A Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) anunciou esta sexta-feira mudanças na emissão e critérios de complexidade mínimos das senhas de acesso ao Portal das Finanças. A partir de agora, na emissão de senhas de acesso por carta, o contribuinte passa a ser obrigado a alterar esta senha logo no primeiro acesso ao portal. Desta forma, a senha de acesso que consta da carta serve apenas para o primeiro acesso, sendo necessário alterá-la a partir desse momento.
Também os critérios mínimos de complexidade têm novos contornos, sendo agora obrigatório que a senha definida tenha um mínimo de oito carateres constituídos por algarismos, letras minúsculas e maiúsculas e carateres especiais.
Através de uma nota a AT explica que as mudanças têm por objetivo reforçar a segurança no acesso aos serviços e dados pessoais do portal, utilizado por milhões de contribuintes.
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As novas regras aplicam-se apenas a novos registos no Portal das Finanças e a casos de recuperação ou alteração de senha. As senhas dos contribuintes já registados mantêm-se válidas.
Cinco pessoas morreram e mais de 200 ficaram feridas na sequência de um ataque a um mercado de Natal que decorria esta sexta-feira na cidade alemã de Magdeburgo. Um homem – entretanto já identificado e detido pelas autoridades – avançou sobre a multidão com um automóvel atingindo as inúmeras pessoas que se encontravam no local pelas 19h locais (18h em Lisboa). O número de vítimas tem sido atualizado desde ontem pela imprensa alemã e foi o jornal alemão Bildo primeiro a indicar que o número de mortos subiu para cinco. A notícia foi depois confirmada por um responsável estatal, citado pela agência Reuters.
Cerca de 86 pessoas encontram-se hospitalizadas na sequência de ferimentos provocados pelo ataque, 41 das quais estão em estado grave. Entre as vítimas mortais está uma criança pequena.
Segundo a ministra do Interior da Saxónia-Anhalt, Tamara Zieschang, o autor do ataque é Taleb A., um médico natural da Arábia Saudita, de 50 anos, que vive na Alemanha desde 2006, tendo recebido o estatuto de refugiado em 2016. De acordo com o The Guardian, o suspeito era consultor na área de psiquiatria e psicoterapia.
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O suspeito foi detido no local e terá sido encontrado um engenho explosivo no interior da viatura. Os motivos do ataque ainda não são conhecidos, mas tudo indica que terá agido sozinho.
Numa visita ao local do ataque esta manhã Olaf Scholz, chanceler alemão, condenou o “ato terrível de ferir e matar tantas pessoas com tamanha brutalidade” e referiu que “não se pode descartar a possibilidade de existirem mais mortos”, uma vez que o número de feridos graves é elevado. “É importante para mim que nos mantenhamos unidos enquanto país, que o ódio não determine como vivemos em conjunto”, sublinhou.
Já Reiner Erich Haseloff, chefe do governo estadual da Saxônia-Anhalt, classificou o ataque como “catástrofe para a cidade de Magdeburgo, para o estado e para a Alemanha em geral”, disse.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, também manifestou “a sua profunda consternação perante o ataque horrendo num mercado de Natal em Magdeburgo, na Alemanha” e reiterou “o repúdio de toda a violência contra civis”, através de um comunicado.
Abundante em frutos como as laranjas ou os kiwis, a vitamina C – também conhecida por ácido ascórbico – é um nutriente hidrossolúvel com diversos benefícios para o organismo humano. Um poderoso antioxidante, esta vitamina ajuda a defender o organismo de danos nas células causados por radicais livres – moléculas que surgem através do próprio metabolismo celular ou da exposição a, por exemplo, poluição atmosférica, fumo dos cigarros ou radiação solar. A acumulação de radicais livres está associada, sabe-se, a um risco aumentado de doenças como o cancro, doenças cardíacas e artrite.
Desempenha também um papel relevante no crescimento e desenvolvimento dos tecidos ao ajudar a cicatrização das feridas e ao promover a produção de colagénio – uma proteína muito importante para os tendões, ligamentos, cartilagem, vasos sanguíneos, pele, gengivas e dentes – e de L-Carnitina – um aminoácido que atua no metabolismo energético do organismo ao transformar as gorduras em energia e ao reduzir o cansaço e a fadiga.
Promove ainda a manutenção do sistema imunitário – sendo assim associada, muitas vezes, ao combate a constipações e outras doenças mais frequentes nas estações frias.
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Ajuda o organismo a absorver ferro, um mineral fundamental para o funcionamento das células do corpo.
Não está provado cientificamente que os suplementos de vitamina C ajudem a travar o aparecimento de constipações, contudo, a sua ingestão poderá ajudar a diminuir o tempo de duração da doença e a gravidade dos seus sintomas – esta vitamina estimula a produção de glóbulos brancos, vitais no sistema imunitário.
Sendo uma vitamina essencial que não é produzida pelo organismo humano, a vitamina C entra no corpo através de suplementos e da ingestão de alimentos, como os citrinos – laranjas, toranjas e limões, por exemplo – kiwis, pimentos vermelhos, morangos, bróculos e espinafres. Contudo, e de forma a garantir que os alimentos se mantêm uma boa fonte desta vitamina, o fruto ou legume deverá, quando possível, ser ingerido cru.
Recentemente, a vitamina C tem dominado o mundo dos cosméticos, sendo encontrada em diversos produtos para a pele pelas suas propriedades hidratantes e anti-inflamatórias, por ajudar a reduzir a aparência de manchas e rugas e por proteger a pele dos efeitos da radiação solar. Todos estes efeitos devem-se à produção de colagénio – promovida pela vitamina C – que contribui ainda para a elasticidade da pele, tornando-a mais firme e resistente.
Quais as consequências da carência de vitamina C?
As carências de vitamina C no organismo são bastante raras atualmente devido à presença desta vitamina em diversos alimentos frescos, como frutas e legumes. Contudo, a falta deste vitamínico pode levar ao desenvolvimento de escorbuto (também conhecido como Moeller-Barlow em crianças). Os sintomas iniciais incluem fadiga, cansaço, inflamação das gengivas ou uma maior fragilidade óssea bem como a irritabilidade e paralisia de um ou mais membros inferiores em crianças.
Entre os fatores de risco que mais contribuem para a deficiência de vitamina C estão a má nutrição, alcoolismo, anorexia, doença mental grave, tabagismo e diálise.
A música de Luís Tinoco reflete um pensamento claro, sereno, uma capacidade de perceber o lugar do outro e de com ele se identificar no que de mais fundamental e humano existe, do puro humor à mais dura realidade.
Da nostalgia de Lugares Esquecidos, à exuberância de Evil Machines, do universo da infância de Contos Fantásticos e da inquietação luminosa de Sundance Sequence, à intimidade de Prolonging, da música de câmara à obra orquestral, todo o seu percurso reflete um compositor atento.
Repare-se em Alepo, que abre o seu mais recente álbum em nome próprio, obra que vem da realidade “daqueles que diariamente atravessam o mar, fugindo às mais diversas adversidades e conflitos”, num cruzamento de linguagens e das suas geografias.
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“Como exercício meramente especulativo, imagino que a música possa ser um refúgio, uma companhia, uma memória. Na pressa da fuga, essa memória talvez seja a bagagem mais preciosa que esses viajantes transportam”, disse o compositor.
A capacidade de representação da música é imensa. Com Luís Tinoco também é generosa.
“Não concebo a música numa perspetiva exclusiva de entretenimento – embora não considere o entretenimento em si mesmo um problema. Como compositor, não estou imune a tudo aquilo que me rodeia”, disse em entrevista ao JL em 2022, quando da edição de Alepo e Outros Silêncios.
A música está constantemente à nossa volta. Vivemos num tempo em que as pessoas têm medo do silêncio, não só quando criam, mas também como vivem
luís tinoco
“A música está constantemente à nossa volta. Vivemos num tempo em que as pessoas têm medo do silêncio, não só quando criam, mas também como vivem. E, de uma forma que considero perigosa, a música é ouvida cada vez mais como entretenimento, como preenchimento [de um certo vazio], porque é imaterial. Não conseguimos fazer [outra coisa] quando estamos a ver uma pintura, uma escultura ou quando estamos a ler um livro ou a ver um filme”. Mas “com a música, pela sua imaterialidade”, há esse risco.
E essa sobre-exposição, essa habituação cada vez maior a uma espécie de música de fundo, leva a que haja “cada vez menos disponibilidade” para realmente ouvir. “Esse tempo de introspeção, de calma, de fazer uma escuta atenta acontece cada vez menos”.
“Portanto, como compositor, mas também como ouvinte, sinto que precisamos de parar, precisamos cada vez mais desse tempo para ouvir. Mais do que estar interessado em passar muita informação e sobrecarregar muito a escrita, tenho dado por mim a fazer o processo um bocadinho inverso, de filtrar, de dizer menos, mas talvez de me preocupar mais com o que quero dizer, e não com a quantidade do que quero dizer”.
A realidade impõe-se. “São temas que têm de ser abordados com uma seriedade que nos afaste do perigo do panfleto, da exploração fácil de coisas que são sensíveis, sérias”. Temas que vão deixando marca na obra de Luís Tinoco. E que a tornam perene, indispensável.
Percurso sólido
Luís Tinoco nasceu em Lisboa, em julho de 1969, numa família dedicada às artes. Havia a avó paterna, a pianista Maria Carlota Tinoco, antiga discípula de Vianna da Motta, com quem iniciou os estudos musicais. Depois, houve o pai, o músico, compositor, artista plástico e arquiteto José Luís Tinoco. “Não sendo músico profissional, pertence à geração que trouxe o jazz para Portugal”.
Luís Tinoco, porém, não teve logo consciência de que a música seria o seu mundo. Acabou o ensino secundário, entrou na Escola Superior de Teatro e Cinema. Mas a música foi-se “infiltrando”. Fez dois anos de ‘piano-jazz’ com Mário Laginha, retomou os estudos clássicos com a professora Elisa Lamas.
“Nunca tive vontade de ser intérprete profissional”, confessou ao JL em 2005. “Passava horas ao piano a tocar o que não gostava e acabava sempre por improvisar”. Mas era insuficiente o que fazia.
Nunca tive vontade de ser intérprete profissional. Passava horas ao piano a tocar o que não gostava e acabava sempre por improvisar
luís tinoco
“Havia muitos começos, muitas peças inacabadas, muita dificuldade no desenvolvimento desses materiais”. Precisava de “encontrar soluções a um nível estrutural que me permitissem desenvolver um discurso no tempo, com outra dimensão”. Por isso, entrou para o curso de composição da Escola Superior de Música de Lisboa.
“Foi uma viagem sem regresso. Tudo o que fiz era com o objetivo de encontrar ferramentas que me permitissem passar para o papel o que queria fazer”. Compor.
Luís Tinoco soma cerca de oito dezenas de obras musicais, vários prémios e o seu nome está presente em programas de concertos um pouco por todo o mundo
Terminou o curso em 1996. Depois, arriscou a saída do país, para “conhecer a nova música noutros contextos”. Fez o mestrado na Royal Academy of Music, lidou com um ambiente muito diferente do que Portugal então apresentava.
Seguiu-se o doutoramento na Universidade de York, que há quase 20 anos edita e promove toda a música que escreve, através da University of York Music Press.
“O começo e o fim de cada peça são, para mim, as partes mais críticas. Mas depois de encontrar a solução, obtenho uma certa fluidez. Compor é aquilo que mais prazer me dá. E cada vez que chego ao fim de uma peça e coloco a barra dupla, sinto-me feliz”.
Hoje, aos 55 anos, Luís Tinoco soma cerca de oito dezenas de obras musicais, vários prémios e o seu nome está presente em programas de concertos um pouco por todo o mundo, da Orquestra Gulbenkian às sinfónicas de Chicago, Seattle, Albany e São Paulo, da Filarmónica da Radio France à Royal Philharmonic de Londres, da Orquestra Sinfónica Portuguesa e da Sinfónica do Porto Casa da Música, à Metropolitana de Lisboa.
É interpretado e gravado por agrupamentos tão importantes como Quarteto Arditti, Gaillard Ensemble, Le Nouvel Ensemble Moderne, Royal Scottish Academy Brass, Apollo Saxophone Quartet e Maat Saxophone Quartet, Ensemble Lontano, de Odaline de La Martinez, Drumming – Grupo de Percussão, de Miquel Bernat.
Formado na ‘escola’ que António Pinho Vargas e Christopher Bochmann souberam erguer em Portugal, prolongou o legado. Ensina composição na Escola Superior de Música de Lisboa, é ‘associate’ da Royal Academy of Music, na capital britânica, e diretor artístico do Concurso Jovens Músicos da RTP/Antena2, estação de rádio onde há duas décadas desvenda todas as semanas a nova Geografia dos Sons.
Foi compositor associado da Casa da Música, no Porto, na temporada de 2017, compositor residente no Teatro Nacional de S. Carlos em 2016-2017, é coordenador do programa colaborativo Jovens Compositores dos Estúdios Victor Cordon, em Lisboa.
Há composições suas recorrentemente revisitadas por agrupamentos de câmara e orquestras como Mind the Gap e Round Time. Há outras que se impõem ao longo dos anos como Poemas do Oriente, sobre Camilo Pessanha, Search Songs, a partir de Alexander Search/Fernando Pessoa, From the Depth of Distance, com textos de Walt Withman e Álvaro de Campos.
Há aquelas que quase se pressentem, mesmo antes de ouvidas: Imaginary Dancescape, Invenção sobre Paisagem, A Way to Silence, Autumn Wind, Terra Fértil, Light – Distance.
Ensaio do musical Evil Machines, de Terry Jones e de Luis Tinoco, no Teatro São Luiz, em Lisboa, em 2016
Compôs Paint Me, ópera de câmara com libreto de Stephen Plaice e encenação de Rui Horta, Passeios do Sonhador Solitário, cantata com libreto de Almeida Faria, Lídia, para a Companhia Nacional de Bailado, numa coreografia de Paulo Ribeiro, com quem vai voltar a trabalhar, para a estreia de uma nova obra, pela Orquestra Nacional de Cannes, no final de 2025.
Em 2006, dois anos antes de Evil Machines, fantasia musical com libreto e encenação de Terry Jones, compôs Contos Fantásticos, a partir de três histórias infantis do ex-Monty Python: A Estrada Rápida, Três Pingos de Chuva e Tomás e o Dinossauro – obras estreadas no Teatro S. Luiz, em Lisboa, que carecem obviamente de regresso a palco.
Quando vi o que Luís [Tinoco] tinha feito com as minhas histórias, fiquei siderado. Adorei cada instante.
Terry Jones – ator, realizador e escritor, membro dos Monty Python
O ator, realizador e escritor britânico ficou “absolutamente entusiasmado com o resultado”, como então disse ao JL: “Quando vi o que Luís [Tinoco] tinha feito com as minhas histórias, fiquei siderado. Adorei cada instante. Ele transformou-as em algo muito diferente, numa coisa completamente nova. Parecem muito mais excitantes e poderosas. Nunca conseguiria imaginar”.
Para Luís Tinoco, o trabalho com orquestra é um dos seus preferidos, pela multiplicidade de recursos disponíveis, como disse ao JL em 2005.
A sua produção orquestral inclui, entre outras peças, Cercle Intérieur, estreada na Cité de La Musique, em Paris, FrisLand, ouvida pela primeira vez em Seattle, nos Estados Unidos, Incipit, escrita para os 450 anos da cidade do Rio de Janeiro, O Sotaque Azul das Águas, numa ligação Lisboa-São Paulo, através da Orquestra Gulbenkian e da sinfónica da cidade brasileira, e ainda concertos para piano, trompa, violoncelo, clarinete, acordeão.
Entre as suas mais recentes obras contam-se o Concerto n.º2, para violoncelo e orquestra, estreado no início de novembro por Filipe Quaresma, com o Ensemble Orquestral da Beira Interior, dirigido por Bruno Borralhinho, e Out of Order, para dois pianos, estreada no final do mês passado por Pedro Burmester e Mário Laginha, no programa conjunto dos dois pianistas de celebração dos 50 anos de Abril.
No próximo ano, além do bailado para a Companhia de Paulo Ribeiro, Luís Tinoco terá, pelo menos, uma nova obra de câmara a estrear em Seattle, no projeto Music of Rememebrance.
Um dos principais compositores europeus
“A música de tradição escrita tem uma luta muito grande para conseguir sobreviver no espaço público, por um lado porque há essa avalanche da cultura musical de entretenimento; por outro, porque tem de competir com o passado de uma forma que outras expressões artísticas não têm”, disse o compositor ao JL, no final de 2022, sobre a apresentação de obras ao vivo e a sua integração no repertório.
“Quando pensamos na programação de uma orquestra, ela tem de arranjar espaço para o grande repertório do passado, que é o que domina, depois tem de arranjar espaço para a programação nacional, depois, dentro das programações contemporâneas, tem de haver também espaço para os compositores internacionais…. E cada vez há mais fatores, mas as orquestras não aumentam e as temporadas também não”.
Por um lado posso dizer que a minha música tem circulado e tem sido ouvida, em Portugal e fora do país, e isso deixa-me muito feliz. Mas também tenho consciência de que é uma coisa muito residual, circunscrita a um espaço bastante afunilado
luís tinoco
“Podemos ir a uma livraria e encontrar um autor contemporâneo. No caso da música há [necessidade de] um ‘espaço performativo’. E, obviamente, se a instrumentação das obras for de maior dimensão – estou a pensar na música orquestral, na música de cena, ópera, etc. – então aí o buraco da agulha é ainda mais reduzido”, disse Luís Tinoco que, nas últimas temporadas, teve obras interpretadas em Portugal, Alemanha, Itália, Brasil, Estados Unidos, Japão…
“Por um lado posso dizer que a minha música tem circulado e tem sido ouvida, em Portugal e fora do país, e isso deixa-me muito feliz. Mas também tenho consciência de que é uma coisa muito residual, circunscrita a um espaço bastante afunilado”.
“A gravação acaba assim por ser uma saída possível. E esse tem sido um dos meus investimentos. Tenho feito um esforço muito grande para, se possível, a cada dois, três anos, pôr cá fora um disco monográfico […], e deixa-me particularmente feliz ter conseguido gravar com alguma regularidade aquilo que escrevo”, com uma “qualidade extraordinária de intérpretes e de gravação”, quase sempre músicos e técnicos portugueses.
É o que aconteceu com os seus mais recentes álbuns em nome próprio: The Blue Voice of the Water, com as orquestras Gulbenkian, Sinfónica Portuguesa e Sinfónica da Casa da Música (além da Sinfónica de Seattle), Archipelago, pelo Drumming GP, e Alepo e Outros Silêncios, com cerca de duas dezenas de músicos de diferentes gerações, todos premiados, e o engenheiro de som Hugo Romano Guimarães.
A atribuição do Prémio Pessoa deixou Luís Tinoco “imensamente feliz e surpreendido”, como disse à agência Lusa. Mas também levou a perspetiva mais longe, ao esperar que a distinção possa contribuir para “revitalizar e fortalecer” a música portuguesa.
[O prémio Pessoa] É um voto de confiança enorme. Deixa-me muito feliz, não só a título pessoal, mas também a título daquilo que é a área profissional em que me movo, que é a área da música, da música clássica, da música erudita
luís tinoco
“É um voto de confiança enorme. Deixa-me muito feliz, não só a título pessoal, mas também a título daquilo que é a área profissional em que me movo, que é a área da música, da música clássica, da música erudita”.
Quanto ao valor de 70 mil euros do prémio, ainda não pensara no destino a dar ao dinheiro, como confessou à Lusa, mas “seguramente haverá muita maneira de o fazer desaparecer”. Talvez ajude a aumentar a sua discografia e o património musical português.
[Luís Tinoco] é um dos principais compositores europeus, de fértil imaginação, domínio técnico e ouvido aventuroso, capaz de conceber mundos sonoros mágicos
Nicola LeFanu – antiga professora do King’s College e da York University,
Nas notas que acompanham a edição em disco de Alepo e outros silêncios, a compositora britânica Nicola LeFanu, uma das mais destacadas criadoras dos últimos 40 anos, antiga professora do King’s College e da York University, estabelece um curto mas precioso guia pela expressão e pelas obras de Luís Tinoco, não hesitando em considerá-lo “um dos principais compositores europeus”, de “fértil imaginação, domínio técnico e ouvido aventuroso”, capaz de “conceber mundos sonoros mágicos” para quem o ouve. Assim é.
Ter uma “boa vibe” não se resume a uma questão de caráter. Se deu por si a sentir mais cansaço sem perceber porquê, com flutuações de humor e outros sintomas de mal-estar, onde entram as insónias, a impaciência e, não raras vezes, a propensão para comer demais ou ficar à beira de um ataque de pânico, isso pode ter muitas causas mas uma delas é, com grande probabilidade, de ter níveis baixos de serotonina (ou hidroxitriptamina). Este neurotransmissor estabelece a comunicação entre as células nervosas e o cérebro e também se encontra no sistema digestivo e nas plaquetas sanguíneas.
Produzida a partir de um aminoácido, o triptofano, regula várias funções do organismo, sendo o humor uma delas e não é por acaso que lhe chamam “molécula da felicidade”. Além disso, está envolvida na homeostase da temperatura corporal e do ritmo cardíaco, na coagulação do sangue, na cicatrização de feridas e na perceção da dor.
O apetite e o sono também são influenciados por este neurotransmissor e, recentemente, descobriu-se que ele pode ter influência na redução do declínio cognitivo. Um estudo da Universidade americana Johns Hopkins que envolveu imagens do cérebro de pessoas com perdas ligeiras ao nível do pensamento e da memória, mostrou que elas estavam relacionadas com níveis mais baixos de serotonina.
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Estes resultados confirmaram investigações anteriores com doentes de Alzheimer, que tinham uma redução acentuada do neurotransmissor, o que levou a coordenadora do estudo, a neuropsiquiatra e investigadora Gwenn Smith, a admitir que aumentar esses níveis poderia ser uma solução para prevenir o agravamento da perda de memória e retardar a progressão de doenças neurodegenerativas.
O que acontece no organismo
Os níveis de serotonina situam-se entre os 101 e 283 nanogramas por mililitro. Quando esses níveis baixam, é esperado que surjam alterações do humor, do metabolismo e do comportamento. Como sabemos que esta hormona está em défice?
Um dos sinais é a desregulação do apetite: tem-se mais vontade de comer e, com frequência, alimentos pouco saudáveis – ou “junk food” – que conferem uma sensação de conforto. As mudanças de peso associadas a perturbações do metabolismo, diretamente ligadas ao funcionamento intestinal, o nosso “segundo cérebro”, onde este “mensageiro” está em abundância. Os resultados de estudos feitos na área do microbioma sugerem que 95% da serotonina é produzida no revestimento do trato gastrointestinal, sendo os outros 5% no cérebro. Daí falar-se do eixo intestino-cérebro, uma via de comunicação entre o sistema nervoso central e o sistema nervoso entérico, ou intestinal.
A serotonina tem uma dupla função; em níveis adequados, regula o apetite e permite ter prazer, pequeno a moderado, na ingestão de alimentos
José Camolas, vice-presidente da Ordem dos Nutricionistas
Refeições nutricionalmente pobres ou processadas são inimigas da saúde visceral e podem desequilibrar o microbioma, com implicações negativas: problemas digestivos e inflamatórios, fadiga e falta de concentração. Os estados ansiosos e depressivos são outro dos indicadores de um eventual défice desta hormona mensageira, cuja escassez tende a manifestar-se em irritabilidade, agitação e dificuldade em adormecer.
Em situações mais raras, também é possível ter esses níveis acima do normal, pelos efeitos secundários associados à combinação de medicamentos (por exemplo, antidepressivos e certos medicamentos para as dores ou enxaquecas e, até, um chá de Hipericão do Gerês, usado como remédio natural para melhorar o humor). Também conhecido por síndrome da serotonina, este desequilíbrio costuma fazer-se acompanhar de sintomas como agitação, diarreia, perda de massa muscular, hipertensão, náuseas, confusão mental e problemas respiratórios. Nestes casos, é mesmo preciso recorrer a uma consulta de psiquiatria.
Ainda faltam estudos
Por se tratar de uma área de investigação com alguma complexidade e cada corpo ser único, é prudente olhar com cautela para os estudos e as soluções que possam contribuir para um sistema “fit” nesta matéria. É essa a posição de José Camolas, vice-presidente da Ordem dos Nutricionistas. “A serotonina tem uma dupla função; em níveis adequados, regula o apetite e permite ter prazer, pequeno a moderado, na ingestão de alimentos”, esclarece. Porém, se estiverem alterados, esses dois mecanismos de controlo falham.
É preciso que o triptofano seja absorvido no intestino e passe a barreira hematoencefálica, entre o sangue e o cérebro, para ser convertido em serotonina
Quando tal acontece, “há uma tendência para aumentar o apetite, comer de forma rápida e em maiores quantidades e procurar alimentos com sabor mais intenso, ricos em gordura, açúcar e sal.” Escusado será dizer que este comportamento tem efeitos danosos num plano mais periférico, nomeadamente na microbiota, fundamental para o nosso sistema imunitário.
Pessoas com excesso de massa gorda corporal, mais propensas a alterações hormonais – no caso, insulina, grelina, leptina e adiponectina – tendem a ficar mais expostas à do apetite ao nível do sistema nervoso central, onde se incluem os mecanismos da serotonina e da dopamina (ligada ao sistema de recompensa do cérebro), adianta o especialista.
Por outro lado, nada garante que a ingestão de alimentos ricos em proteína, ou seja, em triptofano, contribuam para o aumento dos níveis do neurotransmissor. “É preciso que o triptofano seja absorvido no intestino e passe a barreira hematoencefálica, entre o sangue e o cérebro, para ser convertido em serotonina.”
Se a relação entre a serotonina, o apetite e a resposta hedónica – a procura de satisfação pelo sabor – não estiver equilibrada, como vimos, “o aminoácido não chega a ser molécula, quer dizer, mesmo que se aposte em refeições ricas em triptofano”.
Fatores que diminuem a produção de serotonina
Deficiência de triptofano, ácidos gordos ómega-3, vitamina B6 e vitamina D (envolvidos na produção do neurotransmissor)
Dificuldades de absorção de nutrientes
Stresse crónico
Dieta pobre em nutrientes e rica em alimentos processados
Baixa exposição à luz solar
Mudanças hormonais
Sedentarismo
Sintomas
Ansiedade e depressão
Problemas de atenção e memória
Aumento do apetite
Irritabilidade e conduta impulsiva
Inflamações gastrintestinais
Fadiga e insónia
O que mantém ou promove os níveis de serotonina?
Cuidar da saúde deste importante mensageiro passa por cultivar estilos de vida saudáveis e ter uma dieta rica em determinados alimentos
Exercício físico: caminhar, correr ou dançar são amigos da serotonina. Estudos feitos pelo psiquiatra e investigador francês David Servan-Schreiber levaram-no a concluir que o exercício regular estimula a produção deste neurotransmissor, referindo-os num capítulo de uma das suas obras, intitulado “Prozac ou Adidas”, numa alusão aos efeitos benéficos do movimento, ao nível do humor e do sono
Exposição à luz: não apenas a solar, como através do recurso à terapia da luz, com lâmpadas específicas, geralmente receitadas por médicos
Gerir o stresse: andar a mil dá conta do circuito uma respiração completa e pausada, complementada por exercícios de relaxamento físico e psicológico, seja através de um banho quente, de um passeio na natureza ou de práticas meditativas e passatempos que promovem a concentração e a coordenação entre mente e corpo
Dieta: ingerir alimentos ricos em triptofano, presente em certos frutos (bananas, nozes, abacaxi), em peixes ricos em ácidos gordos ómega-3 (salmão, sardinha), nos ovos, no queijo e no tofu. A suplementação com o aminoácido 5-HTP, sintetizado a partir do triptofano, é usada em programas anti-envelhecimento, para a regulação da dor e outras funções cerebrais e nervosas
Fármacos: inibidores seletivos da recaptação da serotonina e da norepinefrina – SSRI’s e SNRI’s – são uma classe de antidepressivos que permitem restabelecer os níveis em défice quando as outras opções não são suficientes e há uma perturbação mental diagnosticada, mas requer receita médica
Reformou-se há já alguns anos, mas os hábitos mantêm-se. Entramos na sua casa, em Colares, e o computador está ligado, os livros amontoam-se na secretária e nas estantes das várias divisões, e quer se sinta mais ou menos em forma tem sempre um papel e uma caneta por perto.
Miguel Real é um devoto da leitura, da escrita e da cultura, a que tem dedicado toda a vida. Mas agora que as obrigações profissionais abrandaram, embora não lhe faltem recensões aqui no JL e vários livros publicados e no prelo (mais de 70 no total), tem tido tempo para se confrontar, noutro fôlego e fundamento, com as grandes questões da sua existência.
Uma delas é a religião. Com uma educação católica, afastou-se da Igreja aos 14 anos, num ceticismo que se prolongou pela vida fora.
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O romance que agora lança, Autobiografia de Jesus, é um ajuste de contas com esse passado e com essas dúvidas, que residem sobretudo no episódio da Ressurreição e na construção que foi feita a partir do percurso terreno de Jesus.
É também uma ficção, com as liberdades que a literatura lhe permite, que prolonga as reflexões avançadas em Nova Teoria do Mal e Nova Teoria do Pecado. Nos episódios que mais conhecemos e nos espaços em branco, Miguel Real imagina um homem que advoga sobretudo o bem e o belo, longe do poder opressor que a Igreja Católica veio a exercer.
Nascido em 1953, Miguel Real (pseudónimo literário de Luís Martins) foi professor do ensino secundário até à reforma. É autor de vários estudos sobre a cultura portuguesa e, como escritor, estreou-se, em 1979, com O Outro e o Mesmo. Tem publicado romance, incluindo de fundo histórico, e teatro, como A Voz da Terra, O Último Europeu e Cadáver às Costas.
Teve uma educação católica, afastou-se da Igreja aos 14 anos, tem um longo percurso como romancista e ensaísta, com diferentes abordagens a temas religiosos. Era inevitável vir a escrever este romance?
Este livro andava na minha cabeça há mais de 60 anos. Na verdade, e como digo na nota de apresentação, começou a ser escrito ainda quando eu frequentava a catequese na paróquia da Penha de França, em Lisboa. Mas só agora, reformado, com mais tempo em casa, com a possibilidade de ler outro tipo de livros, sem as imposições dos trabalhos académicos ou até da crítica no JL, tive o tempo necessário para o escrever. Esta Autobiografia de Jesus resulta tanto dessa inquietação que vem da juventude, quanto das leituras e das reflexões que fiz agora.
O que o inquietava tanto na catequese?
Era, e continua a ser, a Ressurreição, na qual nunca acreditei. Aliás, penso que ninguém na minha turma da catequese acreditava. E foi aí que surgiu um episódio que me marcou profundamente. Preocupado com as reservas que manifestei numa aula, o meu padrinho, amigo dos meus pais, foi falar com a minha mãe. Bem ao jeito da época, mostrava-se irritado com o meu desalinho.
Foi então que ouviu as palavras da sua mãe que nunca mais esqueceu.
É verdade. Palavras de uma enorme sabedoria para uma mulher do povo como era a minha mãe. Perante uma polémica antiquíssima, ela disse ao meu padrinho que a vida de Jesus bastava e que se podia ser um bom católico e fiel e leal à Igreja sem acreditar na Ressurreição. As suas palavras, e a forma como as elaborou (refiro-as na apresentação), nunca mais me saíram da cabeça.
Essas palavras acompanharam a escrita deste livro?
Sim, sim. Não só essas, como as muitas conversas que tivemos quando decidi, aos 14 anos, afastar-me da Igreja. Foram vários os motivos, alguns que não interessa aqui evocar, mas que passavam por essa dúvida.
O Cristo é o mal da cultura europeia. Jesus encerra tudo aquilo que se perdeu. É o Jesus do amor, aquele que vê o Reino de Deus como a grande afirmação da beleza do mundo
O que de fundamental o afastou da Igreja?
Na altura, foi mais instinto do que reflexão. Percebi que a maior parte das altas figuras da Igreja não seguia a doutrina que professava, apoiando-se nas elites civis e nas classes mais favorecidas. Depois, ao longo da vida, fui encontrando outros argumentos. O abençoar dos navios que iam para a Guerra Colonial; o papel torturador que a Igreja Católica teve no século XVI, bloqueando completamente a história de Portugal; a Inquisição; ou a conversão forçada de povos. Não é uma reserva e um afastamento face aos crentes, mas perante a instituição.
Como é que todas essas vivências e novas leituras deram corpo a esta Autobiografia de Jesus?
Quis escrever um romance sobre a nossa civilização que pudesse apresentar uma visão crítica do Cristianismo. E apresentar um Jesus que não é Cristo.
Essa é a grande divisão do romance. Por que razão a faz?
Porque Cristo é uma construção da Igreja enquanto instituição e encerra todo o mal que ela impôs ao mundo. Jesus, pelo contrário, o Jesus meigo, o Jesus bondoso, é para mim o homem mais fracassado da civilização ocidental: morreu consciente de que não tinha o amparo do Pai e com a ideia de que tudo o que profetizou não só não se cumpriu como deu origem à religião mais violenta do mundo.
O que aqui apresenta é um Jesus humano?
Sim, em oposição a um Cristo desumano, construído a partir do lugar do poder e que barbaramente se afirmou na cultura europeia. O Cristo é o mal da cultura europeia. Jesus encerra tudo aquilo que se perdeu. É o Jesus do amor, aquele que vê o Reino de Deus como a grande afirmação da beleza do mundo. Além disso, a Igreja apropriou-se da cultura clássica, grega e romana, revirando esse legado.
Já se vê que este romance é o resultado de muitas reflexões.
E de experiências de vida. Estes são temas que me inquietam há muito e que, de alguma maneira, agora consegui resolver romanescamente. Não estou a provar nada. Quando se escreve uma biografia sobre Jesus ou, neste caso, uma autobiografia, não se afirma o “verdadeiro” Jesus. Isso não é possível, nem nenhum outro escritor o tentou. Mas há muitas informações, a começar pelos evangelhos, que nos podem orientar e interpelar.
Há uma longa tradição literária em torno da vida de Jesus, incluindo em Portugal. Foi influenciado e motivado por ela?
Sim, sim. E o facto de ter dedicado tanto tempo, nos últimos anos, a estudar a obra de José Saramago e a escrever a sua biografia [As 7 Vidas de José Saramago] ajudou muito. A primeira leitura decisiva para o reencontro com a figura de Jesus foi Eça de Queirós, em A Morte de Jesus das Prosas Bárbaras, lida aos 17 anos. Em Saramago encontrei uma ideia que também partilho: a de que o mal é absoluto, o bem é relativo. Estas e muitas outras leituras, nomeadamente de ensaio, influenciaram, mas estamos no território do romance. Não há caminhos a seguir, nem fórmulas. O que me parece importante é que haja romances (ensaios também, claro) que contestem o sentido da nossa civilização.
Numa espécie de contrapoder?
Estou até convencido que, dentro de 100 anos, aqueles heróis que valorizamos, na história e na escola, vão desaparecer ou vão ser reinterpretados criticamente
Exatamente. Estou até convencido que, dentro de 100 anos, aqueles heróis que valorizamos, na história e na escola, vão desaparecer ou vão ser reinterpretados criticamente. Posso dar o exemplo de Vasco da Gama, de quem, aliás, se assinalam agora os 500 anos da morte. Não faltam obras sobre a sua vida e as suas viagens. Não há dúvida que descoberta do caminho marítimo para a Índia é um feito assinalável. No entanto, Vasco da Gama foi um pirata. Desvalorizou tudo o que era diferente e não correspondia à visão que levou de Portugal, a visão da Igreja Católica. Matou, destruiu culturas, impôs uma religião. Gosto do Vasco da Gama aventureiro e marinheiro, desprezo o Vasco da Gama que aterrorizou e torturou os hindus. Não sinto orgulho em pertencer ao povo descendente de Vasco da Gama. O navegador português funcionou para os hindus como os Vikings para os europeus costeiros ao longo da Idade Média, e não temos boas recordações deles, pois pilhavam, escravizavam e destruíam comunidades.
Antes desta autobiografia, publicou ensaios sobre o Mal e o Pecado. Foram reflexões fundamentais para este romance?
Absolutamente. Em Nova Teoria do Mal tentei explicar a relação do homem com o poder e de como isso tantas vezes está ligado à humilhação do outro ou à limitação dos seus direitos. E essa associação entre poder e mal pode ser vista até na pessoa mais apreciada. Em Nova Teoria do Pecado tentei mostrar como o pecado se tornou a categoria filosófica e religiosa sobre a qual a Europa cristã assentou as suas constantes culturais e civilizacionais. É um outro poder, associado a emoções e sentimento humanos muito fortes: o medo e a culpa. E Cristo, não Jesus, representa esta dimensão da religião.
E por que razão não escreveu agora um ensaio?
Sinto-me mais romancista. E no romance encontrei a liberdade para dar a ver a vida de uma pessoa simples, boa, com o bom senso que tanta falta faz hoje em dia. E também para mostrar que apesar dos bons momentos que viveu, e que todos nós vivemos nas nossas vidas, o mal domina sempre tudo. A própria morte é uma prova de que o mal domina a vida.
É o romance de um pessimista?
Talvez. O mundo está a mudar a uma enorme velocidade, a caminho de uma nova civilização, com outros valores e pilares. Não sei se para melhor. Nesse futuro também não sei que lugar terá a Igreja Católica, que me parece em óbvio declínio. O Papa fala e já ninguém o ouve; apela à paz, mas as guerras continuam. Mas não tenho nenhuma solução para os desafios que aí vêm. Não sou político. Sinto, no entanto, que estando o mundo tão torto, talvez seja preciso voltar aos valores de Jesus e da Europa Renascentista, a Europa da arte, da música e da cultura.
Que reações espera que o seu romance venha a desencadear?
Essa é uma dimensão de um livro que eu não controlo. Gostava apenas que o lessem de mente aberta e que nunca se esquecessem que se trata de um romance. É um outro olhar para episódios bem conhecidos. Gostei muito de imaginar a vida de Jesus nos períodos menos conhecidos, como a infância e os primeiros milagres. Também gostei de encontrar um possível primeiro ofício. E de misturar o maravilhamento que se encontra em certas passagens da Bíblia com o maravilhamento que uma vida, qualquer vida, pode ter. O meu capítulo preferido é “Simão, o Mago, e os demónios de Madalena”. Espero, por isso, que cada leitor possa encontrar o seu Jesus nestas páginas.
“Atinge-nos ao ler este livro uma chuva de palavras entranhas. Quando estamos ali, na boca do precipício, somos confrontadas com poemas feito esperança. Apercebemos que ao lado da bomba, um mar, sobre os escombros, uma dança, no exílio, um regresso, entre uma morte e uma morte, uma memória cai sem aviso nos nossos entes: ser Palestina também é ser poema”, escreve Shahd Wadi no prefácio de Se Eu Tiver de Morrer, uma antologia de poesia de resistência palestiniana do séc XXI, coletânea de poemas inéditos em Portugal, publicada pela Traça Edições.
São dezenas de poemas de autores que vivem na Palestina ou no exílio, com tradução de Margarida Vale de Gato, Ana Guimil, António Hess, Duvall McGregor, Joana Craveiro e Cobramor.
Publicam-se aqui dois desses poetas e ainda um inédito de Noor Hindi, de um livro que a Traça vai publicar em 2025. As vendas do livro revertem a favor das ONG Eye Witness Palestine e MECA For Peace.
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Um livro de resistência
Apesar do precipitar do nascimento deste livro ter acontecido devido aos acontecimentos de 7 de outubro, a sua génese há muitos anos que passeava pela minha cabeça. Não só pela minha ligação pessoal com a cultura e poesia árabe, mas também pelo acompanhamento regular da situação da Palestina.
Conhecia algumas recolhas de poesia árabe traduzidas para outras línguas, inclusivamente em português, mas nenhuma que colocasse o foco nas novas gerações, nem tão pouco no seu potencial enquanto forma de resistência. Não queria, no entanto, que o aspeto panfletário se sobrepusesse ao carácter estético da seleção.
Sete de Outubro de 2023 foi um sábado e o fim de semana seguinte, incapaz de nada fazer, foi passado inteiramente a traduzir e editar uma fanzine online gratuita chamada Poesia de Resistência Palestiniana, com descarga e distribuição encorajadas. Uma vez concluída, contactei todas as pessoas de que me lembrei para a divulgar.
Sabia que o que tinha feito era pouco e ambicionava ter um livro que espelhasse verdadeiramente a ideia esplanada no título. Passei alguns meses em pesquisa, recolha e contactos e tentei transformar este projeto em algo comunitário, como faria sentido, convidando a Ana Guimil, o Duwall McGregor, o Fernando Hess, a Margarida Vale de Gato e a Joana Craveiro que contribuíram com algumas sugestões e traduções, o que tornou o livro mais completo e abrangente.
Decidi também que não estaria identificado quem teria traduzido o quê. Algumas pessoas que tentei contactar não mostraram interesse ou não deram resposta, apesar de publicamente se posicionarem pro-Palestina, algo que até agora não compreendo.
Uma vez feita a recolha e enquanto traduzia, percebi que faria sentido este ser um projeto de crowdfunding com os lucros a reverter para duas ONGs da Palestina: ONG EyeWitness Palestine e da MECA. Desta forma, além da ajuda financeira, estaríamos também a dar voz a um povo massacrado e, espero, a contribuir para a sobrevivência da sua cultura.
Afinal, o papel das editoras e dos autores não pode ser meramente o de promoção e venda de livros, sob pena de sermos coniventes com a predação capitalista da nossa cultura e por arrasto com a nossa autodestruição. Demasiado idealista para os dias que correm, bem sei, mas foi essa uma das principais razões pelas quais a Traça Edições nasceu.
Cobramor – editor e tradutor da Traça Edições
O que um habitante de Gaza deve fazer durante um ataque aéreo israelita
Apaga as luzes em todas as divisões
senta-te no corredor interior da casa
longe das janelas
fica longe do fogão
pára de pensar em fazer chá preto,
tem uma garrafa de água por perto
suficientemente grande para arrefecer
o medo das crianças
agarra numa mochila de criança e outras tralhas,
brinquedos pequenos e o dinheiro que houver
e os documentos de identificação
e fotografias dos avós, das tias ou dos tios falecidos
e o convite de casamento dos avós conservado durante muito tempo
e se fores agricultor, coloca algumas sementes de morango
num bolso
e alguma de terra dovas
o da varanda no outroe aguenta firme
no número que estava
no bolo
do último aniversário.
Posso arrancar a terra de mim como uma rolha?
Mosab Abu Toha
Ode
Edgewater Beach, 2019 para Kevin
A noite, tão amena, que poderia apaixonar-me
por qualquer coisa
incluindo eu própria. Meus amores, vocês são os únicos
a quem eu submeteria a minha brandura.
A lua tão azul. O que é áureo
é áureo. O que é real
somos nós apesar
de um país tão desolado, tão desperto, tão sepulcral.
A nossa penumbra tão ruidosa como munições.
Escuta. Até mesmo o oceano implora.
Coloca as tuas mãos na areia, meu amigo.
O melhor é que nós próprios nos enterremos.
O que é pesado. O que é pesado?
Torna-se luz.
Noor Hindi
Que se foda a tua palestra sobre a arte, o meu povo está a morrer
Os colonizadores escrevem sobre flores.
Eu conto-te como as crianças atiram pedras contra os tanques israelitas
segundos antes de se transformarem em margaridas.
Quero ser como aqueles poetas que se interessam pela lua.
Os palestinianos não veem a lua das celas e das cadeias.
É tão bela, a lua.
São tão belas, as flores.
Colho flores para o meu falecido pai quando estou triste.
Ele vê a Al Jazeera o dia inteiro.
Gostava que a Jessica parasse de me enviar mensagens de feliz Ramadão.
Sei que sou americana porque quando entro numa sala, algo morre.
As metáforas sobre a morte são para poetas que pensam que
os fantasmas querem saber do som.
Quando eu morrer, prometo assombrar-te para sempre.
Um dia escreverei sobre as flores, como se elas nos pertencessem.
Mais de 40 mil mortos e de 10 mil desaparecidos. Este é o balanço de quase 14 meses de ataques do exército israelita à Palestina, a que se juntam cidades inteiras destruídas, incluindo hospitais e escolas, além de um sem número de deslocados.
Tudo isto apesar das resoluções das Nações Unidas e a condenação do Tribunal Internacional de Haia, que expediu mandados de prisão contra o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e o ministro da Defesa, Yoav Gallant, sob acusações de crimes de guerra e contra a humanidade.
A Palestina luta pela sua libertação há mais de 75 anos, desde a criação do Estado de Israel. Esta escalada de violência teve como ponto de partida uma ação do Hamas, que fez cerca de duas centenas e meia de reféns e mais de um milhar mortos.
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A resposta israelita provocou aquele que será muito provavelmente o maior massacre do séc. XXI. Entre os mortos, na esmagadora maioria civis, encontram-se mais de 10 mil crianças.
Sobre tudo isto falamos com Dima Mohammed, palestiniana, doutorada em Teoria da Argumentação e Argumentação Política, na Un. de Amesterdão, que vive em Lisboa há 13 anos. Depois de ter trabalhado também na Suíça e na Holanda, veio para Portugal, para trabalhar na Un. Nova, quando o laboratório de argumentação foi criado na Fac. de Ciências Sociais e Humanas.
Encontrámo-nos na Zaytouna, uma mercearia do Médio Oriente, no Mercado de Arroios, gerida por Hindi Mesleh, um outro palestiniano que vive em Portugal há quase uma década, que chegou a montar um pequeno festival de cinema palestiniano em Lisboa.
Estes são alguns dos rostos da resistência palestiniana em Portugal, movimento que tem ganho cada vez mais apoiantes, à medida que as imagens da tragédia que ocorre em Gaza nos chegam repetidamente pela televisão.
Em conversa com o JL, Dima diz que foi bem recebida em Portugal e que nota uma grande evolução nos movimentos de apoio à causa: “De início senti um apoio popular muito grande que não se repercutiu na política oficial. Sobretudo os mais velhos falavam da visita de Yasser Arafat a Portugal (1999) e faziam comparações com a revolução portuguesa. Nos últimos anos as coisas mudaram. Vejo muito mais ativistas a defender a causa palestiniana. Na Holanda e na Suíça era diferente, sentia uma acusação, uma hostilidade”.
Não temos nenhum problema com os judeus, que não é uma questão religiosa. O nosso problema é com a ocupação sionista. A Palestina também é dos judeus.
dima mohammed
Mas por que é que um elemento de um povo que está a ser massacrado haveria de ser ostracizado? A que se deve essa atitude noutros países da Europa? Dima explica: “Lá fora as pessoas precisavam de me dizer coisas, como ‘vocês têm que aprender a viver com os judeus’. E eu lá tinha de explicar que não temos nenhum problema com os judeus, que não é uma questão religiosa. O nosso problema é com a ocupação sionista. A Palestina também é dos judeus”.
Explique-se melhor, para desfazer equívocos: “A propaganda sionista espalha que o povo palestiniano está contra os judeus. É totalmente falso, uma deturpação e inversão da realidade. Somos um povo que luta pela libertação, por direitos iguais e pelo direito a viver na nossa terra.”
Tornou-se óbvio que Israel está a tentar exterminar o povo palestiniano, pois nada justifica a escala de destruição. Não há casas, nem escolas, nem hospitais. O pretexto da autodefesa é obviamente uma mentira
dima mohammed
Em Portugal, diga-se, Dima não tem sentido esse tipo de hostilidade. O número de pessoas empenhadas na causa tem aumentado. Para Dima é claro: “Tornou-se óbvio que Israel está a tentar exterminar o povo palestiniano, pois nada justifica a escala de destruição. Não há casas, nem escolas, nem hospitais. O pretexto da autodefesa é obviamente uma mentira. E este genocídio está a acontecer com o dinheiro e o apoio do ocidente. Israel sozinho não tem armas, só pode fazer isto porque há armamento a vir continuamente dos Estados Unidos. A maioria dos governos europeus é cúmplice, pois permite a passagem das armas pelo seu território.”
Os meus avós foram expulsos da sua aldeia na nakba de 1948, os meus pais foram expulsos da sua aldeia quando Israel ocupou o resto da Palestina (na Cisjordânia). Eu vivi a invasões da segunda intifada, e as múltiplas guerras contra Gaza
dima mohammed
E conta a história da sua família: “Os meus avós foram expulsos da sua aldeia na nakba de 1948, os meus pais foram expulsos da sua aldeia quando Israel ocupou o resto da Palestina (na Cisjordânia). Eu vivi a invasões da segunda intifada, e as múltiplas guerras contra Gaza, conheço bem a violência colonial sionista, mas nunca imaginei que íamos assistir a um genocídio, sem conseguir travar durante 14 meses”.
A Palestina também é dos Judeus
A palavra genocídio tem um grande peso para a comunidade judaica, que foi vítima do maior genocídio do séc. XX. Dima, no entanto, chama a atenção: “Faço questão de separar a comunidade judaica da comunidade sionista. Há sionistas não judaicas e judeus antissionistas. Os judeus antissionistas estão sempre a tentar combater a narrativa que confunde o sionismo com a religião judaica. Não permitem que o estado de Israel imponha uma ideologia racista, colonialista, a todos os judeus do mundo. Temos de ouvir a voz do coletivo português “Judeus pela Paz e Justiça” que, tal como o grupo americano Jewish Voice for Peace e outros em todo o mundo, tem vindo a repetir o slogan “não em nosso nome”.
Faço questão de separar a comunidade judaica da comunidade sionista. Há sionistas não judaicas e judeus antissionistas
dima mohammed
Dima que, de resto, confessa-se ateia, e esclarece: “Tenho todo o respeito pelas religiões como prática cultural. Mas não tenho tolerância nenhuma para o uso da religião como prática política. Também sou contra os partidos islâmicos. Israel está a usar a religião como poder político. As primeiras vítimas (não em grau de gravidade) são as pessoas da mesma religião que não se identificam com a ideologia política. É uma ideologia discriminatória com base na religião que está a ser imposta a judeus contra a sua vontade. Por isso há quem considere o sionismo uma forma de antisemitismo.”
Temos de ouvir a voz do coletivo português “Judeus pela Paz e Justiça” que, tal como o grupo americano Jewish Voice for Peace e outros em todo o mundo, tem vindo a repetir o slogan “não em nosso nome
dima mohammed
A verdade é que, apesar de tudo isto, há uma grande afinidade cultural entre todos os povos do mediterrâneo, mais ainda no lado oriental. Durante séculos, judeus, muçulmanos e cristãos viveram em conjunto, não só na Palestina, mas também em países como Iraque, Síria, Líbano, Irão, Egito.
Perante o está acontecer na faixa de Gaza, perguntamos a Dima o que os palestinianos no exílio podem fazer sobre o assunto “Temos de continuar a falar, desconstruir os mitos sionistas e pressionar para pôr fim à impunidade israelita. É um trabalho muito pesado. Não há nenhum país do mundo que tenha violado as leis internacionais, as convenções dos Direitos Humanos, as resoluções das Nações Unidas sem nenhuma consequência.”
Temos de continuar a falar, desconstruir os mitos sionistas e pressionar para pôr fim à impunidade israelita. É um trabalho muito pesado
dima mohammed
Depois passa para algo mais concreto. “Não faz sentido que Israel faça parte de todos os acordos de colaboração da União Europeia. Quase todos os consórcios têm um parceiro israelita. Claro, há a história europeia e o sentido de culpa, mas depois de mais de 75 anos de uma ocupação colonial e de limpeza étnica, décadas de apartheid e um ano e três meses de genocídio, como podemos considerar Israel um estado que merece um estatuto especial?”
E faz um apelo para a adesão de mais empresas e instituições ao BDS (campanha internacional de Boicote, desinvestimento e sanções contra Israel), que foi lançada há 20 anos por 170 organizações da sociedade civil palestiniana, inspirada na luta contra o apartheid na África do Sul.
A cultura é uma arma
Como sempre, uma das formas de resistência tem sido a cultura. No último ano, Portugal tem recebido uma quantidade significativa de criadores palestinianos, nas mais diversas áreas, com diferentes programas em festivais, desde o LEFFEST, que fez uma programação especial dedicada à causa, ao Festival de Músicas do Mundo de Sines, passando pelo Indie, DocLisboa, Alkântara e muitos outras da área das artes visuais e performativas.
Dima diz: “Sempre houve eventos culturais com destaque para a Palestina. Por exemplo, o Festival Olhares do Mediterrâneo desde há 10 anos que tem sempre filmes e debates sobre o tema. Mas no último ano tem sido diferente. Faz parte da intenção das pessoas apoiar a causa. A cultura é um bom sítio por onde começar. Tem a ver com o papel dos artistas, a forma como lidam com a injustiça. A cultura é uma forma de resistência.”
A cultura é um bom sítio por onde começar. Tem a ver com o papel dos artistas, a forma como lidam com a injustiça. A cultura é uma forma de resistência.
dima mohammed
E vai mais longe: “O projeto colonial sionista tem como objetivo último a aniquilação da Palestina. Israel tem feito tudo para apagar a Palestina do mapa. Tal está a ser feito com os ataques do exército e não só. Israel recusa-se a falar da Palestina, fala da Cisjordânia e de Gaza. E agora há membros do governo israelita a falarem da Judeia e Samaria. Manter a Palestina viva é um dos objetivos da resistência.”
E acrescenta: “Gostava que isto saísse da cultura e chegasse à política, para parar o genocídio. Mas fico feliz, porque o que a cultura está a construir é algo de longo prazo, uma narrativa alternativa, em que a Palestina existe não só como um país ocupado, um povo que sofre, que precisa de ajuda humanitária. Estamos a existir como um povo que tem uma história, artes, cultura, um povo que resiste e que vai sobreviver. A presença cultural da Palestina no mundo é gigante, apesar de décadas de ocupação. É uma resiliência enorme. E no mundo, há uma nova geração que percebe que a Palestina não é apenas o povo que sofre, mas também o povo que luta de todas as maneiras: através da arte, da ciência, da política e também da resistência armada. “
Queremos dignidade para que todas as pessoas na Palestina vivam com direitos iguais. Como é que alguém poderá dizer que não é legítimo? Temos um sonho muito lindo apesar da feia realidade que estamos a viver
No meio disso tudo há margem para esperança?, perguntamos-lhe. Dima responde citando o maior dos poetas palestinianos, Mahmoud Darwish: “O palestiniano sofre de uma doença incurável que se chama esperança”.
E continua: “Estes tempos são muito escuros. A chacina em Gaza, a limpeza étnica na Cisjordânia, o ataque de colonos. O futuro próximo não é de esperança. Enquanto o mundo não parar Israel, vamos assistir a mais vidas, cidades, aldeias a serem destruídas. Mas tenho muita esperança nos povos. Olhando para o que está a acontecer na cultura, nas universidades, vejo estudantes com uma clareza de visão. ‘Desde o rio até ao mar Palestina libertar’, gritam nas manifestações. Isto não é um grito para expulsar os judeus da Palestina como diz a propaganda sionista, isto é um apelo para que todas as pessoas que vivem naquela zona devem viver em paz, liberdade e com direitos iguais.”
E remata: “Queremos dignidade para que todas as pessoas na Palestina vivam com direitos iguais. Como é que alguém poderá dizer que não é legítimo? Temos um sonho muito lindo apesar da feia realidade que estamos a viver”