Não, não é Kiev, ou a Ucrânia, mas Minsk e a Bielorrússia. Putin quer tomar conta deste vizinho da Ucrânia, e já não lhe chega ter Lukashenko no bolso. Moscovo sabe que o sentimento anti russo está a crescer na Bielorrússia, que as forças armadas são um brinquedo de Moscovo, para onde enviam todo o ferro-velho do século passado, e que não ajudaram nada a criar uma frente norte que apoiasse o ataque a Kiev, nos momentos mais dramáticos.
Um parceiro assim não interessa a Putin. Ou interessa, mas com ligeiras modificações: mísseis com capacidade nuclear vão ser instalados naquele país – ainda de médio alcance – mas quem controla esses sistemas, e quem guarda as ogivas nucleares, são as tropas de Moscovo. Adivinha-se que a conversa entre Putin e Lukashenko tenha sido breve:
“Aleksandr, estão a chegar à tua fronteira várias baterias de misseis Iskander, daqueles especiais, e não tens de te preocupar com o treino das tuas tropas. Vai uma Divisão nossa, das Forças Estratégicas. Só tens que os instalar e alimentar”
“Vladimir, uma Divisão? 20 mil soldados? Olha que vão pensar que é uma invasão…”
“E então? Tens algum problema? Mando duas, se achares pouco!”
Há cinco meses que Lukashenko não dorme. Está sempre a mudar de palácio, não come nem bebe nada, sem que antes seja analisado por um laboratório móvel, que o acompanha, e desconfia que a sua guarda pessoal está comprada pelos russos. Todos os dias garante a Putin que vai atacar a Ucrânia, mas que os tanques estão avariados.
Para Putin, cinco meses depois do seu mundo ter virado ao contrário, com pesadas baixas militares, e sem querer dizer aos russos que está preocupado, a melhor saída, ou aquela que está à mão, é atirar as forças bielorrussas contra os ucranianos. Assim já serão dois contra um, e mais os 50 aliados de Kiev. Esta gigantesca desproporção é que o irrita. Que o põe fora de si. Que o enfurece. Não estava prevista. Nem pelas bruxas.
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