As sondagens, que todos os partidos também mandam fazer, mostram uma erosão acentuada na intenção de voto no PS, e em António Costa. Como é possível, pelo menos nos retratos diários ou semanais dos inquéritos de opinião, uma queda tão brutal, ao ponto de o jogo poder passar de uma vitória clara, para um empate, ou derrota? Qual foi o grande erro?
O maior lapso e engano de António Costa, e de quem o aconselhou, foi brandir, e ressuscitar, o “morto” e fracassado Orçamento de Estado para 2022. Isso assustou os eleitores. Costa mostrou-o e agitou-o no debate com Rio, e prometeu que mal o programa de Governo fosse aprovado, seria apresentado na AR. Foi um total, completo, e evidente deslize político, que pode custar caro. A Assembleia foi dissolvida por causa daquele calhamaço, que é um tijolo queimado, e Costa continua agarrado a ele, como se fosse uma bóia.
É visível que o PS não percebeu o que estava explícito na rejeição do Orçamento de Estado por todos os partidos, da esquerda à direita – que é suposto representarem a maioria dos portugueses – com exceção do PS, e do PAN. Esse OE estava contagiado, era lixo tóxico, desperdício nuclear, mas António Costa acreditou que tinha o livro sagrado para a vitória, ou até maioria absoluta. Ele sim, o OE é que não.
Quando é que as intenções de voto começaram a virar? Quando é que os eleitores começaram a pensar duas vezes? Quando é que os portugueses perceberam que o referendo ao atual primeiro-ministro significava apanhar, também, com aquela chumbada orçamental? Foi no debate com Rui Rio, e nas promessas de campanha. Aquele cartapácio, que deitou abaixo o Governo do PS, pode repetir a façanha com António Costa. Só isto explica a escorregadela eleitoral tão abrupta. Em escassas duas semanas. Costa tem uns dias para desfazer-se desse pedregulho.