O Presidente da República, em poucos minutos, numa comunicação aos portugueses, não poupou na realidade, no dramatismo que estamos a viver, na necessidade de se jogarem todos os trunfos, agora, porque as próximas semanas serão de uma dureza impensável, de uma emergência total, e todos são chamados a ajudar. O Presidente está muito preocupado com a evolução da pandemia, não esconde nem minimiza o esgotamento do SNS, a catástrofe dos mortos, Covid e não Covid, as filas de ambulâncias às portas dos hospitais, e o esgotamento total dos recursos humanos.
O Presidente tentou sempre transmitir uma mensagem de esperança e de confiança, desde Março, mas hoje foi claro na situação que vivemos. Estamos numa catástrofe histórica, dias muito piores ainda chegarão, e o drama não tem fim. Não vale a pena esconder, fingir, olhar para o lado. Marcelo estava visivelmente sem mais paciência para esta desorganização. Indignado.
As palavras de Marcelo foram para todos nós, e também para o Governo e partidos políticos. O Governo está esgotado, e a ministra da Saúde faz discursos sobre uma realidade paralela, fingindo que ainda não atingimos e ultrapassámos todos os limites, as linhas vermelhas, e os sinais de alerta. O país está num caos, sem rei nem roque, sem uma cara e um grupo de comando capaz de estabelecer prioridades, de decidir quem faz e o que se faz, e que assuma a responsabilidade técnica por todas as operações. O comando político, nesta fase, está terminado. À ministra, ao PM e ao Governo cabe agora criar essa equipa e chamar os melhores, e dar-lhes tudo o que precisam para funcionar e mandar executar. Neste momento, nesta fase, o papel político é supérfluo, causa entropias, só baralha e, já agora, não percebe nada do assunto.
O momento chegará em que o Governo poderá voltar à ribalta, mas aí também será avaliado pelo que não fez, não deixou fazer, e não ouviu quem queria fazer. Ainda vamos a tempo? perguntou o Presidente. Sim ainda vamos, disse. Mas apenas numa perspetiva filosófica, e de grande relatividade: muitos milhares de portugueses ainda vão morrer, sem ajuda nem apoio, porque fomos negligentes, desleixados, irresponsáveis e, acima de tudo, incompetentes.