Dia 12.
É nos momentos de aflição que se vê de que massa é feito um político, um empresário, um chefe ou um cidadão. Tudo o que decidimos fazer nesta altura dirá muito mais sobre nós do que aquilo que fazemos quando tudo corre sobre rodas. Os tempos difíceis são poderosos relevadores de caráter.
“É preciso resistir ao egoísmo”, disse António Costa em entrevista há dois dias. Foi, provavelmente, uma das frases mais importantes desta entrevista à tvi na segunda-feira, quando explicou porque deixou acostar um barco de cruzeiros e encaminhar (com escolta e segurança) os passageiros para os seus países de origem. Temos de resistir a ceder nos valores que nos unem e a abrir mão do humanismo ou da compaixão. Temos de continuar a tratar os outros como gostávamos de ser sempre tratados, e sobretudo, num momento destes.
Isto é válido nas coisas pequenas do dia a dia, como açambarcar bens de primeira necessidade das prateleiras do supermercado sabendo que farão falta a outros, ou nas maiores, como cancelar aqueles serviços que não podemos continuar a usufruir da mesma forma.
Quem conserva os seus salários tem a obrigação moral e a responsabilidade social de manter os pagamentos da empregada doméstica, do professor de surf dos filhos, do explicador. Deve começar a fazer compras nos pequenos comerciantes de bairro, nos talhos e nas mercearias, encomendar comida dos restaurantes onde costumava ir com frequência, escolher os criadores nacionais e encomendar-lhes produtos diretamente pela internet, ir aos quiosques que se mantêm abertos comprar informação de qualidade.
Quando tudo voltar ao (novo) normal, devemos escolher e consumir português: passar férias cá dentro, trocar as marcas estrangeiras pelas equivalentes feitas por cá. É preciso manter o nosso tecido social e económico. Mais do que nunca, Portugal precisa de nós.
Temos, todos, de nos esforçar por fazer a nossa parte para que a economia não colapse, e ajudar a que a corrente não rebente no elo mais fraco. Para combater os efeitos desta pandemia, não basta ficar em casa. É preciso também agir, com responsabilidade, para mitigar o shutdown económico. Para bem de todos.