“Isto deveu-se a uma quebra nos inventários das empresas e aos prazos de entrega mais curtos, o que anulou as expansões nas novas encomendas e no emprego”, lê-se no estudo.
Este índice tinha subido em fevereiro (50,7 pontos), pela primeira vez em cinco meses, registando então o maior crescimento desde julho de 2023, mas voltou em março a terreno negativo (49,7 pontos).
No estudo aponta-se, ainda assim, para “níveis estáveis de atividade empresarial em março”, depois de fevereiro “ter assistido à primeira recuperação mensal desde outubro de 2023”.
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“O declínio no crescimento de novos negócios fez com que as empresas deixassem os seus volumes de produção inalterados, e registassem um menor grau de confiança em relação à previsão para o próximo ano”, acrescenta-se.
Contudo, as empresas “continuaram a aumentar os seus níveis de emprego e a atividade de aquisição em março”, e as expansões “ajudaram as empresas a reduzir o seu trabalho pendente, após um aumento em fevereiro”.
“Os preços dos meios de produção subiram pelo segundo mês consecutivo, mas a taxa de inflação permaneceu fraca. Os preços de venda continuaram a aumentar a um ritmo ligeiro”, aponta-se ainda.
Indicadores do PMI acima de 50,0 pontos apontam para uma melhoria nas condições das empresas em relação ao mês anterior, ao passo que indicadores abaixo desse valor mostram uma deterioração.
Citado no estudo divulgado hoje, Fáusio Mussá, economista-chefe do Standard Bank Moçambique, comentou que a “produção permaneceu inalterada em março, mas os níveis de stock das empresas caíram, o que aponta para uma fraca procura agregada, mas também para constrangimentos do lado da oferta”.
“O PMI de março sinaliza uma fraca atividade económica no final do primeiro trimestre deste ano, com contrações nos setores da manufatura e do comércio, mas com a agricultura e os serviços em geral a crescerem. O subíndice de expetativas futuras permaneceu em território positivo, mas registou uma descida para um mínimo de seis meses em março, o que sugere que os fenómenos climáticos recorrentes, assim como os atrasos na implementação dos projetos de gás natural liquefeito (GNL) em Cabo Delgado têm impactado a confiança dos empresários”, descreve Mussá.
O Purchasing Managers Index (PMI) publicado mensalmente pelo Standard Bank resulta das respostas de diretores de compras de um painel de cerca de 400 empresas do setor privado.
Em conferência de imprensa após o encontro, Lavrov afirmou que um dos temas discutidos durante as reuniões foi a questão d e como “alcançar a paz e a estabilidade na Ásia – Pacífico”, apesar dos “esforços dos Estados Unidos para criar uniões políticas dirigidas contra a Rússia e a China”.
De acordo com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, este comportamento de Washington é “contra os seus próprios interesses e contra os dos seus aliados”.
“O mundo de hoje está longe de ser pacífico, há agitação e caos em muitas áreas”, disse Wang, que apelou à “defesa do verdadeiro multilateralismo, evitando qualquer tentativa de confronto na Ásia – Pacífico.
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Estas declarações surgem numa altura de tensão na região devido ao início iminente do mandato do presidente eleito de Taiwan, William Lai (Lai Ching-Te), descrito como um “agitador” por Pequim, e às disputas territoriais entre a China e as Filipinas no Mar do Sul da China.
Lavrov afirmou que a questão de Taiwan, ilha cuja soberania é reivindicada por Pequim, é um “assunto interno da China” e que qualquer intervenção externa é “intolerável”.
Manter boas relações com Moscovo é vista por Pequim como crucial para contrariar a ordem democrática liberal dominada pelos Estados Unidos e países aliados. É também uma forma de assegurar estabilidade na fronteira terrestre com a Rússia, que tem mais de 4.300 quilómetros de extensão, e fornecimento estável de energia.
Esta condição permite a Pequim concentrar recursos nas áreas costeiras e mares circundantes, onde os Estados Unidos mantêm várias bases militares em países aliados, segundo analistas de política externa chineses.
A China quer afirmar-se como a principal potência no leste da Ásia e diluir o domínio geoestratégico norte-americano na região. A reunificação de Taiwan, localizado entre o Mar do Sul da China e o Mar do Leste da China, no centro da chamada “primeira cadeia de ilhas”, é um objetivo primordial no projeto de “rejuvenescimento da nação chinesa”, lançado pelo Presidente chinês, Xi Jinping.
As reivindicações territoriais sobre Taiwan e o Mar do Sul da China suscitaram tensões entre Pequim e quase todos os países vizinhos, desde o Japão às Filipinas. A crescente assertividade da China no Indo-Pacífico levou já à formação de parcerias regionais lideradas pelos Estados Unidos, incluindo o grupo Quad ou o pacto de segurança AUKUS, que propôs esta semana a inclusão do Japão.
Lavrov, que chegou à China na segunda-feira, encontra-se no país asiático para uma visita oficial de dois dias a convite de Wang e que, segundo a imprensa chinesa, poderá servir de prelúdio à primeira visita ao estrangeiro do Presidente russo, Vladimir Putin, após a sua reeleição, uma possibilidade avançada pelos órgãos de comunicação internacionais para o próximo mês de maio.
JPI // SB
Em declarações à agência Lusa, a meteorologista Mara João Frada explicou que a massa de ar frio que está atualmente no continente vai ser substituída gradualmente por uma massa de ar quente, tropical.
“Vamos ter a imposição de uma corrente de leste que vai trazer a circulação de ar tropical, afetando Portugal continental. Estão previstas temperaturas acima da média superiores a 10 graus, com exceção do Algarve”, disse.
De acordo com a meteorologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), para hoje já está prevista uma pequena subida da temperatura, entre 02 a 04 graus, em especial nas regiões do interior.
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“Na quarta-feira as temperaturas sobem mais um pouco, na ordem dos 04 a 07 graus, exceto no Algarve, e na quinta voltam a subir. No cômputo geral vamos ter subidas em alguns locais da ordem dos 15 graus”, disse.
De acordo com Maria João Frada, esta situação de tempo quente acima da média para a época do ano vai manter-se pelo menos até domingo.
“Assim, a partir de quinta-feira os valores da temperatura máxima vão variar entre os 25 e os 28 graus, eventualmente inferiores em toda a faixa costeira e no Algarve, sendo inferiores a 25 graus. No Vale do Tejo, em alguns locais do Vale do Douro (parte mais interior) e Alto Alentejo são separadas temperaturas de 30 graus”, adiantou.
Segundo a meteorologista, estes valores da temperatura máxima estão acima da média e vão começar a contribuir para uma onda de calor nas estações do IPMA a partir de quinta-feira, com exceção do Algarve.
“A Madeira também terá uma situação de tempo quente. Será afetada por uma corrente de leste, inserida na circulação do mesmo anticiclone que afeta Portugal continental, que terá também transporte relativamente quente para este época do ano vinda do norte de África”, adiantou.
A meteorologista do IPMA indicou ainda que no arquipélago da Madeira as temperaturas máximas sobem consideravelmente a partir de quarta-feira ficando perto dos 30 graus, não se excluindo poderem ser emitidos avisos de tempo quente.
DD // SB
Uma carreira destruída, o desgaste emocional e os custos financeiros na procura por justiça. Sim, o ónus de um despedimento ilegal na vida de um trabalhador pode ser elevado, mesmo que a Lei assegure mecanismos que podem reverter a situação. Quais e como? A resposta é dada por Ricardo Rodrigues Lopes, Advogado e Sócio do departamento de Laboral, na rúbrica “Verdade e Consequência”, uma parceria entre a revista Visão e a Caiado Guerreiro, Sociedade de Advogados.
A relação entre empregadores e trabalhadores é regulada pelo Direito do Trabalho, que gere os direitos e deveres de ambas as partes numa relação laboral. Contratação de trabalhadores, reestruturações de empresas, transferências de locais de trabalho, processos judiciais, segurança social ou despedimentos, indemnizações por despedimento e todo o tipo de questões relacionadas com a contratação coletiva são alguns dos temas onde o Direito do Trabalho é fundamental.
Verdade e Consequência é uma parceria entre a revista VISÃO e a Caiado Guerreiro, Sociedade de advogados. O conteúdo desta informação não constitui aconselhamento jurídico e não deve ser invocado nesse sentido. Aconselhamento específico deve ser procurado sobre as circunstâncias concretas do caso.
“Temos 98 óbitos até ao momento e 16 sobreviventes. As buscas foram retomadas”, disse esta manhã à Lusa a porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) na província de Nampula, Rosa Chauque.
Acrescentou que entre os 98 óbitos confirmados, 32 são do sexo masculino e 66 do sexo feminino. Entre estes, há 55 crianças, segundo os dados da PRM.
As vítimas morreram na sequência do naufrágio de uma pequena embarcação sobrelotada que saiu do posto administrativo de Lunga com destino à Ilha de Moçambique.
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De acordo com as autoridades marítimas moçambicanas, a embarcação de pesca não estava autorizada a transportar passageiros nem tinha condições para o efeito e as pessoas que transportava fugiam a um surto de cólera no continente, com destino à Ilha de Moçambique, tendo o naufrágio acontecido a cerca de cem metros desta costa.
O Governo moçambicano anunciou que vai reunir-se hoje para discutir medidas para “minimizar o impacto” deste acidente.
“O Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, recebeu com profunda tristeza a notícia do naufrágio de uma embarcação que saía do posto administrativo de Lungo, no distrito de Mossuril, com destino a Nacala, que provocou a morte de mais de cem cidadãos”, lê-se num comunicado divulgado na segunda-feira pela Presidência da República.
O chefe do Estado enviou uma delegação governamental, liderada pelo ministro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala, para prestar “ajuda aos sobreviventes, e seu encaminhamento, assim como para a investigação, a fim de se aferir as razões que deram origem a esta tragédia”, acrescenta a Presidência.
“Importa referir que, logo após o chefe do Estado ter tomado conhecimento desta tragédia, orientou as entidades provinciais a diversos níveis para mobilizar equipas de salvamento e de análise da situação. Mediante esta tragédia, o Governo moçambicano reunir-se-á amanhã [terça-feira] para avaliar a situação e tomar medidas necessárias para minimizar o impacto deste incidente”, refere-se no comunicado.
O ministro dos Transportes e Comunicações moçambicano anunciou na segunda-feira, num encontro multissetorial em Nampula para analisar este incidente, que as autoridades estão a fazer uma “reflexão” sobre este naufrágio, para “que isto nunca volte a acontecer”.
“Reflexão sobre o que aconteceu, o que não deve acontecer e como é que nos vamos posicionar daqui para a frente, para que o aconteceu não volte a acontecer. Estamos todos aqui para fazer essa reflexão”, afirmou Magala.
É necessário “trocar impressões sobre o que aconteceu e não deve acontecer daqui para a frente”, insistiu o governante, depois de manifestar solidariedade às famílias das vítimas do acidente.
O presidente da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, oposição), Ossufo Momade, também se mostrou “profundamente consternado” com o naufrágio e pediu luto nacional.
“Exigimos que o Governo decrete luto nacional e que este momento seja reconhecido pelas autoridades como mais um sinal de negligência e falta de segurança públicas”, escreveu Ossufo Momade, na sua conta oficial na rede social Facebook.
“Ficámos bastante comovidos e preocupados ao saber que a embarcação em causa é de pesca e não estava vocacionada para o transporte de pessoas o que nos leva a uma reflexão sobre a necessidade da segurança marítima”, acrescentou o líder do maior partido da oposição.
Os médicos que integram as juntas médicas passam a partir de segunda-feira a ter acesso direto à informação clínica do utente, que deixa de precisar de ir ao médico de família pedir o relatório médico, foi hoje anunciado.
Segundo a Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS), o tempo que os médicos perdiam na consulta apenas para emitir o relatório para o utente levar à junta médica pode melhorar o acesso dos doentes aos cuidados de saúde.
Este pedido recorrente de relatórios atualizados ao médico de família, feito pelo utente, “gerava idas evitáveis deste à sua Unidade de Saúde e consumo desnecessário de consultas de Medicina Geral e Familiar”, indica.
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Esta desburocratização das verificações de baixas médicas entra em vigor a partir de dia 15, segunda-feira, depois de realizada a formação aos médicos que integram as juntas da Segurança Social.
A DE-SNS refere que a formação irá abranger um universo de cerca de meio milhão de declarações que são emitidas todos os anos.
“São aproximadamente 500.000 consultas que ficarão disponíveis para doentes que necessitem realmente de avaliação pelo seu médico de família, aumentando o acesso em tempo útil ao SNS”, acrescenta.
Citado no comunicado, o diretor executivo do SNS lembra as outras medidas levadas a cabo para desburocratizar o sistema, como a autodeclaração de doença, a possibilidade de emissão de certificados de incapacidade temporária (baixas) nos serviço de urgência e nas instituições de saúde privadas e sociais e o aumento o período de baixa para situações oncológicas, cardiovasculares e cirúrgicas.
Recorda ainda o aumento da validade das receitas e dos exames para 12 meses e a criação do mecanismo de acesso de medicamentos para doenças crónicas de forma simples nas farmácias comunitárias, lembrando que estas passaram ainda a fazer a vacinação sazonal (gripe e covid-19).
“As medidas de simplificação administrativa, que eram há mais de 10 anos reclamadas pelos médicos e utentes, foram implementadas num ano, com impacto significativo: presume-se que serão anualmente mais de dois milhões de consultas médicas evitadas apenas para resolver questões burocráticas”, sublinha Fernando Araújo.
SO // SB
O género epistolar está de volta. Substituído, nos últimos anos, pelos SMS, WhatsApps, emails e afins, eis que o clássico meio de comunicação – “a forma mais concreta de diálogo que não anula inteiramente o monólogo”, tal como ensinou Vergílio Ferreira, na Carta ao Futuro – ressuscitou através de Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro. Talvez este seja um sinal de que o papel está de regresso às escolas.
Pedro Nuno Santos abriu caminho à troca de correspondência, manifestando “interesse” em “trabalhar em conjunto com o governo” para um “acordo” que “permita encontrar soluções, se necessário em sede de orçamento retificativo, para um conjunto de matérias sobre as quais existe um amplo consenso político”. É preciso ler mais um pouquinho para se perceber o que, de facto, pretende o líder do PS: a valorização das carreiras dos trabalhadores da Administração Pública, desde profissionais de saúde, polícias, oficiais de justiça e professores. Sobre os últimos, Pedro Nuno Santos disse estar disponível para apoiar a “recuperação da totalidade do tempo de serviço”. “Com os melhores cumprimentos”, terminou.
No mesmo dia, e sem que se verificasse qualquer atraso nos CTT, Luís Montenegro respondeu, saudando a iniciativa do PS, mas sublinhando que “o tempo e o modo de condução desses processos negociais serão, obviamente, definidos pelo governo”. Além dos habituais “melhores cumprimentos”, o primeiro-ministro acrescentou uma “estima pessoal” na frase de despedida, algo que faltou a Pedro Nuno Santos.
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Como no atual quadro parlamentar, todos querem, de alguma forma, participar, André Ventura classificou a troca de missivas como um “arrufo de namorados”, enquanto Rui Rocha anotou que uma parte do País “ficou de fora” da troca de correspondência.
Seja como for, amanhã, quarta-feira, o governo vai apresentar o seu Programa, documento que será debatido e votado, entre quinta e sexta-feira, no Parlamento, já com uma moção de rejeição anunciada por parte do PCP.
A expedita troca de cartas acabaria por ser ofuscada pela apresentação do livro “Identidade e Família — Entre a Consciência da Tradição e As Exigências da Modernidade”, que reúne vários textos de 22 personalidades, desde os mais moderados a João César das Neves e Gonçalo Portocarrero de Almada (padre). O primeiro, um génio ambulante, lê-se, contesta a “certeza” de que “ao longo dos séculos a mulher foi sucessivamente oprimida e desprezada”, argumentando que, se assim foi, elas “nunca se queixavam ou manifestavam o seu desagrado”.
O “nós contra eles”, tão presente nos tempos que correm, pode minar a visão iluminista do ser humano. Mais: há um movimento a contribuir para isso, correndo o risco de comprometer o universalismo, a distinção entre poder e justiça e a crença no progresso. Quem o afirma é uma mulher destemida e com créditos firmados na academia.
Em A Esquerda Não É Woke (Presença, 176 págs., €14,90), a filósofa norte-americana, com cidadania judaica e radicada em Berlim, desvenda as contradições de quem reclama justiça social e racial, mas adotando atitudes extremistas que não só refletem uma visão linear do mundo como em pouco ou nada contribuem para as mudanças urgentes de que o planeta precisa hoje.
Nascida em Atlanta, há 68 anos, formada em Harvard e autora de obras de filosofia e política com impacto social, Susan continua a ser um espírito inquieto. Na adolescência, trocou o ensino secundário pelo movimento contra a guerra no Vietname e, nos efervescentes anos 80, viveu na cidade alemã que é hoje a sua casa.
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Com três filhos adultos e uma carreira universitária entre dois continentes – lecionou em Yale e Telavive –, Susan dirige o Fórum Einstein, em Potsdam, na Alemanha. Nesta quinta, 7, vai estar em Lisboa para lançar o livro e conversar com Ricardo Araújo Pereira, na Fundação Calouste Gulbenkian.
Na videochamada com a VISÃO, que aconteceu no dia da morte de Navalny, a socialista assumida mostrou-se uma voz a favor do melhor que a natureza humana pode ser.
Porque decidiu avançar com este manifesto agora? Porque entendo que atravessamos um perigo enorme com a ascensão do protofascismo à escala mundial. É muito interessante a forma como a direita é muito boa – e tem feito isso ao longo de anos – a fazer encontros para partilha de táticas e estratégias, como fez o Steve Bannon num castelo, em Itália, da mesma forma que Narendra Modi [primeiro-ministro da Índia] e Netanyahu se encontraram e rodearam de figuras radicais. Todas as pessoas que são perigosamente de extrema-direita têm uma enorme facilidade em dialogar e entender-se, enquanto, do outro lado do espectro político, acontece o contrário, e isso está ligado ao movimento woke. Tenho ouvido várias pessoas, em diferentes países, que se questionam sobre se serão de esquerda, porque não se identificam com os excessos woke. Há aqui uma confusão, e é preciso esclarecê-la. Quem se considera progressista deveria formar uma frente unida sem se perder na política simbólica.
O que é, ao certo, ser woke? Penso que o woke é um conceito incoerente, pois assenta num conflito entre sentimentos e ideias. As emoções woke, que partilho, são tradicionalmente associadas à esquerda liberal: ser a favor das pessoas oprimidas e marginalizadas, querer corrigir os crimes da História ou, pelo menos, reconhecer que existiram. Porém, estas emoções foram minadas por pressupostos reacionários, pertencentes à direita. No livro, apresento três e dedico um capítulo a cada um.
Um deles é o conceito de “tribo”. Pode exemplificar? A direita sempre acreditou que só se têm vínculos profundos com a tribo de que se faz parte; por isso, existem obrigações a manter face a ela. Tradicionalmente, significa “origem étnica” e, mais tarde, passou a incluir as questões de género. Quando surgiu a sigla que hoje conhecemos por LGBTQIA+, ela era conotada com ser gay, um termo que, na língua inglesa, também é sinónimo de “alegre”. Lembro-me de um amigo que, há 40 anos, saiu do armário e me disse que pertencia à “gaity”, o grupo das pessoas felizes. Cada grupo sentiu necessidade de ter uma letra a identificar a sua tribo.
Porque é que isso começou a ser problemático? A esquerda tradicional sempre defendeu a possibilidade de se ter ligações profundas com pessoas que não fazem parte da tribo, mas o tribalismo woke assumiu uma visão reacionária do mundo. Não acredito que as nossas identidades sejam redutíveis à origem étnica e ao sexo, duas dimensões que não escolhemos, quando há uma multiplicidade de outras que podemos escolher e criar. Ou seja, reduzir aquilo que somos ao “o que o mundo nos fez” é um empobrecimento da autoimagem humana. Além disso, facilita a vida ao setor empresarial, em termos de imagem, porque sai bem mais barato contratar algumas mulheres, ou gays, ou pessoas de cor para ficar com uma boa imagem no mercado.
Que alternativas propõe? Costumo desafiar as pessoas a enumerar dez qualidades que consideram importantes na sua identidade. É mãe, ou pai, ou uma criança? Qual é a sua profissão? Qual a sua orientação política? Tem paixão pela música? A resposta a estas questões é crucial para entendermos quem somos. Muitas destas dimensões são escolhidas por nós, e eleger uma ou duas como essenciais é, no meu ponto de vista, um grande erro. Por vezes, é necessário encarar as coisas numa perspetiva racial ou sexual, mas reduzi-las a isso é absolutamente reacionário.
Como explica que essa visão, que lhe merece críticas, esteja a ser tão influente? O problema tem raízes profundas, e, se tivesse de escolher uma data, recuaria até ao ano de 1991, quando o projeto de um Estado socialista colapsou. Não quero com isso dizer que morreu, porque continua a existir sob várias formas. A ideia de só haver um tipo de socialismo que desagua no Gulag, em que tudo é visto a cinzento e destituído de cor, é disparatada, até porque também existem vários tipos de capitalismo. Naquela altura, todas as forças, da economia à política, passando pela cultura popular, se alinharam em torno de uma mensagem comum, que nos transmitiram: não havia uma alternativa ao neoliberalismo global.
Apenas no mundo ocidental ou de forma generalizada? Em todo o lado. Aconteceu, seguramente, na Índia, na Rússia, na China. O comunismo tem as piores características do capitalismo. Pode dizer-se que é um fenómeno internacional. Já não há um anseio comum que possa unir as pessoas, ou só acontece para adquirir o último modelo do Iphone. O ideal de uma sociedade mais justa foi descartado como se não passasse de uma fantasia, um desejo infantil. E vimos aonde é que isso conduziu.
O ano de 1991 marcou, no seu entender, o fim de uma era, em termos ideológicos? Nos anos que se seguiram ao desmoronamento da União Soviética, ainda não havia a noção de que a única forma possível de continuar era pela via neoliberal. Hoje, o que temos em comum é o desejo de possuir coisas, e parece que alcançar essa meta é a única forma de não andarmos a lutar uns contra os outros.
Devo dizer que estou chocada com o facto de Portugal e Espanha não terem reconhecido os milhões de atos sangrentos cometidos no seu passado colonialista, o que é muito problemático para uma cultura
Porém, autores como Yuval Harari sublinham que evoluímos, enquanto espécie, através da partilha de uma ficção comum. Eu não leio as obras dele. É um filósofo pop, e não sou fã [pausa]. Talvez um dia…
A mensagem de que o socialismo falhou deu lugar à cultura de cancelamento e ao movimento woke, que tem um toque reacionário. É assim? Talvez mereça a pena voltar àquilo que referi antes. O que perdemos depois de 1991 não foi apenas a ideia do socialismo, mas a ideia de que os seres humanos são motivados por qualquer visão de uma sociedade justa, algo que poderíamos, todos, partilhar. Com o neoliberalismo, impôs-se o desejo de consumir, de acumular coisas. Houve pessoas que ficaram indignadas com essa visão do ser humano. Lembro-me de um slogan sarcástico dos anos 90 e que passo a citar: “Aquele que morrer com mais brinquedos ganha o jogo.” [afirmação atribuída a Malcolm Forbes, proprietário da revista com o seu nome, promotor do capitalismo e célebre pelo estilo de vida extravagante e acumulação de bens.]
Hoje, no Ocidente, vemos movimentos contrários a esse, como o minimalismo. Não é assim tão grande, mas creio que vai aumentar, porque estamos a destruir o planeta. No meu livro, pretendo falar sobre o que é ser de esquerda hoje e só menciono a cultura de cancelamento uma vez. Podemos questionar os limites da liberdade de expressão, mas cancelar as ideias de alguém simplesmente porque se discorda delas é um método estúpido, pelo qual o movimento woke se expressa, que não representa a esquerda e merece críticas.
Essas críticas têm que ver com o reconhecimento e a reparação de erros cometidos no passado? Colonialismo, racismo, genocídio, enfim… É um tema muito vasto, e, há uns anos, dediquei-lhe um livro [Aprendendo com os Alemães, 2019, sobre a forma como estes expiaram as atrocidades nazis e que seria um modelo para a América, com um legado de escravatura e racismo]. Embora tenha sido um sucesso, à luz dos eventos que se seguiram, escrevi ensaios sobre isso, com outra leitura. A este respeito, devo dizer que estou chocada com o facto de Portugal e Espanha não terem reconhecido os milhões de atos sangrentos cometidos no seu passado colonialista, o que é muito problemático para uma cultura. Na Alemanha, o que correu mal foi a abordagem dogmática da sua História, encarando os judeus apenas como vítimas. No caso dos Estados Unidos da América, seriam os afro-americanos, que queriam reconhecer a profundidade do racismo, mas não dessa forma.
Talvez no registo do movimento Black Lives Matter, que ganhou tanta força? Não. Refiro-me ao afro-pessimismo, a ideia de que o progresso não é possível ou de que nada há a fazer, pois o problema está muito enraizado e faz parte do ADN da América.
Qual é o conceito do Fórum Einstein, em Potsdam, que está a ser dirigido por si? A seguir à reunificação da Alemanha, descobriu-se que havia, em Brandemburgo, uma casa em ruínas onde Albert Einstein gostava de estar e passou os momentos mais felizes da sua vida. Contrariamente ao que se pensava dele, não era autista nem solitário, e fazia tertúlias e serões musicais com amigos, algo que não era possível no seu emprego formal, na Academia de Ciências. Quisemos recriar estas conversas informais tomando o Iluminismo como ponto de partida para a realização de workshops, exposições e outros eventos.
Como encara o que está a acontecer agora no mundo? Quase todos os jornalistas me perguntam o que vai acontecer, e respondo da mesma maneira: sou uma filósofa, não sou profeta! Acredito que somos livres para mudar o mundo, apesar das tendências horríveis a que assistimos hoje. As pessoas sentem muita raiva e dor por razões que nem sempre conseguem identificar. Vivemos num mundo muito fodido, desculpe dizê-lo assim. Investem-se milhares de milhões a divulgar a última novidade que nos fará felizes, distraindo a nossa atenção de um problema que não é de agora. Vivemos num mundo sem sentido, cada vez mais consumista, nacionalista e à beira do colapso climático. E passamos a maior parte das nossas vidas a trabalhar para esquecer isso, porque nos sentimos absolutamente impotentes para mudar seja o que for.
A possibilidade de Trump voltar a ser eleito nas próximas eleições merece-lhe algum comentário? Talvez possa dizer algo sobre isso. Por exemplo, penso que o movimento woke foi responsável por atear os fogos do racismo e do sexismo de Donald Trump. Esses temas constituem alvos fáceis para Trump e toda a ala direita dos republicanos, que fazem chacota e os rejeitam.
Teremos condições para cumprir o ideal progressista que referiu? Ao longo da minha vida, testemunhei enormes mudanças no estatuto das mulheres, apesar do sexismo – embora a minha filha me diga que estamos a regredir –, e no combate ao racismo. Por isso, não acredito que seja impossível fazer mudanças. Penso que temos essas capacidades, contrariamente às filosofias niilistas, que limitam as nossas possibilidades e que condeno no meu novo livro.
A meta é libertar-se desse registo negativo e adotar uma postura diferente e, porventura, mais construtiva? É preciso deixar de ter medo de expressar outras visões e ter esperança. Nos anos 60, manifestei-me nas ruas contra a Guerra do Vietname, cheguei a ser presa por causa do slogan que levei, e acho que as pessoas devem manifestar-se se assim o entenderem.
Qual é a sua posição sobre isso? O otimismo é uma afirmação acerca de como o mundo é. Como o vejo num estado horrível, não posso considerar-me uma otimista, mas entendo que, nas atuais circunstâncias, ter esperança é uma obrigação moral.
Como vê as manifestações que pedem o fim das hostilidades e a libertação da Palestina? Sou judia e cidadã israelita e lecionei Filosofia, na Universidade de Telavive, durante cinco anos. Na altura, fui criticada pela minha posição crítica face à política do governo, que tem sido manter a ocupação da Palestina. Por outro lado, é bastante perturbador observar a forma como se comportam os chamados movimentos pró-palestinianos, que envolvem um registo tribal e parecem ser uma consequência do wokismo.
Porquê? Em entrevistas, quando questionados sobre o rio e mar do slogan [“From the river to the sea, Palestine will be free”], alguns manifestantes respondiam “mar Negro” [afluente do rio Amazonas, na América do Sul], outros, “mar Vermelho [no Brasil]” e outros, ainda, “rio Nilo” [risos]! Quem sabe tão pouco de Geografia não está em condições de perceber o conflito. É um cenário complexo: por um lado, o governo de Israel não aceita críticas sobre a guerra em Gaza ser antissemita, o que está errado; mas o preconceito contra os judeus é genuíno e está a aumentar. Tomar o partido de qualquer um dos lados é ver a questão como um jogo de futebol. Sou a favor dos Direitos Humanos e de apurar se estão a ser violados.
É, portanto, a favor de um cessar-fogo? Sim, e muitos israelitas também. Se fosse possível eliminar o Hamas sem matar civis, seria igualmente a favor, e o mesmo para a Al-Qaeda, em 2001. Mas todos sabemos que tal não é possível e que tem de se acabar com a matança de civis: é imoral e ilegal, e isso tem de parar. Para haver paz duradoura, os Estados Unidos da América têm de reconhecer o Estado da Palestina, e espero que Biden considere essa demanda, pois sei que há pessoas a pedirem-lhe que o faça. Vamos ver.
“O Ministro dos Negócios Estrangeiros Lavrov e eu tivemos uma troca de pontos de vista aprofundada sobre uma série de importantes questões internacionais e regionais, incluindo a Ucrânia e o conflito israelo-palestiniano”, disse Wang em conferência de imprensa.
O responsável notou que, sendo “um país grande e responsável”, a China “decide sempre a sua posição de forma independente e autónoma”.
“Ao mesmo tempo, como força em prol da paz e estabilidade, a China desempenhará sempre um papel construtivo na cena internacional e nos assuntos multilaterais, sem nunca deitar achas para a fogueira e muito menos tirar partido dela”, vincou.
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Nos últimos anos, a Rússia e a China intensificaram a cooperação económica e os contactos diplomáticos. A parceria estratégica entre os dois lados também se tornou mais forte desde a invasão da Ucrânia.
A China defende uma solução política para acabar com os combates na Ucrânia e apresenta-se como parte neutra no conflito.
Pequim apela ao respeito pela integridade territorial de todos os Estados, incluindo a Ucrânia, mas nunca condenou publicamente a Rússia pela operação militar.
A China também apela regularmente a um cessar-fogo na Faixa de Gaza para garantir a segurança dos civis.
Sergei Lavrov chegou à China na segunda-feira para uma visita oficial de dois dias.
JPI // CAD
A Terra bateu em março, pelo décimo mês consecutivo, um novo recorde mensal de calor, anunciou hoje o programa europeu de observação da Terra Copernicus.
As temperaturas do ar e dos oceanos atingirem também um máximo histórico neste mês, de acordo com a agência. Março registou uma média de 14,14º Celsius (C), ultrapassando o anterior recorde, de 2016, em um décimo de grau.
Foi, além disso, 1,68ºC mais quente do que no final do século XIX, a base utilizada para as temperaturas antes de a queima de combustíveis fósseis ter começado a crescer rapidamente.
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Desde junho passado, o globo tem batido recordes de calor todos os meses, contribuindo para isso ondas de calor marítimas em vastas áreas oceânicas.
Cientistas afirmaram que o calor recorde registado durante este período não foi uma surpresa devido a um forte El Nino, condição climática que aquece a zona central do Pacífico e altera os padrões climáticos globais.
“Mas a combinação deste com as ondas de calor marítimas não naturais fez com que estes recordes fossem de cortar a respiração”, reagiu a cientista do Centro de Investigação Climática Woodwell, Jennifer Francis.
Com a desaceleração do El Nino, as margens pelas quais as temperaturas médias globais são ultrapassadas todos os meses deverão diminuir, acrescentou Francis.
Os cientistas do clima atribuíram a maior parte dos recordes de calor às alterações climáticas provocadas pelo homem, devido às emissões de dióxido de carbono e metano produzidas pela queima de carvão, petróleo e gás natural.
“A trajetória não vai mudar enquanto as concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera não pararem de aumentar”, notou Francis.
Ao abrigo do Acordo de Paris, de 2015, o mundo estabeleceu o objetivo de manter o aquecimento a um nível igual ou inferior a 1,5ºC desde os tempos pré-industriais.
Os dados de temperatura do Copernicus são mensais e utilizam um sistema de medição ligeiramente diferente do limiar de Paris, cuja média é calculada ao longo de duas ou três décadas.
A diretora-adjunta do Copernicus, Samantha Burgess, afirmou que o recorde de temperatura de março não foi tão excecional como de outros meses do ano passado, que bateram recordes com margens mais amplas.
“Tivemos meses recordes que foram ainda mais invulgares”, disse Burgess, apontando para fevereiro e setembro do ano passado. Mas a “trajetória não está na direção certa”, acrescentou.
O globo já registou 12 meses com temperaturas médias mensais 1,58ºC acima do valor de Paris, de acordo com os dados do Copernicus.
Em março, a temperatura média global da superfície do mar foi de 21,07ºC, o valor mensal mais elevado de que há registo e ligeiramente superior ao de fevereiro.