O seu gato é psicopata? Uma equipa de investigadores das Universidades de Liverpool de John Moores, no Reino Unido, propôs-se a responder a esta questão e desenvolveu um questionário que ajuda a classificar o nível de psicopatia destes felinos.

O estudo, publicado recentemente na revista científica Journal of Research in Personality, teve por objetivo ajudar os donos a compreender o comportamento dos seus gatos e a classificar a sua personalidade dentro de um modelo triárquico da psicopatia (denominado “CAT-Tri+) – um método geralmente utilizado para medir o comportamento humano e que foi agora adaptado a estes animais.

Com 46 afirmações acerca do comportamento dos gatos, o questionário avaliou as respostas de mais de dois mil donos destes animais e procurou classificar as ações dos felinos numa série de cenários possíveis e que variaram entre a sua reação ao perigo, hostilidade para com humanos ou até a forma como interagiram com outros gatos. Alguns exemplos das afirmações incluiram “o meu gato atormenta a sua presa em vez de a matar imediatamente”, “o meu gato vocaliza alto (como miar ou uivar) sem razão aparente” ou “o meu gato caminha/senta-se em cima de objetos que estou a tentar utilizar”. As respostas foram depois classificadas numa escala de “não descreve o meu gato” a “descreve o meu gato extremamente bem”.

O questionário pode ser consultado na íntegra aqui.

O modelo desenvolvido permitiu aos investigadores avalisar as tendências psicopáticas gerais dos animais ao medir os seus níveis de maldade – classificada como falta de empatia ou agressividade -, ousadia – dominância social e baixos níveis de medo – e desinibição – problemas de contenção comportamental – bem como avaliar a sua relação com outros seres humanos e animais.

De acordo com os resultados do estudo “é provável que todos os gatos tenham um elemento de psicopatia” que, nos seres humanos, é caracterizada pela falta empatia e tendências manipulativas. Contudo, os cientistas acreditam que os comportamentos psicopáticos destes animais tenham sido desenvolvidos pelos seus antepassados como uma forma de sobrevivência. “É provável que todos os gatos tenham um elemento de psicopatia, pois isso teria sido útil para os seus antepassados ​​em termos de aquisição de recursos: por exemplo, comida, território e oportunidades de acasalamento”, explicou Rebecca Evans, psicóloga da Universidade de Liverpool e autora do estudo.

O nível de psicopatia varia, tal como nos seres humanos, de felino para felino. “Acreditamos que, como qualquer outro traço de personalidade, a psicopatia pode apresentar diferentes graus de pontuação em cada animal”, referiu Evans.

Foi possível verificar, através das respostas, que os animais que obtiveram pontuações mais altas na categoria de “ousadia” mostraram ter tendência a gostar de atividades como arranhar postes e escalar obstáculos. A análise das respostas sugere ainda que a desinibição e a hostilidade em relação a outros animais são fatores associados à melhor relação entre o dono e o gato. Contrariamente, a maldade e a ousadia foram associados a uma relação menos positiva. “A desinibição e a falta de simpatia com os animais de estimação indicaram uma relação de maior qualidade entre o gato e o proprietário; a maldade e a ousadia indicaram uma relação de menor qualidade”, pode ler-se.

Com o intuito de facilitar as dinâmicas entre os gatos e os seus donos, os investigadores acreditam que os seus resultados possam ajudar a diminuir as taxas de abandono dos animais, muitas vezes provocado por problemas comportamentais. “Questões comportamentais como a agressão – conceptualmente relacionadas com a maldade – e a desobediência – conceptualmente relacionadas com a desinibição – estão ligadas a cerca de 38% dos abandonos de gatos a abrigos no Reino Unido”, explicou a autora. 

A Parker Solar Probe foi lançada em 2018 e, depois de algumas passagens por Vénus, foi colocada numa nova trajetória, em direção ao Sol. Agora, “na Véspera de Natal deste ano, a Parker Solar Probe vai ser o objeto construído por humanos mais próximo de uma estrela”, descreve Nour Rawafi, cientista da missão do John Hopkins University Applied Physics Lab.

A sonda vai ficar sem contacto com a Terra durante o voo ‘rasante’ que a colocará a passar a 6,1 milhões de quilómetros do Sol e deve enviar, a 27 de dezembro, um sinal para confirmar o sucesso desta etapa. Depois, em janeiro, a sonda deve começar a transmitir dados de telemetria e, de seguida, dados científicos, avança o website Space News.

A Parker Solar Probe tem um sistema de proteção termal que a defende dos efeitos da proximidade ao Sol e este escudo está a ter um desempenho melhor do que o que estava inicialmente projetado. As temperaturas a que está de facto sujeita são inferiores àquelas para as quais os cientistas se prepararam. Nos testes no solo, o revestimento começou a esbranquiçar à medida que as temperaturas aumentavam, melhorando o seu desempenho.

Também os painéis solares integrados estão a degradar-se a um ritmo mais lento do que o esperado, com Rawafi a contar que “o sistema está muito saudável e pode ir mais além do que o que preparámos”.

A missão que “está a abrir os nossos olhos para a realidade sobre uma estrela” está a fornecer aos cientistas dados essenciais sobre os ventos solares e a coroa solar à medida que passa por ali e sobre as ejeções solares.

As observações, quer do Sol, quer de Vénus, vão ser particularmente úteis para se perceber mais sobre as estrelas e a proximidade da sonda a estes dois corpos está a fornecer dados bastante significativos.

Em 2025, a sonda deve fazer mais duas aproximações ao Sol e a equipa está ativamente à procura de mais financiamento para conseguir continuar a exploração até 2027, sendo que a Parker pode manter-se na sua órbita com uma reduzida necessidade de combustível durante muito mais tempo.

1. True Detective: Night Country Max

A expectativa estava muito alta para a quarta temporada desta antologia de crimes e não defraudou a plateia, unânime em aplaudir o argumento e as interpretações de Jodie Foster e Kali Reis. As atrizes estão ambas nomeadas para os Globos de Ouro (entregues a 6 de janeiro de 2025), com a série a concorrer também nas melhores do ano.

As novas detetives encarregadas de um misterioso caso de múltiplo homicídio não são as melhores amigas, mas vão ter de se entender para, numa vila gelada e escura do Alasca, descobrir os culpados. Ao longo dos seis episódios, o argumento – escrito, produzido e realizado pela mexicana Issa López – levanta questões sobre a descendência de nativos indígenas norte-americanos. Assegurada a renovação de True Detective, o que terá Issa López em mente para a próxima temporada?

2. Shogun Disney+

Com dez episódios, a série japonesa fez história nos Emmy ao receber 18 prémios. Entre estes, figuram o de melhor série de drama, mas também as vitórias de Hiroyuki Sanada e Anna Sawai como protagonistas e a distinção na realização (escapou-lhe o de argumento, que foi para Slow Horses). Seguramente, fará um brilharete em janeiro nos Globos de Ouro.

A crítica tem sido unânime e esta é já uma das melhores séries de 2024. Baseada no romance Shōgun, de James Clavell (1975), inspirado em factos reais, a trama decorre no final da época feudal no Japão, viragem do século XVII, e conta a história de um navegador inglês, John Blackthorne, que desembarca num país oriental, até então mantido secreto pelos portugueses (de quem não é passada uma imagem lá muito católica), para entrar num enredo de lutas políticas e de poder. Bem interpretada e bem filmada, tem nos cenários japoneses recriados outro dos seus trunfos. M.C.B.

3. Matilha RTP Play e Prime Video

Logo em janeiro, estreou-se na RTP1 um thriller polvilhado com humor negro. Matilha é a extensão de Sul (2019), drama policial neo-noir, passado na Lisboa dos anos da Troika. O projeto, assinado também por Edgar Medina (Causa Própria, Cartas da Guerra), coescrito com Guilherme Mendonça e Rui Cardoso Martins, pegou em duas das personagens principais de Sul e deu-lhes novas vivências. Matilha (Afonso Pimentel) e Mafalda (Margarida Vila-Nova) eram um casal pobre, um namoro antigo, que depois se separou e cada um tentava seguir com a sua vida. Mas tropeçaram sempre no mundo do crime.

4. Mr. & Mrs. Smith Prime Video

Para quem teve dúvidas sobre mais uma série que deriva da adaptação de um filme, Mr. & Mrs. Smith é uma surpresa e uma lufada de ar fresco, que nos faz esquecer Brad Pitt e Angelina Jolie. O que pode correr mal quando dois estranhos, dois espiões, são escolhidos para formar um casal fictício e cumprir as missões da Companhia? Tudo. Mas a dupla formada pelos atores Donald Glover e Maya Erskine, nomeados para os próximos Globos de Ouro, consegue surpreender em cada um dos oito episódios. A cumplicidade e a empatia, tanto física como verbal, acrescentam muito a uma narrativa fácil, com cenas de ação pelo meio.

5. Ripley Netflix

Somos do team de Andrew Scott, ator irlandês que já se tinha feito notar como o padre sexy na série Fleabag e a crítica elogiou no drama All of Us Strangers. A partir de Ripley todos lhe tiramos o chapéu. São muitos os pontos a favor desta adaptação da novela policial de Patricia Highsmith, assinada por Steven Zaillian, com três nomeações para os Globos de Ouro.

Este Ripley é um sedutor, manipulador, perito em enganar e contar mentiras, e um assassino que chega a ter o telespectador do seu lado. O tom dramático e sofisticado da imagem a preto-e-branco, em cenários dignos de bilhetes-postais italianos, conjuga-se na perfeição com o ritmo lento e os silêncios de algumas cenas dos oito episódios. Destaque para Eliot Sumner, filha do cantor Sting, pessoa não binária, ao interpretar um Freddie Miles bem diferente daquele que Philip Seymour Hoffman fez, em 1999.

6. The Bear Disney+

E à terceira temporada, continuou o buzz em torno da série-fenómeno da Disney+, um retrato do mundo impiedoso da alta cozinha. Desta vez, os elogios foram mais contidos e houve quem tenha visto esta leva de dez episódios demasiado concentrada em explorar o passado (através de flashbacks), em vez de fazer avançar a história. Ainda assim, The Bear mantém-se entre as melhores séries de televisão de 2024. Com 21 Emmy recebidos pelas duas primeiras temporadas, em 2025 haverá novos episódios e mais prémios, começando nas cinco nomeações para os Globos de Ouro. Sim, chefe! I.B.

7. Disclaimer Apple TV+

Vénia seja feita a este elenco, mas sobretudo a Kevin Kline, no papel do mais hostil e retorcido professor reformado e viúvo, obstinado em atormentar a vida de Catherine Ravenscroft (Cate Blanchett), uma documentarista premiada, do seu marido (Sacha Baron Cohen) e do seu filho (Kodi Smit-McPhee). Disclaimer não é para ser vista com distrações, nem de cabeça cheia, requer atenção aos detalhes e às diversas narrativas contadas por camadas. As histórias não se cruzam num determinado momento, existiram em simultâneo. As vozes dos narradores complementam esses tempos.

Disclaimer é a adaptação do livro homónimo de Renée Knight, escrito em 2015, que o cineasta mexicano Alfonso Cuarón, premiado com quatro Oscars (divididos por Roma e Gravidade), queria fazer em longa-metragem, mas não conseguiu condensar em menos de 120 minutos.

8. Presumível Inocente Apple TV+

Em 2022, Anatomia de Um Escândalo, na Netflix, já nos tinha prendido a atenção por um caso levado a julgamento e muita polémica com a definição da palavra consentimento. Este ano, David E. Kelley (Big Little Lies, The Practice, Ally McBeal) voltou à carga na criação de Presumível Inocente e Jake Gyllenhaal foi magistral na interpretação de Rusty Sabich, um vice-promotor que fica com a vida virada do avesso ao tornar-se suspeito de um crime (esqueçamos que este ano também fez Road House…). Nico Della Guardia (O-T Fagbenle) e Tommy Molto (Peter Sarsgaard) promovem a sua culpa, a mesma do filme realizado por Alan J. Pakula, em 1990, protagonizado por Harrison Ford, baseado no livro de Scott Turow. Suspeitas pairam sobre todos os personagens, mas são muitas as reviravoltas inesperadas e surpreendentes.

9. Baby Reindeer Netflix

Muito se escreveu sobre esta minissérie, mas também sobre a história verdadeira que nela se conta. Richard Gadd, britânico de 35 anos, é o autor e protagonista de Baby Reindeer, que começou por ser uma peça de teatro premiada no Festival Fringe, em Edimburgo, em 2019. Ser perseguido por uma mulher que o bombardeou com mais de 40 mil e-mails e centenas de horas de mensagens de voz, ao longo de dois anos, dá o mote para o que inicialmente pode parecer comédia, mas intensifica-se para o drama, a acutilância e o desconforto.

Nos últimos Emmy, Baby Reindeer deu à Netflix uma vitória na categoria de minissérie, série de antologia ou telefilme. Richard Gadd e Jessica Gunning levaram, respetivamente, os prémios de melhor ator e melhor atriz secundária numa minissérie. As nomeações para os Globos de Ouro repetem-se nas mesmas categorias.

10. Dune: Prophecy Max

Depois de, em 1984, David Lynch ter transformado em filme Dune, a obra de ficção científica de Frank Herbert (1920-1986) lançada em 1965, a história foi levada ao cinema em 2021 e 2024 por Denis Villeneuve.

Dune: Prophecy é inspirada no livro Sisterhood of Dune (2012), escrito por Brian Herbert (filho de Frank Herbert) e Kevin J. Anderson. A ação passa-se dez mil anos antes dos filmes de Villeneuve, quando a ordem matriarcal Bene Gesserit foi fundada pelas irmãs Harkonnen, Valya (Emily Watson) e Tula (Olivia Williams). Política, religião e poderes sobrenaturais, tudo serve para exercer influência junto das famílias nobres do Imperium e controlar o futuro da Humanidade. Terá a série o mesmo efeito dos filmes? Para já, era uma das estreias mais aguardadas do ano e elevou o lugar das mulheres numa produção épica. I.B.

Os livros do ano de 2024: Da ficção à poesia, da banda desenhada à gastronomia

Uma carta aberta contra a alteração à Lei de Bases da Saúde aprovada no dia 19 de dezembro foi subscrita por 840 profissionais de saúde, que admitem praticar atos de desobediência civil.

Para os subscritores, estas alterações condicionam o acesso dos imigrantes em situação irregular, pelo que se comprometem “a continuar a prestar cuidados a todas as pessoas, sem discriminação, considerando que a proteção da saúde da população visada, no âmbito da ética e a deontologia que regem as [suas] profissões, poderá justificar ações de desobediência civil”.

Os profissionais acusam o Governo de promover desigualdades e dificultar o combate a doenças transmissíveis e recordam que, em França, uma medida semelhante não avançou devido à oposição de 3.500 médicos.

“Utentes daqui e de outros lados, a nossa porta está aberta para todos. E assim continuará”, garantem.

Para os subscritores, a alteração é discriminatória, viola a constituição e tratados internacionais e “agravará desigualdades, sobrecarregará os serviços de urgência e comprometerá a saúde pública, ao dificultar o acesso a cuidados de saúde em segurança e à prevenção e tratamento de doenças transmissíveis”.

Em declarações à Lusa, um dos promotores, o médico André Almeida, explica que os profissionais de saúde não podem subscrever uma nova lei que é “discriminatória e atenta contra os princípios de ética e deontologia” ao afastar pessoas do SNS. A implementação destas regras levará a que “pessoas que trabalham, que são contribuintes líquidos, tanto do ponto de vista tributário como para a segurança social, ficassem sem assistência e o mesmo também se aplica às suas famílias, mesmo inclusivamente para mulheres grávidas e crianças”, afirmou o médico da Unidade Local de Saúde de São José. “Nós achamos isso inaceitável” e “esperamos que esta lei seja revogada nos órgãos de soberania e que não passe no crivo da Presidência da República”.

Na sexta-feira, foram aprovados projetos de Lei do Chega e do PSD e CDS-PP sobre as condições de acesso de cidadãos estrangeiros não residentes ao SNS. A proposta de lei do Chega altera a Lei de Bases da Saúde de 2019 para limitar o acesso ao SNS a estrangeiros que não residam em Portugal, só lhes permitindo aceder aos cuidados de saúde públicos em casos de emergência ou mediante pagamento. Também o projeto de lei apresentado por PSD e CDS-PP visa alterar a Lei de Bases da Saúde para travar a “utilização abusiva” do Serviço Nacional de Saúde por estrangeiros não residentes em Portugal, exigindo documentação extra a estes cidadãos.

O diretor executivo da OpenAI, Sam Altman, anunciou que o novo modelo de Inteligência Artificial da empresa chama-se o3: “respeitando os nossos amigos da Telefónica (que detém a rede celular O2 da Europa) e na tradição de a OpenAI ser verdadeiramente má com nomes, chama-se o3”. Numa primeira fase o modelo vai ser disponibilizado aos investigadores interessados em colaborar nos testes de segurança. “Por volta do fim de janeiro”, o modelo o3 mini deve chegar ao público e a versão ‘normal’ vai chegar “pouco depois”, afirmou Altman.

O novo modelo o3 traz, como esperado, um desempenho melhorado, pontuando 96,7% no American Invitational Mathematics Examination (contra os 83,3% alcançados pelo o1). O desempenho foi tão melhor do que o esperado que a OpenAI revela que teve de procurar novos desafios, mais complexos, para o testar. Um destes é o ARC-AGI, um teste criado pela ARC Prize e que constitui um “marco importante em direção à Inteligência Artificial Generativa” para o modelo que o ultrapassar. O o3 obteve 75,7% neste teste nas configurações de baixo processamento e, quando alimentado com poder de processamento adicional, chegou aos 87,5%. Greg Kamradt, presidente da ARC Prize, conta que “o desempenho humano é comparável aos 85%, pelo que estar acima deste valor é um grande marco”, cita o Engadget.

Sobre o o3 mini, a OpenAI conta que vai ser possível definir o tempo que o utilizador pretende que o software esteja a pensar sobre uma solução, antes de devolver uma resposta. Este modelo consegue obter resultados comparáveis com o atual o1, mas usando apenas uma fração do poder computacional.

Em suma, o o3 mini deve chegar dentro de um mês ao público e, pouco tempo depois, será disponibilizado o o3.

Em 2019, o WhatsApp apresentou uma queixa contra o NSO Group, acusando a empresa de ser responsável pela espionagem de utilizadores da plataforma. Agora, o tribunal deu razão à empresa que faz parte do grupo Meta e considera que o NSO Group é responsável pelo ataque a 1400 dispositivos usados por jornalistas, ativistas e políticos. O caso vai seguir agora para avaliar “o tema dos danos”.

O NSO Group argumenta que não pode ser responsabilizado pelo uso dado ao seu software pelos clientes que estariam a investigar crimes e casos de quebra de segurança nacional. O tribunal, no entanto, refuta esta defesa, que podia criar um precedente para outras empresas no mesmo setor.

Will Cathcart, responsável pelo WhatsApp, considera que “a decisão é uma grande vitória para a privacidade (…) Passámos cinco anos a apresentar o nosso caso porque acreditamos que as empresas de spyware não se podem esconder atrás da imunidade ou evitar a responsabilização pelas suas ações ilegais”, cita o The Verge.

O NSO Group ainda não reagiu publicamente a esta decisão.

Os relatórios anuais da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (CERI /ECRI)1 sinalizam que, nas últimas décadas, registou-se um forte aumento do discurso de ódio e dos crimes de ódio na Europa e Portugal não é exceção.

Segundo dados recolhidos pela agência Lusa, junto da PSP e GNR, o número de crimes de ódio em Portugal aumentou 38% em 2023, em comparação com 2022.

Ora, a Constituição da República Portuguesa repudia a discriminação, estabelecendo que ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual (artigo 13.º CRP).

Por seu turno, o Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia impõe que todos os países tenham o objetivo de combater a discriminação em razão do sexo, raça ou origem étnica, religião ou crença, deficiência, idade ou orientação sexual e que os seus territórios devem constituir um espaço de liberdade, segurança e justiça, no respeito dos direitos fundamentais (artigo 10.º e 67.º TFUE).

Crimes de ódio e discurso de ódio são penalmente punidos em Portugal, ficando, contudo, aquém do exigível.

O Código Penal estabelece que o crime de homicídio é punido com uma pena de 12 a 25 anos, caso seja, entre o mais, determinado por ódio racial, religioso, político ou gerado pela cor, origem étnica ou nacional, pelo sexo, pela orientação sexual ou pela identidade de género da vítima, nos termos do artigo 132.º n.º 2, al. f), daquele diploma.

Também o crime de ofensa à integridade física simples vê a sua moldura penal agravada, passando a ser punido com pena até 4 anos de prisão, quando o agente pratique os factos determinado pela motivação supra referida naquele preceito (remetendo-se para o artigo 132.º n.º 2, al. f) do Código Penal).

Notamos, com moderado agrado, as várias alterações legislativas desta alínea, que, na sua redação inicial, conferida da Lei n.º 65/98, de 02.09, apenas se limitava ao ódio racial, religioso ou político. Depois, na redação introduzida pela Lei n.º 59/2007, de 04.09, passou a incluir a cor, origem étnica ou nacional, sexo e orientação sexual da vítima. Por fim, em 2014, aditou-se a identidade de género. Contudo, assinalamos a falta de abrangência de outras motivações discriminatórias.

Sob a epígrafe discriminação e incitamento ao ódio e à violência, o artigo 240.º do Código Penal prevê penas de 1 a 8 anos de prisão para quem fundar, desenvolver ou somente participar em organizações ou atividades de propaganda que incitem ou encorajem à discriminação, ao ódio ou à violência contra pessoa ou grupo de pessoas em razão da sua origem étnico-racial, origem nacional ou religiosa, cor, nacionalidade, ascendência, território de origem, religião, língua, sexo, orientação sexual, identidade ou expressão de género ou características sexuais, deficiência física ou psíquica.

Já quem, contra estes, praticar atos de violência, difamar, injuriar, ameaçar ou incitar à discriminação, é punido com uma pena de 6 meses a 5 anos. Contudo, estabeleceu-se que estas condutas só são punidas se forem praticadas publicamente, por qualquer meio destinado a divulgação, nomeadamente através da apologia, negação ou banalização grosseira de crimes de genocídio, guerra ou contra a paz e a humanidade (artigo 240.º, n.º 2 do Código Penal).

Este é um artigo prolixo, de difícil aplicação prática e que deixa várias condutas por punir.

Claro que, para os crimes determinados por ódio em relação ao quais não está expressamente prevista uma agravação da conduta, o Tribunal deverá sempre ter em conta essa circunstância, quando determina a medida concreta da pena (artigo 71.º, n.º 1, al. c) do Código Penal). Mas não é suficiente.

Imagine-se os crimes de injúria ou ameaça motivados por ódio: se forem praticados apenas perante a vítima (ou seja, não sendo publicamente e pelas formas previstas no artigo 240.º), não existe qualquer agravamento da pena.

Entendemos que todos os crimes motivados por ódio devem ter as molduras penais agravadas. Para tal, é fundamental uma cláusula agravativa geral no nosso Código Penal, que não existe.

O aumento da utilização da internet e das redes sociais trouxe mais partilha do discurso de ódio através da palavra digital, facilitada pelo suposto anonimato e sentimento de impunidade associado.

Precisamos de um legislador mais atento e que adapte as normas penais e processuais penais aos casos da vida real.

Parece-nos evidente que o ódio mina as comunidades, enfraquecendo o respeito mútuo e o respeito pela diversidade em que assentam as sociedades pluralistas e democráticas. É premente uma resposta eficaz dos vários sistemas jurídico-penais de toda a União.

Prevemos um longo caminho a percorrer para melhorar e adaptar as normas, mas é crucial, desde já, divulgar a existência de disposições penais que punem condutas motivadas por ódio e encorajar as vítimas a participar os crimes às autoridades.

Não queremos ódio em Portugal!

Feliz Natal!

1 Órgão independente de monitoramento dos direitos humanos do Conselho da Europa, especializado no combate ao antissemitismo, discriminação, racismo, intolerância religiosa e xenofobia.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Uma boa notícia para as Pequenas e Médias Empresas portuguesas (PME): a E-goi, reconhecida pelas suas soluções em automação de marketing omnichannel e inteligência artificial, junta-se ao programa Aceleradoras de Comércio Digital. Com uma dotação total de 55 milhões de euros, esta iniciativa do governo português, integrada no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), pretende apoiar a transição digital de até 30 mil PME até 2025.

As PME interessadas podem candidatar-se através das Aceleradoras de Comércio Digital da sua região. Após a candidatura, será realizado um diagnóstico da maturidade digital da empresa, seguido da elaboração de um plano estratégico que indicará os serviços e incentivos disponíveis no Catálogo de Serviços de Transição Digital.

O programa destina-se a micro, pequenas e médias empresas dos setores do comércio, serviços e restauração. As empresas elegíveis devem ter um CAE (Código de Atividade Económica) principal enquadrado nas seguintes atividades:

  • 45: Comércio, manutenção e reparação de veículos automóveis e motociclos
  • 46: Comércio por grosso (inclui agentes), exceto de veículos automóveis e motociclos
  • 47: Comércio a retalho, exceto de veículos automóveis e motociclos
  • 56: Restauração e similares
  • 79: Agências de viagens, operadores turísticos e outros serviços relacionados
  • 95: Reparação de computadores e bens pessoais
  • 96: Outras atividades de serviços pessoais

As despesas elegíveis podem atingir até 2.000€ por empresa.

Dentro deste contexto, a E-goi, plataforma de automação de marketing omnichannel, destaca-se como uma das entidades que oferecem soluções valiosas no âmbito do programa.

Os nossos planos e soluções de marketing digital foram desenvolvidos para responder às diversas necessidades das empresas beneficiárias, ajudando-as a alcançar maior eficiência e competitividade no mercado atual

Daniel alves, head of innovation & research da e-goi

As PME que optarem pelos serviços da E-goi poderão escolher entre três planos adaptados às suas necessidades: Plano Base PRR 500, que Inclui email marketing ilimitado e automação básica, Plano Pro PRR 1000: que adiciona automação completa e Plano PRR AI 1500, que Integra Inteligência Artificial.

“Estamos entusiasmados por fazer parte deste programa, cujo objetivo é impulsionar a transformação digital das PMEs portuguesas”, afirma Daniel Alves, Head of Innovation & Research da E-goi. “Os nossos planos e soluções de marketing digital foram desenvolvidos para responder às diversas necessidades das empresas beneficiárias, ajudando-as a alcançar maior eficiência e competitividade no mercado atual.”

Para adquirir os serviços da E-goi, as empresas devem inscrever-se junto à Aceleradora da sua região e passar pelo diagnóstico necessário para receber um plano estratégico personalizado.

Para mais informações, a E-goi disponibiliza um formulário onde pode solicitar contacto: formulário.

Era para ser mais um passeio em família pelas magníficas paisagens das grutas de Salnitre de Collbató, na montanha de Montserrat, um dos patrimónios naturais mais importantes da região de Barcelona. Isak e Jonathan Andic, pai e filho, respetivamente, estavam na reta final da sua caminhada de sábado, 14, quando o mais velho escorregou e se precipitou numa queda com cerca de 150 metros de altura que lhe provocou morte imediata. E assim, o que era suposto ser um início de fim-de-semana perfeito, terminou com uma tragédia e a morte do homem mais rico da Catalunha e uma figura que marcou a história recente de Espanha.
Isak Andic nasceu a 20 de outubro de 1953 em Istambul, Turquia, no seio de uma família de judeus sefarditas, que viria a emigrar para o Norte de Espanha, em 1969. Com espírito empreendedor, convenceu o irmão Nahman a começar um negócio de roupa ornamentada com bordados à mão “made in Turkey”. Abriram lojas em Barcelona e Madrid, onde vendiam a sua marca própria (a Isak Jeans) e produtos de outras companhias.

Em 1984, Isak fundou a cadeia de lojas Mango, que haveria de tornar-se uma das mais importantes marcas de roupa espanhola, com lojas espalhadas pelo mundo inteiro. Como sócio maioritário, Isak Andic acabaria por tornar-se um dos homens mais ricos de Espanha e o detentor da maior fortuna da Catalunha, que incluia a maior participação individual no capital do Banco Sabadell, instituição da qual chegou a ser vice-presidente. A sua fortuna estava calculada em 4,5 mil milhões de euros, o que também fazia dele o 32º judeu mais rico do mundo.

Com a morte trágica de Isak Andic, aos 71 anos, toda esta fortuna será agora dividida pelos três filhos, o primogénito e sucessor nos negócios Jonathan, de 43 anos, Judith, 40, e Sarah, 27, frutos do seu casamento, entretanto desfeitos, com Neus Raig Tarragó.

(Nota: Corrige a data de nascimento relativamente ao texto publicado na edição impressa.)

Com a chegada de dezembro, há símbolos que parecem incontornáveis para celebrar o Natal. Afinal, porque é o Pai Natal tão relevante e porque colocamos uma estrela no topo de um pinheiro? Aliás, porque temos um pinheiro dentro de casa? Saiba a origem destes e outros símbolos de Natal em seguida.

Pai Natal

O velhinho de barbas brancas vestido de vermelho que dá presentes a quem se portou bem é uma presença muito forte no imaginário de todas as crianças nesta época. O Pai Natal não está relacionado com o nascimento de Jesus, mas tem uma matriz cristã, ainda que tenha perdido essa conotação a partir do momento em que se tornou uma figura comercial, na primeira metade do século XX.

É uma figura que evoluiu de São Nicolau, um bispo de Bari que viveu entre o século III e o século IV e que foi canonizado pela igreja católica devido aos milagres que lhe foram atribuídos. É retratado como um homem solidário que dedicou a sua vida a ajudar o próximo. Existem variações da lenda a seu respeito, mas todas acabam por relatar a entrega de bens essenciais, dinheiro ou até brinquedos aos mais carenciados de forma discreta. Como? Depositando estas ofertas nas chaminés de quem mais precisava. 

A lenda tornou-se popular e a figura de um velhinho com um saco às costas durante a noite para entregar presentes tornou-se muito presente no imaginário popular. Conforme a história ia chegando a novos locais, ganhava também novos contornos, como aconteceu no norte da Europa, onde São Nicolau passou a receber a ajuda de elfos. Os primeiros registos do novo Pai Natal surgem no século XVII em Inglaterra e na Holanda e no século XIX esta figura ganha ainda maior destaque nos EUA. No século seguinte recebe o visual que hoje lhe é conhecido, com casaco, calças e gorro vermelho, graças a uma publicidade da marca Coca-cola. A imagem fez sucesso e desde então é a que é aceite. São Nicolau passou a Pai Natal e, apesar das origens, deixou de ter uma conotação religiosa para estar associado a um lado mais comercial e é um dos símbolos maiores desta quadra.

Pinheiro 

É quase uma obrigação para muitos lares. Chega dezembro e em casa tem de estar um pinheiro decorado. Seja ele alto até ao teto, pequeno e instalado em cima de um móvel, natural ou artificial, verde ou outra cor. O importante é haver uma referência a um pinheiro. Mas se Jesus nasceu em Belém, uma terra onde o pinheiro não é de todo natural, de onde vem a origem deste símbolo tão impactante? Ao que tudo indica, a árvore de Natal vem dos povos pagãos do norte da Europa.

Durante os festejos do solstício de inverno, os povos pagãos decoravam as suas casas com ramos de pinheiro, uma árvore que nunca perde o tom verde durante o ano e, por isso, representa a esperança. A folhagem podia ainda ser decorada com moedas, alimentos ou brinquedos, numa representação do que era valorizado. Ao levarem ramos de pinheiro para casa, estes povos queriam recordar que o inverno iria eventualmente terminar e dar lugar à primavera. Há também quem diga que os ramos desta árvore ajudavam a afastar os maus espíritos dos lares na estação mais escura do ano.

Esta tradição acabou por se espalhar para outros povos e culturas, ainda que perdendo o seu sentido inicial devido à conversão dos povos pagãos ao Cristianismo. No século XVI começou a haver registo de pinheiros com velas e no século XVIII era já um costume popular ter um pinheiro em casa durante o Natal. Contudo, foi em 1846 que o pinheiro se tornou num símbolo maior desta época, graças à rainha Vitória de Inglaterra. Tudo porque a monarca posou junto a uma destas árvores decorada juntamente com os filhos para o jornal Illustrated Londons News. A imagem teve um grande impacto e desde então que o pinheiro é quase que imprescindível.

Estrela

Este é um elemento que tem uma origem biblíca, graças à Estrela de Belém. Diz o Evangelho de Mateus que foi esta estrela que anunciou o nascimento de Jesus Cristo e guiou os reis Magos até ao Messias. Este é então um dos símbolos incontornável, que está representado em destaque no Natal, quer seja no topo de um pinheiro ou noutro elemento da decoração.  A estrela simboliza a luz que orienta e guia, mas também que ilumina, traz esperança e acolhe. Por ser um símbolo tão universal, é aquele que mais facilmente chega a todas as culturas e mais consenso gera.

Coroa

Não é só o interior de uma casa que é decorado: a entrada também costuma ter um símbolo importante de Natal. A coroa que tradicionalmente se coloca à porta também tem uma origem pagã, que foi adaptada ao Cristianismo, ainda que hoje seja vista como um elemento decorativo.

Durante o Império Romano, ramos verdes eram entrelaçados em forma de coroa e colocados em portas como forma de chamar a saúde a todos os que habitavam naquela casa. Já os povos pagãos do norte da Europa faziam o mesmo para receberem os deuses nos seus lares. Durante a Idade Média o costume foi recuperado, com as pessoas a usarem as coroas como forma de proteção e afastar o demónio. Só no século XIX há registo da coroa como símbolo do Natal, sendo usada logo no início do advento como forma de se fazer a preparação para a festa do nascimento de Jesus.

Presente

Apesar de o Natal ter como base o nascimento de Jesus Cristo e de celebrar a família, ficou instituída a troca de presentes entre quem mais amamos. A troca de presentes pode parecer ter origem nas ofertas dos reis Magos ao menino Jesus, mas a verdade é que vem ainda antes do Natal começar a ser celebrado. Afinal, os pagãos já trocavam presentes no solstício de inverno, na festa conhecida como Saturnália, que foi mais tarde adaptada pela Igreja Católica ao Natal.

Na Saturnália, as pessoas trocavam presentes simbólicos umas com as outras, como forma de atrair a fortuna no ano seguinte. A tradição de trocar presentes regressou na época Medieval. Nessa altura, os adultos mais abastados trocavam presentes no Ano Novo, sendo o Natal usado apenas para ofertar as crianças.  A popularidade crescente da lenda de São Nicolau fez com que a partir do século XVII a troca de presentes passasse a acontecer em exclusivo no Natal.