O debate dos debates, aquele que opôs Pedro Nuno Santos a Luís Montenegro, trouxe uma novidade que tem sido tema de discussão, ao longo da semana: se não ganhar as eleições, o PS admite viabilizar um governo de maioria relativa da AD. Ou antes: não apresentará qualquer moção de rejeição nem votará favoravelmente qualquer uma que seja apresentada. Isto, clarificou, esta quinta-feira, a dirigente socialista e coordenadora do programa eleitoral, Alexandra Leitão, “se não houver uma maioria de esquerda” que permita ao PS, mesmo ficando em 2.º lugar, constituir uma geringonça. Já Luís Montenegro não esclareceu, nem esclarece, o que fará, em situação inversa…
O debate, as pistas que nos dá, e os temas principais da campanha (bem como o bloqueio dos polícias ao Capitólio) foram analisados no Olho Vivo desta semana.
Para Filipe Luís, Luís Montenegro não diz o que fará o PSD, caso o PS vença, porque “ele próprio não sabe o que vai o PSD fazer”. Explica o subdiretor da VISÃO: “Sendo coerente, se não ganhar as eleições não será primeiro-ministro. Isto poderia responder à questão. Só que, se houver maioria de direita, o PSD pode não se conformar com esta decisão e substituí-lo por outro líder que aceite entender-se com o Chega. Ora, Montenegro não pode admitir isto, nem admitir que se demitirá, nem dizer que viabiliza um governo do PS e perder votos para o Chega; é que, nesta eventualidade, Ventura viria imediatamente dizer que, para afastar o PS do poder, só votando no seu partido!”
Nuno Aguiar, jornalista da VISÃO e da EXAME, considera que “Pedro Nuno Santos identificou algo que deixa os jornalistas muito entusiasmados: o que vai acontecer depois das eleições?” E adverte: “ A pergunta será feita até ao último dia de campanha a Luís Montenegro, com programas diários de comentário em que isso será referido.” Aqui, Nuno Aguiar concorda com Filipe Luís: “Montenegro não diz o que fará porque, provavelmente não será ele a tomar essa decisão [viabilizar um governo minoritário do PS]”. E conclui, lamentando que seja este tema a dominar as discussões:. “Não sei se tem impacto no eleitorado. Como eleitor, não me satisfaz. Não sei o que os dois candidatos disseram ontem para além de se criticarem e falarem de cenários de governabilidade.”
Nuno Miguel Ropio, jornalista da secção política da VISÃO, critica: “É insólito que o compromisso assumido por Pedro Nuno Santos tenha surgido tão poucos dias após o líder do PS ter travado essa possibilidade nos Açores. Vir agora, depois disso, contradizer o que dissera, acaba por dar argumentos, quer à esquerda quer à direita, à beira do arranque da campanha eleitoral.” Ora, acrescenta Nuno Miguel Ropio, “Pedro Nuno percebeu, assim que arrancaram os debates que terminam esta sexta-feira, que a estratégia não podia passar pela de António Costa, que apostou em colar o Chega ao PSD, principalmente depois do ‘não é não’ de Montenegro. Mas também não lhe é confortável defender a herança de Costa, principalmente em setores como a Saúde ou a Educação. Então, a fórmula encontrada pelo líder do PS não é muito clara, nem ninguém fica a perceber o que o partido propõe…”
O “bloqueio e manifestação não autorizada de elementos das forças de segurança, no Teatro Capitólio, local onde decorria o debate, foi também tema do Olho Vivo. Nuno Miguel Ropio afirma que “é indiscutível a validade da exigência quer dos agentes da PSP, quer dos militares da GNR, quanto ao valor mais alto do subsídio de risco, como aconteceu com os inspetores da Polícia Judiciária. Não contando com o facto de os inspetores da PJ serem quase 20 vezes menos que os agentes da PSP – o que significa um impacto financeiro muito menor -, não ficou bem que a luta dos polícias tenha resvalado para a opção de barricar os líderes dos dois maiores partidos, no Capitólio, quando decorria o debate dos debates.” Filipe Luís considera que foi um tiro no pé e que a polícia perdeu autoridade: “Da próxima vez que a PSP for chamada para repor a ordem pública numa qualquer situação análoga, os manifestantes podem atirar à cara dos agentes que ‘vocês também fazem o mesmo’”… E Nuno Aguiar resume: “A prova de que o protesto não foi percebido pelas pessoas foi o recuo dos polícias, que anunciaram que não haveria mais ações; aliás, havia uma garantia de todas as forças políticas de que iriam negociar e que a [não atribuição do suplemento] é injusta. Os polícias tinham vencido a batalha, mas insistiram numa forma de luta cada vez mais agressiva, permitindo concluir que o objetivo era político e não laboral.”
Para ouvir em Podcast
DISPONÍVEL NAS SEGUINTES PLATAFORMAS