Em 2019, em resposta a um recurso, os juízes da 9ª secção do Tribunal da Relação de Lisboa proferiram um acórdão em que afastavam de qualquer castigo penal as injúrias ou ofensas proferidas no chamado “mundo do futebol”. Para os juízes, chamar nomes a alguém ou ao seu familiar, utilizando palavras obscenas ou até ameaças, eram “comportamentos reveladores de baixeza moral”, mas “tolerados na cena futebolística”.

Na época, o acórdão suscitou alguma polémica, após o então presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino, se ter insurgido contra a sentença que considerava “transmitir um exemplo negativo” e que, na sua leitura, contrariava os “esforços de professores, pais e autoridades desportivas para a regulação dos comportamentos em situação competitiva”. Na opinião daquele que era um dos mais ilustres pensadores do desporto em Portugal, o acórdão decretava, na prática, que “um recinto desportivo é uma espécie de offshore onde se pode praticar o que é criminalizado no exterior”.

A polémica, no entanto, depressa foi esquecida. Até porque o acórdão o que fez, na altura, foi apenas dar espessura jurídica a algo que já se observava há vários anos: a normalização do insulto e dos discursos de ódio no “mundo do futebol”, como se o jogo se tivesse transformado numa guerra, e em que os duelos nos relvados chegam a perder importância em relação às trocas de acusações em frente aos microfones das televisões.

Depois da normalização dos insultos no futebol, estamos agora a ultrapassar, enquanto sociedade, outro patamar na escala da falta de decência: a normalização da intolerância e do apelo à violência no discurso político. Os dois mundos estão a ficar de tal forma parecidos que só falta mesmo que, qualquer dia, um tribunal superior também apareça a justificar os insultos e as difamações permanentes como “toleradas na cena política”.

Os resultados desta contaminação estão à vista. E de uma forma cada vez mais gritante, já que tudo é aproveitado para ajudar a cavar trincheiras, fazer aumentar a polarização e simplificar qualquer tema a uma luta entre “nós” e os “outros”, com a mesma irracionalidade com que se discute um lance de penálti na área – sempre com a diferença habitual de análise, caso seja uma falta na “nossa” ou na dos “outros”.

O atual ambiente internacional contribui ferozmente para esta espiral de intolerância em que vivemos. E serve de combustível e de exemplo para os casos crescentes de violência. Com a agravante de este clima ser potenciado até ao exagero através dos algoritmos das redes sociais, pela desinformação galopante municiada por máquinas sofisticadas e por canais de TV ávidos por audiências, numa guerra desesperada pela atenção.

Donald Trump normalizou condutas públicas que, até há bem pouco tempo, considerávamos indecorosas ou que, noutra época, fariam qualquer um perder eleições. Com ele no poder, passou a ser considerado normal chamar nomes aos adversários políticos, insultá-los e, sempre que possível, intimidá-los. E, ultimamente, juntou a essa retórica uma ameaça de militarização da sociedade, como se estivesse a preparar uma guerra.

Em Gaza, a impunidade com que o governo de Benjamin Netanyahu continua a dizimar a população palestiniana, de forma planeada e sistemática, sem que exista um verdadeiro sobressalto ou uma atitude de força por parte dos países que afirmam defender os direitos humanos, tem estado a destruir todos os alicerces das leis humanitárias criadas após a barbárie da II Guerra Mundial.

Tudo isto tem reflexos em Portugal. Especialmente depois de, no último ano, se ter aceitado normalizar o insulto e os apelos à violência no Parlamento, manchando a imagem da casa da democracia. Ainda por cima com a agravante de, devido à guerra pela atenção, o insulto ganhar quase sempre mais tempo de antena do que o discurso sério, da mesma forma que as divisões são também mais valorizadas mediaticamente do que os consensos.

Neste estado de coisas, não nos admiremos, portanto, com a ocorrência de cada vez mais casos de violência, perpetrados pela extrema-direita radical, só interessada em eliminar os adversários e ajudar a criar condições para que se instale o caos. E se esses atos não forem punidos, como ditam as leis, não devemos surpreender-nos se, daqui a uns tempos, repararmos que já nem nos indignamos com eles. É o que acontece quando deixamos de nos importar com a decência ou com o respeito pelo outro: passamos a achar que a indecência é “normal” – como no futebol.

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A Polícia Judiciária (PJ) deteve, esta terça-feira, seis pessoas por ligações ao grupo de extrema-direita e neonazi Movimento Armilar Lusitano, uma milícia fortemente armada, que, segundo o comunicado da PJ, “pretendia constituir-se como um movimento político”. As detenções ocorreram por estar “fortemente indiciada” a prática dos crimes de infrações relacionadas com grupo e atividades terroristas, discriminação e incitamento ao ódio e à violência e detenção de arma proibida. Entre os detidos está um chefe da PSP que tinha já sido transferido para a Polícia Municipal de Lisboa por ligações à extrema-direita.

A notícia destas detenções surge na sequência de outros incidentes que mostram um aumento das ações violentas da extrema-direita: desde as agressões a manifestantes no desfile do 25 de Abril em Lisboa, às agressões a atores do Teatro A Barraca no 10 de junho, das quais resultou um ferido grave, passando pela notícia de que um ativista antifascista foi atacado por um elemento do grupo neonazi 1143 em Guimarães, neste fim de semana, depois de esse grupo andar a colar autocolantes nas casas onde vivem pessoas identificadas como antifascistas ou imigrantes, ou as agressões a voluntários que distribuíam comida a imigrantes no Porto.

A sucessão de notícias ligadas ao que parece um recrudescimento da violência praticada pela extrema-direita acontece depois de no último Relatório de Segurança Interna (RASI) ter sido apagado um capítulo inteiro sobre estes fenómenos extremistas, sem que tenha sido para isso dada uma explicação cabal por parte do Governo, apesar dos pedidos de vários partidos da oposição.

“Não somos racistas, os senhores é que estão ultrapassados”, reagiu Ventura

Jorge Pinto, deputado do Livre, levou o tema ao debate sobre o Programa do Governo, fazendo uma relação direta entre o aumento da violência da extrema-direita e o crescimento eleitoral do Chega. Uma alegação que lhe valeu fortes protestos da bancada do partido de André Ventura e uma admoestação de Teresa Morais, que estava a presidir à sessão e que lhe recordou que o Chega é um partido democraticamente eleito.

“Não somos racistas, os senhores é que estão ultrapassados”, reagiu Ventura, afirmando que o “Chega é intransigente na condenação de toda a violência”.

A pergunta de Jorge Pinto não mereceu resposta de Luís Montenegro, mas o Livre voltou à carga. “Há uma aproximação preocupante e clara à extrema-direita”, afirmou, frisando que o Governo diz querer comemorar datas importantes para o País mas adiou as celebrações do 25 de Abril e não celebrou o 1º de Maio”, diria mais tarde a deputada Filipa Pinto, numa intervenção na qual declarou que “a Cultura está sob ataque”, com atores ou autores de livros a serem “alvo de perseguição”. 

Filipa Pinto notou que Luís Montenegro assistiu a esses ataques “infelizmente em silêncio” e que o Governo “desvaloriza o que se tem estado a passar”.

Nenhum dos apelos feitos pelo Livre levou Montenegro a falar sobre o tema.

Milícia alvo da PJ planeava invadir o Parlamento

Em conferência de imprensa, o diretor nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, frisou que na PJ estão “muito preocupados com o crescente desta atividade” de violência da extrema-direita, no dia em que o Expresso e o Now relevaram conversas do Movimento Armilar Lusitano sobre uma possível invasão ao Parlamento.

Segundo aqueles órgãos de comunicação social, alguns membros do Movimento Armilar Lusitano (MAL) falaram em canais fechados das redes sociais, como o Telegram, da hipótese de invadirem o Parlamento.

Manuela Santos, diretora da Unidade Nacional Contra-Terrorismo da PJ, revelou em conferência de imprensa que os suspeitos detidos esta terça-feira “estavam a armar-se” e a “recrutar pessoas” e a desenvolver “capacidade de treino tática para fazerem uma ação”, embora a polícia desconheça qual seria “mas que provavelmente estaria no seu horizonte”.

No que é descrito como uma  “grande preparação”,  a PJ detetou a realização de treinos com armas airsoft que esta polícia acredita destinarem-se a desencadear mais tarde uma ação criminosa, considerando Manuela Santos surpreendente a “qualidade, quantidade e diversidade” das armas apreendidas, algumas delas feitas com recurso a impressoras de 3D. “É a maior apreensão de armas 3D. É algo inédito em Portugal. É material caro, estamos a falar de muitos milhares de euros”.

Entre as apreensões há também cordão detonante, TNT, artigos explosivos, pistolas semiautomáticas e soqueiras.

 “Houve encontros presenciais que nós acompanhamos, com elementos vindos de vários pontos do País. Temos muita informação sobre outras pessoas que integram esta estrutura”, disse Manuela Santos, explicando que alguns dos elementos do grupo pertencem a outras estruturas da extrema-direita entretanto desativadas, como a Nova Ordem Social, que era liderada por Mário Machado, que agora está à frente do Grupo 1143 e cumpre uma pena de prisão por crimes de incitamento ao ódio.

 A PJ não descarta que haja no MAL mais membros ligados às forças de segurança ou militares, além do chefe da PSP que foi detido esta terça-feira.

Em termos nacionais, este será o maior grupo de extrema-direita identificado pela PJ com este tipo de capacidade de ação. A PJ acredita que “o grupo poderia, no entanto, contar com a ajuda de outros grupos satélites com as mesmas motivações”, apesar de não encontrar ligação com os ataques feitos aos atores de A Barraca nem aos voluntários que distribuíam comida a imigrantes no Porto.

Luís Montenegro levou para o debate do Programa de Governo uma mão cheia de anúncios, a promessa de “humildade democrática” e “diálogo”, mas nunca se comprometeu nem com acordos à sua esquerda, nem à sua direita. E só se irritou com o Chega e com o PCP, partidos que acuso de estarem a falar de “um país que não existe”. De resto, pôs grande pressão sobre o Chega e o PS, afirmando que o Governo só não durará quatro anos “se os dois maiores partidos da oposição assumirem entre si uma coligação deliberada, ativa e cúmplice politicamente”, mas recusando responder diretamente a José Luís Carneiro, quando o socialista lhe perguntou se pretende aterrar à direita ou à esquerda, uma vez que tem mostrado andar a planar entre os dois lados políticos.

Montenegro só quer marcar golos, não importa com quem

“É um Governo polivalente, que aproveita todos os elementos que tem em campo, mas é um Governo que quer marcar golo, que quando vê um jogador assim mais molengão, não deixa de jogar na mesma para a baliza, e portanto, de rematar para marcar golo, porque é isso que os portugueses exigem, é que sejamos consequentes, que possamos aproveitar a disponibilidade de todos para sermos consequentes e não ficarmos pela retórica política”. Foi com uma imagem futebolística – haveria de usar outra em resposta ao líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, para lembrar que o partido de Ventura “ainda não está na Champions” – que Montenegro driblou a pergunta de José Luís Carneiro sobre quem seria o seu parceiro preferencial.

Carneiro tinha acabado de fazer uma intervenção na qual dava todos os sinais de estar disposto a viabilizar o Governo, apelando mesmo a um pacto com o PS para uma reforma na Justiça que vá para além do que está no Programa do Executivo e instando a AD a, com o PS, revisitar o modelo de nomeações para cargos públicos. A acusação de que o PSD usou a último a legislatura para colonizar o Estado com os seus militantes foi, aliás, a maior farpa de José Luís Carneiro, num discurso que, na sua maior parte, foi para oferecer apoio ao Governo para várias reformas, incluindo a do Estado.

“Sabemos bem quem tem mostrado mais estar à altura dessa responsabilidade, e logo veremos se há novos protagonistas e novas forças a mostrar o mesmo sentido de responsabilidade”, disse Montenegro, não fechando a porta nem ao PS nem ao Chega, apesar de ter querido manter uma distância clara em relação a André Ventura no que toca a algum “saudosismo” que possa haver pela ditadura. “Não estou a ver que o senhor deputado queira regressar a esse tempo, espero sinceramente”, disse.

“Se disse que temos de romper inércias e obstáculos, o maior obstáculo dos últimos 50 anos foi o conluio entre PS e PSD”, tinha atacado Ventura, antes de criticar o “descontrolo imigratório”.

Mais polícias, menos IRS

Luís Montenegro anunciou a abertura de concursos para reforçar os quadros da PSP e GNR com mais 1500 efetivos. “Até ao final do ano, prevemos o início de funções de cerca de 1.500 elementos na GNR e na PSP, correspondente sensivelmente 70% a guardas e agentes e 30% a oficiais, sargentos e chefes. Vamos igualmente abrir novos procedimentos para a formação de 600 guardas da GNR e 800 agentes da Polícia de Segurança Pública”, disse.

Se o reforço de polícias foi uma novidade, o anúncio de um alívio de cerca de 500 milhões de euros no IRS até ao 8.º escalão já constava do menu das promessas eleitorais.

“Por isso, nas próximas semanas, vamos decidir a redução de mais 500 milhões de euros no IRS já este ano de 2025. Nova redução essa a operar até ao oitavo escalão, beneficiando os rendimentos mais baixos, mas sobretudo a classe média, a classe que está no ativo”, afirmou, defendendo que essa redução de impostos se concentre sobre “a classe média” por ser “uma exigência de justiça social e de racionalidade económica”.

Uma promessa que pode ser ilegal

Já se sabia que o Governo queria rever a lei da nacionalidade, dificultando a sua atribuição aos imigrantes. O que é novidade é que Luís Montenegro pondera retirar a nacionalidade a quem cometer crimes graves, uma proposta que no passado o Chega já levou ao Parlamento e que nunca passou.

Neste momento, a lei não prevê que se possa retirar a nacionalidade a ninguém, nem faz qualquer distinção entre a nacionalidade conseguida à nascença por quem tem pais portugueses e a que é atribuída a quem vem para Portugal e a obtém pelas vias legais. Segundo a lei em vigor, só o próprio pode renunciar à nacionalidade, não podendo essa perda de nacionalidade ser imposta a ninguém.

A promessa feita por Montenegro pode mesmo esbarrar no Direito Internacional e no Direito da União Europeia, que têm disposições que visam impedir que cidadãos se convertam em apátridas e limitam fortemente a possibilidade de retirada de nacionalidade. Como, em alguns casos, os cidadãos que se naturalizam portugueses têm de prescindir à sua nacionalidade de origem (há países que proíbem a dupla nacionalidade), a retirada da nacionalidade obtida pela naturalização poderia levar a que esses cidadãos se tornassem apátridas, ou seja, deixassem de ter vínculo com qualquer Estado.

“Na política migratória, aprovaremos nos próximos dias uma proposta de revisão da Lei da Nacionalidade, uma proposta de alteração da Lei de Estrangeiros com implicações na limitação do acesso a reagrupamento familiar, na simplificação do processo de repatriamento de imigrantes ilegais e voltaremos a propor a criação de uma unidade de estrangeiros e fronteiras na Polícia de Segurança Pública”, declarou Montenegro, prometendo que em breve serão conhecidos os detalhes do alargamento do prazo necessário para a atribuição da nacionalidade, os critérios do reforço da ligação efetiva ao país, à sua cultura e hábitos, mas também as situações em que se pode perder a nacionalidade, “nomeadamente em comportamentos muito graves e de natureza criminal”.

Montenegro irrita-se com “cheiro a troika” do PCP

Luís Montenegro não gostou do ataque feito pelo PCP ao Programa do Governo, com Paulo Raimundo a acusar o “cheiro a troika” de medidas que incluem a flexibilização da legislação laboral, restrições ao direito à greve e cortes em organismos do Estado que não estavam no programa que a AD levou a votos.

“O seu programa cheira a troika“, disse o líder comunista, lembrando que no passado essa foi a “troika que o nosso povo já rejeitou e derrotou” e afirmando o PCP como a força que nunca dará respaldo a essa política. “Chega e Iniciativa Liberal nunca lhe faltarão para defender os interesses dos grandes grupos económicos. Bem podem encostar-se uns aos outros”, atirou, apontando também à forma como o PS está disponível para viabilizar o Governo, ao contrário do PCP que apresentou uma moção de rejeição do Programa de Governo.

“O seu discruso tresanda ao velho comunismo imobilista”, reagiu um primeiro-ministro visivelmente irritado, a lembrar a forma como por toda a Europa têm desaparecido os partidos comunistas e vaticinando o mesmo fim para o PCP, que nestas eleições perdeu um deputado e tem agora o seu grupo parlamentar reduzido a três eleitos.

“Com essa teimosia vai acabar infelizmente, por se condenar a si próprio”, disse, acusando o PCP de ver “um país que não existe”, curiosamente a mesma expressão que usou para contrariar o ataque que lhe foi feito pela deputada do  Chega, Rita Matias, que o acusou de não ter políticas de apoio aos jovens.

Marcelo Rebelo de Sousa avisou que o PRR “está a patinar”. O Conselho de Finanças Públicas diz que “decorrido mais de metade do prazo previsto para a implementação do PRR, três quartos do plano não tem execução orçamental”. E a Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR já avisou que um terço dos investimentos do PRR estão em risco de não serem executados até agosto de 2026, levando a que o país perca esse dinheiro. Com estes alertas em mente, o PCP apresentou uma proposta no Parlamento Europeu para dar mais tempo à execução do PRR, numa altura em que as dificuldades se devem a problemas na contratação pública, mas também à falta de mão de obra disponível para executar as obras.

“Perante esta situação, é essencial o alargamento do prazo de execução por mais dois anos para que o nosso País possa aproveitar os fundos associados ao Mecanismo de Recuperação e Resiliência e colocá-los ao serviço das respostas aos problemas na habitação, na saúde, nos serviços públicos. Desafiamos, por isso, em nome do interesse nacional, os outros deputados portugueses no Parlamento Europeu a acompanharem esta nossa proposta”, defende o eurodeputado João Oliveira.

A proposta comunista prevê “a extensão do prazo para utilização dos fundos associados ao Mecanismo de Recuperação e Resiliência (MRR) e respetivos planos nacionais (PRR) até agosto de 2028” e foi apresentada no âmbito da discussão do relatório sobre “A execução do Mecanismo de Recuperação e Resiliência”.

Habitação e saúde em risco

A iniciativa do PCP deverá ser votada esta quarta-feira e, na sua fundamentação, lembra precisamente os sucessivos alertas que dão conta das dificuldades de execução do plano que foi desenhado para ajudar à recuperação da economia europeia depois da pandemia de covid-19.

“A proposta tem em conta a execução do PRR em diferentes países, incluindo Portugal, e os alertas efetuados nos planos nacional e da União Europeia para o risco do prazo atualmente fixado para a execução do PRR poder conduzir ao desaproveitamento dos fundos, tendo, inclusive, o Tribunal de Contas da União Europeia chamado a atenção para esse risco num relatório publicado no final do ano de 2024”, notam os comunistas, frisando que não executar significa perder o dinheiro.

“A estes alertas, soma-se o relatório recentemente divulgado pela Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR que destaca que 33% das medidas previstas no PRR português estão em estado crítico ou preocupante, destacando-se aquelas em áreas tão importantes como a habitação ou a saúde, o que representa um risco de não recebimento de verbas associadas e de dificuldades na concretização dos projetos”.

O álcool esteve presente no meu dia a dia desde os 18 anos. Sempre foi algo normal”, começa por contar Vítor (nome fictício), oriundo de uma família “humilde e modesta”. A relação com o álcool foi aumentando, gradualmente e à medida da sua resistência e tolerância, até aos 40 anos. “Aguentava bem a bebida e, mais tarde, consegui perceber que poderia ter evitado o risco, mas o álcool é manhoso, está socialmente integrado, e a compulsão acaba por ser devastadora.”

Progressivamente, o alcoolismo foi-se instalando e pondo em causa o casamento, a relação com o filho e os empregos que ia tendo, um deles na Marinha. Na primeira vez que tentou ficar abstinente, fê-lo em resposta à mulher, que o ameaçou com o divórcio. “Na minha arrogância, tinha aquela ideia distorcida de que, deixando de beber, era ela quem ficava exposta, porque deixaria de ter razões para querer a separação. Eu ganhava bem, levava 160 contos para casa, e o álcool não era um problema”, conta.

Procurou ajuda no Centro Regional de Alcoologia do Sul, atual Unidade de Alcoologia de Lisboa, depois de um episódio que funcionou como um grande alerta. “Um dia, disse a um colega que ia ao café. Sentei-me por volta das 10 da manhã para beber uma imperial e fiquei colado ao balcão. Bebi mais uma e mais outra. Os meus colegas começavam a chegar para almoçar e eu continuava ali.” Foi visto por um médico, começou a tomar medicação e deixou de beber. Não contou nada em casa e assume que mantinha a arrogância de que agora é que ninguém lhe poderia apontar o dedo. “O médico dizia-me que eu era a negação com pernas.” Esteve dois anos sem beber até ter uma recaída.

Tudo à sua volta desmoronou: o casamento acabou, perdeu o emprego, ficou sem dinheiro e foi passar uma temporada com o irmão, aos EUA. “Fazia algumas paragens no consumo, passava um mês a beber sumos de laranja até ‘atinar’. Já de volta a Portugal, respondia a um anúncio, ia trabalhar, estava bem durante seis meses, recaía novamente e voltava a perder o emprego.” Era um círculo vicioso até chegar ao ponto em que tinha dinheiro para “uns copos”, mas ele não chegava para comer ou pagar a renda. “Numa altura em que devia ajudar os meus velhotes, acabava por lhes bater à porta porque não tinha onde ficar.”

Já sentia tremores nas mãos, mal conseguia agarrar no copo, mas continuava a beber. Tinha sido também alertado para o facto de ter o fígado gordo e em sofrimento, mas nada o fazia recuar. “Defendia-me sempre com a falsa ideia de que o fígado regenera. A doença dá-nos habilidade para justificar a compulsão”, partilha. Acabou por seguir a sugestão da mãe e foi internado no CRAS, durante um mês, e esteve oito anos em recuperação, com a ajuda de consultas de psicologia e de participação em reuniões nos Alcoólicos Anónimos.

Um problema de saúde pública

“O álcool é responsável por várias alterações no fígado e é um grave problema de saúde pública em Portugal”, alerta Rui Tato Marinho, diretor do serviço de Gastrenterologia e de Hepatologia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte e coordenador do Programa Prioritário das Hepatites Virais da Direção-Geral da Saúde (DGS). Estima-se que morrem, em Portugal, 2 500 pessoas por ano devido a doenças no fígado (cirrose e cancro) e, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, o nosso país é o décimo do mundo com maior consumo de álcool.

Dados do Plano Nacional de Saúde da DGS (2021-2030), que comparam as principais causas de morte e a percentagem de variação da taxa de mortalidade padronizada pela idade superior a 75 anos em Portugal, confirmam que as doenças crónicas do fígado constituem “a quarta causa de morte precoce”. Apesar dos dados, o fígado continua a ser um órgão muito desconhecido pela população, ainda que os números sejam preocupantes. “No nosso país, cerca de 70% das doenças do fígado devem-se ao álcool.”

Por ser de evolução lenta, a cirrose é a fase mais avançada da doença hepática alcoólica e um estado de maior desorganização e destruição do fígado. “Começa pela morte de células, inflamação, evolui para fibrose [cicatrizes] até chegar à fase em que surgem uns nódulos [caroços] que estão na base da cirrose. Esta pode definir-se como o meio caminho entre a inflamação e o cancro do fígado”, explica Rui Tato Marinho.

O diagnóstico pode ser tardio, porque há sinais muito inespecíficos. É uma verdadeira epidemia silenciosa, defende o médico. “Ou a pessoa faz umas análises ao sangue, e/ou uma ecografia abdominal, e descobre a doença por acaso ou, então, desenvolve sintomas em fases já muito avançadas”, frequentemente de forma irrecuperável, alerta.

Para uma identificação precoce da doença hepática alcoólica, o gastrenterologista defende a inclusão da ALT (alanina aminotransferase) nas análises de rotina, da mesma forma que acontece com o colesterol e o hemograma. “Felizmente, já há muitos médicos que prescrevem esta análise.” Recomenda-se ainda, pelo menos uma vez na vida, a realização dos testes das hepatites C e B.

A par das doenças do fígado, o álcool aumenta o risco de se vir a desenvolver cancros no aparelho digestivo, tumores malignos na laringe, alterações neurológicas, depressão, esquizofrenia, violência familiar, suicídio, homicídios ou acidentes de viação mortais. “A medicação principal é deixar de beber, mas o álcool é uma adição brutal e, em grande parte dos casos, os doentes não aderem à abstinência.”

Por outro lado, Rui Tato Marinho considera que o discurso deve passar a ser o de “redução de riscos”, uma vez que “a ideia de tolerância zero é irreal”. “O álcool é benigno e maligno ao mesmo tempo, tudo depende da quantidade que se ingere. Numa cirrose alcoólica, o mal já está feito. O doente tem de fazer uma ecografia, de seis em seis meses, para que um possível cancro no fígado seja identificado precocemente”, adverte. O risco de cancro é muito elevado, de 10% a 40% ao fim de 10 anos. “Continuar a beber agrava muito a cirrose e encurta a vida… Só se vive uma vez”, sublinha o hepatologista.

Fígado e cabeça

Patrícia António, psicóloga clínica e coordenadora na área de Redução de Riscos e Minimização de Danos da Unidade de Alcoologia de Lisboa (UAL), considera que é importante trabalhar com os doentes desde o início, indicando que a recaída vai fazer parte do processo de recuperação. “Se isso acontecer, somos as primeiras pessoas com quem eles devem falar. Não vamos estigmatizar, culpabilizar, mas entender a recaída como uma fonte de informação. Recaiu, ok, então vamos trabalhar de ‘mão dada’.”

Sendo esta uma doença sistémica, a abordagem multidisciplinar é essencial. Assim, o papel da psiquiatria e da psicologia pode fazer a diferença na minimização de riscos, antes de uma esperada e total abstinência. A UAL recebe pacientes reencaminhados de hospitais, de unidades de transplante ou referenciados pelo Ministério da Justiça. “Também há aqueles que nos procuram devido ao risco de divórcio e à pressão familiar, ou ainda os que são identificados pelas nossas equipas de rua que conseguiram motivá-los a procurar ajuda.”

Nos primeiros seis meses, a intervenção médica e psicológica acontece em conjunto e com o intuito de parar e de estabilizar consumos, porque “é nesta fase que há uma maior possibilidade de recaída”. Num caminho linear em ambulatório clássico, em que a pessoa está motivada e encontra um espaço seguro para enfrentar a sua relação com álcool, tratar-se e reorganizar-se pode exigir o seguimento regular durante dois anos, no mínimo.

Qual a taxa ideal de álcool no sangue?

Há mais de duas décadas que o gastrenterologista e hepatologista Rui Tato Marinho analisa a relação entre o alcoolismo e os acidentes na estrada, defendendo um limite de taxa de álcool no sangue de 0,2 mg/ml para os condutores, ou mesmo 0,0 mg/ml. “De 0,2 mg/ml para 0,5 mg/ml, o risco de acidentes mortais aumenta para o dobro, na população em geral, e 700% nalguns grupos de jovens (sexo masculino dos 16-20 anos)”, conclui, garantindo que este estudo se mantém atual. Nos países em que foi estabelecido um limite de taxa de álcool de 0,2 mg/ml, de forma geral ou restrita, em alguns grupos da população, “assistiu-se à redução da sinistralidade e da mortalidade rodoviária de forma significativa”. Um morto na estrada “é uma catástrofe e, em média, perdem-se cerca de 40 anos de vida”, alerta Rui Tato Marinho.

Passada a barreira semestral e havendo uma perceção dos benefícios associados à abstinência, “há maior possibilidade de o doente ser abordado do ponto de vista psicológico com maior profundidade”. É a psicoterapia que vai ajudar o paciente “a tomar consciência do seu problema, das consequências e dos benefícios que pode obter se reduzir ou suprimir totalmente o consumo”, explica Graça Vilar, assistente graduada de psiquiatria e diretora do Planeamento e Intervenção do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD).

Vítor percebeu-o numa segunda recaída, mais violenta. “A maneira como voltei a beber depois foi mais agressiva. De repente, ia ao supermercado logo cedo e, duas horas depois, já tinha despejado duas garrafas de vinho. Copo cheio, copo vazio; copo cheio, copo vazio”, descreve. Hoje reconhece as vezes em que o álcool adormecia a sua dor e as suas emoções. “Não tinha empatia, não sentia nada”, comenta. Viu na psicoterapia um “tratamento da alma” e uma forma de começar a tentar corrigir comportamentos, pensamentos e formas de estar.

Uma bebida por dia?

A abordagem terapêutica de um doente com perturbação do uso de álcool e com doença hepática em nada difere daquela que é realizada em pessoas sem esta condição, explica Graça Vilar. A única exceção diz respeito à “necessidade de uma maior valorização individual no caso do recurso a psicofármacos com metabolização hepática, os quais, consequentemente, podem contribuir para o agravamento da função hepática. Se a desintoxicação for imperiosa, deve-se, igualmente, ter em conta a doença hepática alcoólica e a coexistência de outras comorbilidades”.

É essencial envolver os familiares que, muitas vezes, sofrem em silêncio. “O alcoolismo é vivenciado, dezenas de anos, à porta fechada, numa família”, explica Patrícia António. Por vezes, é difícil desconstruir uma mensagem que se instalou, e esse trabalho cabe aos psicoterapeutas. “É que a doença não está no fígado, está no cérebro.”

A psicóloga clínica exemplifica algumas situações que servem de aviso: “Se a pessoa percebe que bebe mais do que anteriormente, já não se sente bem e considera que o consumo está a interferir nas suas rotinas, tem um problema associado ao álcool.” Quando não é a própria a pedir ajuda, por vezes é o meio externo – família, Justiça, colegas de trabalho.

Face à complexidade desta problemática, deve estar garantida a acessibilidade aos serviços especializados em comportamentos aditivos e dependências. “E deve também ser proporcionada ao doente uma diversidade de recursos terapêuticos, integrados e articulados em momentos simultâneos ou sucessivos, de acordo com o seu diagnóstico, as suas necessidades e as suas capacidades para se envolver num determinado projeto terapêutico”, refere Graça Vilar.

Há uma média de acordo com a qual se considera que o consumo de álcool é tóxico. Rui Tato Marinho sublinha que o que se defende atualmente é que, “a partir de uma bebida por dia, de forma continuada e ao longo dos anos, o risco de complicações aumenta”. Este depende ainda da história clínica e da quantidade de álcool que se bebe diariamente. “Se não se beber em alguns dias da semana, tanto melhor.” Por outro lado, a precocidade dos consumos leva à precocidade da doença. “Chegamos a receber pessoas com 30 anos e já com cirrose”, alerta Patrícia António.

Além do tratamento farmacológico e não farmacológico, importa apostar na “reinserção sociofamiliar, laboral e na motivação para a adoção de um ‘novo estilo de vida’, assente numa futura abstinência alcoólica total”, defende Graça Vilar.

Vítor, hoje com 60 anos, está há quase uma década sem beber. “Esta é uma doença sistémica que afeta os colegas de trabalho, a família, os vizinhos. O aumento da sinistralidade, da violência doméstica, da criminalidade: tudo isto está relacionado com o álcool”, afirma.

Também ele tem tentado ajudar os outros. Mudou de trabalho, curou-se da hepatite C, apostou numa nova relação. “Mudei de casa, ganho pouco mais do que o ordenado mínimo, mas sinto-me feliz. Recuperei bem também ao nível físico e, hoje, posso afirmar que tenho a minha vida organizada”, remata.

Como saber se já passou o risco?

A psiquiatra Graça Vilar explica quais os sinais de que o limite está a ser ultrapassado, ainda que “as suscetibilidades individuais face ao consumo de álcool sejam muito variadas”

“Aguenta” cada vez mais o álcool, isto é, bebe maiores quantidades sem que se note aparentemente os efeitos da embriaguez. Isto acontece porque vai criando tolerância.

Reduz o consumo ou deixa de beber bruscamente e sente um mal-estar físico e psíquico, correspondendo a sintomas de abstinência (tremor nas mãos, náuseas ou vómitos, irritabilidade, ansiedade), que se atenuam ou desaparecem se voltar a beber bebidas alcoólicas.

Em algumas ocasiões, esforça-se por diminuir ou controlar o uso de álcool, inclusive tenta deixar de beber por si mesmo, mas não consegue.

Verifica alterações importantes nas atividades sociais, recreativas ou ocupacionais. Tanto em casa como no trabalho, torna-se difícil cumprir com as obrigações e passam a ser frequentes conflitos nas relações interpessoais.

Tem uma necessidade ou forte desejo incessante de beber, a despeito de todas as consequências negativas da alcoolização.

Consome em situações em que é fisicamente perigoso, como quando tem de conduzir ou manejar máquinas, quando padece de alguma doença que pode agravar-se com o álcool (doenças do fígado, do estômago, depressão, ansiedade) ou quando está grávida ou a amamentar.

 É frequente negar ou desvalorizar a dependência, minimizando o consumo de álcool.

Artigo publicado originalmente na VISÃO Saúde nº 22

O verão está aí e, como sempre, vem acompanhado de novas oficinas [link em “novas oficinas”: https://gulbenkian.pt/agenda/arquipelago-de-ideias-ilhas-para-arthabitar/] da Gulbenkian. Se, por um lado, as férias grandes são aquela altura do ano que todos aguardamos ansiosamente com grande expectativa, por outro, os longos dias sem nada para fazer podem tornar-se monótonos. E, podendo escolher, é sempre melhor sair de casa, fazer amigos e aprender coisas novas, em vez de passar tardes inteiras agarrado ao telemóvel – sim, nós sabemos que o telemóvel serve para aprender e para arranjar amizades, mas e o sol? Ah, pois é!

Agora que já nos entendemos, fica sabendo que na primeira quinzena de julho podes participar em dias oficinas. A primeira, que decorre de 30 de junho a 4 de julho, chama-se “Imagem por imagem – Uma viagem animada ao universo do CAM”; e a segunda, de 7 a 11 de julho, chama-se “Arquipélago de ideias – Ilhas para (Art)habitar”. Duas iniciativas que

Prometem pôr-te a pensar, a desenhar, a esculpir e a imaginar. As oficinas começam às 10h e terminam às 17h. Entre as 13h e as 14h30 és convidado a levar um almoço, em jeito de piquenique, que terás oportunidade de consumir no jardim. E não de incluir uns snacks para comeres a meio da manhã e à tarde.

Na oficina “Imagem por imagem – Uma viagem animada ao universo do CAM” vais mergulhar no maravilhoso mundo da realização e dos filmes de animação. Se as imagens em movimento te interessam, este programa é para ti. Ao longo da semana, utilizando as várias técnicas do cinema de animação – desenho, recorte e plasticina em baixo relevo – vais realizar um ou vários filmes inspirados nas obras dos artistas expostos no Centro de Arte Moderna (CAM). A oficina será dividida em três partes. Na primeira, introdução às técnicas e processo criativo no cinema de animação. Na segunda, visita às exposições e a partir destas, construção e escrita do argumento, pesquisas gráficas e plásticas, realização do storyboard e animação. Na terceira, pós-produção e sonorização do filme.

Já na oficina “Arquipélago de ideias – Ilhas para (Art)habitar” vais usar a imaginação, a escultura e o movimento para criar vários corpos e territórios nunca vistos: esta é uma oficina sobre ilhas, arquipélagos e seres imaginários! Usando a obra da artista Diana Policarpo como fonte de inspiração, vais poder construir ilhas repletas de possibilidades, pensando no seu espaço físico e nas suas características, mas também nos seus habitantes e na forma como eles interagem com o seu território. Depois, enquanto um dos grupos constrói tridimensionalmente o grande espaço da ilha, o outro grupo descobre de que formas, através do corpo e do movimento, se pode interagir com este novo mundo imaginado. Só no fim, conjugando a vontade coletiva e partilhada, é que este novo mundo se revela.

E assim se passam duas semanas de verão, muito bem passadas. Só não te esqueças de levar água e protetor solar.

Os mosquitos são uma fonte de propagação de doenças e têm conseguido evadir-se a diversos sistemas e mecanismos de controlo de população. A engenharia genética de uma doença sexualmente transmissível naquela espécie pode representar uma grande ajuda.

Uma equipa de entomólogos da Universidade do Maryland aplicou bioengenharia num fungo mortal para a espécie de mosquitos Anopheles, responsável pela disseminação da malária. O fungo chamado Metarhizium produz uma neurotoxina específica para os insetos e que resulta na morte das fêmeas destes mosquitos. A estratégia dos investigadores passou por pulverizar os machos com esporos fúngicos modificados e criar assim uma doença sexualmente transmissível.

A estirpe natural do fungo não resultava em taxas de mortalidade baixas na população, pelo que os cientistas usaram conhecimentos de engenharia genética para a modificar. Nos testes de campo realizados no Burkina Faso, concluiu-se que quase 90% das fêmeas acabaram por morrer nas duas semanas depois de terem tido relações sexuais com os machos infetados, bastante acima dos 4% registados pela estirpe natural. Outra conclusão interessante é que a presença do fungo não impediu o desejo sexual das fêmeas em copular com os machos infetados.

O fungo transgénico é inofensivo para os humanos e, nos machos de mosquitos, permanece transmissível durante 24 horas, o que é suficiente para infetar múltiplas parceiras, explica o New Atlas.

Raymond St. Leger, co-autor do estudo, salienta que “ao contrário dos pesticidas e de outros mecanismos de controlo químico a que os mosquitos podem desenvolver resistências, este método usa a própria biologia do mosquito para a entrega do agente de controlo”.

Os mosquitos e outros parasitas desenvolvem resistências a tratamentos químicos e outros produtos antimalária, pelo que uma solução que assenta no próprio comportamento sexual da espécie, sem resistências, pode ser uma solução para o controlo da população e, por conseguinte, para evitar a disseminação de doenças.

66 mortos, meio milhar de casas e 50 empresas destruídas, centenas de feridos. Mais de dois terços das vítimas mortais (47 pessoas) seguiam em viaturas e ficaram cercadas pelas chamas na Estrada Nacional 236-1, entre Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, no interior norte do distrito de Leiria, ou em acessos àquela via.

Estimativas feitas pouco tempo depois dos incêndios apontavam para que os prejuízos provocados na floresta ultrapassassem os 83 milhões de euros, enquanto os danos em habitações ascendiam a mais de 27,6 milhões de euros, na indústria e turismo a perto de 31,2 milhões de euros, na agricultura a 20 milhões de euros e noutras atividades económicas a mais de 27,5 milhões de euros.

Palavras-chave:

Uma análise do Imovirtual revela que, apesar do aumento generalizado dos preços no mercado residencial, nalgumas cidades é possível comprar uma casa com piscina a valores acessíveis. Este tipo de imóveis representa mais um de quarto (27%) dos anúncios disponíveis no País.

Em maio de 2025, as cinco cidades mais baratas para comprar casa com piscina foram:

  • Castelo Branco (272.321€)
  • Coimbra (296.403€)
  • Leiria (372.496€)
  • Viana do Castelo (390.426€)
  • Santarém (391.830€)

Estes distritos, maioritariamente localizados no interior e região centro do País, destacam-se não apenas pelos preços médios mais acessíveis, mas também por apresentarem uma diferença significativa quando comparados com outras zonas, especialmente com os grandes centros urbanos.

Em contraste, as cinco localizações mais caras para comprar casa com piscina foram:

  • Faro (824.100€)
  • Lisboa (778.586€)
  • Ilha da Madeira (704.894€)
  • Braga (699,748€)
  • Setúbal (661,032€)

O Imovirtual atribui estes preços mais elevados à localização privilegiada, maior procura e, em alguns casos, uma oferta mais exclusiva e direcionada para o segmento premium.

As maiores discrepâncias ente valores de casas com e sem piscina registam-se em zonas como Braga, onde as casas com piscina custam, em média, 179% mais do que as casas sem piscina, e Santarém, onde a diferença atinge cerca de 98%, o que reflete uma valorização significativa deste tipo de imóveis nestas regiões.

A nível nacional, o preço médio das casas sem piscina aumentou de 229,860 8€ em maio de 2024 para 261,100€ em maio de 2025, o que representa uma subida de aproximadamente 14 por cento. Já as casas com piscina registaram uma variação similar passando de 436,613€ para 494,512€ no mesmo período.

Como se antecipava, 2025 tem sido um ano marcado por uma incerteza e volatilidade elevadas, tornando qualquer exercício de projeção económica muito complicado. Vários fatores contribuem para isto, mas, naturalmente, deve ser destacado o aumento sem precedentes da incerteza associada à política comercial. O ironicamente chamado Liberation Day (que, no início de abril, levou a tarifa média cobrada às importações feitas pelos EUA para máximos de mais de 100 anos) gerou uma reação muito adversa nos mercados e, algo mais preocupante, gerou a perceção de que os investidores estavam a deixar de olhar para os EUA como um destino de investimento atrativo e seguro.

A Administração Trump tem, ainda, em cima da mesa, processos de investigação sobre práticas comerciais em alguns setores, com destaque para o farmacêutico, que poderão dar origem a novas tarifas

É habitual repetir-se a frase “Sell in May and go away”. Mas, este ano, o mês de maio acabou por trazer uma melhoria do sentimento e um aumento da propensão ao risco nos mercados. Depois dos mínimos do ano observados na primeira semana de abril, os principais índices acionistas norte-americanos anularam as perdas registadas no mês e, também, year-to-date. Para esta evolução contribuíram os diversos sinais de recuo da Administração Trump no que respeita às tarifas, incluindo (i) a suspensão, por 90 dias, das tarifas recíprocas bilaterais; (ii) a isenção de tarifas sobre alguns produtos importados da China, como smartphones; (iii) a suspensão temporária de algumas tarifas sobre o setor automóvel; (iv) o anúncio de negociações comerciais bilaterais com alguns países, já concretizado num princípio de acordo comercial entre os EUA e o Reino Unido; e, last but not least, (v) o anúncio, em Genebra, de um enquadramento para negociações comerciais entre os EUA e a China, incluindo a suspensão, por 90 dias, das “tarifas recíprocas” impostas pelos dois países. Mais do que os factos em si, o mercado terá valorizado, sobretudo, a ideia de que a Administração Trump será mais sensível aos impactos adversos de algumas das suas propostas iniciais e de que tenderá, assim, a seguir políticas mais market-friendly.

O que se segue, então? É razoável assumir que, com estes recuos, os riscos de recessão, ou de estagflação se atenuaram na economia norte-americana. Contudo, deve ser notado que, ainda assim, persiste um quadro mais protecionista, com os EUA a manterem tarifas mínimas de 10% face à generalidade dos países ou de 30% face à China – em qualquer caso, um aumento significativo face ao passado recente. A Administração Trump tem, ainda, em cima da mesa, processos de investigação sobre práticas comerciais em alguns setores, com destaque para o farmacêutico, que poderão dar origem a novas tarifas. Neste sentido (e não se sabendo também o que poderá acontecer ao fim dos 90 dias de suspensão das “tarifas recíprocas”), a permanência de um quadro de incerteza e as disrupções já introduzidas nas cadeias de abastecimento e de produção deverão contribuir para algum abrandamento da atividade e para alguma pressão inflacionista, que deverá ser mais visível nos EUA a partir de junho-julho (vários retalhistas norte-americanos alertaram já para isto). A estes riscos acresce uma possível reação adversa do mercado à eventual aprovação, no Congresso dos EUA, de legislação orçamental aumentando o défice federal e os limites da dívida de forma significativa. Perante este quadro, o Fed deverá manter-se paciente no que respeita ao corte dos juros de referência, mantendo, nos próximos meses, uma postura de wait and see. Já na Zona Euro, para já, os impactos das tarifas dos EUA tenderão a ser, sobretudo, desinflacionistas, via choque negativo sobre a procura. Eventuais pressões em alta sobre os preços poderiam advir de tarifas retaliatórias (até agora inexistentes) e de alguma perturbação nas cadeias de abastecimento. Assim, e com um crescimento da atividade ainda baixo (mesmo que resiliente), o BCE deverá manter um easing bias, podendo cortar os juros de referência (pelo menos) mais uma ou duas vezes neste ciclo.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.