Numa época em que o acesso à informação está amplamente facilitado, a partilha de conhecimento e de avanços tecnológicos deve ser privilegiada e não limitada. No que respeita ao cancro, publicações recentes têm evidenciado uma vontade global, por parte de cientistas e clínicos, de tornar o conhecimento e as boas práticas mais acessíveis e abrangentes, com o objetivo de melhorar os cuidados prestados às pessoas e populações afetadas.
Publicações recentes têm evidenciado uma vontade global, por parte de cientistas e clínicos, de tornar o conhecimento e as boas práticas mais acessíveis e abrangentes, com o objetivo de melhorar os cuidados prestados às pessoas e populações afetadas
De forma geral, quatro grandes eixos de intervenção têm sido amplamente discutidos e implementados. No domínio da investigação laboratorial, existe hoje um entendimento claro da necessidade de melhorar os modelos celulares e animais utilizados, promovendo paralelamente a utilização de amostras humanas, mesmo nas fases iniciais da investigação, bem como o uso de organoides que mimetizam os diferentes tipos de cancro. Estes organoides resultam da recolha de amostras tumorais (obtidas por cirurgia ou imagiologia) e da criação, em laboratório, de condições que permitem a formação de uma réplica tridimensional do tumor original. Nestas culturas, após a formação do organoide, é possível testar a resposta a diferentes fármacos e analisar características moleculares e metabólicas específicas daquele cancro em particular. Trata-se de uma abordagem complementar aos modelos animais, que aprofunda o conhecimento sobre os mecanismos de formação, progressão e resposta terapêutica de cada tipo de cancro. Neste eixo, torna-se essencial reforçar a partilha de conhecimento gerado — mesmo sendo a comunidade científica, por natureza, colaborativa —, para colmatar lacunas e impulsionar avanços mais significativos.
Um segundo eixo diz respeito à dificuldade persistente na obtenção de financiamento adequado para apoiar mais e melhores projetos científicos. A regularidade dos concursos de financiamento, fundamental para garantir o funcionamento da comunidade científica e a produção de conhecimento com verdadeiro impacto social, continua a ser uma meta por concretizar, tanto a nível nacional — como se verifica pela limitação dos apoios à ciência em Portugal — como a nível global.
O terceiro eixo, igualmente crucial, refere-se à formação de profissionais qualificados, à definição e implementação de carreiras atrativas e à comunicação com a sociedade. Neste âmbito, que inclui cientistas e clínicos, persistem grandes assimetrias a nível mundial, que importa ultrapassar. É urgente atrair mais jovens para a investigação, tratamento e compreensão do cancro, nas suas múltiplas vertentes, e, para isso, é fundamental melhorar a sua formação e as perspetivas de carreira futura.
Por fim, o quarto eixo foca-se na melhoria da tradução dos avanços científicos em reais progressos clínicos, com impacto na prevenção, deteção e tratamento dos diferentes tipos de cancro. Os hospitais com valências académicas, que promovem a interação próxima entre investigadores e clínicos, aliados a institutos e departamentos de investigação avançada e competitiva, desempenham aqui um papel central. Para que esta transformação aconteça, é indispensável a articulação dos quatro eixos: ciência mais competitiva, sustentada e duradoura; melhor formação de cientistas e clínicos; e uma tradução eficaz da ciência em práticas médicas inovadoras, que contribuam para melhorar a vida das pessoas.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.











