Berlim está num trilema difícil de resolver: quer fazer tudo para dar à Ucrânia os meios adequados para acabar com a guerra, e derrotar as forças russas, mas presume que envio dos «Leopard 2», seus e de vários países, representará uma escalada militar difícil de controlar. Estes tanques são o que os ucranianos precisam para as suas ofensivas militares, daqui a poucas semanas: são rápidos, poderosos e sofisticados. O trilema alemão resume-se assim: não quer dar, não quer autorizar, e não quer começar.
A Alemanha vive, também, num drama histórico: por duas vezes desencadeou guerras mundiais, e não quer, em nenhuma circunstância, iniciar a III Guerra Mundial. É o terceiro pilar do trilema. O Governo alemão, contudo, vai ser obrigado, para não quebrar a unidade aliada, tanto europeia como da NATO, a aceitar que outros países equipados com os «Leopard 2» decidam enviar, sendo que os ucranianos já estão a ser treinados.
O primeiro passo foi dado pela Grã-Bretanha, que vai fornecer 14 «Challenger 2», com caraterísticas e capacidades idênticas aos da Alemanha, e aos «Abrams M1» dos EUA. A Rússia não tem nenhum tanque que se equipare a estes três dos aliados, nem sequer os T-80, que são poucos e com erros de fabrico, e por isso subiu o tom das ameaças. Três ou quatro batalhões de tanques, apoiados pelos blindados de infantaria que estão a chegar, como os «Bradley» americanos, mas também franceses e alemães, significarão uma alteração profunda na balança da guerra, em favor dos ucranianos.
Todos os aliados da NATO e da Europa, e de outros continentes, sabem que prolongar esta guerra, por falta de capacidade militar decisiva que dê uma vitória à Ucrânia, só agudizará a instabilidade económica global, em todos os setores, e obrigará a multiplicar, indefinidamente, o custo das ajudas fornecidas a Kiev. É um peso insustentável a longo prazo, por muito que se diga o contrário. Em 2023, tudo se resume a fornecer os meios militares que levem a Ucrânia à vitória. Não há mais paninhos quentes.
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