Georgia Meloni, que chefia o Governo italiano, anunciou que vai taxar 40% dos lucros extraordinários dos bancos. Diziam que a senhora era da direita populista e extremada, e afinal é tudo ao contrário: uma verdadeira trotskista, estalinista e outras coisas mais. Se fosse portuguesa seria militante, ou líder, do Bloco. Ou até do PCP. Ou da Nova Esquerda.
As ações dos bancos tiveram um tombo, e o Governo teve de «trocar em miúdos» a declaração da sua chefe: que era apenas sobre 40% dos lucros, que tinham de ser extraordinários, quando comparados com os anos de 20 e 21, que representaria 0,1% dos ativos dos bancos, e que esse dinheiro seria aplicado para ajudar as famílias italianas no crédito à habitação, e nos custos dos juros e inflação.
Do ponto de vista político é um caso absolutamente inédito e extraordinário: nenhum italiano esperaria que esta primeira-ministra, líder de um partido de extrema-direita, fosse ao coração do sistema financeiro e capitalista, com uma justificação simples, mas carregada de senso comum: há um dever de apoio social das instituições e empresas, de todos os setores, que tiveram e estão a ter lucros fabulosos, à conta da inflação e da loucura da subida das taxas de juros dos bancos centrais.
O Governo português, no final de 2022, decidiu devolver alguma da receita extraordinária às pessoas e famílias, reformados e pensionistas, e este Imposto de Meloni tem igualmente esse objetivo, mas aplicado apenas a 40% dos lucros. De esquerda ou direita, é um passo político corajoso. Cautela, contudo: Meloni ainda está muito longe de conseguir ter um imposto com o seu nome.
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