Os smartphones dobráveis já não são propriamente uma novidade e, hoje, quase todas as grandes marcas já lançaram propostas neste segmento, entre modelos com formato de ‘livro’ ou em estilo de ‘concha’. À medida que a tecnologia de ecrãs dobráveis continua a ser aperfeiçoada, um dos grandes desafios passa por encontrar um bom equilíbrio no design. Afinal, ninguém quer ter um smartphone tão volumoso ao ponto de não o conseguir transportar facilmente no bolso. Mas este é um desafio a que o Honor Magic V3 consegue dar resposta.

Elegância quase mágica 

O Magic V2 já se afirmava como o primeiro dobrável em formato de ‘livro’ a ficar abaixo da barreira psicológica dos 10 mm de espessura quando fechado. Nesta nova geração, a Honor conseguiu reduzi-la ainda mais, passando dos 9,9 mm para 9,2 mm. Note-se que a espessura do smartphone quanto está aberto também foi reduzida, de 4,7 mm para 4,35 mm. À primeira vista, todas estas medidas milimétricas até podem parecer irrisórias, mas a verdade é que fazem a diferença. Quando está fechado, o Magic V3 permite um agarrar idêntico ao de um smartphone dito convencional e, logo no primeiro contacto, o design e a qualidade da construção deixaram-nos impressionados – ainda mais quando o abrimos.  

Este modelo ultra-fino e leve conta com fibras de calibre aeroespacial na sua estrutura, o que lhe confere uma maior resistência contra impactos sem adicionar mais peso. Desta vez o modelo chega com certificação oficial IPX8, que, segundo a marca, traz mais resistência à água. Além disso, com a nova versão da dobradiça Super Steel Hinge, o Magic V3 é capaz de suportar até 500 mil ciclos de dobragem do ecrã, afirma a marca chinesa, mais 100 mil do que o Magic V2.  

Outra das novidades está no módulo de câmaras, que salta logo à vista, tanto pelo design octogonal de inspiração arquitetónica, como pelas dimensões generosas. Por outro lado, neste capítulo, continuamos a deparar-nos com um problema ‘herdado’ da geração anterior: ao usar o smartphone aberto numa superfície plana, a espessura do módulo acaba por causar desequilíbrio. 

Vistas flexíveis 

O Magic V3 está equipado com dois ecrãs OLED: um exterior com 6,43 polegadas e um interior dobrável com uma dimensão de 7,92 polegadas. Ambos têm resoluções elevadas, taxas de atualização até 120 Hz e níveis de brilho elevados que, segundo a Honor, podem chegar até 5.000 nits.  

As imagens apresentadas em ambos os ecrãs são nítidas e com cores vivas, além de contarem com uma boa profundidade dos tons mais escuros. Os ecrãs dispõem também de características que vão agradar a quem se preocupa com o conforto visual. Aqui destacam-se a tecnologia de escurecimento PWM a 4320 Hz e de desfocagem com Inteligência Artificial, concebidas para reduzir a tensão ocular.  

Todas estas características traduzem-se numa experiência de visualização e navegação fluida, preparada para diferentes ocasiões. O ecrã exterior permite dar conta de qualquer tarefa rapidamente, tal como sucederia num smartphone tradicional: seja ‘saltar’ entre redes sociais, responder a mensagens, assim como navegar pela Internet ou por diversas aplicações.  

Magic V3

Para os momentos em que precisa de trabalhar mais a sério, basta abrir o smartphone e aproveitar o ecrã de grandes dimensões. O mesmo se aplica àqueles momentos em que quer descontrair a ver vídeos no YouTube ou, então, a jogar. O vinco no ecrã interno ainda é perceptível – mais ao toque do que à vista –, mas o impacto é reduzido. Note-se, no entanto, que o rácio de 9.78:9 deste ecrã continua a ser desafiante, impactando a visualização de conteúdo que não está preparado para este formato.  

E para o próximo truque… 

Com tanta atenção à construção e ecrãs, a fotografia não costuma ser um dos pontos fortes dos dobráveis. No entanto, o Magic V3, com uma configuração tripla de câmaras traseiras, consegue disponibilizar uma experiência muito competente neste capítulo. Além de uma câmara principal de 50 MP e de uma ultra grande angular de 40 MP, o smartphone tem uma nova teleobjetiva periscópica de 50 MP.  

Honor Magic V3
Câmaras vista ‘à lupa’

Magic V3
  • Câmara principal (grande angular) de 50 MP – sensor de 1/1,56 pol.; abertura f/1.6; OIS
  • Teleobjetiva periscópica de 50 MP – sensor de 1/2,51 pol.; zoom ótico de 3,5x; zoom digital de 100x; abertura f/3.0; OIS
  • Ultra grande-angular de 40 MP – fotografia macro de 2,5 cm; ângulo de 112°; abertura f/2.2
  • Câmaras frontais de 20 MP – abertura de f/2.2; vídeo 4K

Obtivemos os melhores resultados com a câmara principal, que conseguiu demonstrar um bom desempenho, sobretudo em condições mais amplamente iluminadas, como cenários diurnos. Aqui, as imagens captadas destacam-se não só pelas cores vibrantes, mas também pela riqueza de pormenores, contando com um bom intervalo dinâmico. Em cenários noturnos, os resultados são um pouco menos impressionantes, notando-se alguma dificuldade na preservação de detalhes nas zonas mais escuras.  

O modo Retrato, que tem um ‘toque’ de Inteligência Artificial e três estilos fotográficos à escolha (Vibrant, Cor e Clássico), com assinatura do estúdio parisiense Studio Harcourt, também chamou a nossa atenção. Além de um bom recorte do sujeito principal, e da possibilidade de ajustarmos facilmente o efeito de desfoque (bokeh), os perfis disponibilizados ajudam a dar um toque mais artístico aos retratos.  

O desempenho da teleobjetiva não fica muito atrás daquele que verificámos na câmara principal, sendo esta uma opção particularmente útil para captar elementos que estão a uma maior distância, se bem que quanto mais elevado for o zoom digital, menor a qualidade. Os resultados obtidos com a ultra grande angular são mais inconsistentes e registámos com frequência alguma distorção nas extremidades das fotografias, assim como efeitos visuais indesejados, como lens flare ou estranhas diferenças nas tonalidades. Por predefinição, o modo Supermacro recorre a esta câmara, mas, se é fã deste estilo de fotografia, recomendamos que aproveite as capacidades da câmara principal.  

Deixamos ainda uma nota em relação ao sistema de duas câmaras frontais, cada uma com 20 MP. Embora permitam captar selfies satisfatórias, o nível de detalhe deixa a desejar. Felizmente, pode optar por inverter para o ecrã exterior e usar a câmara principal para fotografias com maior qualidade.  

Com um toque de IA  

Em combinação com 12 GB de RAM, o processador Snapdragon 8 Gen 3 assegura um desempenho eficaz e os resultados dos testes de benchmark permitem ver melhorias em relação à geração anterior. A experiência de utilização é fluida, mesmo com várias aplicações abertas em simultâneo e até em tarefas mais exigentes, como jogos, se bem que, quanto maior o nível de exigência, mais tendência tem para aquecer.  

No MagicOS 8 (baseado no Android 14), a Honor continua a otimizar várias aplicações para ecrãs dobráveis, permitindo, por exemplo, trabalhar em modo multitasking com duas apps lado a lado. Sem fugir à moda da integração de Inteligência Artificial, o Snapdragon 8 Gen 3 ‘alimenta’ várias funcionalidades que fazem uso desta tecnologia.  

Além de opções como o Magic Portal, já integrado noutros modelos da Honor, há também espaço para funcionalidades suportadas por modelos e APIs da Google Cloud AI, como a Circle to Search para agilizar as pesquisas e uma ‘borracha’ inteligente para fotografias, que permite eliminar elementos indesejados em segundo plano. Contam-se também uma app de tradução face a face e funcionalidades de transcrição e tradução de gravações nas notas. Porém, estas opções ainda não têm suporte à língua portuguesa.  

A capacidade da bateria ‘cresceu’ para 5150 mAh, o que se traduz num ligeiro aumento na autonomia, como verificámos nos nossos testes de benchmark. Com ela conseguimos ter energia para um dia de utilização moderada, um pouco mais se tiver hábitos de consumo bastante regrados.  

Além do suporte a carregamento rápido Supercharge a 66 W, o smartphone também é compatível com carregamento sem fios a 50 W. Porém, estes acessórios são vendidos separadamente. Por exemplo, no caso do carregador Supercharge a 66 W, o preço ronda os 29,90 euros, o que ‘inflaciona’ ainda mais o já elevado preço do Magic V3. O mesmo se aplica ao estilete Magic Pen, com um preço 99,90 euros. Se está de olho neste smartphone e não quer fazer a sua carteira ‘chorar’ ainda mais, recomendamos que se mantenha atento às ofertas promocionais disponíveis no mercado, que incluem, em muitos casos, o carregador e o estilete.  

Tome Nota
Honor Magic V3€1999,99
honor.com/pt

Benchmarks Antutu 1422180; CPU 277690; GPU 597393; Memória 310882; UX 236215 • 3D Mark Wild Life Extreme 4026 (24,11 fps) • Geekbench 1303 (single-core) / 4670 (multi-core) / 13122 (GPU) • PCMark Work 3.0 17644 • Autonomia 10h8 m

Construção Muito Bom
Ecrã Excelente
Câmaras Muito Bom
Autonomia Bom

Características Ecrã interno OLED dobrável de 7,92” (2344×2156; 120 Hz; 9.78:9); ecrã externo OLED de 6,43” (2376×1060; 120 Hz; 20:9) • Processador Snapdragon 8 Gen 3; GPU Adreno 750 • RAM: 12 GB + 12 GB (Honor RAM Turbo); Armaz. interno: 512 GB • Câmaras traseiras: 50 MP (grande angular); 50 MP (teleobjetiva periscópica); 40 MP (ultra-grande angular); Câmaras frontais: 20 MP + 20 MP • Bateria: 5150 mAh • Bluetooth 5.3 • MagicOS 8.0.1 (Android 14) • IPX8 • 156,6x74x9,2 mm (dobrado) / 156,6×145,3×4,35 (aberto) • 226 g

Desempenho: 5
Características: 5
Qualidade/preço: 2,5

Global: 4,2

Enquanto a Europa se foi afastando progressivamente da fé cristã devido ao secularismo, à falta de identificação religiosa e à desinstitucionalização da religião, privatizando-a e retirando-a do espaço público, os Estados Unidos mantiveram o mito da terra prometida dos crentes perseguidos no velho continente.

Todavia, terão sido as duas guerras mundiais que devastaram as nações europeias que fizeram vacilar a fé de muitos que se questionavam como é que Deus tinha permitido tal catástrofe, nunca entendendo que as guerras são feitas pelos homens. Acresce que o facto de no período entre guerras uma boa parte das igrejas cristãs terem apoiado ativamente o nazismo e o fascismo, levou a que muitos crentes desistissem da fé por não entender como podiam líderes religiosos apoiar a barbárie, a ditadura e o genocídio.

As razões da crescente perda da fé dos americanos são bem mais recentes e parece que se devem a outras razões. As gerações mais jovens têm dificuldade em entender, por um lado, a promiscuidade entre religião e política, mas também o conservadorismo profundo que pontifica em muitos setores religiosos e que condiciona a vida pessoal dos indivíduos.

Os europeus anteciparam-se a este percurso de esvaziamento da fé devido ao caminho que escolheram em direção à modernidade, o caminho do secularismo, enquanto os Estados Unidos optaram pela via da religião, e isso é muito percetível ainda hoje na vida pública, nas artes e na política. Mas a verdade é que a sociedade americana mudou e já não é o que era há vinte ou trinta anos.

De facto, é em África, na Ásia e na Oceânia que o cristianismo mais se tem desenvolvido nos últimos tempos. É verdade que em África existe a tendência para misturar o evangelho com as referências religiosas das tradições do continente, numa espécie de sincretismo ou de cristianismo mais

imaturo, por assim dizer, recorrendo a práticas vindas do ocultismo. Mas também a América Latina se move por esses caminhos, com base nas influências antropológicas do subcontinente, de expressão índia e negra e que resultam em parte da multiculturalidade que a caracteriza.

Na Oceânia temos uma presença cristã significativa na Austrália e Nova Zelândia, apesar das influências orientais, e até Timor-Leste mantêm a bandeira da fé católica como marca distintiva.

No continente asiático, as Filipinas e a Coreia do Sul mantêm-se um reduto fortíssimo da fé cristã numa região do globo mais entregue ao Islão, ao budismo, hinduísmo e filosofias orientais, provavelmente devido ao seu percurso histórico. No entanto, o Japão manteve as suas tradições religiosas apesar de ter recebido influências idênticas ao longo do século passado.

Depois temos a China, que já não é o tal gigante adormecido mas sim um gigante discretamente escondido atrás dum muro. Ninguém sabe ao certo o que se passa no país profundo. Mas sabe-se que a fé cristã é poderosa e tem vindo a crescer muitíssimo, apesar da dura perseguição religiosa que ali se verifica, tanto por via direta como pela imposição duma espécie de religião civil centrada numa espécie de endeusamento da figura do presidente Xi Jinping.

É certo que os observadores ocidentais mostram grande dificuldade para compreender o fenómeno devido à sua falta de abertura para o religioso. Como escrevia Henrique Raposo no Expresso: “O cristianismo em expansão é um tema ainda mais estranho para esta lente analítica pós-religiosa, mas a verdade é que o cristianismo está em larga expansão no Oriente, em geral, e na China, em particular (…) É impossível fixarmos o número de cristãos chineses. Sabemos apenas que são milhões e que o seu número cresce todos os dias de forma legal ou clandestina. Há institutos de estatística que falam em 57 ou 68 milhões de cristãos declarados, aos quais temos de acrescentar aqueles que praticam o culto de forma clandestina. É por isso que há quem diga que estamos na presença de 120 milhões de protestantes e 20 milhões de católicos.”

Resta saber se não serão os chineses e outros asiáticos a vir evangelizar o hemisfério norte daqui a umas décadas.

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Uma amiga ligou-me ontem, ao final do dia, com a habitual questão: “Como estás?”. Depois dos primeiros minutos de conversa sobre as vidas de ambas, atirou-me a frase “vou fazer-te perguntas estranhas”. E começou: “Tens uma lanterna em casa? Pilhas? Comida enlatada? Dinheiro vivo? Iodo? Não tens iodo? Devias ter”.

Não foi preciso dizer mais nada, e o nosso telefonema não se cingiu às perspectivas trágicas que o escalar do conflito entre a Rússia e a Ucrânia pode ter para o mundo. Porque isso não mudaria nada. Na verdade, passámos o resto do tempo a acertar agendas para o futuro próximo, ainda que de quando em vez ela atirasse um “isto se ainda houver planeta”.

Estamos a viver tempos estranhos, ainda que não surpreendentes. A decisão de Vladimir Putin de alterar a doutrina de uso de armas nucleares, em resposta às declarações de Joe Biden, que autorizou o uso de mísseis de longo alcance por parte da Ucrânia, abalou o tabuleiro do xadrez geopolítico mundial.

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A Administração de Joe Biden acaba de reconhecer Edmundo González Urrutia, exilado em Espanha desde setembro, como presidente eleito da Venezuela. “O povo venezuelano pronunciou-se de forma contundente a 28 de julho e escolheu Edmundo González como presidente eleito. A democracia exige respeito pela vontade dos eleitores”, afirmou o secretário de Estado, Antony Blinken, na rede social X, antigo Twitter. 

Os EUA já tinham dito que González Urrutia – galardoado, juntamente com Maria Corina Machado, com o prémio Sakharov 2024 – foi o mais votado nas eleições venezuelanas, mas não o tinham reconhecido oficialmente como presidente eleito. Recorde-se que esta mudança ocorre imediatamente após o encerramento da cimeira do G20 no Rio de Janeiro e a dois meses da tomada de posse de Nicolás Maduro para um novo mandato, a 10 de janeiro, e também da entrada em funções de Donald Trump na Administração norte-americana. 

Nas eleições de julho, o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela proclamou Nicolás Maduro vencedor, mas até agora ainda não publicou a ata com os resultados desagregados, apesar da insistência dos EUA, da União Europeia e de vários países da América Latina. A principal coligação da oposição, a Plataforma Unitária Democrática, publicou algumas atas na internet que revelam que González Urrutia, o seu candidato, foi vencedor com mais do dobro dos votos de Maduro. 

Depois da mensagem de Blinken, Urrutia também se pronunciou no X para agradecer o apoio dos EUA: “Este gesto homenageia o desejo de mudança do nosso povo e o feito cívico que juntos realizámos no dia 28 de julho.” 

O PCP não vai estar na sessão solene que se vai realizar este ano pela primeira vez na Assembleia da República para celebrar o 25 de Novembro. Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, diz que se trata de uma tentativa de reescrever a História, mas está sobretudo preocupado com um processo de desmantelamento das conquistas do 25 de Abril, que acredita ter como objetivo “transferir o máximo da propriedade social para o grande capital”.

“Não desvalorizando a necessidade de combater a reescrita e falsificação da História, o essencial não é nesta ocasião de demonstrar o que o 25 de Novembro foi ao contrário do que dizem ter sido (um golpe contrarrevolucionário e não um contragolpe)”, disse Paulo Raimundo numa sessão sobre privatizações no Centro de Trabalho Vitória, em que apontou as privatizações dos últimos 48 anos como instrumentos para reverter o processo de conquistas de direitos sociais de Abril.

As “dinâmicas antagónicas” de 1976 que ainda persistem

“Depois de 1976, o processo político português é marcado por duas dinâmicas antagónicas: por um lado as energias libertadas pela Revolução e pelas nacionalizações, a fazer avançar o País, e por outro lado, a ação contrarrevolucionária, a querer reverter, inverter as conquistas da Revolução”, declarou o secretário-geral do PCP, defendendo que essa dinâmica continua hoje.

“À sombra das privatizações muitos dos principais protagonistas do PSD, do CDS, do PS, mas também do Chega e da IL, encontraram guarida em conselhos de administração e lugares cimeiros de muitas destas empresas. Este processo leva 48 anos. Mas não está concluído. E essa é uma tarefa a que o atual Governo do PSD e CDS se propõe”, denunciou, num discurso no qual fez o retrato das privatizações na comunicação social, na banca, na saúde e agora na TAP como processos marcados pela “mentira, a falta de transparência, a corrupção massiva”.

“Elas foram ótimas para as grandes famílias e para as multinacionais. À sombra das privatizações enriqueceram um conjunto de intermediários pelo papel que tiveram no processo ou pela colocação que alcançaram no modelo liberalizado, como consultores ou reguladores ou gestores da acumulação privada de capital”, atacou o comunista, que acredita que, além da venda da TAP, estão em curso políticas na RTP, na CP, nos portos e nas águas que procuram enfraquecer o serviço público e abrir as portas aos privados.

E é por isso que Raimundo diz que “neste momento o que importa é destapar e expor a operação que está por detrás das chamadas comemorações do 25 de novembro que a direita mais reacionária há muito enseja e que decidiu tentar impor”.

“As forças da revanche querem rescrever a História”

“O que está por detrás da iniciativa dos que suportam o Governo da PSD/CDS, com o apoio dos seus sucedâneos da IL e do Chega e a cumplicidade e anuência de outras forças políticas, é relançar a ofensiva contrarrevolucionária contra Abril e legitimar as suas próprias opções e política destruidora”, considera, lembrando que o 25 de novembro acabou por não levar, como queriam alguns dos seus promotores, à ilegalização do PCP.

“As forças da revanche querem rescrever a História, e apresentar o 25 de novembro, não pelo que foi, mas pelo que desejariam que tivesse sido de regresso ao passado de meio século de ditadura fascista”, argumentou, notando um “indisfarçável saudosismo, um revés reacionário” por trás de que quer hoje celebrar a data equivalendo-a ao 25 de Abril.

“O PCP rejeita a operação em curso e os seus objetivos antidemocráticos de desvalorização e apagamento do 25 de Abril, de promoção de conceções e projetos reacionários”, disse para anunciar que o grupo parlamentar comunista não estará na sessão, como já não esteve na comissão constituída para definir os moldes desta celebração.

“Não serão as comemorações do povo”

“É Abril que deve ser comemorado enquanto o momento mais marcante da nossa história e não o que contra ele se arquitetou de conspirações, golpes e práticas que o negam e pretendem desvalorizar. É essa luta para afirmar os valores de Abril que vamos prosseguir”, prometeu Paulo Raimundo.

Raimundo acredita mesmo que, a celebração ficará entre as paredes do Parlamento por não ter apoio popular. “Não serão as comemorações do povo, porque essas são e só as de Abril. E é com o povo que o PCP está, o povo que este ano em Abril encheu a Avenida da Liberdade e tantas praças e avenidas deste País a comemorar os 50 anos da Revolução Portuguesa”.

Putin é um gabarola que só mete medo aos que o rodeiam. É um assediador nato, valentão no Kremlin, presunçoso e pretensioso, mas que não assusta ninguém. Bazofiador, alterou a doutrina para o uso de armas nucleares, permitindo que possam ser disparadas por qualquer motivo e a qualquer momento, para mostrar que não brinca. Elevou o desafio, colocou meio mundo em alerta e sente-se profundamente orgulhoso do pavor que induz no seu país e nos países vizinhos.

O presidente russo sabe, como poucos, que não pode usar armas nucleares. Elas existem, mas não se utilizam. Servem apenas para dissuadir, gerar pânico e amedrontar o adversário. A última coisa que passa pela cabeça de Putin é ver o seu mundo destruído, arrasado e sem vida. Ou com uma réstea de vida que ninguém quer viver. Não sendo louco, nunca irá ordenar o disparo de uma ogiva nuclear, mesmo que tática e com poucas quilotoneladas.

O resultado seria a Destruição Mútua Assegurada (MAD). Este conceito, que se tornou válido e imperativo a partir dos anos 60 do século passado, resume, magistralmente, o apocalipse desencadeado pelas armas nucleares: quem as utilizar, mesmo que em primeiro lugar, inicia a sua própria destruição. Putin é muitas coisas, mas não idiota.

O síndrome MAD inibe, felizmente, todos os líderes de potências nucleares. Existe, contudo, um pequeno-grande problema: ao autorizar o seu uso de forma mais ou menos indiscriminada, apenas com autorizações dos comandos no terreno, pode desencadear-se a destruição maciça por um erro de avaliação, um disparo inadvertido ou uma insanidade momentânea. Há, porém, uma condicionante que joga a favor da humanidade: as ogivas nucleares nunca estão armadas ou prontas para serem disparadas. Nada disso. São necessários vários procedimentos técnicos e muitas pessoas envolvidas. Mesmo na Rússia de Putin, existem militares, oficiais e generais que não perdem a cabeça nem alinham na sua autodestruição.

E, a propósito, convém esclarecer que a pasta que acompanha sempre Putin, o presidente americano ou o primeiro-ministro britânico, não contém um botão que dispara mísseis nucleares. Isso é uma fantasia cinéfila. Na pasta, encontra-se um computador onde são inseridos os códigos de autorização presidencial, que depois passam por uma longa cadeia de comando até aos dois últimos oficiais, em terra, ar ou mar, que, em conjunto, carregam no botão.

Eventualmente — nunca se sabe — a pasta de Putin pode ter apenas uma sandes de chouriço e uma garrafa de tinto.