Com serenidade, Paulo Rangel assumiu publicamente a sua homossexualidade. Sendo um não tema, que apenas a si diz respeito, o eurodeputado e potencial candidato a líder do PSD, já no início do ano, acabou com o cochichar sobre a sua vida pessoal, e sem medo fez abortar o que alguns considerariam como uma «arma» a usar nas campanhas sujas, e sem rosto, que tradicionalmente se multiplicam em períodos decisivos dos partidos. Assunto arrumado.
Paulo Rangel, Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz estão preparados para pedir contas a Rui Rio, na noite e nos dias seguintes às autárquicas. Um líder político que não se conseguiu impor como alternativa ao PS, e a António Costa, e que está apenas preocupado com os resultados das eleições locais de setembro ou outubro de 2025, diz tudo da sua ambição política e da pequenez em que está colocado o PSD. Isto não é uma alternativa, é um embaraço.
Rui Rio é muito bom em debates e em entrevistas, franco, transparente, e direto, mas não tem um posicionamento político – e por obrigação o PSD oficial – diferenciador do centro político amorfo, e distanciador das batalhas e das posições socialistas. Isso mata, apouca, reduz o PSD. Até muito recentemente, o que Rio defendia era uma aliança, ou um entendimento, ou um pacto com o PS.
Agora, a 20 dias das eleições autárquicas, e sem a perspetiva de uma noite eleitoral claramente vitoriosa – e vitória clara era reganhar grandes autarquias, áreas metropolitanas, e voltar a ter um mapa laranja – o líder do PSD vai baixando, explicitamente, a fasquia eleitoral, deixando que outros partidos comecem a desenhar uma expansão nacional. O maior erro de Rio foi colocar-se no centro-esquerda, hiper povoado pelo PS, e ainda alguma social-democracia. Entre uma direita mais agressiva e enérgica, e um PS instalado no poder executivo, legislativo e autárquico, este PSD é o símbolo do negacionismo: não tem o Poder, mas também não o quer. Faz falta, muita, um novo líder.
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