A mudança para soluções sustentáveis não deve ser apenas um princípio abstrato. Muito menos deve ser uma ideia comum de combate às alterações climáticas que une qualquer pessoa de bom senso que queira preservar o nosso mundo e entregar às gerações vindouras um planeta habitável.
A mudança faz-se de soluções concretas, nomeadamente ao nível local, nas políticas mais próximas das pessoas. Devemos apostar em ideias sustentáveis e generalizá-las para ganharem a escala necessária, levando a menores custos. Existem ideias inovadoras que começam a ganhar tração em vários pontos do mundo e que importa começar a implementar no nosso país.
A generalização dos edifícios verdes. Sabemos que os edifícios são responsáveis por cerca de 18% das emissões mundiais, isto é, pela produção anual de 9 biliões de toneladas de dióxido de carbono (CO2). Segundo as Nações Unidas, se nada for feito, a pegada ecológica produzida pelos edifícios poderá duplicar até 2050.
O conceito de edifícios verdes (“green buildings”) prima pela preservação e utilização inteligente e eficiente dos recursos naturais, nomeadamente, energia solar passiva, ativa e fotovoltaica, bem como, sistemas de acumulação e redução de desperdício de água, de materiais e dos terrenos de maneira mais eficaz do que edifícios tradicionais.
Estes edifícios são concebidos com recurso a materiais mais permeáveis e isolantes com o objetivo de reduzir o seu impacto ambiental. Através deste tipo de construção, permitisse reduzir a energia necessária para o aquecimento do edifício e para a acumulação de água das chuvas. Se a diminuição da pegada ecológica decorre da diminuição da produção de energia per si, estes edifícios também contribuem para a redução da pegada ecológica por via da diminuição de desperdício de lixo, através da sua utilização para a produção da própria energia com biomassa.
Os edifícios verdes respondem com inovação e design em prol de maior eficiência energética. Qualquer edifício pode ser um green building: uma casa, uma empresa, uma escola, um centro de saúde, um centro comunitário, desde que obedeça aos princípios acima elencados.
Este conceito não é abstrato, e já se materializou em alguns edifícios no nosso país. Importa agora reproduzir esta boa prática e torná-la regra.
A eletrificação dos transportes. São inúmeros os produtores de autocarros elétricos, que disponibilizam autocarros urbanos que operam de forma análoga aos habituais autocarros urbanos a diesel. Nestes autocarros, a energia necessária para a respetiva deslocação é recolhida nas várias paragens ao longo do percurso, enquanto os passageiros entram e saem (em cerca de 15 segundos), possibilitando o cumprimento dos horários.
Já são mais de 50 as empresas que, a nível mundial, fabricam este tipo de autocarros elétricos. Por outro lado, quer os comboios, quer os metropolitanos (onde se incluem os de superfície) movidos exclusivamente a eletricidade são já antigos, com os primeiros protótipos apresentados ainda durante o século XIX.
O setor dos transportes é um dos setores com maior consumo de energia dependente dos derivados do petróleo. Portugal tem uma das maiores integrações de fontes de energia renovável, sendo que a eletrificação dos transportes constitui uma oportunidade para a descarbonização, contribuindo determinantemente para se atingirem os objetivos para a neutralidade carbónica.
Apesar de a eletrificação dos transportes coletivos de maior preponderância representar um investimento inicial elevado, a respetiva poupança de combustível torna este investimento atrativo. Recentemente, no início de junho deste ano, a Comissão Europeia aprovou um auxílio ao Estado Português no valor de 40 milhões de euros, para compra de autocarros elétricos e a hidrogénio, bem como para a instalação de infraestruturas de carregamento e de abastecimento. Devemos aproveitar a oportunidade para generalizar os autocarros elétricos.
Sistemas de recolha das águas da chuva. Aliado ao aumento populacional, existe um aumento da procura de água potável o que, condicionado pelas ondas de calor, agrava o problema da escassez de água em vários pontos do nosso planeta. Segundo a ONU, a previsão é de que, em 2030, a procura de água excederá em 40% a quantidade de água disponível no mundo, sendo que vários relatórios internacionais têm colocado Portugal na posição de risco elevado de escassez de água.
Nesta disputa pela água, a implementação de sistemas de recolha e gestão de águas pluviais a nível municipal, destinados a promover a redução do desperdício de água, deve ser uma solução a ter em conta.
Estes sistemas, que se pretende que realizem o tratamento e armazenamento das águas da chuva, poderão reduzir o desperdício de água em todas as operações em que a utilização de água potável não se demonstre necessária – como a água de autoclismos, rega, lavagens de roupa ou qualquer outro tipo de lavagens. Estes sistemas podem ser instalados em locais como jardins municipais e edifícios públicos, desde que a sua aplicação seja tecnicamente viável, bem como em todas as novas infraestruturas públicas, em linha com a aposta nos edifícios verdes.
Substituição da relva por vegetação sustentável. De acordo com um estudo recente, nos países desenvolvidos, os relvados ocupam cerca de 70% a 75% dos espaços verdes das cidades. Os relvados são bastante suscetíveis às mudanças climáticas, tendo uma capacidade reduzida para a retenção de água. Por outro lado, o prado, além de mais eficaz na retenção hídrica, perde menos água através da evapotranspiração, permitindo uma maior absorção de água pelos solos, o que auxilia na manutenção dos lençóis freáticos.
Como já acontece em algumas cidades espalhadas pelo mundo, uma gestão mais eficiente dos recursos hídricos tem levado à substituição da relva por outras espécies de vegetação herbácea mais sustentável nos espaços públicos por parte das autoridades locais.
Estas são algumas ideias que, embora ainda não estejam generalizadas, têm potencial para crescer, ganhar tração e a necessária escala económica. Soluções de base local no âmbito das políticas de urbanismo, mobilidade, gestão do espaço público e dos espaços verdes que colocam a sustentabilidade como fator decisivo.
No período em curso de transição verde, com fundos disponíveis para o efeito, são ideias localmente verdes que devemos considerar para o presente e futuro das nossas comunidades.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.