À porta fechada, como deve ser, a Comissão dos Assuntos Constitucionais da AR vai ouvir, um dia destes, sem data ainda marcada, a secretária-geral do SIRP, Graça Mira-Gomes, que está no vértice dos serviços secretos portugueses, e o diretor-geral do SIS, Adélio Neiva da Cruz. Por agora contentam-se com Constança Urbano de Sousa, que preside ao Conselho de Fiscalização.
Estas audições serão decisivas para se conhecer a verdadeira história da convocação do SIS, na tarefa de recolher um computador na via pública. As notícias mais recentes garantem que a ordem partiu da secretária-geral do SIRP, o que não deixa de ser intrigante. A ser verdade, estaria percebida, mas não explicada, a fonte da inusitada convocação dos serviços secretos, para uma tarefa que pertenceria à PJ, ou à PSP.
O ponto, agora, é saber quem acionou a embaixadora Mira-Gomes. Dizia-se, há uns dias, que a ordem ao SIS teria partido de um telefonema do ministro João Galamba. Falso. Nada disso. Alguém, afinal, telefonou à secretária-geral do SIRP, o escalão mais elevado, que por sua vez desencadeou a operação secreta – tão secreta que a PJ só soube 24 horas depois, quando foi a casa do ex-adjunto – que tem tanto de ridículo, como de insólito e singular.
Quem fez isso, e quem aceitou fazer, prejudicou a imagem e a natureza deste tipo de serviços, cuja missão primária é recolher, organizar e tratar informações relacionadas com a segurança nacional, em todas as suas vertentes. Essa função vital e estratégica serve de base às autoridades nacionais, e em primeiro lugar o chefe do Governo, para a tomada de decisões cruciais e relevantes.
Parece óbvio, por isso, que as secretas não poderão ser usadas para trabalhos de recolha de computadores de ex-adjuntos do Governo, mesmo que alguma da informação neles contida possa ser considerada classificada, mas de valor baixo na escala desse tipo de documentos. Tudo o que se faz num Ministério é confidencial, até deixar de o ser, mas nada de «Ultra Secreto» e só acessível a dois pares de olhos. Quem acionou a secretária-geral do SIRP?
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