O terramoto político que se fez sentir no dia 18 de maio, ainda tem as suas réplicas. Numa altura em que estão quase todos contados os votos da emigração, o presidente do PS, Carlos César, foi ao Facebook reconhecer que o Chega deverá passar a ser a segunda força política em Portugal.

“Tal como já se esperava após terem sido conhecidos os resultados no território nacional, o PS deverá passar a ser o terceiro maior partido em número de deputados depois de apurados os votos nas comunidades, na Europa e fora da Europa”, escreveu César, numa mensagem na qual procura chamar a atenção dos militantes socialistas para a importância de se unirem para as próximas eleições, as autárquicas, que acontecerão logo no início do outono.

Para Carlos César, “a partir do próximo dia 28 de junho, com uma nova liderança eleita, só pode haver um caminho no PS: unidos, a remar para o mesmo lado e valorizando os melhores para estarem connosco nas eleições autárquicas”.

PS unido?

César interpela os militantes do PS a “demonstrar, na conclusão das nossas candidaturas [autárquicas], que percebemos que o partido deve ser um instrumento de participação e de inovação e não um espaço de confinamento e de acomodação”.

“Portugal precisa do melhor que sejamos capazes. Teremos tempo, depois, para refletir e para corrigir percursos e voltar a merecer uma confiança reforçada dos portugueses”, defende o socialista.

As diretas para escolher o novo líder do PS estão marcadas para os dias 27 e 28 de junho. Até agora, só José Luís Carneiro se apresentou como candidato. Mas Miguel Prata Roque convocou o movimento que criou para a sua candidatura à FAUL para uma reunião, esta quinta-feira.

Não está completamente afastado que Prata Roque seja candidato, mas o mais provável é que apresente uma moção de estratégia ao Congresso.

Os estatutos do partido obrigam a que quem apresenta uma moção de estratégia seja candidato a líder. E, no PS não falta quem lembre que, quando houver um Congresso, os estatutos obrigam a que se vote também o líder.

Não há, contudo, um calendário definido para o Congresso. Estava previsto um Congresso ordinário em janeiro, mas é possível que, após a eleição de um novo líder em diretas em junho, o calendário seja antecipado para depois das autárquicas. Caso isso não aconteça, o Congresso do PS pode só vir a realizar-se depois das presidenciais, em fevereiro ou março de 2026.

A jornalista Clara Teixeira, da VISÃO, venceu a 6.ª edição do Prémio de Jornalismo Financeiro da CFA Society Portugal, com o artigo “Não é só o PIB que conta” , publicado na edição de 11 de julho de 2024, no qual se sustenta, a partir de dados estatísticos, que é no bem-estar, e não no rendimento per capita, que Portugal se compara melhor com os outros países europeus. O artigo pode ser lido aqui

O galardão, atribuído na Charter Award Ceremony 2025, que decorreu no dia 27, em Lisboa, destina-se a distinguir o melhor artigo económico/financeiro da imprensa portuguesa e é, atualmente, o único prémio instituído em Portugal para a área do jornalismo económico.

O júri do prémio, presidido pela jornalista Helena Garrido, decidiu ainda atribuir uma menção honrosa ao artigo “Negociação em cima do capô. A vida turbulenta da bolsa após 1974”, assinado por Leonor Mateus Ferreira e publicado no Jornal de Negócios a 24 de abril de 2024.

“Continuamos a acreditar que este prémio é já incontornável no seu âmbito e alcance. Quando o lançámos em 2019, queríamos reconhecer os trabalhos jornalísticos que, pelo conteúdo, relevância, clareza e evidências factuais, ajudam a sublinhar a importância dos profissionais de investimento e a reforçar a literacia financeira e a ética nos investimentos. É com prazer que concluímos que estes objetivos têm sido cumpridos em todas as edições” reiterou Marcos Soares Ribeiro, CFA, Presidente da CFA Society Portugal.

Lançada pela primeira vez em 2019, pela associação que atribui e representa os detentores da certificação Chartered Financial Analyst (CFA) em Portugal, esta distinção tinha já sido atribuída, na sua primeira edição, aos jornalistas Clara Teixeira e Nuno Aguiar, autores de um dossiê de balanço sobre os dez anos da crise financeira, publicado em 2018 na revista Exame (do mesmo grupo proprietário da VISÃO).

Os robôs estão a evoluir a um ritmo impressionante e, muito em breve, poderão tornar-se assistentes pessoais no nosso dia a dia. Já imaginou ter um robô que lhe prepara o almoço, estende a roupa ou até arruma os sapatos? Esse cenário está cada vez mais próximo da realidade. Empresas como a Tesla, Figure ou BMW estão a investir fortemente em robótica inteligente, desenvolvendo máquinas cada vez mais ágeis, autónomas e com comportamentos surpreendentemente humanizados. Este é o tema em destaque na mais recente edição da revista, a Exame Informática nº 356, mas não é o único a merecer a sua atenção, como pode ver em baixo.

Pode comprar a Exame Informática nº 356 nas bancas e em formato digital.

Capa

-Ascensão das máquinas: Dos humanoides que nos vão substituir em tarefas repetitivas (em casa e no trabalho), aos carros autónomos e drones de entregas, o futuro pertence aos robôs

Testes

-Teste de grupo a aspiradores robôs: iRobot Roomba Combo 505 Plus, RobotRock Saros 10R, Xiaomi Robot Vacuum X20 Max

Google Pixel 9a: Poupar sem perder qualidade

-Festa com a Sony ULT Field 5

Xiaomi Pad 7 Pro

Sony InZone M9 II: Monitor de gaming de topo

-Ouvir o adversário com os Corsair Void Wireless V2

Philips Evnia 42M2C6500

-3 em 1: O super Huawei XT Ultimate

Sony WH-1000XM6: Os melhores auscultadores do mercado?

-Imax em casa com o Hisense Mini Projector Laser C2

-SPC Discovery 3 Pro

Huawei Watch 5: Tudo sob controlo

-Thomson Cast 150: Streaming com qualidade

-Resistir a apagões com o Silence Nomad Inverter 3 kW

Entrevista

Entrevista a RicFazeres, YouTuber português

I&D

-A ascensão das máquinas

-IA no turismo

Os drones portugueses da Beyond Vision

Volt

Hyundai Inster: Explorador Urbano

Tesla Model Y Long Range: Ainda melhor

Niu KQI 100P: Trotinete equilibrada

Segway Ninebot F3 Pro: Uma máquina

Sign Out

MotoGP 25: Acelerar em duas rodas

-Fatal Fury: City of the Wolves

A Agência da União Europeia para a Segurança da Aviação (EASA) atualizou recentemente as suas diretrizes sobre o transporte de bagagem a bordo dos aviões, reforçando as restrições em torno de certos objetos considerados perigosos. Entre eles estão os carregadores portáteis, mais conhecidos como powerbanks, cuja presença na bagagem despachada passa agora a ser estritamente proibida.

Segundo a EASA, os powerbanks representam um risco significativo de segurança, uma vez que podem sobreaquecer, provocar curto-circuitos ou até incendiar-se, especialmente quando não estão acessíveis à tripulação durante o voo. Por esse motivo, estes dispositivos só podem ser transportados na bagagem de mão.

A nova regulamentação impõe ainda outras condições: as baterias portáteis não podem exceder os 100 watts-hora de capacidade e devem ser protegidas individualmente, com uma capa ou isolamento dos terminais. Além disso, é proibido carregar estes dispositivos ou utilizá-los para alimentar outros aparelhos durante o voo.

Cada passageiro só pode levar no máximo duas baterias extra ou powerbanks. A EASA também alerta para os riscos associados a produtos falsificados ou de má qualidade, recomendando que apenas se utilizem baterias adquiridas junto de revendedores fiáveis.

Câmaras, computadores, smartphones e outros aparelhos com baterias integradas também devem ser transportados na cabina. Caso seja detetada uma bateria de lítio na bagagem de porão, esta poderá ser confiscada ou o passageiro impedido de embarcar até corrigir a infração.

Com o aumento do tráfego aéreo no verão e o reforço dos controlos de segurança nos aeroportos, a EASA recomenda que os viajantes verifiquem cuidadosamente o conteúdo das suas malas antes de partir.

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A médica Rasha Alawied tem 34 anos e é libanesa. Formou-se na Universidade Americana de Beirute em 2015 e, três anos depois, emigrou para os Estados Unidos da América. Nos EUA, há poucos médicos a trabalhar na área em que Rasha se especializou, a nefrologia de transplantes. Nos últimos anos, obteve bolsas da Universidade do Ohio e da Universidade de Washington. Também trabalhou em Yale e estava, agora, na Universidade de Brown.  

Em março, Rasha – portadora de um visto válido – visitou a família ao Líbano, que não está sequer na lista de países cujos cidadãos vão ser proibidos de entrar nos EUA. Quando regressou, foi detida e recambiada num voo para Paris. Os seus doentes, incluindo os que aguardavam transplantes, ficaram pendurados. A sua expulsão gerou indignação por parte da comunidade académica, houve advogados a contestar e juízes a afirmar que os serviços fronteiriços desobedeceram às ordens do tribunal. A Segurança Interna, por seu lado, acusou Rasha de ter ido ao funeral de um antigo líder do Hezbollah. Na conta oficial da Casa Branca, foi publicada, ao lado de uma fotografia de Rasha, uma imagem de Trump a acenar, com os seguintes dizeres: “Bye bye Rasha. Deported.”   

Infelizmente, a história de Rasha Alawied é apenas uma das muitas tristes histórias que poderíamos contar. A perseguição da Casa Branca às universidades norte-americanas dura desde março. Basicamente, o ataque tem sido operado de duas maneiras: i) expulsão de professores, investigadores e alunos; ii) corte de financiamentos. Ontem, a administração norte-americana voltou a revogar os contratos entre o Estado e a Universidade de Harvard que ainda estavam em vigor. Estima-se que o corte chegue, desta vez, aos 100 milhões de dólares.   

Trump já tinha ameaçado fazer outro corte, no valor de três mil milhões de dólares, a somar aos quase 3,2 mil milhões de dólares que já estavam congelados. Também ameaçou pôr fim à isenção de impostos da universidade mais rica do mundo (com um fundo de reserva da ordem dos 53 mil milhões de dólares). Harvard, que entre muitos outros disparates tem sido acusada de não respeitar “os valores americanos”, exigiu em tribunal o descongelamento das verbas já aprovadas e contratualizadas. Na semana passada, teve uma pequena vitória: a juíza Allison D. Burrough suspendeu provisoriamente uma ordem da Casa Branca que proibia a universidade de admitir mais estudantes estrangeiros.

No meio da loucura, há universidades europeias, como Cambridge, no Reino Unido, a aproveitar a oportunidade e a acolher investigadores de topo provenientes do outro lado do Atlântico. Também o Instituto Karolinska, na Suécia, está a oferecer sabáticas na área da investigação biomédica. A China fez saber que se encontra de braços abertos para receber os cientistas sino-americanos e – imagine-se! – já proclamou ser um país “aberto, inclusivo e cheio de oportunidades”.

A fúria de Trump contra o ensino superior é mais complexa do que parece. Em março, quando começou o ataque às universidades, Fareed Zakaria dedicou a sua coluna no Washington Post ao assunto e pôs o dedo na ferida. Reconheceu que, nos últimos anos, as faculdades norte-americanas alimentaram o sentimento antielites e que, no fundo, wokismo favoreceu esta perseguição. “Há muito que defendo que as universidades têm um grande problema: têm muito pouca diversidade intelectual e ideológica – que é o tipo de diversidade mais importante num campus. Mas a forma de resolver isto não é restringir o discurso de esquerda radical, mas acrescentar vozes e pontos de vista de outras partes do espectro. A resposta à censura da esquerda não é a censura da direita”, escreveu o autor de Era de Revoluções.   

Há muitas Rashas à face da terra. Algumas delas contribuem há anos para a massa crítica dos EUA e do mundo, fazem descobertas científicas que salvam vidas, vencem prémios Nobel. Mas desde março que muitos professores e investigadores, alguns portadores de green cards, foram prudentemente aconselhados a não sair do país que os acolheu, onde vivem há anos. Têm medo porque, no regresso, podem ser barrados de forma discricionária. O discurso securitário da administração norte-americana é agressivo e implacável, mas a verdade é que os EUA – a terra da esperança e dos seus sonhos, como diz o nome da tour de Bruce Springsteen – estão à beira de transformar-se num território autocrático, sem lei nem roque.   

É fácil de reconhecer que uma parte do poder dos EUA na geopolítica mundial das últimas décadas se deve ao investimento na ciência e na promoção do pensamento livre. Há pelo menos 60 anos que vemos o outro lado do Atlântico como uma extraordinária terra de oportunidades, com uma espantosa capacidade de promover o talento e a inovaçãode fazer dinheirode atrair os melhores dos melhores. Pior para eles, melhor para nós, dirão os cínicos. A dura realidade que temos que aceitar é: perdemos todos. E não, pardon my french, isto não é bullshit.  

A ACEA (European Automobile Manufacturers Association) divulgou ontem os dados de carros vendidos no velho continente durante o mês de abril. Os números mostram que a Tesla continua em declínio pelo quarto mês consecutivo, tendo vendido 7261 carros nos 32 países, uma descida de 49% face aos 14228 vendidos em abril do ano passado. Após os clientes da Suécia, Dinamarca e Países Baixos terem sido os primeiros a afastar-se da Tesla no momento de escolher um carro novo, estes números de abril mostram que há mais países agora a optar por outras marcas também. Recorde-se que nos EUA a Tesla registou o seu pior trimestre, com um declínio de 13%, o maior da história da empresa.

O comportamento online errático de Musk e o apoio às extremas-direitas na Alemanha e no Reino Unido são alguns dos motivos para o desagrado dos clientes europeus. Por outro lado, o surgimento em força de rivais como os fabricantes chineses, com preços e desempenhos competitivos, ajuda a piorar a situação da Tesla. Por fim, a oferta envelhecida de automóveis de Musk também não convence os novos compradores, lembra o Interesting Engineering.

No global, o mercado de elétricos cresceu 28% na Europa e o mercado total de vendas de automóveis registou um aumento de 1,3% no mês de abril.

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Robert Fisk desabafava várias vezes, em entrevista, sobre a resistência das televisões e da imprensa internacional em mostrar as mais horríveis imagens que os jornalistas de guerra testemunhavam no terreno. Uma espécie de saneamento da desgraça, que poupa o leitor ou telespectador do choque, mas sacrifica a verdade sobre a tragédia que está a ser noticiada. Os editores das maiores agências de notícias internacionais lamentavam-se sobre a “pornografia do horror” para justificar o bloqueio dessas imagens e exigiam aos jornalistas que as tentavam publicar mais “respeito pelos mortos”. Fisk indignava-se contra a hipocrisia destas pessoas, que exigiam maior respeito pelas vítimas agora em pedaços do que quando ainda estavam vivas. Um dos maiores repórteres de guerra do pós-Segunda Guerra Mundial, que foi testemunha direta dos cenários mais sombrios do Médio Oriente, defendia, com os dentes trancados de indignação, que estas provas visuais violentas não se tratam de um fetiche pelo choque, mas de um dever de máxima exigência ética. Certas consciências adormecidas só acordam com um banho gelado de realidade.

Em Gaza, os 600 dias de massacre prolongado da população civil palestiniana não se fizeram apenas com bombas, doença e fome, mas também com ausência. Ausência de imagens. A tentação confortável de filtrar este horror diário, de poupar o espectador à visão de pesadelo de corpos mutilados espalhados pelas ruas, de hospitais em colapso onde as amputações se fazem sem anestesia, do choro das mães que já não têm leite para os filhos, do desespero e raiva de um pai que carrega ao colo um pequeno pedaço de carne, resto humano do que sobrou de uma filha que já não pode ser tudo.

Há quase dois anos que Israel bloqueia, quase sem exceção, a entrada da imprensa internacional independente no terreno. O mundo empurra assim a responsabilidade de contar o que se passa em Gaza para os próprios palestinianos e os seus telemóveis. Por lá, jornalistas, médicos, youtubers, cidadãos anónimos insistem em mostrar tudo, em partilhar tudo. Não querem que o mundo respeite os seus mortos desviando o olhar, mas que encare, sem filtro, a dimensão inimaginável do seu sacrifício. Um grande amigo, estudioso apaixonado por toda a história da Segunda Guerra Mundial, lembrava-me da advertência de Eisenhower ao visitar os campos de concentração nazis: “Registem tudo — filmem, recolham testemunhos — porque, algures no caminho da História, algum canalha vai levantar-se para dizer que isto nunca aconteceu.”

De acordo com dados do Committee to Protect Journalists (CPJ), desde o início do conflito até 21 de maio deste ano, morreram pelo menos 180 jornalistas e trabalhadores ligados à comunicação social em Gaza, dos quais 172 eram palestinianos. Em redes sociais de cerco menos apertado, como o X e o TikTok, os seus vídeos aparecem-nos na timeline como socos que vão direitos ao estômago. São imagens que desafiam qualquer pudor ou racionalidade, que não procuram neutralidade, que manifestam o desespero absoluto por empatia deste lado do ecrã. Agarram-nos o queixo à força com as mãos e fitam-nos nos olhos com uma verdade tão inimaginável e cruel que ninguém se atreve a esquecer.

Desde outubro de 2023 que vejo diariamente esses vídeos. Estes velhos e novos repórteres palestinianos gravam com a urgência de quem sabe que a sua única arma eficaz contra um dos mais poderosos exércitos do mundo é o testemunho sem cortes da sua realidade. E gravam a mão de criança que já não mexe por entre os escombros, registam os pedaços de corpos pendurados, que enfeitam com horror a fachada do prédio despejado à força pela fúria acéfala de mais uma bomba. Devo-lhes, pelo menos, a partilha, e faço-o até que o aviso da máquina a bloqueie. Prefiro tentar dormir com o terror dessas imagens na cabeça do que carregar, para o resto da vida, o peso na consciência de não as ter mostrado. Este horror visual pode ser insuportável, mas pelo menos não é cúmplice na indiferença. A um povo a quem já foi tirado quase tudo, que não se lhes roube a mensagem que nos querem passar. O suplício aflito para que os vejam.

Se quase sempre são criticadas pelo seu lado pernicioso para os nossos filhos, a verdade é que, neste contexto, as redes sociais tiveram um papel decisivo. Foi através delas que jovens de todo o mundo puderam testemunhar, muitas vezes em direto, o que muitos canais tradicionais e entidades de responsabilidade acrescida hesitavam em querer ver, quanto mais mostrar. Foi por ali que rebentou a comporta que insistia, teimosa, em travar a indignação das pessoas. O primeiro grito ouviu-se nas ruas, depois nas universidades e agora, por fim, em alguns corredores do poder. O silêncio tornou-se indesculpável e, aqueles que negaram as evidências durante demasiado tempo, forçam agora sorrisos enrascados para ficar bem na fotografia deste momento de maior vergonha da nossa história recente.

Por muito que os mais velhos, os que ainda mandam, não quisessem ver, juristas internacionais, a Amnistia Internacional, a Human Rights Watch, multiplos relatores das Nações Unidas, grandes académicos do Holocausto, entre outros, já não se coíbem de afirmar que o que se passa em Gaza é a destruição sistemática de um povo, é limpeza étnica, é genocídio. Um dos mais prestigiados jornais neerlandeses, o NRC, publicou, a 14 de maio, uma reportagem onde analisava vários artigos académicos recentes do Journal of Genocide Research — a principal revista científica da área — concluindo que todos os oito académicos internacionais especializados em genocídio, que participaram nesses artigos, incluindo o editor-chefe da publicação, reconhecem em Gaza um genocídio, ou pelo menos, violência genocida. Também nessa reportagem, a presidente da International Association of Genocide Scholars, Melanie O’Brien, afirmou que o bloqueio deliberado de comida, água, abrigo e saneamento por parte de Israel constitui genocídio. O Tribunal Internacional de Justiça, há mais de um ano, alertou para a possibilidade plausível do que hoje já não se diz apenas entredentes, obrigando Israel a tomar medidas para o evitar e permitir o acesso de ajuda humanitária. Mais recentemente, o Tribunal Penal Internacional emitiu pedidos de mandados de captura para líderes de ambos os lados do conflito, por suspeita de crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Em ambos os casos, Israel ignorou as decisões, por não reconhecer autoridade a nenhum destes tribunais. E hoje, na Europa, ainda que com cautela, começamos finalmente a ouvir líderes europeus prometer consequências para o atual governo israelita.

Neste ponto, importa ser ainda mais rigoroso. A condenação pelos crimes de guerra sistemáticos cometidos não é um ataque ao povo de Israel, nem pode ser uma generalização xenófoba e abusiva. O que se aponta, e deve ser apontado, são as ações concretas de um governo e de uma máquina militar, sobejamente documentadas até pelos próprios soldados no terreno, que, como disse anteriormente, já são objeto de processos judiciais em tribunais internacionais. Da mesma forma que todos os palestinianos não são terroristas do Hamas, o sofrimento em Gaza não pode continuar a ser abafado pela confusão deliberada entre a crítica justa e urgente a um Estado e o preconceito contra um povo. A dignidade de todas as vítimas, de ambos os lados, exige essa clareza.

Os números já não nos cabem na compreensão. Depois de 7 de outubro de 2023, em que cerca de 1200 pessoas foram mortas pelo Hamas, o horror ganhou uma nova dimensão impensável do outro lado do muro, com mais de 53 mil palestinianos assassinados, dos quais 17 mil são crianças, dezenas de milhares de feridos, milhares de novos amputados, cerca de meio milhão de pessoas à beira da fome extrema, a quase totalidade de hospitais e escolas destruídos (94% dos hospitais foram danificados ou destruídos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde), a ajuda humanitária bloqueada, saqueada, outras vezes bombardeada. Quase 300 funcionários da ONU mortos e dezenas de outros detidos ou impedidos de entrar na Faixa de Gaza, de acordo com os mais recentes UNRWA Situation Reports, em consequência da aprovação, pela Knesset, de leis que bloqueiam o acesso de novos elementos da equipa internacional desta agência das Nações Unidas. Sem estas imagens, a devastação seria apenas uma abstração estatística. Com elas, a realidade ganha osso, ganha carne, ganha rosto.

Fisk, que faleceu em 2020, dizia com aquele peso nas palavras de quem já testemunhou mais do que se deveria poder aguentar, que, se as pessoas vissem o que ele viu, nunca mais apoiariam uma guerra na vida. Nunca sentiremos verdadeiramente a dor dos outros, mas temos a obrigação humanista de partilhar, pelo menos, o seu pedido de ajuda. A imprensa tem o dever de mostrar tudo, por mais violento e difícil que seja. Não servirá para alimentar o horror, mas para que este nunca mais se torne invisível.

Nota: Um enorme agradecimento pela paciência e leitura à Joana Ricarte, professora e investigadora na Universidade de Coimbra, especialista em Relações Internacionais, com foco em estudos da paz, identidades e conflitos, extremismo quotidiano e (in)segurança ontológica, e autora do livro The Impact of Protracted Peace Processes on Identities in Conflict: the case of Israel and Palestine (2023).

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

A Meta já lançou a versão oficial do WhatsApp para iPad na App Store. Os utilizadores vão encontrar as mesmas funcionalidades que já estão disponíveis no iPhone, como a possibilidade de fazer chamadas de áudio e vídeo com até 32 pessoas, utilizar as câmaras frontal e traseira e partilha de ecrã com os interlocutores.

A versão para iPad tira partido de funcionalidades do sistema operativo destes tablets, como o Stage Manager, a Split View e o Slide Over, que permite executar o WhatsApp em paralelo com outras aplicações. Desta forma, o utilizador pode estar a ver vídeos do YouTube ou a trabalhar, ao mesmo tempo que mantém as mensagens do WhatsApp debaixo de olho.

Já em 2022, o responsável da WhatsApp Will Cathcart tinha confirmado que “adoraria” desenvolver uma experiência nativa do WhatsApp para iPadOS, sublinhando ainda que “as pessoas querem uma app iPad há muito tempo”.

O anúncio do lançamento foi feito no X na segunda-feira e ontem já surgiu a aplicação na App Store.

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A descolagem da Starship foi bem sucedida, tendo em conta que os dois últimos testes terminaram numa explosão poucos minutos depois, mas por volta das 20h32 (1h32 de quarta-feira em Lisboa), a empresa perdeu o contacto com a nave espacial, que já estava a girar e parecia ter perdido as capacidades de orientação.

O teste de voo de ontem foi o nono e o lançamento foi transmitido em direto com uma contagem decrescente que parou durante vários minutos até que, às 19h37 locais (00h37 de quarta-feira em Lisboa), a nave descolou da Starbase, a recém-nomeada cidade-base perto de Brownsville, na fronteira com o México.

O foguetão, com uma altura de 121 metros, era composto por duas partes: o propulsor Super Heavy, equipado com 33 motores Raptor e reutilizado pela primeira vez após um teste anterior, e uma nave espacial de segunda fase, esta última denominada Starship.

O responsável pelas comunicações da SpaceX, Dan Huot, um dos apresentadores do evento, atribuiu a “perda de controlo da altitude”, necessária para a orientação na reentrada na atmosfera terrestre, a “fugas” de combustível.

Além disso, o foguetão não conseguiu abrir uma porta através da qual vários satélites Starlink simulados deviam ser colocados em órbita pela primeira vez – um dos objetivos da missão, além de monitorizar os escudos que protegem a nave das altas temperaturas.

“A Starship chegou à separação programada do motor da nave espacial, o que representa uma grande melhoria em relação ao último voo”, resumiu Musk na rede social X, reconhecendo que a fuga de combustível provocou uma perda de pressão no depósito que levou à falha.

“Como se o voo não fosse suficientemente emocionante, a Starship sofreu uma desmontagem rápida não planeada”, disse a empresa na rede social X, acrescentando que o sucesso é uma experiência de aprendizagem e que o teste vai ajudar a “melhorar a fiabilidade” do foguetão.

Mesmo assim, o magnata, que pretende concentrar-se mais nos seus negócios após a polémica participação no Governo de Donald Trump, mostrou-se otimista e disse que os próximos três voos serão menos espaçados, com “um a cada três ou quatro semanas”.

É com a Starship que a SpaceX do magnata Elon Musk está a contar para “colonizar” Marte, um planeta no qual apenas 18 missões espaciais aterraram, todas elas não tripuladas.

Numa entrevista ao Ars Technica antes do lançamento, Musk mostrou-se confiante de que tinha resolvido os problemas dos dois últimos voos de teste e disse que “o mais importante são os dados para melhorar o design das placas” das próximas naves espaciais.

Mais tarde, a Administração Federal de Aviação (FAA) afirmou ter conhecimento de uma “anomalia” na missão e disse que estava a cooperar com a SpaceX, excluindo a possibilidade de danos pessoais ou materiais resultantes da falha e desintegração do foguetão.

Na semana passada, a FAA deu luz verde à SpaceX para aumentar o seu número de voos de teste para 25 por ano, apesar das críticas de grupos ambientalistas.

Na terça-feira, uma multidão de palestinianos romperam uma vedação e invadiram um novo centro de distribuição de ajuda humanitária criado por uma fundação apoiada por Israel e pelos Estados Unidos. Um jornalista da Associated Press (AP) ouviu disparos de tanques e armas israelitas e viu um helicóptero militar a disparar sinalizadores.

O chefe do Escritório de Direitos Humanos da ONU para os Territórios Palestinianos, Ajith Sunghay, afirmou que a maior parte dos feridos foi atingida pelo fogo do Exército israelita.

O centro de distribuição nos arredores da cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza, foi inaugurado na segunda-feira pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), registada nos Estados Unidos, que foi designada por Israel para assumir as operações de ajuda humanitária.

A ONU e outras organizações humanitárias rejeitaram o novo sistema, alegando que não será capaz de satisfazer as necessidades dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza e permite que Israel utilize os alimentos como arma para controlar a população. Alertaram ainda para o risco de atrito entre as tropas israelitas e as pessoas que procuram mantimentos.

Os palestinianos estão desesperados por comida depois de quase três meses do encerramento das fronteiras pelos israelitas.

Israel afirma ter ajudado a estabelecer o novo mecanismo de ajuda para impedir o Hamas de desviar os mantimentos, mas não apresentou provas de desvio sistemático e as agências da ONU afirmam ter mecanismos para impedir o desvio de comida e outros suprimentos.

A GHF afirmaou ter estabelecido quatro centros, dois dos quais já começaram a funcionar. Estão protegidos por empresas de segurança privada e possuem vedações de arame que conduzem os palestinianos para o que se assemelha a bases militares rodeadas por grandes barreiras de areia.

Frisou que os seus seguranças não dispararam contra a multidão, recuando antes de retomar as operações.

As forças israelitas estão estacionadas nas proximidades, naquilo que Israel chama o corredor Morag, uma zona militar que separa a cidade de Rafah, no sul – que está agora praticamente desabitada – do resto do território.

A ONU e outros grupos humanitários recusaram-se a participar no sistema da GHF, alegando que viola os princípios humanitários. Afirmam que pode ser utilizado por Israel para deslocar a população à força, exigindo que se mudem para perto dos poucos centros de distribuição ou enfrentem a fome, uma violação do direito internacional.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse na terça-feira que “houve uma perda momentânea de controlo” no ponto de distribuição, acrescentando que “felizmente, conseguimos controlá-lo”.