Uma de duas: ou o Governo, e o Estado, nadam em dinheiro, ou alguma coisa correu mal, muito, onde menos se esperava.
Em primeiro lugar é preciso saber, com rapidez, como é que o primeiro-ministro (PM) vai lidar com uma desautorização flagrante, e abusiva. António Costa disse, e repetiu, que o Estado não ia pôr o dinheiro no Novo Banco, até saber dos resultados da auditoria que está em curso. Alguém no Governo não ouviu? Vamos ser ainda mais claros: um pagamento de 850 milhões não se faz como uma operação no multibanco. Ou o pagamento de uma fatura da eletricidade. Percorre muitas secretárias, muitos pareceres, muitas interrogações, alguns secretários de Estado, até chegar ao ministro, o último a dizer “pague-se”. E num Governo, por boa tradição, não há proximidade maior do que a que existe entre um PM e um ministro das Finanças. Assim, outra vez, uma de duas: ou o ministro nunca ouviu o PM, ou fez de conta.
Em segundo lugar é necessário desfazer, imediatamente, a fantasia de que existe um acordo que tem de se honrar. Nenhuma dúvida, numa situação normal. Todas as dúvidas, numa crise pandémica e com o país sem dinheiro. São circunstâncias supervenientes, de força maior inegável, patente, e que não precisa de grandes explicações. A Lone Star, texana, percebe bem do que estamos a falar, porque é originária de um estado americano muito fustigado pela pandemia e paragem económica. Eis uma situação em que seria possível aplicar ou negociar uma moratória. Mais uns meses, um ano se necessário. O tempo que fosse preciso. O acordo mantém-se em vigor, mas as partes adiavam a injeção de dinheiro este ano.
Por último argumenta-se, como é habitual, com a necessidade de cumprir os rácios do BCE e Banco de Portugal. Também é verdade, mas o BCE e o Banco de Portugal foram os primeiros a informar que, com esta crise, que vai dizimar milhares de empregos e empresas, essa rigidez seria moderada e avaliada em função do país, da situação financeira do Estado, das Empresas e pessoas, do sistema financeiro, e da grandeza do impacto no PIB e outros dados. Acreditamos que o Banco de Portugal, se proposto, seria o primeiro a aconselhar a moratória.
Fica-se com a sensação, injusta porventura, que ninguém está no centro de comando das Finanças. Ou que estão demasiado afastados da frente, para ter uma visão real do drama nacional. E Isso, nesta fase, era o que nunca poderia acontecer. Sem um ministro das Finanças focado, ágil, poderoso, e hiperativo, não vamos lá.