Em maio de 2017, a agenda autárquica já fervia nos bastidores. Miguel Pinto Luz, então líder da distrital do PSD, é apanhado numa escuta telefónica da Operação Tutti Frutti a falar com Sérgio Azevedo sobre a importância de controlar os gabinetes na Câmara e na Assembleia Municipal de Lisboa. “E, portanto, a minha agenda enquanto presidente da distrital, é garantir que o meu grupo, que és tu, que é o Newton e não sei o quê, saem com aquilo que me pediram e vão sair com aquilo que me pediram.” Pinto Luz tinha uma certeza sobre a campanha autárquica: “Tem de ser dirigida pelas nossas gentes que, neste caso, és tu, o Luís Newton, o Quadrado, o Ribeiro.” Estas eram as personagens-chave: Luís Newton, então o homem forte do núcleo Ocidental do PSD Lisboa, Paulo Quadrado, um dos homens do então poderoso cacique do núcleo Central de Lisboa, Rodrigo Gonçalves e Paulo Ribeiro, que viria a ser eleito líder da concelhia do PSD em Lisboa em 2018 e que havia de se demitir em 2019, depois de uma divergência com Newton sobre as listas de deputados. Mas como é que se constrói este poder no PSD? A resposta passa por uma máquina de criar tropas partidárias, na qual a JSD e os empregos públicos têm um papel importante.

Parceria Camila Botão, Diogo Guerra e Ana Roberto com Luís Newton numa ação do 25 de Abril

Luís Newton e Sérgio Azevedo cruzaram-se pela primeira vez na JSD. Azevedo chegou a líder da distrital da JSD, Newton chegaria a líder da concelhia do PSD Lisboa em julho de 2020, quando já era presidente da Junta de Freguesia da Estrela. Enquanto Luís Newton foi crescendo no aparelho partidário, Sérgio Azevedo já não tinha cargos no partido, mas era deputado e, como revelam as escutas que constam da acusação da Operação Tutti Frutti, tinha muita influência na feitura das listas locais. Quando, numa dessas conversas, Azevedo diz a Pinto Luz que “o que interessa é controlarmos os gabinetes”, está a referir-se a uma das formas de garantir poder na estrutura do partido: a distribuição de empregos que asseguram votos nas disputas internas. Neste jogo, a JSD torna-se um viveiro de exércitos de apoiantes.

O peso da JSD em eleições internas

“É habitual, em campanhas internas, ir aos liceus e inscrever militantes”, conta à VISÃO um social-democrata que, a coberto do anonimato, revela como alguns desses novos inscritos são depois trazidos para empregos públicos, ajudando a arregimentar as suas redes de influência para as eleições internas. O peso que têm não é determinante, mas é importante: na última eleição a que concorreram duas listas em Lisboa, havia três mil militantes com as quotas em dia, desses foram votar 1 200, dos quais entre 200 e 300 eram da Jota. “A JSD tem cerca de um quarto dos votos nas votações internas, mas também é importante porque tem inerências no partido, incluindo no Congresso, onde vale 70 delegados”, acrescenta outra fonte social-democrata, que explica a quantidade de Jotas em gabinetes do Governo e das câmaras do PSD também pela necessidade de “formar quadros políticos” que depois possam ocupar outros cargos. “Os mais referenciados têm de ter mais tempo e ter uma atividade profissional mais próxima do partido para se dedicarem à política”, justifica-se este dirigente partidário, que deu emprego a vários jovens militantes.

No caso de Lisboa, a Junta de Freguesia da Estrela tornou-se, com Luís Newton, um polo importante para distribuir empregos, numa altura em que o PS controlava a Câmara Municipal de Lisboa e a maior parte das freguesias. Isso ajudou a catapultar Newton, que foi eleito para a Estrela pela primeira vez em 2013, depois de a reforma administrativa da cidade feita por António Costa agregar nessa Junta as freguesias de Lapa, Santos-o-Velho e Prazeres. Logo em 2014, entra para a Junta de Freguesia da Estrela Mafalda Cambeta, “para implementar na Estrela o projeto de Atividades de Interrupções Escolares que ela tinha desenvolvido com sucesso na Junta de Santa Isabel”, como Newton explicou ao Observador em 2017. Cambeta é hoje deputada municipal, diretora da Divisão da Comunidade na Estrela e faz parte da direção da concelhia de Lisboa do PSD, mas foi quando chegou a líder da concelhia de Lisboa da JSD que se tornou uma peça importante e passou a fazer parte do núcleo de influência de Luís Newton.

Luís Newton na AR O processo Tutti Frutti fê-lo suspendero mandato de deputado Foto: José Carlos Carvalho

A concelhia da JSD Lisboa tem neste momento a liderança interina de Camila Botão, que deverá ser candidata, e que passou pela Junta de Freguesia da Estrela. Botão, que rescindiu o contrato a 28 de fevereiro de 2023, entrou por concurso público para a Junta – obtendo 20 valores na prova de entrevista – como técnica superior em dezembro de 2022. Em janeiro de 2022, tinha assinado com a Estrela um contrato de prestação de serviços na área da comunicação, numa data em que era ainda finalista do curso de Administração Pública. Diogo Guerra é o candidato que deve concorrer contra o atual líder da distrital de Lisboa da JSD, Eric Habibo, e também ele está nos quadros desta Junta como técnico superior, sendo chefia intermédia desde janeiro de 2024. Apesar de trabalhar na Estrela, Guerra lidera neste momento a JSD de Odivelas. Susana Duarte, da JSD de Oeiras (onde é agora vereadora), também já passou pela Estrela, onde entrou por concurso para a categoria de assistente técnica na área da Gestão Territorial, sendo licenciada em História. Ana Roberto, que é presidente da Mesa da Concelhia do PSD Lisboa e presidente da Mesa da Distrital de Lisboa, fez o estágio de Psicologia Comunitária na Estrela em 2019; e em maio de 2022 foi contratada por concurso público para a Junta de Freguesia da Estrela, sendo coordenadora do Departamento da Área de Desenvolvimento Comunitário, já depois de ter sido eleita para esta freguesia em 2021. Marta Pinto, eleita líder da JSD de Odivelas em 2019, foi contratada por concurso público em 2022 como assistente técnica da Área de Apoio Social na Estrela, tendo, entretanto, sido requisitada pela Câmara Municipal de Lisboa para os seus quadros. Na Junta está também Bruna Barata, filha do dirigente concelhio do PSD Lisboa Jorge Barata, que entrou por concurso como técnica superior.

Contactada pela VISÃO, fonte oficial da Junta de Freguesia da Estrela nega que haja qualquer relação entre a filiação partidária e estes recrutamentos. “Os procedimentos de contratação pública na Junta de Freguesia da Estrela (JFE) seguem um modelo de três fases, nos termos da lei, e nos mesmíssimos termos da lei, duas dessas fases são desenvolvidas por entidade externa, onde a JFE não tem qualquer intervenção”, afirma o gabinete de Luís Newton, frisando que a Junta “apenas implementou procedimentos concursais públicos para suprir necessidades próprias, não podendo estar nenhum candidato condicionado por qualquer militância num partido político, nem tão-pouco serem por isso beneficiados”.

Empregos na CML… e não só

No site da Assembleia Municipal de Lisboa, a IL é o único partido que divulga a composição do seu gabinete. Questionada por que motivo não partilha aí essa informação, fonte oficial da bancada “laranja” diz à VISÃO que “esta pergunta deve ser dirigida aos serviços da AML, uma vez que o PSD não gere o site da Assembleia Municipal”. E confirma que Guilherme Barata, vice-presidente da concelhia de Lisboa da JSD, “apoia os deputados na preparação das sessões plenárias e nas comissões” como assessor, recebendo o valor mensal bruto de 1 300 euros a recibos verdes.

Mas não é só na Junta da Estrela e na Assembleia Municipal que se multiplicam as contratações feitas na JSD. Estão no gabinete da vereadora Filipa Roseta, na Câmara Municipal de Lisboa, os conselheiros da distrital da JSD de Lisboa Gonçalo Armindo e Manuel Felgueiras e o secretário-geral da distrital da JSD Lisboa, Miguel Cruz. No gabinete do vereador social-democrata Rui Cordeiro, estão como assessores a conselheira da distrital da JSD Lisboa, Filipa Nascimento, e o ex-líder da JSD Sintra, Francisco Duarte. E no gabinete de Carlos Moedas está o conselheiro distrital da JSD Lisboa, Gabriel Albuquerque. Todos eles são próximos de Eric Habibo, o candidato que Diogo Guerra (próximo de Newton) vai tentar destronar na distrital da JSD. Contactada pela VISÃO, a Câmara Municipal de Lisboa não deu qualquer resposta sobre estas contratações.

Diogo Guerra, Ana Roberto, Camila Botão, Susana Duarte e Mafalda Cambeta Todos estão ou estiveram na Estrela e em cargos na JSD

O mapa de contratações da JSD vai, contudo, muito além dos limites do concelho de Lisboa. Em listagens a que a VISÃO teve acesso, há, pelo menos, 12 militantes da Jota em gabinetes do Governo e cinco no grupo parlamentar do PSD, além de muitos outros em câmaras espalhadas pelo País. Cada um deles está referenciado como pertencendo a uma fação na JSD que, por sua vez, tem ligações a uma fação ou a um dirigente no PSD. É somando esses apoios que se montam os exércitos que depois determinam quem chega a general no partido e é também aí que se vão tecendo cumplicidades, que não são eternas, mas que ajudam a perceber alguns percursos dentro do aparelho.

A Operação Tutti Frutti levou Luís Montenegro a avocar a feitura das listas de Lisboa para as autárquicas deste ano, retirando a Luís Newton esse poder. Newton terminará o seu último mandato na concelhia de Lisboa em 2026 e não faz tenções de se afastar da vida política. Mas a morosidade com que, previsivelmente, irá desenrolar-se o processo em que é acusado de cinco crimes de prevaricação e cinco de corrupção ativa torna quase impossível manter o plano de tentar suceder a Ângelo Pereira na distrital de Lisboa. As movimentações que agora se desenham nas eleições deste ano na concelhia e na distrital da JSD de Lisboa devem, ainda assim, ter um impacto no xadrez político do partido. Resta saber quem, com Luís Newton e Ângelo Pereira apanhados na Operação Tutti Frutti, poderá vir a ganhar espaço para liderar o PSD em Lisboa. “Estão a preparar o day after”, comenta quem faz parte do núcleo de Newton e Pereira, explicando que as candidaturas de Eric Habibo para a Jota distrital e de Teresa Patrício Gouveia (a militante da Jota de quem se fala) para a concelhia da JSD de Lisboa fazem parte de uma lógica que pretende dar espaço ao grupo de Paulo Ribeiro (que em tempos já foi da mesma fação de Newton), muito próximo de Carlos Moedas. Para já, Alexandre Poço parece mais bem posicionado para suceder a Ângelo Pereira na distrital de Lisboa, até porque conta com o apoio de Cascais, um conselho importante neste xadrez. Na concelhia, Carlos Reis – que ajudou a construir a influência de Sérgio Azevedo e Luís Newton – também parece querer assumir algum protagonismo, afastando-se desse passado. Quem ganhará as disputas internas que se avizinham é incerto, mas não há dúvidas de que as peças já estão a mover-se. E as eleições na JSD podem dar os primeiros sinais.

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Ao contrário do que possa parecer, cozer na perfeição um ovo é desafiante e a razão é simples: a gema e a clara têm composições diferentes, pelo que para cada uma ficar com o sabor e consistência ideais deveriam ser cozinhadas a temperaturas diferentes.

Um grupo de cientistas decidiu levar esta questão muito a sério e anunciaram, num estudo publicado este mês na Communications Engineering, que conseguiram chegar ao ovo cozido perfeito, graças a uma técnica conhecida como “cozedura periódica”.

Apesar do potencial dissuasor, (para alguns apenas) da ideia de recorrer à Ciência para um cozinhado aparentemente tão básico, a técnica proposta não envolve propriamente “ciência espacial”. A cozedura periódica consiste em transferir o ovo de água quente para água morna de dois em dois minutos. O que é preciso é paciência: o processo demora um total de 32 minutos.

Os cientistas garantem que, desta forma, não só se consegue o sabor e textura ideais tanto para a gema como para a clara, como também permite a conservação de mais nutrientes com benefícios para a saúde comprovados, quando em comparação com o “método” tradicional de simplesmente deixar o ovo em água a ferver.

E não se assuma que para chegar a esta conclusão a equipa liderada pelo italiano Ernesto Di Maio usou um laboratório sofisticado… A experiência teve lugar na cozinha do próprio autor do estudo, que gere o programa de licenciatura e mestrado em engenharia de materiais da Universidade de Nápoles Federico II, em Itália.

A equipa usou modelos matemáticos e simulações para prever a forma como o calor se transfere através do ovo, o que os ajudou a identificar as condições ideais de cozedura tanto para a clara como para a gema. Com estas ferramentas, Di Maio e os seus colegas introduziram fatores como a temperatura e a densidade da água para os ajudar a decidir os intervalos de tempo ideais para alternar entre a água quente e morna.

Passando à prática, a equipa encheu uma panela com água da torneira e aqueceu-a à temperatura desejada no fogão. Os investigadores colocaram um termómetro de alimentos tanto na água quente como na morna para garantir temperaturas consistentes durante todo o processo de cozedura.

Ao todo foram cozinhados 160 ovos, com recurso a quatro técnicas diferentes, com os cientistas a observarem as diferenças nos resultados.

The different egg-boiling techniques are seen (from left): hard boiled, soft boiled, sous vide, periodic.

Da esquerda para a direita, na imagem, estão exemplos de ovos cozinhados durante 12 minutos, seis minutos, uma hora a 65 graus e, por fim, com o método periódico. As temperatura da água neste caso foram de 100 e 30 graus.

Sentamo-nos à mesa, com um prato de comida à frente, levamos o garfo à boca e o nosso cérebro começa a trabalhar. Um circuito de neurónios reconhece tudo: sente a comida a chegar à boca, como ela vai enchendo o nosso sistema digestivo, quais os nutrientes que podemos retirar dela. E como sabemos que já não precisamos de mais, que estamos saciados e chegou a hora de parar? Nesta sociedade da abundância, em que basta abrir a porta do frigorífico, eis a informação que pode mudar a face de uma das epidemias contemporâneas: a obesidade.

Investigadores da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, encontraram agora um novo elemento neste circuito, neurónios localizados no tronco cerebral, a parte mais antiga do cérebro dos vertebrados, especializados em dar a ordem para pararmos de comer.

Publicada este mês na revista científica Cell, a descoberta foi feita em cérebros de ratos. Com uma nova técnica para distinguir células na região do tronco cerebral – algo até agora de difícil realização –, encontraram ali um grupo de neurónios com influência no forma como ingerimos os alimentos. “Os neurónios que encontrámos integram toda a informação dos outros, mas fazem mais”, explicou Srikanta Chowdhury, um dos autores do estudo, ao Science Daily. “E são diferentes de quaisquer outros envolvidos na regulação da saciedade”, acrescentou Alexander Nectow, outro dos autores.

Manipulados pelos cientistas através da luz, estes neurónios foram ativados e, sempre que isso acontecia, os ratos paravam de comer. A rapidez com que o faziam dependia também da intensidade da ativação. “Foi interessante ver como estes neurónios não sinalizavam apenas que era preciso parar imediatamente de comer, mas também são responsáveis pela diminuição gradual da ingestão da comida”, continuou Srikanta Chowdhury.

Os neurónios agora descobertos detetaram e rastrearam cada dentada na comida. “Essencialmente, eles podem sentir o cheiro da comida, ver a comida, sentir a comida na boca e no aparelho digestivo e interpretar todas as hormonas libertadas no mesmo em resposta à alimentação”, explicou Alexander Nectow. “Depois, usam toda esta informação para decidir quando parar de comer.”

A boa notícia é que também nós, como os ratos, somos animais vertebrados, ou seja, é “altamente provável” que tenhamos esses mesmos neurónios no tronco cerebral, dadas as suas semelhanças entre todos os vertebrados.

Os novos medicamentos

Dá vontade de pedir que nos implantem uma luz junto ao tronco cerebral, virada para esses neurónios, com um telecomando que possamos ativar quando é hora de comer. Não será assim tão simplista, mas existem hormonas que podem silenciar esses neurónios agora descobertos, o que faz aumentar o apetite. Ou, mais importante ainda, existe outra forma de os ativar, diminuindo a vontade de comer.

A equipa da Universidade de Columbia diz o que é, mas isso já se sabia: os agonistas dos recetores de GLP-1 (Glucagon-like peptide-1), usados nas drogas do momento para tratar a diabetes e a obesidade. Se, por um lado, são potentes no controlo glicémico, o seu “efeito secundário” mais notado foi a redução do apetite, daí a corrida às farmácias para se conseguir o tão solicitado Ozempic.

Estes agonistas estão a revolucionar o tratamento da obesidade e a enriquecer os laboratórios. Sabe-se que são capazes de atravessar a barreira hematoencefálica, atuando no centro de saciedade do cérebro. Aliás, pelas suas capacidades em reduzir também a inflamação, estuda-se a hipótese de virem a ter um papel importante para tratar doenças como o Parkinson ou o Alzheimer.

O Ozempic, que usa o princípio ativo semaglutida, mostrou-se eficaz em reduzir o peso corporal entre 5% e 15%. A farmacêutica Novo Nordisk lançou entretanto uma nova marca destinada à obesidade, o Wegovy, em que a média de perda de peso é de 15%, sendo que, nos ensaios clínicos, um terço dos pacientes perdeu mais de 20 por cento. Existe também a tirzepatida (nome comercial Mounjaro), e tanto este como o Wegovy atingem níveis de perda de peso de uma cirurgia bariátrica (21%). A tirzepatida, aliás, está prevista ser lançada, no final de 2025, com uma nova indicação, para tratar a apneia obstrutiva do sono.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, os doentes com diabetes ultrapassaram os 800 milhões, um número que quadruplicou desde 1990. Já as pessoas com obesidade ultrapassam os mil milhões, um número que, em 1990, era de 221 milhões. A Federação Mundial de Obesidade estima que, daqui a 10 anos, em 2035, haja mais de três mil milhões de obesos.

Epidemia, certo. E também um imenso mercado que torna apetecível o investimento nos estudos científicos em torno destas doenças. Basta pensar que a Novo Nordisk, fundada em 1923 e sediada na Dinamarca, tornou-se mais valiosa do que o Produto Interno Bruto do seu país, chegando a valer, em meados de 2024, mais de 600 mil milhões de euros em bolsa. E anunciou, para este ano, o lançamento de um novo medicamento, o CagriSema, combinação de cagrilintida e semaglutida, cujos testes clínicos mostraram uma perda de peso na ordem dos 22,7%.

Voltando aos ratinhos da Universidade de Columbia… Nas células descobertas, que, ativadas, os faziam parar de comer, produz-se uma hormona chamada colecistoquinina, conhecida por regular o apetite. É um grande passo em direção ao futuro, uma “porta de entrada no entendimento do que significa ‘ficar cheio’”, diz Nectow. E uma esperança para os novos tratamentos que poderão surgir.

O peso e os adolescentes

A influência do ritmo circadiano

Um novo estudo, realizado por investigadores do sistema de saúde Mass General Brigham e da Brown University, concluiu existir uma relação entre ritmos circadianos, peso e hábitos alimentares em adolescentes. Nestas idades, os padrões alimentares irão influenciar decisivamente a sua saúde ao longo da vida. Diz o estudo, publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences, que adolescentes com peso a mais ou obesidade consumiram mais calorias e mais tarde no dia, em comparação com jovens de peso saudável. Em qualquer dos grupos em estudo, a ingestão de alimentos atingiu o pico no final da tarde e no início da noite, tendo sido mais baixa pela manhã. Apesar disso, a conclusão assemelha-se a um facto conhecido desde sempre pelo senso comum: comer muito mais tarde no dia ou à noite afeta o peso. E a culpa não é só cultural: os investigadores conseguiram isolar os padrões ambientais e comportamentais da equação e concluir que isto se deve também ao nosso “relógio biológico”, que influencia o quanto comemos em diferentes momentos do dia. O nosso ciclo circadiano afeta a fome e o metabolismo, mesmo que não haja diferenças em relação ao sono.

Os lençóis do abrigo, no piso subterrâneo do hotel, cheiram a tubo de escape. Penso na rapariga que tocava violino à janela quando estacionámos à frente do prédio. Tinha duas tranças pelas espáduas e oferecia música a quem passava em troca de aplausos. O reconhecimento é um bom agasalho. Amanhã trarei a almofada comigo, por enquanto uso sacos de chá junto do nariz que bloqueiam parcialmente o monóxido de carbono.

Colocaram camas a poucos metros da zona de estacionamento, mesas com cadeiras à volta e alguns pufes. Luxuoso, se considerarmos por comparação as estações de metro ou as caves sem aquecimento que proliferam pela cidade. O alarme de ataque aéreo soou às duas e quatro minutos da manhã. É uma voz autoritária, levemente desagradável (mais desagradável a cada repetição), ativada pela aplicação dos telemóveis e reproduzida pelas colunas de som dos quartos e corredores. “Alerta, alerta, dirija-se a um abrigo!”

É a primeira noite em Kiev. Visto o sobretudo atabalhoadamente sobre o pijama, penso que é um pouco ridículo ter escolhido para a viagem um tão natalício – com quadrados vermelhos e verdes em harmonia. Passo por uma pessoa no corredor, uma mulher de olheiras bojudas visivelmente mais capacitada para estes sobressaltos noturnos – roupa térmica, botas, mochila às costas. A meio da escada de acesso ao abrigo, levo a mão ao bolso e apercebo-me de que, por sorte, trouxe o passaporte. A jovem da receção joga Scrabble no computador, desprende-se do bar uma gargalhada convidativa, alguém brinda. Aproxima-se um rapaz da jovem, também funcionário, trocam palavras, ela sorri, há o prenúncio de um certo enamoramento. O riso sobrepõe-se à voz autoritária da aplicação ‒ nova mensagem, o risco aumentou. “Não seja imprudente, o excesso de confiança é a sua maior fraqueza”, avisa em tom marcial, “encontre um abrigo!”.

O acesso ao piso subterrâneo é labiríntico, entre avanços e recuos, uma saída que dá acesso às traseiras do edifício, novo recuo e tentativa, e encontro, por detrás de uma porta corta-fogo a mesa posta ‒ água a ferver, saquetas de chá e de café… São poucas as pessoas que me olham a partir do escuro, talhadas pela luz rarefeita e esverdeada das sinaléticas de emergência, e quase todas circulam com a impessoalidade de quem anda no shopping, apequenadas pelo traje de dormir. A maioria dos hóspedes são estrangeiros ‒ trabalham em organizações humanitárias, dão apoio jurídico, são jornalistas ou procuram um ângulo no conflito para fecharem negócios. Partilhamos o nervosismo dos iniciados. Os repetentes já não abandonam a cama, descem ao subsolo ou esperam, entre desconhecidos igualmente ensonados, que o perigo passe… aligeire, aliás. O mesmo acontece com a população local, principalmente com a população local. Não se trata de coragem ou inconsciência – jogar à corda com a ameaça do invasor –, simplesmente a privação de sono e o cansaço venceram, há uma normalidade a manter, mais impositiva do que os ataques aéreos.

Os precavidos dormem longe de janelas e consultam no Telegram o tipo de projétil.  Multiplicam-se os perfis temáticos, os ucranianos tornaram-se genericamente peritos em estratégia militar, apreenderam à lei de explosões a distinguir um Oreshnik de um Garpiya.  Levam mais a sério uma ameaça balística; os drones também destroem, mas um pouco menos, quase todos desfeitos pelas antiaéreas ainda em voo. Quase todos. Na capital, o escudo antimísseis vai funcionando, dizem-me, mas com exceções – lembram-me aquele que caiu há uma semana e destruiu parcialmente um restaurante da cadeia McDonald’s e um edifício residencial. Contamos a distância: foi exatamente a um quilómetro e trezentos metros do hotel onde me encontro. Também houve o ataque ao hospital pediátrico, em pleno verão – manhã quente, crianças socorridas à torreira do sol. O lábio inferior treme-lhes ao recordarem, silenciam a aplicação e aquietam-se pela ausência de explosões ao longe. Serão melhor barómetro? “Não há nada a fazer!”. Vasculho na memória à procura do lugar para onde esta frase me leva.

É assim todas as noites, desde há três anos a esta parte. As sirenes tocam madrugada dentro, despertam as consciências dormentes, que procuram ‒ com esforço ‒ absorvê-las no sono. Perguntei a famílias aleatoriamente na rua – as crianças deixaram as suas camas, ficam com os pais e contraem-se contra os seus corpos quando o perigo ressoa. Repetem-me o que costumava ouvir nos dias após o nascimento da minha filha – dorme sempre que possas.

Deito-me no desconforto frio de lençóis já remexidos. A duas camas, um desconhecido ressona – encontro-o depois, mais tarde, no pequeno-almoço, com um fato de bom corte. Penso que não devíamos conhecer as pessoas pelo avesso. Ressona tanto e tão convictamente que alguns dos outros hóspedes abandonam o abrigo à procura de descanso – preferem o risco ao martírio.

Como viver neste loop de alertas? Tento adormecer, mas não é possível. Vem-me à cabeça o texto de Beckett, À espera de Godot. Um homem andrajoso (Estragon) está sentado no chão no meio de um lugar ermo e abandonado, tendo como companhia uma árvore seca e um par de botas que lhe fustigam os pés e com o qual se debate. Conclui, lá está: “Não há nada a fazer!”

A primeira fala da peça parece remeter para aquele pequeno conflito – ele e as suas botas –, mas a entrada em cena de uma segunda personagem (Vladimir) corrobora o desabafo, dando-lhe de imediato uma dimensão maior. Somos informados de que há uma luta maior – previsivelmente vã – que está sendo travada, cujo desenlace será também ele previsivelmente inglório. Este projeto conjunto é, como o nome da peça revela, a espera por Godot – entidade misteriosa, capaz de castigos e de benesses. As personagens, enquanto aguardam, entregam-se a jogos e diálogos aparentemente fúteis sobre botas, passagens bíblicas, contam anedotas, ponderam o suicídio, trocam alimentos, questionam os detalhes incertos da chegada de Godot; então, surge um rapaz dando a notícia de que Godot não virá nesse dia, mas que estará ali certamente no dia seguinte. Resta-lhes ir embora, mas não se movem.

Não testemunhamos, assim, o arranque de um ciclo, mas uma parte integrante de uma sequência de repetições mais ampla, que se iniciou antes de entrarmos na sala de espetáculos e que se irá prolongar previsivelmente após a nossa saída. Ao atravessarmos a fronteira da Polónia com a Ucrânia, somos, de imediato, parte integrante desta espera.

Despojos de guerra Tanques russos destruídos estão agora em exibição em Kiev. A universidade atingida por bombas. Livro de Taras Shevchenko, fundador da literatura moderna ucraniana. O Arco da Amizade dos Povos passou a chamar-se Arco da Liberdade do Povo

A escritora Susan Sontag encenou À Espera de Godot em Sarajevo, em plena guerra dos Balcãs. Além do minimalismo do cenário – de feição num contexto de conflito –, havia naturalmente motivos óbvios para a escolha. Neste caso, Godot representaria a ténue esperança de que uma potência internacional interviesse e colocasse fim à barbárie. No casting, Susan terá perguntado aos atores se havia alguma relação entre a vida deles e a peça.

O entorpecimento emocional, próprio dos períodos de conflito, também aproximava os servo-croatas das personagens de Beckett, como aproxima os ucranianos deste autor do teatro do absurdo. Estragon e Vladimir colocam mais empenho emocional numa discussão sobre botas do que na ponderação de um hipotético suicídio; os atores de Sontag mantinham-se em palco a ensaiar, após a notícia da morte de um colega; os ucranianos levantam-se de manhã e levam os filhos à escola, permanecem no para-arranca do trânsito, compram postais para o Dia dos Namorados, apesar da toada diária das sirenes. Todos os dias alguém morre, concluíam em Sarajevo e concluem atualmente em Kiev, perseguindo uma ideia de normalidade através da ação, apesar de viverem o absurdo da guerra.

Os prédios à entrada de Borodyanka não foram reconstruídos. As carcaças permanecem com as suas bocas abertas, muradas pelo céu cinzento, o entulho continua a atravancar as escadas desdentadas e animais domésticos abandonados farejam a ausência dos antigos donos nos recantos familiares de um lugar que já não existe.

Borodyanka faz parte do eixo de localidades-mártir, às portas de Kiev, que serviram de escudo ao avanço das forças russas sobre a capital no arranque da invasão. Um homem, de certa forma golpeado pelo frio, anda de bicicleta em círculos na praceta. Penso novamente em Estragon e nas suas botas. Para e troca palavras à vez com quem aparece – mulheres que entram com sacos de compras no edifício decapitado. Vêm alimentar os gatos que ficaram para trás, como quem lambe feridas. Os desenhos a giz no chão empalideceram, o balancé range ao vento e a vida rompe o chão regelado contorcida em ervas daninhas. Há, porém, uma campainha que toca e eu digo “escola”. O homem interpela-me e corrige-me. Não se trata de uma escola, mas de um jardim de infância. A fila de crianças que surge, galvanizadas pelo prenúncio da brincadeira, dá-lhe razão. Lançam-se dos baloiços em voos de aves sob o olhar agoirento dos prédios desfeitos.

A palavra “escola” em ucraniano é escrita “”, pronunciando-se “shkola”. E, assim, ficámos unidos por fonemas. O homem aponta a fachada onde Banksy pintou uma menina a tocar violino, as notas coloridas trepam pela parede em ruínas. “Ali, era a janela da minha cozinha”, conta. Os estilhaços do prédio onde vivia caíram sobre o bar onde trabalhava, num ricochete irónico que lhe pulverizou o quotidiano. Ele encontrava-se a meio caminho entre os dois locais. Talvez ainda esteja por lá. Dá novo impulso ao pedal e torna a circular em redor da praceta. Resta-lhe ir embora, fazer como muitos que trocaram a cidade por áreas rurais. Resta-lhe ir embora, mas não se mexe.

Até àquele alerta de madrugada, nada me recordava estar num país sob ataque. A viagem é longa, naturalmente. Não há voos comerciais e a ligação é feita a partir da fronteira da Polónia de comboio ou de autocarro. Comigo embarcaram mulheres e crianças, casais mais velhos com pouca bagagem, prenunciando uma estada curta para aplacar as saudades. Foram quase dez horas sobre carris. A mãe, na carruagem seguinte, insiste com a filha para que termine os trabalhos de casa, a menina hesita numa conta de subtração e o olhar foge-lhe para o ecrã, acima das nossas cabeças. Começou agora a escrever e vai reencontrar o pai, que ficou a lutar contra supervilões piores que o Humdinger. A Patrulha Pata acaba de salvar o dia. A gamificação é uma estratégia seguida pelos pais, à falta de melhor explicação para o absurdo da realidade. Preferem dizer aos filhos que os progenitores estão a combater extraterrestres do que lhes explicar que há um país vizinho a bombardeá-los.

A primeira imagem que tenho do início dos confrontos remonta a fevereiro de 2022 e chocou-me pela proximidade. Uma menina, com um casaco da Disney igual ao da minha filha, salta de mão dada com o pai sobre um cadáver, procurando atravessar o rio gelado e passando sobre os escombros do viaduto detonado à entrada de Irpin. Setenta por cento dos prédios desta cidade desapareceram nos bombardeamentos ou ficaram parcialmente destruídos. Três anos volvidos, o esforço de reconstrução é assinalável, mas mantém-se a urgência de interpelar a memória coletiva, fazendo conviver os destroços da antiga ponte com a nova ligação reconstruída.

Um ecrã luminoso repete as imagens da invasão de 2022, na berma da estrada foram colocados em exposição carros de combate russos abatidos, alguns quilómetros depois, um cemitério de veículos civis trespassados por estilhaços ergue-se em pilha. Entre os bancos, a mão de urso decepada, a fronha de uma almofada, a lancheira aberta como uma boca. Toda a arquitetura de uma fuga, a par com a narrativa das autoridades. A museificação da tragédia, enquanto ressoam bombardeamentos, é desconcertante. O governo tem apostado em erguer memoriais, lembrar os rostos das vítimas, honrar os heróis nacionais e os seus combatentes, num olhar pelo retrovisor que apenas ganha sentido se mantivermos a atenção na ameaça mais adiante. O tempo é simultaneamente o que passa e escapa e o que dura e permanece. A negociação entre estes dois movimentos – o da perda e o da permanência – coloca-os num presente incessante, seja este esperançoso ao projetar o futuro ou doloroso no repisar do passado.

Retorno à capital. Entro numa livraria à procura das palavras de Taras Shevchenko, fundador da literatura moderna ucraniana. Dizem-me que Kobzar é um livro obrigatório na casa de qualquer ucraniano. Ele escreveu, premonitório:

Depois de eu morrer, enterrai-meNa terra por sobre a colina,No meio do largo desertoDa minha querida Ucrânia.

Preservar a memória O Memorial Moshchun foi alvo de intensos bombardeamentos. Até ao momento, o interior da Catedral de Santa Sofia, património da UNESCO, tem conseguido ser preservado. Músico a tocar tsymbaly, instrumento tradicional da Ucrânia. A vida não para, mesmo quando todo o país está sob ameaça

A preservação da história e da cultura do país parece ser, aliás, uma preocupação de todos, a par com a das fronteiras. Não nos confundam com eles, pedem-me, sendo eles os invasores. Como prova de identidade, folheiam à minha frente um volume bem impresso, sucedem-se fotografias de casas pitorescas, coloridas, quase barrocas, de todas as regiões do país. Uma construção muito distinta da despersonalizada herança bolchevique, cinzenta e retilínea. Olho em volta, algumas pessoas trabalham ao computador enquanto bebem cappuccinos, folheiam livros e palreiam ao telemóvel, vejo-me refletida no espelho entre balões em formato de coração a anunciar o 14 de fevereiro. Poderia estar em qualquer capital europeia.

Em Kiev, conjura-se para se ter uma vida normal, igual à que existia antes da guerra. Os ucranianos veem pelas frinchas a esperança e o futuro. Isso quer dizer que o perigo não é real? Não, pelo contrário. É palpável, sofrido, em cada esquina da cidade há uma história de mutilação humana para ser contada. Mas, com invólucros de balística também se fazem árvores de Natal e floreiras, calafetagem de telhados destruídos, suportes para as grades de cerveja. Alguém pintou girassóis na carcaça de um carro cravejado de estilhaços e, no centro de uma zona de impacto, reconstruíram um jardim de infância que fere com as suas cores garridas. A cada janela que se estilhaça, um novo vidro é colocado, numa espécie de profissão de fé. Incorporar a destruição, reconstruir, resistir – embelezar o inominável. 

A s pessoas que estiveram sob a ameaça de um bombardeiro até às nove e meia da manhã brindam e cantam e enchem os restaurantes à noite. Com risos que crescem na barriga e sacodem os corpos. Um pedido de casamento, uma festa de aniversário, quase não lhe vejo o rosto por detrás dos balões cor-de-rosa, ela estende a mão a mostrar o anel de noivado às amigas. Quando um bombardeiro levanta voo na Rússia, toda a Ucrânia fica em alerta. O mapa cobre-se de vermelho. A questão não é se, mas onde. Passa a ser indiferente estar na linha da frente ou na fronteira com a Polónia – um míssil atravessa mil quilómetros enquanto lavo os dentes. 

Jogam à roleta com os avisos, claro. Como haveria de ser de outra maneira? Podem ser três ou mais por dia, prolongando-se por horas. Apanham-nos no banho (aconteceu-me), no carro a caminho da empresa, a vestir os filhos para a escola, a tratar da mãe acamada, a chegar ao hospital para uma visita, antes da sessão do cinema. O que fazer? Congelar a vida ou ir ver o filme? 

Desta vez, foi Odessa a cidade atingida, capital cultural do país. Cidade engalanada, viva, pulsante, sobranceira ao mar, com gastronomia de lamber os beiços. Desta vez. Um hotel junto à filarmónica ficou em escombros, passava pouco das oito da noite, de uma sexta-feira. Ruas cheias. Os vidros da janela explodiram ainda com Vivaldi a ressoar. Morreram civis; sim, morreram civis.

Já se sabe, todos os dias alguém morre.

O VOLT Live é um programa/podcast semanal sobre mobilidade elétrica feito em parceria com a Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE).

Neste VOLT Live, episódio 94, comentamos as notícias em destaque nesta semana: a expansão da rede Iberdrola | bp pulse;  a oferta da instalação de wallboxes na compra de qualquer modelo BEV ou PHEV da Volkswagen; o KIA EV4;  o sistema da Renault para extinguir fogos mais rapidamente; a ideia de adicionar tubos de escape a carros elétricos; e as duas novas marcas chinesas que chegaram a Portugal.

Em Polo Positivo e Polo Negativo comentamos os novos apoios para a aquisição de veículos comerciais, as tarifas impostas por Donald Trump e como Elon Musk está a afetar negativamente a Tesla.

Em Produto da Semana partilhamos a experiência de conduzir o Abarth 600e numa pista e em Carrega Aqui revelamos novos hubs de carregamento.

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André Ventura apresentou a moção de censura ao Governo, como sendo a única forma de pôr Luís Montenegro a dar explicações sobre as dúvidas relacionadas com um potencial conflito de interesses originado pela sociedade Spinumviva, Lda, de que são sócios a sua mulher e os seus filhos. Para Ventura, “uma grande parte do País reconhece que a única forma de obrigar o primeiro-ministro a prestar esclarecimentos ao povo que o elegeu” foi a apresentação desta moção, depois de, durante os últimos dias, Montenegro se ter mantido praticamente em silêncio, optando por responder apenas ao Correio da Manhã.

“Chegámos aqui porque o primeiro-ministro se recusou a dar explicações”, defendeu Ventura, afirmando que “o senhor primeiro-ministro quer queira, quer não queira, tem de vir dar explicações à casa da democracia”.

Luís Montenegro, num tom mais exaltado do que é costume, respondeu como se a moção de censura fosse um ataque pessoal. “Esta moção de censura é sobre o meu caráter e a minha honra”, disse, aludindo às denúncias anónimas que levaram à abertura de um inquérito sobre a construção da sua casa em Espinho, que acabou arquivado por falta de indícios de crime.

“Há muitos anos que sou alvo de ataques estranhos e violentos”, disse o primeiro-ministro, antes de reiterar a legalidade da cessação de quotas feita entre si e a sua mulher, com quem é casado em comunhão de adquiridos, e de explicar que esta sociedade teve origem na sua vontade de envolver os filhos, ambos estudantes de Gestão de Empresas, nas suas atividades fora da advocacia.

“Não venderam nada do que receberam dos meus avós. Não vou vender nada do que recebi dos meus pais. E adoraria saber que os meus filhos não sentiam necessidade de vender nada dos bisavós. Assim nasceu a Spinumviva”, disse lembrando que entre o património herdado está uma quinta no Douro na qual pretende construir uma adega e uma unidade turística.

Os clientes da sociedade familiar de Montenegro

Montenegro elencou ainda os “clientes pontuais”, que teve na consultoria sobre proteção de dados, não sendo claro quem prestou – uma vez que a sua mulher tem duas licenciaturas em Educação e o filho mais velho é licenciado em Gestão – mas aludindo à contratação de prestadores de serviços externos e às competências que os seus familiares terão conquistado nesta área, dando consultoria “sobre boas práticas de tratamento de dados” a estas empresas.

Além da Cofina, que já tinha revelado ser um dos clientes da Spinumviva, Montenegro explicou que a sociedade prestou serviços a uma fábrica de equipamentos industriais, a uma transportadora de mercadorias, a uma empresa de retalho e lojas físicas e online, que gere um ficheiro com mais de dois milhões de clientes, a um estabelecimento de ensino privado com mais de 1200 alunos e 200 funcionários, um grupo de farmácias e um grupo no ramo do aço.

“Sabem o meu património e origem. Sabem onde moro. A partir de hoje sabem a minha estratégia pessoal e familiar. A partir de hoje só respondo a quem for tão transparente como eu, afirmou o primeiro-ministro, dizendo que o número de telefone da Spinumviva é o seu porque é o que constava do registo inicial da empresa e frisando que a cedência de quotas à mulher é “perfeitamente legal, embora ninguém me impedisse de manter participações”.

O refrão do PSD: “O populismo combate-se com competência”

“O debate da moção de censura acabou”, decretou Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, depois da intervenção do primeiro-ministro, aproveitando para questionar se André Ventura via algum conflito de interesses no facto de haver deputados seus que detêm participações em imobiliárias que participam no debate e na votação da Lei dos Solos.

De resto e perante a ausência de resposta de Ventura a esta questão, Hugo Soares pediu à Mesa da Assembleia que distribuísse pelos deputados as declarações de registo de interesses feitas por deputados do Chega que detêm participações em imobiliárias.

A bancada social-democrata arranjou até um refrão para lidar com a moção de censura. “O populismo combate-se com competência”, repetiram, um a um, vários deputados do PSD, à medida que iam perguntando a André Ventura se também censurava as medidas que, em seu entender, foram implementadas por este Governo nas mais variadas áreas, do complemento solidário de idosos ao reforço remuneratório dado às força de segurança, do acordo celebrado com um dos sindicatos dos médicos ao IRS Jovem.

Emma é uma pequena (mesmo pequena!) menina criada por animais. No entanto, ela não sabe o que se passou para tal acontecer. Ela sonha em desvendar o mistério das suas origens humanas e, para iso, dá início a uma viagem extraordinária.

Pelo caminho, Emma faz amizade com Newton, um inteligente criador de tartarugas e, juntos, encontram uma ilha escondida habitada por pequenos humanos. Mas os dois amigos vão ainda contar com a ajuda de Edward, um biólogo. Conseguirão os três amigos desvendar os segredos do passado de Emma?

Através das suas aventuras, eles aprendem que as nossas diferenças são o que nos torna únicos, e são as nossas qualidades interiores e a capacidade de amar que nos une.

Uma viagem de amizade verdadeira, partilha, interajuda e empatia, num mundo de possibilidades infinitas, que se estreia nos cinemas no dia 6 de março. Mas tu podes vê-lo antes…

Como podes participar:

Este passatempo dirige-se a leitores entre os 6 e os 14 anos.

Para ganhares um dos 20 convites duplos que temos para oferecer, envia-nos uma quadra que inclua as palavras “pequenina” e “corajosa”. As 20 mais criativas ganham um convite duplo para a antestreia.

As sessões vão realizar-se no dia 2 de março (domingo) às 11 horas, no Porto, no Cinema UCI Arrábida Shopping; e em Lisboa, no Cinema UCI El Corte Inglés. Não te esqueças de levar o teu cartão de cidadão e levantar o convite 15 minutos antes.

Envia as tuas quadras para vjunior@visao.pt com o assunto “Passatempo Emma”. O teu nome, data de nascimento e número de cartão de cidadão devem constar no e-mail. Não te esqueças também de dizer em que cidade pretendes assistir ao filme, e indica-nos o contacto telefónico do teu pai ou da tua mãe.

Boa sorte!

Recentemente, a divulgação de um ataque através do WhatsApp, onde um spyware ( software malicioso com o objetivo da recolha e informações sensível sobre o individuo ou organização –  sem o conhecimento do utilizador)  permitiu o acesso não autorizado a dados sensíveis, vem mais uma vez alertar sobre a importância da segurança das comunicações e dos cuidados que os utilizadores devem ter quando utilizam o smartphone ou o computador para fazê-lo.  

É imprescindível que os utilizadores analisem com rigor as permissões solicitadas pelas aplicações disponíveis nos marketplaces dos dispositivos. Muitas vezes, as aplicações requerem autorizações que ultrapassam as necessidades essenciais para o seu funcionamento, como o acesso à lista de contactos, à câmara ou à localização. Estas permissões, se concedidas de forma indiscriminada, podem permitir a recolha de dados que, posteriormente, podem ser explorados para a construção de perfis detalhados ou para fins comerciais. A leitura atenta dos termos de utilização e das políticas de privacidade torna-se, assim, uma etapa crucial para que cada utilizador compreenda quais os dados que serão recolhidos e com que finalidade.

No contexto das comunicações digitais, as aplicações que mais se destacam, tendo em conta a popularidade em território nacional – WhatsApp, Signal e Telegram – apresentam abordagens distintas no que toca à proteção dos dados pessoais. O WhatsApp, por exemplo, implementa cifras end-to-end, que funcionam como um cadeado digital que apenas permite que o remetente e o destinatário tenham a chave para aceder à mensagem, garantindo assim que o conteúdo das comunicações permanece protegido contra terceiros. Esta robusta proteção, contudo, é equilibrada pela recolha sistemática de metadados, como horários, duração das ligações e identificação dos contactos com os quais se estabelece ligação. Adicionalmente, em situações em que existam configurações de privacidade insuficientes, torna-se possível monitorizar os estados online de um utilizador, o que pode revelar padrões de utilização e disponibilizar ainda mais dados para a criação de perfis. Outro aspeto a considerar é que, ao pertencer a um grupo no WhatsApp, mesmo que haja pessoas desconhecidas, todos os membros têm acesso ao número de telemóvel uns dos outros, o que pode comprometer ainda mais a privacidade dos utilizadores.

Em contraste, o Signal adota uma política de recolha mínima de dados, limitando-se apenas ao que é indispensável para o seu funcionamento, e utiliza cifras end-to-end em todas as comunicações. A transparência proporcionada pelo facto de ser uma aplicação de código aberto permite que a sua segurança seja auditada por programadores de forma independente. Esta abordagem contribui para uma maior confiança, embora seja necessário ter sempre em mente que nenhum sistema digital pode ser considerado absolutamente imune a vulnerabilidades.

O Telegram oferece uma solução híbrida. Por um lado, dispõe de chats secretos que beneficiam de cifras avançadas, permitindo uma comunicação mais protegida; por outro, as conversas realizadas em chats normais são armazenadas na nuvem sem, por omissão, a proteção de cifra end-to-end. Além disso, ao utilizar o Telegram, os utilizadores não são obrigados a partilhar o número de telemóvel para integrar grupos ou estabelecer ligações, o que representa uma vantagem considerável em termos de privacidade. Esta dualidade implica que, se os utilizadores não optarem de forma expressa pelas funcionalidades de segurança adicionais, poderão ficar expostos a riscos associados à recolha e ao armazenamento de dados.

Apesar dos mecanismos de proteção implementados por estas aplicações, é essencial que os utilizadores mantenham uma postura crítica e consciente. Mesmo que o Signal se destaque pela sua abordagem restritiva e o WhatsApp ofereça cifras robustas, os riscos inerentes à utilização de qualquer meio digital exigem que se proceda a uma monitorização regular das atualizações e a uma revisão periódica das definições de privacidade. A segurança das comunicações depende não só das cifras e das políticas de recolha, mas também do modo como estas ferramentas são utilizadas no dia a dia.

A escolha da aplicação para comunicações deve ser feita com uma avaliação criteriosa entre a funcionalidade desejada e a proteção dos dados pessoais. O ideal não é abandonar o meio digital, mas sim adotar boas práticas, estar atento às permissões concedidas e manter-se informado através de fontes independentes e análises especializadas em cibersegurança. Por exemplo, é aconselhável proceder à atualização frequente das aplicações, configurar corretamente as definições de privacidade e limitar a partilha de informações pessoais sensíveis.

Os utilizadores devem reconhecer que a segurança das comunicações depende não só das cifras e das políticas de recolha implementadas pelas aplicações, mas também da forma como estas ferramentas são utilizadas no quotidiano. A  constante monitorização, a atualização regular das aplicações e a consulta atenta aos termos de utilização são medidas indispensáveis para minimizar os riscos e assegurar que a privacidade seja preservada num cenário digital em constante evolução. Também é importante que no próprio Marketplace possamos ver quais os dados que as aplicações têm acesso, bem como durante a instalação o que pedem para aceder. 

Adotar uma atitude proactiva e informada é, assim, a melhor forma de tirar partido das vantagens das tecnologias de comunicação, garantindo que a experiência digital seja o mais segura e consciente possível.

A chegada de uma frente fria a Portugal continental esta sexta-feira levou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) a emitir vários avisos meteorológicos amarelos e laranja devido à agitação marítima e episódios de chuva forte. De acordo com as últimas previsões da Meteored Portugal, os efeitos desta frente fria deverão continuar a ser sentidos este sábado, que ficará marcado por aguaceiros que poderão abranger a região Norte e Centro. A agitação marítima também deverá continuar, embora com uma altura máxima de onda mais baixa, e o vento perderá força, estando previstas rajadas na ordem dos 45 km/h. É provável que a chuva comece a dissipar-se ao longo da tarde, dando lugar a um tempo seco e soalheiro.

Está ainda prevista uma diminuição das temperaturas mínimas, que poderá vir a resultar em queda de neve na Serra da Estrela. As máximas deverão variar entre os 9ºC para a Guarda e os 18ºC para Faro.

Para domingo é esperado uma mudança no estado do tempo, sem qualquer previsão de chuva, especialmente no Sul de Portugal continental. O tempo seco é o resultado da aproximação de um anticiclone da Península Ibérica.

As temperaturas máximas deverão rondar os 12ºC para a Guarda e os 18ºC para Coimbra. Já as temperaturas mínimas, segundo as previsões da Meteored, é  espectável que variem entre 1ºC para a Guarda e Bragança e os 8ºC para Faro, Viana do Castelo e Lisboa.

O cenário meteorológico deverá começar a mudar novamente no início da semana, estando prevista chuva para o continente.