Kiev – 23 horas (21h em Lisboa) – 23 de Agosto de 2023 – Antiteatro na Estátua da Mãe Pátria: O Hino nacional encerra a cerimónia da entrega da Distinção “Lenda Nacional da Ucrânia”, mesmo por baixo da gigantesca estátua de metal (foto), que no escudo ostenta, agora, o “Tridente”. É o segundo encontro, no mesmo dia, do nosso Presidente da República com Zelensky, desta vez acompanhado pela mulher, Olena. A comitiva está «rebentada», a cair para o lado, mas nada disso afeta Marcelo, que começou o dia na estação central de Kiev, esteve a tarde toda na cimeira da “Plataforma de Crimeia”, visitou um museu de guerra, e ainda foi prestar a homenagem oficial ao Muro da Memória dos Defensores da Ucrânia (foto). Foram honras singelas, mas tocantes. A tudo isto deve acrescentar-se, já agora, a manhã em Bucha, Moshchun, Horenka e Irpin. Que dia!
Mas foi a cerimónia da “Lenda Nacional da Ucrânia” que valeu por tudo. No auditório não estão mais do que 150 pessoas, e na sua quase totalidade ucranianos. Para além do nosso Presidente, e comitiva restrita, também foram os chefes de Governo e de Estado da Lituânia, da Finlândia e da Bósnia. Zelensky e a mulher entram, rodeados de membros das suas forças especiais de proteção, todos se levantam, cumprimenta os homólogos estrangeiros, e lança-se para o palco, com palanque e orquestra, para invocar e agradecer a cada uma das lendas da Ucrânia. É a homenagem aos “combatentes civis”, no Dia da Bandeira.
Um médico, um engenheiro, um jornalista, uma voluntária de apoio, uma dançarina, uma treinadora e outros mais, tornaram-se “lendas” desta guerra. Até um velho cidadão japonês mereceu essa glória, pela ajuda direta aos ucranianos, nas zonas de guerra. Fora do baralho aparece o governador do Banco Nacional da Ucrânia, de jeans e ténis (na foto), que foi ao palco anunciar e mostrar a nova moeda em homenagem à Nação Ucraniana.
A meio da cerimónia, sempre intercalada com música e discursos, desaparecem todos os ilustres convidados estrangeiros, visivelmente estoirados, e que estavam na primeira fila à esquerda de Marcelo. Nada elegante, diga-se. Como estou na segunda fila, avanço para cobrir o flanco do Presidente. E nesse movimento percebo e tomo consciência do maior erro de segurança que os ucranianos poderiam alguma vez cometer: naquela sala estava Zelensky, a mulher, o presidente do Parlamento, o primeiro-ministro, ministros e vices, o poderoso chefe do Gabinete Presidencial, e também a cúpula do alto comando militar da Ucrânia: o Comandante Chefe de Todas as Forças, o chefe do Estado-Maior, o comandante da região de Kiev, outros dois generais de três estrelas, e o comandante dos Serviços Secretos (SBU). Soubesse Moscovo disso, e a decapitação política e militar seria fulminante. E tempo não faltaria. Três horas consecutivas. Que Erro!
Haverá, certamente, uma explicação plausível e verificável para tamanho à vontade e alguma descontração: na verdade, Kiev está protegida por uma cúpula de ferro, com os “Patriot”, os “Iris-T”, outros sistemas, e os radares de alerta avançado disponibilizados e montados pelos israelitas. Pelo ar já não entra nada. Ou quase nada. Como se vai ver, e perceber, com os dois alertas aéreos que vivemos.
Amanhã: As sirenes de alerta! (V)
Notas de Rodapé: 1. Ser membro da Casa Civil e Militar deste Presidente da República não é para todos. A eles aplica-se o lema dos Jogos Olímpicos: Citius, Altius e Fortius. Sem esquecer o Communis (Juntos), introduzido em 2021. Uma força de elite. Sempre pronta, preparada e com uma inesgotável energia.
2. A segunda figura política mais importante da Ucrânia estava sentada à direita do nosso Presidente, e à esquerda de Zelensky. É o chefe do Gabinete Presidencial, Andriy Yermak. Conhece-se pelas fotos. Emana poder. Percebe-se que tem o controlo. É respeitado pelos generais. Para se chegar a Zelensky, tem de se passar por ele. Era produtor televisivo, e trabalhava com o seu presidente na vida anterior.
3. As novas gerações dominam a Ucrânia. Todos os políticos e militares de primeira linha, a começar pelo Presidente, estão entre os 40 e 50 anos. É o caso do segundo homem mais estimado e venerado pelos ucranianos: o Comandante Chefe de Todas as Forças, Valery Zaluzhnyi, general de 4 estrelas, e que conteve a invasão russa, aos 49 anos de idade. Maior sucesso teve quando entregou às Forças Armadas a herança que recebeu de um tio emigrado nos EUA. E não era magra, nem desprezível.
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