Uma boa notícia para as Pequenas e Médias Empresas portuguesas (PME): a E-goi, reconhecida pelas suas soluções em automação de marketing omnichannel e inteligência artificial, junta-se ao programa Aceleradoras de Comércio Digital. Com uma dotação total de 55 milhões de euros, esta iniciativa do governo português, integrada no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), pretende apoiar a transição digital de até 30 mil PME até 2025.

As PME interessadas podem candidatar-se através das Aceleradoras de Comércio Digital da sua região. Após a candidatura, será realizado um diagnóstico da maturidade digital da empresa, seguido da elaboração de um plano estratégico que indicará os serviços e incentivos disponíveis no Catálogo de Serviços de Transição Digital.

O programa destina-se a micro, pequenas e médias empresas dos setores do comércio, serviços e restauração. As empresas elegíveis devem ter um CAE (Código de Atividade Económica) principal enquadrado nas seguintes atividades:

  • 45: Comércio, manutenção e reparação de veículos automóveis e motociclos
  • 46: Comércio por grosso (inclui agentes), exceto de veículos automóveis e motociclos
  • 47: Comércio a retalho, exceto de veículos automóveis e motociclos
  • 56: Restauração e similares
  • 79: Agências de viagens, operadores turísticos e outros serviços relacionados
  • 95: Reparação de computadores e bens pessoais
  • 96: Outras atividades de serviços pessoais

As despesas elegíveis podem atingir até 2.000€ por empresa.

Dentro deste contexto, a E-goi, plataforma de automação de marketing omnichannel, destaca-se como uma das entidades que oferecem soluções valiosas no âmbito do programa.

Os nossos planos e soluções de marketing digital foram desenvolvidos para responder às diversas necessidades das empresas beneficiárias, ajudando-as a alcançar maior eficiência e competitividade no mercado atual

Daniel alves, head of innovation & research da e-goi

As PME que optarem pelos serviços da E-goi poderão escolher entre três planos adaptados às suas necessidades: Plano Base PRR 500, que Inclui email marketing ilimitado e automação básica, Plano Pro PRR 1000: que adiciona automação completa e Plano PRR AI 1500, que Integra Inteligência Artificial.

“Estamos entusiasmados por fazer parte deste programa, cujo objetivo é impulsionar a transformação digital das PMEs portuguesas”, afirma Daniel Alves, Head of Innovation & Research da E-goi. “Os nossos planos e soluções de marketing digital foram desenvolvidos para responder às diversas necessidades das empresas beneficiárias, ajudando-as a alcançar maior eficiência e competitividade no mercado atual.”

Para adquirir os serviços da E-goi, as empresas devem inscrever-se junto à Aceleradora da sua região e passar pelo diagnóstico necessário para receber um plano estratégico personalizado.

Para mais informações, a E-goi disponibiliza um formulário onde pode solicitar contacto: formulário.

Era para ser mais um passeio em família pelas magníficas paisagens das grutas de Salnitre de Collbató, na montanha de Montserrat, um dos patrimónios naturais mais importantes da região de Barcelona. Isak e Jonathan Andic, pai e filho, respetivamente, estavam na reta final da sua caminhada de sábado, 14, quando o mais velho escorregou e se precipitou numa queda com cerca de 150 metros de altura que lhe provocou morte imediata. E assim, o que era suposto ser um início de fim-de-semana perfeito, terminou com uma tragédia e a morte do homem mais rico da Catalunha e uma figura que marcou a história recente de Espanha.
Isak Andic nasceu a 20 de outubro de 1953 em Istambul, Turquia, no seio de uma família de judeus sefarditas, que viria a emigrar para o Norte de Espanha, em 1969. Com espírito empreendedor, convenceu o irmão Nahman a começar um negócio de roupa ornamentada com bordados à mão “made in Turkey”. Abriram lojas em Barcelona e Madrid, onde vendiam a sua marca própria (a Isak Jeans) e produtos de outras companhias.

Em 1984, Isak fundou a cadeia de lojas Mango, que haveria de tornar-se uma das mais importantes marcas de roupa espanhola, com lojas espalhadas pelo mundo inteiro. Como sócio maioritário, Isak Andic acabaria por tornar-se um dos homens mais ricos de Espanha e o detentor da maior fortuna da Catalunha, que incluia a maior participação individual no capital do Banco Sabadell, instituição da qual chegou a ser vice-presidente. A sua fortuna estava calculada em 4,5 mil milhões de euros, o que também fazia dele o 32º judeu mais rico do mundo.

Com a morte trágica de Isak Andic, aos 71 anos, toda esta fortuna será agora dividida pelos três filhos, o primogénito e sucessor nos negócios Jonathan, de 43 anos, Judith, 40, e Sarah, 27, frutos do seu casamento, entretanto desfeitos, com Neus Raig Tarragó.

(Nota: Corrige a data de nascimento relativamente ao texto publicado na edição impressa.)

Com a chegada de dezembro, há símbolos que parecem incontornáveis para celebrar o Natal. Afinal, porque é o Pai Natal tão relevante e porque colocamos uma estrela no topo de um pinheiro? Aliás, porque temos um pinheiro dentro de casa? Saiba a origem destes e outros símbolos de Natal em seguida.

Pai Natal

O velhinho de barbas brancas vestido de vermelho que dá presentes a quem se portou bem é uma presença muito forte no imaginário de todas as crianças nesta época. O Pai Natal não está relacionado com o nascimento de Jesus, mas tem uma matriz cristã, ainda que tenha perdido essa conotação a partir do momento em que se tornou uma figura comercial, na primeira metade do século XX.

É uma figura que evoluiu de São Nicolau, um bispo de Bari que viveu entre o século III e o século IV e que foi canonizado pela igreja católica devido aos milagres que lhe foram atribuídos. É retratado como um homem solidário que dedicou a sua vida a ajudar o próximo. Existem variações da lenda a seu respeito, mas todas acabam por relatar a entrega de bens essenciais, dinheiro ou até brinquedos aos mais carenciados de forma discreta. Como? Depositando estas ofertas nas chaminés de quem mais precisava. 

A lenda tornou-se popular e a figura de um velhinho com um saco às costas durante a noite para entregar presentes tornou-se muito presente no imaginário popular. Conforme a história ia chegando a novos locais, ganhava também novos contornos, como aconteceu no norte da Europa, onde São Nicolau passou a receber a ajuda de elfos. Os primeiros registos do novo Pai Natal surgem no século XVII em Inglaterra e na Holanda e no século XIX esta figura ganha ainda maior destaque nos EUA. No século seguinte recebe o visual que hoje lhe é conhecido, com casaco, calças e gorro vermelho, graças a uma publicidade da marca Coca-cola. A imagem fez sucesso e desde então é a que é aceite. São Nicolau passou a Pai Natal e, apesar das origens, deixou de ter uma conotação religiosa para estar associado a um lado mais comercial e é um dos símbolos maiores desta quadra.

Pinheiro 

É quase uma obrigação para muitos lares. Chega dezembro e em casa tem de estar um pinheiro decorado. Seja ele alto até ao teto, pequeno e instalado em cima de um móvel, natural ou artificial, verde ou outra cor. O importante é haver uma referência a um pinheiro. Mas se Jesus nasceu em Belém, uma terra onde o pinheiro não é de todo natural, de onde vem a origem deste símbolo tão impactante? Ao que tudo indica, a árvore de Natal vem dos povos pagãos do norte da Europa.

Durante os festejos do solstício de inverno, os povos pagãos decoravam as suas casas com ramos de pinheiro, uma árvore que nunca perde o tom verde durante o ano e, por isso, representa a esperança. A folhagem podia ainda ser decorada com moedas, alimentos ou brinquedos, numa representação do que era valorizado. Ao levarem ramos de pinheiro para casa, estes povos queriam recordar que o inverno iria eventualmente terminar e dar lugar à primavera. Há também quem diga que os ramos desta árvore ajudavam a afastar os maus espíritos dos lares na estação mais escura do ano.

Esta tradição acabou por se espalhar para outros povos e culturas, ainda que perdendo o seu sentido inicial devido à conversão dos povos pagãos ao Cristianismo. No século XVI começou a haver registo de pinheiros com velas e no século XVIII era já um costume popular ter um pinheiro em casa durante o Natal. Contudo, foi em 1846 que o pinheiro se tornou num símbolo maior desta época, graças à rainha Vitória de Inglaterra. Tudo porque a monarca posou junto a uma destas árvores decorada juntamente com os filhos para o jornal Illustrated Londons News. A imagem teve um grande impacto e desde então que o pinheiro é quase que imprescindível.

Estrela

Este é um elemento que tem uma origem biblíca, graças à Estrela de Belém. Diz o Evangelho de Mateus que foi esta estrela que anunciou o nascimento de Jesus Cristo e guiou os reis Magos até ao Messias. Este é então um dos símbolos incontornável, que está representado em destaque no Natal, quer seja no topo de um pinheiro ou noutro elemento da decoração.  A estrela simboliza a luz que orienta e guia, mas também que ilumina, traz esperança e acolhe. Por ser um símbolo tão universal, é aquele que mais facilmente chega a todas as culturas e mais consenso gera.

Coroa

Não é só o interior de uma casa que é decorado: a entrada também costuma ter um símbolo importante de Natal. A coroa que tradicionalmente se coloca à porta também tem uma origem pagã, que foi adaptada ao Cristianismo, ainda que hoje seja vista como um elemento decorativo.

Durante o Império Romano, ramos verdes eram entrelaçados em forma de coroa e colocados em portas como forma de chamar a saúde a todos os que habitavam naquela casa. Já os povos pagãos do norte da Europa faziam o mesmo para receberem os deuses nos seus lares. Durante a Idade Média o costume foi recuperado, com as pessoas a usarem as coroas como forma de proteção e afastar o demónio. Só no século XIX há registo da coroa como símbolo do Natal, sendo usada logo no início do advento como forma de se fazer a preparação para a festa do nascimento de Jesus.

Presente

Apesar de o Natal ter como base o nascimento de Jesus Cristo e de celebrar a família, ficou instituída a troca de presentes entre quem mais amamos. A troca de presentes pode parecer ter origem nas ofertas dos reis Magos ao menino Jesus, mas a verdade é que vem ainda antes do Natal começar a ser celebrado. Afinal, os pagãos já trocavam presentes no solstício de inverno, na festa conhecida como Saturnália, que foi mais tarde adaptada pela Igreja Católica ao Natal.

Na Saturnália, as pessoas trocavam presentes simbólicos umas com as outras, como forma de atrair a fortuna no ano seguinte. A tradição de trocar presentes regressou na época Medieval. Nessa altura, os adultos mais abastados trocavam presentes no Ano Novo, sendo o Natal usado apenas para ofertar as crianças.  A popularidade crescente da lenda de São Nicolau fez com que a partir do século XVII a troca de presentes passasse a acontecer em exclusivo no Natal.

A Huawei é um nome consolidado no mercado dos relógios inteligentes (smartwatches). E com a linha Ultimate, a marca eleva não só a fasquia no que aos materiais de construção diz respeito (um ponto relevante no mercado dos relógios), como vai à procura de nichos de utilizadores. Aqui testamos o mais recente Huawei Watch Ultimate, anunciado em setembro.

Os materiais usados neste dispositivo são de muito boa qualidade. Temos uma caixa em liga de zircónio (quatro vezes mais resistente do que o alumínio), um vidro safira a cobrir o ecrã e ainda uma moldura em cerâmica de duas cores (verde e branco). Tudo materiais de elevada resistência e que, nos dias em que usámos o Ultimate, fizeram jus à sua fama, já que mesmo depois de alguns impactos, o relógio não teve mazelas.

Huawei Watch Ultimate

Impactos estes que se devem, em parte, ao perfil volumoso do relógio, já que tem um tamanho considerável (caixa de 48 mm e 13 mm de espessura) e que não será indicada para utilizadores com pulsos mais finos ou que procuram relógios leves e que não se sentem tanto no pulso. A interação com o Huawei Watch Ultimate faz-se através de três botões destacados, de resposta pronunciada, sendo que um deles funciona também como coroa rotativa.

Mas este relógio tem de ser mesmo à ‘prova de bala’, pois a Huawei posiciona-o como a opção para atividades mais de nicho, mas que são exigentes do ponto de vista do hardware. Um dos modos bandeira deste relógio chama-se Expedição. Na prática, é indicada para quem gosta de fazer caminhadas e corridas pela natureza, especialmente em montanhas. Neste modo, a interface é ajustada para destacar elementos que são mais úteis neste contexto. Por exemplo, temos um botão que nos permite fazer a marcação de pontos de interesse no mapa e, no caso de nos perderemos, podemos selecionar um desses pontos que o relógio dá-nos a distância e as indicações para lá chegarmos.

Neste modo o barómetro e a monitorização de oxigénio também estão em destaque, para que o utilizador possa ter uma noção da altitude em que se encontra, os desníveis que enfrenta e o impacto que isso está a ter no corpo. A este respeito, devemos dizer que sentimos falta de um LED que sirva como lanterna, o que ajudaria muito em caminhadas no inverno ou em percursos que também envolvem a noite.

Outro modo que destaca este Huawei Watch Ultimate e que é uma novidade deste modelo é o Golfe. O relógio é capaz de reconhecer, automaticamente, quais os campos de golfe que estão nas imediações do utilizador (incluindo campos em Portugal) e fornece depois informações detalhadas sobre cada percurso, como a distância entre o utilizador e cada buraco, os obstáculos que tem pelo caminho (como caixas de areia), fazendo também uma análise da tacada e permitindo fazer um registo, em tempo real, da pontuação obtida nos diferentes buracos.

É uma espécie de assistente de golfe no pulso e que permite, sem recorrer ao smartphone, ter informações imediatas sobre as partidas.

Huawei Watch Ultimate: Como vai a saúde?

Se estes são os principais destaques do Watch Ultimate e, pela nossa experiência, cumprem em grande medida aquilo ao qual se comprometem, este relógio equipa também tudo o que a Huawei tem de melhor na categoria da monitorização da saúde. São exemplos disso o sensor de ritmo cardíaco, muito rápido a atualizar as variações de batimentos do coração, sobretudo quando estamos a fazer exercício físico. Integra também um sensor de temperatura para a pele, que além de dar uma visão ao utilizador da variação de temperatura ao longo do dia, é também importante, por exemplo, nos percursos de montanha para evitar que o corpo ou sobreaqueça muito ou fique demasiado frio.

Este relógio é ainda capaz de fazer uma medição ainda pouco comum no universo dos relógios inteligentes, que é a rigidez arterial do utilizador – na prática, usa um impulso elétrico para perceber a elasticidade das artérias dos utilizadores (quanto mais rijas, pior). Não temos forma de validar exatamente a qualidade destes dados, mas diríamos que o mais importante é utilizador usá-los apenas como referência (p.ex., se o relógio indicar uma rigidez elevada, procurar um médico para despistar eventuais problemas).

Huawei Watch Ultimate

De todos os elementos, a área da medição do sono parece-nos aquela, sobretudo neste nível de preço, na qual Huawei está a ficar para trás – não inclui dados como a variabilidade da frequência cardíaca (HRV em inglês) e não permite algo tão simples como editar os dados de sono (já que, por vezes, o relógio deteta erradamente o início do período de sono, o que por sua vez influencia a pontuação).

Dito isto, o Huawei Watch Ultimate continua a ser um equipamento muito completo e, na larga maioria dos dias, fiável para perceber como está do ponto de vista físico e também do treino acumulado (gostávamos que este relógio tivesse dados mais detalhados de corrida, p.ex., oscilação vertical e medição de potência aplicada). O relógio suporta muitos exercícios, incluindo ciclismo, natação, mergulho, triatlo, snowboard, força e padel, entre outros.

Por fim, não podemos deixar de destacar a autonomia excelente, que nos deu para uma semana de utilização consecutiva e com todas as medições de saúde contínuas. O que não deixa de impressionar num relógio que tem um ecrã de elevada resolução, capaz de atingir um nível de brilho excelente. Parte do segredo para a otimização energética está no software – a aposta mantém-se no sistema operativo próprio HarmonyOS, que dá aos utilizadores uma mão cheia de funcionalidades próprias muito úteis e uma navegação muito fluida, mas que depois peca pela ausência de aplicações de terceiros (como a Uber ou o Assistente Google).

Tome Nota
Huawei Watch Ultimate | €899
consumer.huawei.com/pt

Monitorização Muito bom
Conforto Bom
Software Muito bom
Autonomia Excelente

Características Caixa em liga de zircónio 48 mm • Ecrã AMOLED 1,5”, 466×466 p, 1000 nits (brilho máx.) • Proc. Qualcomm 5100, 4 GB armaz. • Monitorização: ritmo cardíaco, oxigénio (SpO2), temperatura da pele, ECG, stress, sono • Resistente à água (10 ATM) • BT 5.2, GPS de banda dupla, GLONASS, GALILEO • Bateria 510 mAh • 48,5×48,5×13 mm • 76 g (sem bracelete)

Desempenho: 5
Características: 4,5
Qualidade/preço: 2,5

Global: 4

Pouco passa da uma da tarde e na ilha de Husoy, situada a mais de 1700 quilómetros de Oslo, no Norte da Noruega, a noite já caiu. No pequeno porto pesqueiro, situado junto à fábrica de transformação de bacalhau, a quase centenária BR Karlsen (fundada em 1932), o novo barco híbrido conduzido pelo capitão Henrik Meland sai para as águas geladas do mar Ártico para tentar a sorte de pescar “o fiel amigo”, pela terceira vez nesse dia. “As três semanas anteriores foram para esquecer”, lamenta-se Henrik, com 30 anos. A chuva e a neve intensas dos últimos dias impediram que tanto ele como os seus pescadores se fizessem ao mar.  

Estamos nos primeiros dias de dezembro e a época da pesca do bacalhau ainda nem sequer começou – a estação vai de janeiro a abril. Mas aquela madrugada, pelas cinco da manhã, revelou-se “na melhor dos últimos tempos”. “O céu ficou mais limpo e conseguimos pescar cinco mil quilos de peixe: 1500 de bacalhau, três mil de arinca e 500 de pregado”, contabiliza o capitão, enquanto regressa de novo ao mar. “Vamos ver se agora encontramos mais bacalhau dentro do fiorde [na ilha de Senja, a segunda maior da Noruega]”, diz-nos, de olhar atento nos dois grandes monitores com sondas que indicam a possibilidade de encontrar cardumes no fundo do oceano, e entre as montanhas cheias de neve. “Na época oficial de pesca, num dia normal consigo 20 toneladas de bacalhau. Mas o meu recorde foram 63 toneladas”, conta-nos, orgulhoso.  

De Husoy para o mundo É do mar da costa norte da Noruega que é pescado muito do bacalhau que chega a Portugal

São quatro da tarde, é noite cerrada e regressamos a terra de mãos a abanar. “Por vezes, poderemos passar aqui três, quatro horas, sem conseguir nada [a pesca é feita à linha, com um cabo e vários anzóis]. Mas vamos a casa dormir um pouco e voltaremos daqui a umas horas”, atira Henrik Meland, sem ponta de desânimo.

A resiliência do capitão de um dos barcos pesqueiros de Husoy coincide com a dos habitantes desta pequena ilha isolada, cheia de neve e quase sempre com temperaturas negativas (demora cerca de 25 minutos a percorrer-se), onde moram 300 pessoas, 25 das quais são portugueses – já lá iremos. Todos vivem ali por uma razão: o bacalhau. Um dos peixes mais consumidos pelos portugueses (ver caixa), salgado seco, com diferentes tempos de cura, demolhado ou, em quantidades residuais, fresco, que entrou na nossa gastronomia desde o tempo dos Descobrimentos. “Adoro esta Natureza. Temos a melhor costa de bacalhau do mundo e a sorte de o ter tão perto”, reforça Henrik que, numa das últimas visitas a Portugal, conta-nos ter provado pela primeira vez os nossos bolinhos (ou pastéis) de bacalhau. “São deliciosos”, diz-nos, em inglês.

O motor da economia de Husoy

É das águas gélidas do mar da Noruega, próximo do Círculo Polar Ártico, que chega à mesa 70% do bacalhau consumido pelos portugueses – Portugal consome cerca de 170 mil toneladas por ano, segundo dados do Norwegian Seafood Council (NSC), organização que representa os exportadores de peixe da Noruega. “Portugal é o nosso maior mercado de exportação de bacalhau. Há uma grande tradição de consumo, é um peixe que está no ADN dos portugueses”, realça Trond Rismo, o norueguês representante em Portugal do NSC e que, desde que vive em Lisboa, já aprendeu a fazer bacalhau à lagareiro para a família, o seu favorito.

Daí a importância do nosso país para a economia de Husoy, este ilhéu situado a pouco mais de 50 quilómetros de Tromso, no extremo norte da Europa (acima da Islândia), movido pela empresa produtora de bacalhau salgado verde (meia cura) de Rita Karlsen, 55 anos, a terceira geração da família à frente da BR Karlsen, que, entretanto, também se tornou na primeira produtora de salmão de aquacultura da Noruega.

Motor da ilha A BR Karlsen (à direita) é uma das maiores indústrias de transformação de bacalhau salgado verde e o único empregador de Husoy

Nesta empresa que emprega 100 a 130 trabalhadores de 21 nacionalidades (a maioria é portuguesa), a próxima temporada da pesca do bacalhau já terá a funcionar em pleno a máquina de grandes dimensões que trata de todos os processos do peixe, desde que sai dos barcos: é lavado e escalado, são-lhe retiradas as cabeças, as caras, as vísceras, as ovas… Na fábrica é feita uma primeira maturação: três a quatro dias numa primeira fase, à qual se acrescentam mais 10 dias, nos quais o bacalhau é colocado em camadas intercaladas de sal, e outras duas semanas em que fica a maturar em paletes. O processo final de cura (que pode chegar até aos nove meses) é feito já nos países de exportação, nomeadamente em Portugal, nas várias indústrias de transformação do bacalhau.

Um dos maiores desafios do setor, porém, tem sido a diminuição das quotas de pesca – os cientistas desconhecem a razão pela qual os peixes se estão a reproduzir menos nas águas frias do mar de Barents –, mas assim deverão continuar, pelo menos, até 2027. No caso da Noruega, por exemplo, em 2025 só poderão ser pescadas 9 217 toneladas de bacalhau e este número deverá baixar um pouco mais em 2026, estimando-se que a quota volte a aumentar no ano seguinte.

O bacalhau em números

170

Mil toneladas
Consumidas por ano pelos portugueses (70% do bacalhau é oriundo da Noruega)

4,5

Quilos de bacalhau consumido por cada português / ano
Se tivermos em conta de que são necessários 3,65 kg do peixe inteiro para produzir um quilo de bacalhau seco, cada português consome em média 16 kg de bacalhau por ano

2022

Ano recorde de exportações de bacalhau da Noruega para Portugal
Cerca de 50 mil toneladas foram exportadas, tendo sido um dos melhores anos desde 1988

35%

Das exportações totais de bacalhau da Noruega são para Portugal
O nosso país é o principal consumidor, seguido da Dinamarca e do Reino Unido

9 217

Número de toneladas fixadas na quota de pesca para 2025 nos mares da Noruega e Barents
Para 2026 prevê-se que a quota continue a baixar, devendo aumentar em 2027

A consequência mais direta será, obviamente, o preço. Por cá, nos últimos dias, a Associação dos Industriais do Bacalhau (AIB) deixou o alerta: o valor médio já ultrapassou, em muitos casos, os 20 euros por quilo e “pode chegar a níveis de luxo, como 40 euros por kg, já em 2025”. “Vai ser um desafio tanto para nós como para os portugueses”, antecipa o Norwegian Seafood Council, já que, numa lista de dez países, Portugal é o maior consumidor de bacalhau, seguido da Dinamarca e do Reino Unido.

A sustentabilidade é um dos fatores-chave da pesca na Noruega e, por conseguinte, na BR Karlsen. Além de o comercializar salgado verde, todas as partes do bacalhau são aproveitadas e exportadas para diferentes países, de acordo com a sua cultura gastronómica: ovas para o Japão (usadas no sushi e caviar), cabeças secas para o mercado africano (para sopas), espinha dorsal para a China… além do fígado que é transformado em óleo rico em vitamina D e em Ómega 3, por uma outra empresa dos Karlsen. “É fácil para nós pensar na sustentabilidade. Vivemos na Natureza, trabalhamos com a Natureza e dependemos da Natureza. Ao mesmo tempo, temos de cuidar das comunidades locais porque são as pessoas que trabalham na fábrica. Dependemos uns dos outros”, sublinha a empresária Rita Karlsen. 

Mais tempo para a família

“Vivemos
na Natureza,
trabalhamos
e dependemos
da Natureza.
Dependemos
uns dos outros”,
diz Rita Karlsen

Após ter vindo trabalhar para Husoy durante duas épocas de meio ano cada, para a transformação de bacalhau na BR Karlsen, José Sousa, 40 anos, acabou por trazer a mulher e as duas filhas, com 12 e 10 anos, em agosto último. O casal decidiu trocar a pequena freguesia de Castelo da Maia, na Maia, por esta ilha longínqua e gelada da costa norte da Noruega em troca de “uma maior estabilidade financeira”.

Em Portugal, José trabalhava numa empresa de sensores de fibra ótica, e ganhava mais uns trocos numa empresa de transportes à noite para equilibrar as contas. Já a mulher, Rosa, 42 anos, estava na área de gestão de cinemas, mas “as saudades das miúdas com as ausências do pai” convenceram-na a trocar Portugal por Husoy. Na ilha, Rosa trabalha na empresa de salmão dos Karlsen: “No início foi difícil, nunca tinha mexido em peixe”, confessa. Mas o tempo que ganhou para as filhas, Eva e Ísis, tem compensado. Pelo menos, por agora. “Sinto falta do sol, do dia, mas uma pessoa adapta-se. Lá em Portugal trabalhava por turnos e dormia pouco. Aqui as miúdas vão a pé para a escola, têm mais atividades depois das aulas, as amigas vêm cá a casa… Não há trânsito, chego cedo e estou mais tempo com elas”, nota. E José continua: “Em Portugal, não tínhamos tempo para andar de bicicleta. Aqui foi a primeira coisa que lhes comprei quando cá chegámos em agosto.”

Sonho norueguês José e Rosa Sousa, com as filhas Eva e Ísis, trocaram a Maia por maior estabilidade financeira

José e Rosa não são os únicos portugueses que se instalaram numa das poucas casas revestidas a madeira (e bem aquecidas no interior) da ilha. Uns vêm só para trabalhar na época do bacalhau – como Guilherme Sombra, 31 anos, de Santa Comba Dão, Viseu, ou José Malheiro, 28 anos, de Braga, que encontrámos na fábrica – e regressam a Portugal lá para junho. Outros como Maria Barata, 35 anos, e o marido, João Correia, optaram por trocar Lisboa por Husoy há mais de uma década. Maria, que trabalha no único supermercado da ilha (o Joker, propriedade dos Karlson) já carrega nos braços o mais novo luso-norueguês da ilha, o seu bebé Kenneth, nascido há quatro meses em Tromso. Regressar a Portugal não está nos seus planos. “Para onde? É verdade que sinto falta das pessoas, do clima, da claridade … Mas o que vou fazer para lá? Está tudo tão mau”, aponta.

O bacalhau e as suas mil e uma receitas

Apesar de o bacalhau não morar nas nossas águas do Atlântico – o peixe só vive em temperaturas muito baixas ‒, é indiscutível que são os portugueses que melhor o sabem cozinhar. Os noruegueses comem-no sobretudo fresco, poucas vezes ao longo do ano e, na época de Natal, muito menos. A tradição na mesa da Consoada passa por comer borrego ou carne de rena, animal criado com esse propósito pelo povo Sami, na Noruega.

Em Oslo, o chefe
de cozinha Carlos
de Medeiros (uma
Estrela Michelin)
serve “uma
cozinha de fusão”
entre Portugal
e a Noruega

Mas em Oslo, há um português (pelo menos) que o sabe confecionar: Carlos de Medeiros, chefe de cozinha no restaurante Bar Amour, aberto em 2023 e que conquistou uma Estrela Michelin em abril deste ano. Com 31 anos, a viver fora de Portugal vai para dez anos, com passagens por restaurantes em Inglaterra e pelo norueguês Maaemo (três Estrelas Michelin, em Oslo) no currículo, Carlos de Medeiros serve um menu de degustação (de 12 a 14 pratos) que é “uma cozinha de fusão” entre a cultura norueguesa e portuguesa.

Quem se sentar no seu restaurante, com apenas 12 lugares, pode saborear, por exemplo, o bacalhau seco fumado com uma emulsão de ostras e uma geleia feita com cabeças de bacalhau; um bacalhau de cebolada confitado em azeite português, servido com um caldo de cebola cozinhado durante três dias a 90 graus; ou, no tempo da pesca, o fresco (skrei) servido com molho de Bulhão Pato. “A ideia não é ser um restaurante português, senão tinha-o aberto em Portugal. É pegar em produtos noruegueses e dar-lhes um toque português”, aponta, confessando não pensar regressar ao país natal.

“Gosto de passar o tempo na Natureza, de apanhar coisas selvagens, de caçar e pescar. Os noruegueses são mais ligados à Natureza e a desfrutar a vida.” E em troca, quem sabe, Carlos de Medeiros pode ensinar-lhes as mil e uma maneiras de cozinhar o bacalhau que pescam nos seus mares.

Eleito, em novembro de 2023, presidente do Comité de Políticas Educativas da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), para um mandato de três anos, o ex-ministro da Educação do Governo de António Costa vai passar a acumular o cargo, no primeiro dia de 2025, com o de diretor da Agência Europeia para as Necessidades Especiais e a Educação Inclusiva. Com sede na Dinamarca, a organização independente conta com 31 países-membros, tendo por objetivo oferecer informação baseada em evidência aos diferentes Ministérios da Educação, de modo a melhorar as práticas inclusivas nos respetivos sistemas de ensino. Oportunidade para uma entrevista sobre os principais temas da agenda global para setor, na qual confrontamos João Costa, 52 anos, com as ligações à realidade nacional, após uma semana em que o número de alunos sem pelo menos um professor deu que falar.

Quais vão ser as suas prioridades na Agência Europeia para as Necessidades Especiais e a Educação Inclusiva?
A agência tem um plano plurianual que está a ser desenvolvido, mas com áreas que são prementes e que correspondem a pedidos dos países. Por um lado, a monitorização e a avaliação de políticas de inclusão, que passam pela produção de indicadores e análise comparada da legislação dos vários países. Há um trabalho sobre a sustentabilidade e a eficiência, também financeira, dos sistemas de apoio aos alunos com mais dificuldades. O envolvimento parental é outro tema bastante importante, até para a tal avaliação e para a definição dos passos seguintes. E ainda um grande foco na imigração e na inclusão dos alunos imigrantes. O perfil demográfico da Europa está a alterar-se muito rapidamente e, se as políticas não acompanharem, corremos o risco de criar novos focos de segregação em contexto educativo.

O conceito de inclusão, antes muito associado a pessoas com deficiência, é hoje bem mais abrangente, como ficou expresso em Portugal no chamado decreto da Educação Inclusiva, de 2018, no qual teve intervenção direta. O que é mais complexo: criar condições para um ensino eficaz aos alunos com deficiência ou aos estrangeiros que não falam a língua do país de acolhimento?
Para falarmos de inclusão, temos primeiro que identificar os focos de exclusão, as barreiras no acesso à aprendizagem. Uma deficiência, o contexto socioeconómico e familiar dos alunos, não falarem a língua de escolarização, barreiras socioemocionais que criam uma má relação com a escola, ou o cruzamento de várias. Dizer qual é a mais complexa é muito difícil. O que torna os modelos de educação inclusiva um trabalho muito ambicioso para as escolas é exatamente o facto de se afastarem de uma referenciação a priori, ou seja, de dizerem que, se o aluno é autista, tem de seguir estas medidas. Porque dois alunos autistas podem ter características completamente diferentes. O que é muito ambicioso e é mais complexo é haver esta quase personalização da resposta educativa.

Os professores podem ter apreciado as boas intenções, mas queixaram-se da sua aplicabilidade, referindo obstáculos como o aumento do trabalho burocrático, a excessiva quantidade de turmas atribuídas ou o exagerado número de alunos por turma. Reconhece estes entraves a uma inclusão bem-sucedida nas escolas?
Sem dúvida. Temos de ter a noção de que a inclusão é sempre um processo, não é algo que se decreta e já está. Por vezes, habituamo-nos a pensar negativamente sobre nós, mas Portugal é um país de referência na inclusão. Porque iniciou este trabalho nos anos 90 e nunca desistiu. Há 15 anos, estávamos a integrar alunos com deficiência nas escolas ditas regulares e também parecia impossível. Hoje já não é. O que parece por vezes impossível é a aplicabilidade deste modelo de inclusão, mas a ambição passa também por saber que a mudança é incremental. Não podemos baixar os braços.

Segundo dados do último PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), divulgados no final de 2023, os imigrantes tiveram resultados muito inferiores aos dos falantes nativos de Português. No aproveitamento escolar, a inclusão não parece a ideal.
Globalmente, é isso que os dados mostram, mas o PISA tem uma boa notícia nesse ponto, que é uma diferença muito significativa, no contexto português, entre os imigrantes de primeira e de segunda geração. O que significa que, embora seja um grupo com dificuldades acrescidas, a sua integração e o esforço na sua inclusão vai trazer resultados. Agora, aquilo que sabemos, e neste momento estamos muito despertos para isso com um grande crescimento dos alunos estrangeiros nas escolas portuguesas e europeias, não só em número mas também na sua diversidade, é que temos muitos que não trazem uma língua de comunicação, como o inglês, o francês ou o espanhol. Vêm do Sudeste Asiático e têm dificuldades acrescidas. Isto convida, de novo, a uma reconfiguração de metodologias, de abordagens ao ensino do Português como língua estrangeira. Não temos inclusão quando encontramos esses resultados escolares mais problemáticos para alguns grupos.

Em 2022, procedeu-se a uma alteração legislativa para tentar mitigar as diferenças.
Flexibilizámos o ensino do Português como língua não materna exatamente para dar às escolas mais liberdade para o desenvolvimento das suas próprias medidas. Portugal recebe todos os alunos na escola pública, não deixa nenhum de fora, e há alguns agrupamentos com bons exemplos de turmas carrossel, em que alunos são envolvidos em processos de mentoria dos que chegam, enquanto estes vão fazendo uma integração parcial no currículo, intercalada com o estudo do Português. Uma característica dos modelos de educação inclusiva é que a inclusão é muito incompatível com a excessiva standardização, sendo muito mais desafiante para os professores.

Desafiante ou esgotante?
Também. É mais cansativo porque dá mais trabalho. Mas a verdade é esta e está a ser discutida a nível global: ser professor numa sociedade que valoriza a diversidade é muito mais difícil do que ter sido professor no meu tempo de aluno, em que os níveis de abandono escolar se situavam acima dos 50 por cento. Hoje, graças ao trabalho das escolas e dos professores, não convivemos bem com a ideia do “não serves para estudar, vai-te embora”. Isto reconfigura a profissão e é muito bonito ver as experiências positivas de professores que conseguem reinventar-se e fazer quase milagres com estes alunos.

No caso português como em outros, encerra um duplo desafio, no sentido em que há cada vez menos professores para executar uma tarefa mais ambiciosa.
Por isso é que num fórum como a OCDE, por exemplo, o debate sobre a falta de professores, que afeta praticamente todos os países, é sempre feito acompanhado de um debate sobre o perfil e as competências dos professores. Para que todos os esforços na atração de jovens para a profissão sejam acompanhados de uma consciência muito clara do que é a profissão hoje. Isto tem que ver com a diversidade, mas também com a relação com a tecnologia, por exemplo. Ser professor neste contexto de transformação digital é completamente diferente do que era há 20 anos.

Já completou o primeiro de três anos à frente do Comité de Políticas Educativas da OCDE. Ao longo deste ano, ganhou melhor noção da escassez global de professores?
A discussão no âmbito da OCDE é muito rica e mostra que há um problema global com origens diferentes. Há países em que a dificuldade não está no recrutamento mas sim na manutenção na profissão. Há outros em que as dificuldades têm a ver com a demografia. Há países em que apenas nalgumas áreas faltam professores. Ouvi-los é fundamental. Em muitos casos, o abandono tem que ver com o excesso de tarefas administrativas e, por isso, também no âmbito da OCDE, há uma linha de exploração da Inteligência Artificial para a redução do trabalho administrativo dos professores. É preciso encontrar esses fatores de desmotivação, compreender a especificidade de cada país e, sobretudo, alargar muito a capacidade formativa por parte das universidades.

Ser professor numa sociedade que valoriza a diversidade é muito mais difícil do que ter sido professor no meu tempo de aluno, em que os níveis de abandono escolar se situavam acima dos 50%

Essa é a prioridade que defende para Portugal.
Houve um momento em que os cursos de formação de professores não eram procurados. Neste momento, são e há alunos muito bons a ficarem de fora. Não faz sentido o país ter uma necessidade estrutural, os jovens já estarem a procurar a profissão novamente e não haver vagas nas universidades. Fui a primeira pessoa em funções no Ministério da Educação que disse claramente: “Temos um problema de falta de professores.”

No seu tempo de governante, que medida gostaria de ter introduzido na carreira dos professores e não conseguiu?
Gostava de ter podido aumentar o vencimento na entrada da carreira, para a tornar mais competitiva.

E a recuperação do tempo de serviço, que defendeu durante a campanha para as últimas Legislativas?
É óbvio que, se tivesse tido essa possibilidade, teria um mandato mais tranquilo. Sempre disse que a ambição dos professores era legítima. O governo como um todo tinha a preocupação de encontrar uma solução que fosse equitativa para todas as carreiras da administração pública. Com este novo Governo, criou-se agora uma situação de desequilíbrio entre carreiras.

O que pesou foi a obrigação de estar alinhado com o governo como um todo?
E também o facto de haver uma visão integrada para as carreiras da administração pública. A preocupação do governo que eu integrei era garantir que o que era feito numa carreira especial tinha reflexos nas carreiras gerais. Essa paridade foi agora descontinuada.

Por falar no atual Governo, chegou a acreditar na redução em 90% do número de alunos que estavam sem pelo menos um professor, em comparação com o ano anterior, anunciada pelo ministro Fernando Alexandre?
Só posso comentar com base nos dados a que tenho acesso e esses evidenciam que se estavam a comparar duas realidades não comparáveis, ou seja, o total de alunos que nalgum momento não teve uma aula durante o primeiro período com os alunos que não tinham aulas desde do início do ano letivo. Se fizermos a comparação entre o que é correspondente, temos um quadro relativamente parecido.

O ministro precipitou-se?
Houve falta de sentido crítico na análise dos dados quando fez o anúncio, mas não houve má-fé.

Que tópicos se discutem nos fóruns internacionais sobre a falta de professores?
A atratividade das carreiras, a gestão de expectativas do que é ser professor hoje e o desenvolvimento profissional. Por exemplo, no contexto da Inteligência Artificial, existem empresas que têm como objetivo o lucro a apresentarem produtos para a educação. Defendo que devem ser os professores a dizer às empresas do que precisam.

Vê a Inteligência Artificial (IA) como alternativa capaz de desempenhar o papel de professor, no futuro?
A pandemia ensinou-nos que não há máquina que substitua a essência humana da relação educativa.

A questão é mais centrada no apoio que pode dar ao trabalho do professor?
Sim, os benefícios observam-se na desburocratização do trabalho do professor, que cruza muito com o tema da inclusão, na personalização da resposta educativa. Ainda hoje fiz o exercício de pedir a uma ferramenta da IA para fazer um plano de aula específico para um aluno com determinadas características. E ela fez, num instante, com sugestões boas, para as quais tenho de olhar criticamente. Mas é algo que, de repente, está feito em menos de um minuto. Há países, como a Coreia do Sul e o Japão, que estão a realizar experiências com trabalhos de casa personalizados, ou seja, os alunos recebem trabalhos de casa dirigidos às suas dificuldades específicas. Também já existem tutoriais virtuais que ajudam os alunos a estudar.

É uma preocupação na OCDE a capacidade da IA para escrever teses de mestrado e de doutoramento?
Sou professor e a solução rápida para isso é fazer duas ou três perguntas ao aluno sobre o trabalho que entrega. Consigo perceber se foi feito por ele ou não. É preferível encarar como uma ferramenta de aprendizagem, como era a enciclopédia em papel.

Seguindo na tecnologia, tem havido avanços e recuos quanto à utilização de manuais escolares digitais e ao uso dos telemóveis dentro das escolas. Quais são os atuais focos de discussão sobre estes dois temas?
Temos a frente mediática e a académica, que tenta construir evidências. Os debates que me parecem mais sérios são os que procuram responder à pergunta: como é que os humanos aprendem num contexto de relação muito diferenciada com a tecnologia? Se as neurociências não nos puderem informar sobre como é que se está a desenvolver a aprendizagem neste momento, não vamos ter a resposta sobre o uso adequado da tecnologia. Devemos apostar numa dimensão qualitativa, ou seja, não é sobre ter ou não ter manuais digitais nem sobre ter ou não ter telemóvel. Mas sim quando é que os tenho e o que faço quando os tenho. Lembro-me de visitar uma escola do primeiro ciclo em Elvas com vários alunos estrangeiros. Cada um tinha um aluno português que era seu mentor e usavam o telemóvel para traduzir para a língua do aluno estrangeiro. Sempre me angustiou entrar numa escola e ver os miúdos todos agarrados ao telemóvel no intervalo, em vez de estarem a subir árvores ou a conversarem uns com os outros, mas, se aquela máquina não estivesse lá, aquela ajuda não estaria presente.

O segredo é encontrar a medida certa?
É um dilema que os sistemas educativos enfrentam ao nível global, uma vez que a tecnologia avança mais depressa do que o tempo que é preciso para decidir. Por outro lado, se não prepararmos os alunos para viver neste mundo digital, estamos a acelerar desigualdades e exclusão. Por outro lado ainda, não queremos que o sistema educativo fique refém das empresas que desenvolvem a tecnologia. Portanto, o que se vai tentando construir são os equilíbrios e, além disso, pilotar bem algumas experiências que existem.

Sobre a disciplina de Cidadania e de Desenvolvimento, o primeiro-ministro Luís Montenegro afirmou o seguinte: “Vamos reforçar o cultivo dos valores constitucionais e libertar esta disciplina das amarras a projetos ideológicos ou de fação.” Teme pelo futuro desta disciplina?
Nos debates que se seguiram, tornou-se evidente que aquilo que o primeiro-ministro se referia como amarras ideológicas tem que ver com educação sexual, igualdade de género e multiculturalismo. O combate a estas dimensões é uma agenda da extrema-direita, e eu espero que haja o bom senso de não se darem passos atrás quando nós sabemos, por exemplo, que o combate à violência doméstica, à violência no namoro, à gravidez precoce ou às doenças sexualmente transmissíveis se faz através da educação. As declarações do ministro da Educação tranquilizaram-me um pouco. Há muito mais ideologia em não querer cidadania na escola do que em cumprir a Constituição quando diz que compete aos sistemas educativos formar cidadãos informados e esclarecidos.

Bob Woodward faz o verdadeiro retrato de Sergey Lavrov em «War». Desconfortável, para dizer o mínimo. Mostra bem onde está o ministro no círculo de Putin: na periferia. Longe. Muito longe. Não sabia nada. Nem datas, nem pormenores, nem decisões sobre a invasão. Só percebeu que a guerra tinha começado quando as tropas russas já estavam na Ucrânia. Quando lhe telefonaram de Washington.

Se Lavrov não sabe nada antes de tempo, a embaixada russa em Lisboa ainda menos. CNN é a única fonte de informação. Mesmo assim, atreve-se a criticar os media portugueses e a defesa antimíssil ucraniana. Danos na nossa embaixada em Kiev? Culpa dos ucranianos. Não abateram o míssil. Estes senhores têm lata. Muita lata.

Não satisfeita, a embaixada também ataca o jornalismo português. «Russofobia» e «distorção». Salmo do século passado. Há quase três anos, quando a guerra começou, o embaixador indignava-se porque ninguém classificava a invasão como «Operação Militar Especial».

Afinal, o embaixador russo já voltou? Ou só está o encarregado de negócios? Pouco importa. Não fazem falta. Um podcast chega.

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Através de um comunicado, o Exército explica que o militar morreu durante a madrugada deste domingo no Hospital de São José, em Lisboa, onde se encontrava após ter ficado ferido num incidente com uma arma de fogo. O ramo das Forças Armadas refere que o militar “partiu de forma prematura e inesperada” e manifesta “dor e enorme consternação” pelo “falecimento do Soldado Aloísio Baldé”.

Na mesma nota, o Exército afirma já ter sido acionado “apoio psicológico, direcionado à família e restantes militares de serviço”.

O Exército tinha informado, este sábado, que um militar que se encontrava em serviço na Academia Militar tinha ficado ferido, com “prognósico muito reservado”. “Foi aberto um processo de averiguações, tendo em vista o apuramento das causas do sucedido”, acrescentam.