desequilibradas. E não será à força, mas cabe às mulheres que têm poder e visibilidade a iniciativa de empregar mais mulheres e ajudar a tornar visível o trabalho feminino. Temos de estar atentas e ser solidárias.

A Joana faz parte do trio Elas e o Jazz, com Marta Hugon e Mariana Norton. Qual foi a sua génese?
Três mulheres, amigas, que criaram um projeto de coliderança feminina, para lembrar temas antigos, em que o jazz também era entretenimento e tinha espetáculo e a comunicação com o público era essencial. Temos uma grande química espontânea, e estarmos ali as três dá-nos força para sair do “boneco” [esperado], coisa que o nosso público aprecia e identifica já como sendo algo Elas e o Jazz.

Há quatro anos, a então presidente do Hot Clube convidou-aa programar um ciclo de jazzno feminino. Acabou porquê?
Não é aceitável apresentar programações exclusivamente masculinas. É ofensivo, é uma espécie de cancelamento do trabalho feminino e é prova de que há um desdém e um preconceito fortes em relação à música das mulheres. Respect surgiu para dar a conhecer e homenagear o trabalho de compositoras do passado e do dito jazz contemporâneo, na segunda edição foi baseado em convites a mulheres líderes de projetos e na terceira idem, sendo que aí conseguiu-se ter o maior número de instrumentistas mulheres dos três anos. Isto foi possível quando a Inês Cunha era presidente. Quando a nova direção tomou posse [em fevereiro de 2023], o projeto ficou esquecido…

Palavras-chave:

A caminhada de Luís Montenegro nos primeiros sete meses de mandato tem sido perturbada por duas pedras no sapato, mas o chefe do Governo não pondera, nesta fase, descalçar-se, nem sequer abrandar o passo. As ministras Ana Paula Martins e Margarida Blasco estão sob fogo cerrado da oposição, mas fonte do Executivo AD confirma, à VISÃO, a intenção de manter, nos respetivos cargos, as titulares das pastas da Saúde e da Administração Interna. “Não há, para já, qualquer intenção de fazer mudanças. Luís Montenegro quer segurar as ministras [Ana Paula Martins e Margarida Blasco], e ‘empurrar’ qualquer eventual remodelação no Governo para o próximo ano, talvez no final do primeiro trimestre de 2025, lá para abril ou maio”, afirma.

A semana horribilis do primeiro-ministro, desde que chegou a São Bento, tem a “marca” da pasta da Saúde, mas nem assim parece haver intenção de modificar o plano inicial. Recorde-se que Ana Paula Martins acabou “enredada” nas consequências da (não acautelada) greve dos técnicos do Instituto Nacional de Emergência Médica de Portugal (INEM), período durante o qual terão morrido 11 pessoas por eventuais atrasos no socorro, que estão agora a ser investigadas pelo Ministério Público.

Luís Montenegro quererá adiar a primeira remodelação governativa para o final do primeiro trimestre de 2025 Foto: Luís Barra

A gravidade da situação levou mesmo o Presidente da República a exigir publicamente que se apure o que aconteceu, “doa a quem doer”. Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que é preciso saber “quem devia ter feito e não fez” e “quem fez e fez mal” a nível administrativo e político.

Desde que tomou posse, Luís Montenegro tem dado o “corpo às balas” quando confrontado com “casos e casinhos” que envolvem membros da sua equipa – não só com Ana Paula Martins e Margarida Blasco, mas também noutros (maus) momentos.

As polémicas declarações do ministro da Defesa, Nuno Melo, sobre uma “Olivença portuguesa” acabaram atiradas para segundo plano, depois da divulgação do relatório da Inspeção-Geral das Finanças (IGF) sobre a privatização da TAP em 2015, que aponta para ilegalidades na venda da companhia aérea, processo no qual esteve envolvido o ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, então secretário de Estado das Infraestruturas do segundo governo de Pedro Passos Coelho.

A fuga dos cinco reclusos da cadeia de Vale de Judeus foi tema “escaldante” dias a fio, com a ministra da Justiça, Rita Alarcão Júdice, a ter de gerir o embaraço que expôs as debilidades de todo o setor dos serviços prisionais, e alimentou os protestos dos guardas prisionais por melhores condições salariais e de trabalho.

Os alegados insultos de Paulo Rangel a militares, no aeródromo militar de Figo Maduro, é outro tema “quente” que está ainda “pendurado”. O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros ainda vai dar explicações sobre o episódio nas comissões parlamentares dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, depois de PS e Chega terem pedido uma audição, a que o PSD não se opôs. A oposição exige explicações.

“[Se um ministro se demite ou é demitido] é o primeiro-ministro quem acaba por sofrer”, defende Miguel Morgado

Apesar desta lista, o primeiro-ministro parece nunca ter hesitado, em momento algum, mantendo a estratégia de “contenção”, que permite concentrar a comunicação e controlar os danos na primeira pessoa. Luís Montenegro tem procurado utilizar o “tempo de antena” para desvalorizar os defeitos, e manifestar “confiança total” naqueles que o rodeiam.

A receita vale, até, para Margarida Blasco, titular da pasta que soma mais polémicas, criticada tanto pelos silêncios (nos incêndios e nos desacatos na Grande Lisboa) como pelas declarações fora de tom, como quando acompanhou a sugestão do colega Nuno Melo de impor o serviço militar como pena para jovens delinquentes; ou ainda quando admitiu a possibilidade de debater a consagração do direito à greve nas forças de segurança durante as negociações que estão previstas para o início do próximo ano, acabando depois por recuar. As prestações de Ana Paula Martins e Margarida Blasco também motivaram críticas dentro de casa, mas o (único) sinal visível chega dos comentadores com passado “laranja”, como Luís Marques Mendes, que no último domingo, 17, considerou que a ministra da Saúde está “a prazo”, ou Miguel Relvas, que classificou a titular da pasta da Administração Interna como “um caso perdido”.

Da demissão à gestão do tempo

Quando eram oposição, Luís Montenegro e Pinto Luz chegaram a pedir a demissão dos então governantes socialistas Marta Temido, Pedro Nuno Santos, João Galamba e Fernando Medina, envolvidos em polémicas. À VISÃO, Ana Gomes não vê incoerência, até porque diz “não ser adepta de que se pague na mesma moeda”. “O facto de as pessoas do atual Governo terem pedido a demissão de governantes quando estavam na oposição não é critério para que os ministros se demitam. Agora, acho que a demissão se impõe quando estão em causa falhas graves e, infelizmente, é a isso que estamos a assistir, sobretudo na Saúde, mas também na Administração Interna”, afirma a socialista. Ana Gomes destaca o caso de Ana Paula Martins, considerando que “a ministra [da Saúde] já devia ter-se demitido ou ter sido demitida pelo primeiro-ministro”, uma vez que, sublinha, Luís Montenegro “colocou os problemas na Saúde no topo das suas prioridades durante a campanha [para as legislativas]”.

Contactado pela VISÃO, Miguel Morgado “não acompanha”, para já, a ideia de que “as duas ministras [Ana Paula Martins e Margarida Blasco] constituem o ponto fraco deste Governo”. “É preciso ver. Os governos são sempre avaliados pela conjuntura, agora as pessoas estão focadas nos problemas da Saúde e da Administração Interna, mas, muito provavelmente, daqui a seis meses, estaremos a falar de outros problemas”, diz. “É também preciso perceber que o primeiro-ministro faz a gestão da sua equipa com o pressuposto de que, se a escolha foi dele, e se há uma demissão, então, em última instância, é o primeiro-ministro quem acaba por sofrer com esse desfecho”, destaca o professor universitário e comentador. Miguel Morgado considera que é este princípio que, “algumas vezes, leva o primeiro-ministro a aguardar um pouco que o tempo passe e outras a agarrar-se obstinadamente a um ministro, como aconteceu com António Costa em relação a Eduardo Cabrita”, recorda.

A grande substituição

O Governo de Luís Montenegro continua a formalizar a troca de dirigentes no setor público

Entretanto, o Governo continua a formalizar as substituições nos cargos de topo da Administração Pública, através da abertura de concursos públicos promovidos pela Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública (CreSAP) – a agência criada por Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, tendo em vista o recrutamento de dirigentes seguindo uma lógica de justiça e transparência. Numa consulta ao site da CreSAP, é possível confirmar que o concurso para presidente do INEM mantém-se aberto a candidaturas até ao dia 28 de novembro. A ministra Ana Paula Martins já confirmou que Sérgio Janeiro, que, desde julho deste ano, ocupa o cargo em regime de substituição, é um dos concorrentes ao lugar em definitivo. Esta, aliás, tem sido a estratégia utilizada pelo Governo para mexer nas direções dos organismos do Estado. O Executivo de Luís Montenegro tem escolhido nomes para ocupar o cargo “em regime de substituição” e “assegurar o normal funcionamento do serviço até à abertura do procedimento concursal e consequente nomeação de um novo titular”. À luz da lei, não existe qualquer irregularidade. Mas, em declarações à VISÃO, em setembro passado, João Bilhim, o homem que fundou o CreSAP em 2011, considera que “esta fórmula pode inquinar os concursos”. “Com o uso e abuso dos regimes de substituição, as pessoas deixaram de acreditar que o concurso seja isento”, o que até pode desmotivar outros candidatos, já que, na prática, quem é nomeado em regime de substituição ganha uma experiência que pode vir a ser imbatível no concurso. “Esse tirocínio no cargo, dado de forma injusta, dá uma vantagem que é tanto maior quanto mais tempo se ficar nesse regime de substituição”, acusa Bilhim. Recorde-se que Luís Montenegro tem justificado a exoneração de dirigentes com a necessidade de “imprimir uma nova orientação à gestão” ou “dar um novo impulso”, argumento utilizado, por exemplo, no caso da substituição do presidente do IAPMEI.

Bem-vindo à série do podcast Tech Flow que é inteiramente dedicada à cibersegurança. Ao longo de cinco episódios, exploramos a segurança informática de forma descomplicada – dos conceitos gerais que definem esta área, às novas tecnologias que estão a transformar a forma como utilizadores, empresas e organizações devem abordar a segurança digital. Este é um podcast que tem como objetivo sensibilizar os utilizadores e os decisores – porque no fim de contas, todos usamos tecnologia – para a importância da cibersegurança no dia-a-dia.

Novo episódio na próxima quarta-feira, 27 de novembro, às 15h30,
sobre “A diretiva NIS2 e o que traz de diferente nas regras de cibersegurança

O que são as tecnologias quânticas e por que motivo são importantes para a cibersegurança? Quais as implicações estratégicas destas novas tecnologias para as empresas? Como integrar ferramentas quânticas nos atuais sistemas de defesa e proteção? E como se convence alguém da importância de uma tecnologia que para muitos ainda é desconhecida e está longe de ser amplamente adotada?

As respostas a estas e outras perguntas são dadas por Mário Caldeira, sócio na Deloitte Portugal e vice-presidente do Instituto Português de Quântica (PQI na sigla em inglês), e António Martins, engenheiro de sistemas de cibersegurança na Warpcom. Pode ver o quarto episódio do Tech Flow na versão vídeo no início deste artigo ou ouvir aqui a versão em áudio:

Tech Flow, episódio 4

Veja ou reveja os outros episódios já publicados do podcast Tech Flow:

A nova série do podcast Tech Flow, dedicada à cibersegurança, é feita pela Exame Informática em parceria com a Warpcom. 

Marcelo tem contrato com Belém até 2026, mas a lista de hipotéticos sucessores à casa de maior poder em Portugal começa a ficar longa. Marques Mendes foi o primeiro a posicionar-se através do seu comentário dominical. Seguiu-se, segundo alguns especialistas, Paulo Portas. Pedro Santana Lopes também apareceu, mas está em todas. Com a Covid e com os militares a serem chamados para resolver problemas de logística (a sua maior especialidade) o líder da task force deu nas vistas e, o hoje Almirante, Gouveia e Melo começou a ser apontado como presidenciável.

Mas, a lista não se fica por aqui. O algarvio e governador do Banco de Portugal, Mário Centeno também é apontado como estando na casa da partida. Pelas bandas do Rato mais nomes são falados. É como se sentissem que está na hora de acabar com o reinado da direita numa casa onde querem  inquilino rosa. Por isso, nomes como Ana Gomes, Augusto Santos Silva ou António Vitorino parecem assumir o papel de tios numa família que há muito se sente órfã.

A lista engorda e surgem nomes como Pedro Passos Coelho – que em sondagem fica à frente de Luís Marques Mendes -, André Ventura. O que ninguém, ou muito poucos, esperavam é que o Secretário-geral do PS incluísse na lista de candidatos à Presidência da República um militante do PS que já ocupou o seu cargo, está em silêncio político há cerca de uma década. Falo de António José Seguro.

A lista de presidenciáveis fica, assim, mais preenchida. Tem figuras de relevo e de peso, mas António José Seguro é sem dúvida um sério candidato. Homem de consensos, que soube sair da cena política, é capaz de fazer sombra aos muitos presidenciáveis que foram desfilando numa passarela que alguns  dizem exigir experiência de vida e percurso político.

Sem que possa concordar com os requisitos apontados (por especialistas) para Belém, reconheço em Seguro o perfil para suceder a Marcelo Rebelo de Sousa e acrescento uma nuance: é capaz de roubar eleitorado ao candidato que se apresentar pela direita. Afinal, as opções à direita são poucas e Marques Mendes não é consensual.

Até 2026 muita coisa irá acontecer, incluindo eleições autárquicas. Saberá o país político ler nas entrelinhas e captar a vontade de um povo que, cada vez mais, não olha para a política com o mesmo fulgor do dia 27 de junho de 1976?

Com tantos nomes em cima da mesa, adivinha-se uma primeira volta animada nas próximas presidenciais.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.