Os Dias Que Ficam
Cidade a Banhos: as Histórias do Rio
A cidade inteira acorria àquelas águas mansas, para nelas se expurgar da tensão, do bulício e de outras pragas que lhe são próprias. Não seria exatamente a cidade inteira, mas por ali se via toda a sorte de gente, não se pense que aquele era um hábito da indigência
Tadeu, o Rapaz Foguete
Jurava que haveria de levá-la à lua, mesmo sem saber o que tal promessa poderia significar fora do seu universo povoado por Gagarins, Shepards, Armstrongs e outros cosmonautas e astronautas, a maioria deles obscuros para o comum cidadão, mas não para ele, Tadeu, o rapaz-foguete de Nagozelo do Douro
Cacilda e Abílio
Diz-se que, até meados dos anos noventa, vinha gente de todo o lado para experimentar a feitiçaria oral da Cacilda. O meu tio, que há dias visitei no lar dos Guindais, e que não fossem as artroses estaria ainda a servir finos, tintos e favaios, diz que apareciam até chineses e americanos
O Faroleiro da Ilha de Pérvio Parálio
Não sei se foi maior surpresa saber da existência da ilha ou de que nela vivia alguém. O faroleiro mora num sítio tão pequeno e despovoado e ainda assim não há carta que me escreva – e é a cada mês que há quase três anos nos correspondemos – em que não se mostre irritado com alguém
Sra. D. Maria Laudecena Farta de Carnes
É gente de índole cabotina a que se dedica àquela boataria reles das pedras roubadas e, imagine-se, a aspergir pelas goelas imundas que ela, uma senhora da sua condição, vive há décadas amantizada com o tendeiro
O Lugar Sem Nome do Doutor Adalberto
Renunciando a todo o nada que lhe sobrava, ali se isolou o doutor Adalberto depois da fatalidade. Continua a escrever histórias para os netos e, a troco de pacotes de leite ou arroz, a dar consultas de Casualidade, esperando o acaso e que este o faça reencontrar a família depois de partir
A felicidade está na Suíça e na clandestinidade
A D. Elvira também não sabe que eu sei que ela atua diariamente na clandestinidade. Quando acaba o noticiário da hora de almoço, e já comido o cozinhado que inicia às onze e meia em ponto, sai de casa com uma discrição que não escapa ao meu ouvido e desliza até ao café
A primeira coisa a fazer
E o Tozé, para quem a cortesia não é coisa de somenos, devolveu o gesto, juntando as mãos em frente ao peito e eu, parvamente olvidando que a TV da aldeia é a mesma da cidade, fiquei a perguntar-me onde teria ele aprendido aquilo