Dia 11.
“Não sei quanto ganha a educadora do meu filho, mas o que quer que seja é pouco”, escreveu um dia destes no Facebook um colega meu da VISÃO, Luis Ribeiro. A singela mas bem humorada mensagem do jornalista que está em casa com os dois filhos foi partilhada por mais de 3,3 mil pessoas. É fácil de entender: todos nós, os “quarentenados” com filhos, nos revimos nestas palavras. Estar em casa 24 horas por dia com crianças, e ainda acompanhar os seus estudos é uma das tarefas mais exigentes deste período. Sobretudo quando se continua a trabalhar a todo o gás, como é o meu caso e o de muita gente.
Pensar, como parece cada vez mais provável, que as crianças vão ficar em casa todo o terceiro período é de deixar qualquer pai à beira de um ataque de nervos. Como assim, quatro meses sem escola ou com aulas à distância?! São eles a acabar o ano letivo e nós, pais, a entrar numa clínica psiquiátrica.
Vai ser duro. É preciso manter os miúdos empenhados em aprender, os horários e as rotinas, o nível de exigência e de cuidado. Na minha experiência (que é a de um colégio particular, e por isso, admito, bastante diferente de outras), os professores têm sido ultra-empenhados nesta mudança que, também para eles, foi altamente desafiante. Uma mudança abrupta: de um dia para o outro, passou-se de um ensino quase todo assente nas aulas presenciais para as múltiplas opções com base em tecnologia.
Sublinhe-se a palavra “múltiplas”. Só a minha filha, que anda no 11º ano, tem vídeoaulas em três plataformas diferentes: Zoom, Cisco Webex Meetings e Amazon Shime. A vantagem é que é completamente autónoma, e safa-se sozinha (e ainda ajuda os irmãos). Os outros dois têm escola virtual, usam o Google Classroom e fazem fichas no Google Forms.
Os primeiros dias foram complicados com a parafernália de acessos e passwords, agravada pelo facto de fazerem dos pais pombos correios. Mas agora, uma semana depois, já tudo está a rolar sobre rodas. Tal como dantes, os miúdos devem ser autónomos nos estudos e falar diretamente com os professores. Não os menorizemos: é extraordinário como, quando é mesmo preciso, nos habituamos a tudo. E isto é para eles, a melhor das lições. A vida pode mudar de um dia para o outro e, sim, é preciso adaptarem-se e saber reagir.
O seu novo normal é este: levantam-se cedo, cumprem os horários escolares (quase) à risca e estão soterrados de trabalhos. Acho mesmo que, se alguma coisa tem falhado, é por excesso… Mal têm tempo para respirar e muito menos para fazer tours virtuais em museus, explorar sites didáticos ou ler livros gratuitos online, como muitos professores e familiares sugerem. São ideias maravilhosas, mas não vai dar. Há trabalhos, fichas e testes para fazer – a toda a hora.
Matá-los a trabalhar é uma boa estratégia para os manter ocupados – sei que muitos pais o agradecem. Mas, como bem lembrava hoje um dos meus filhos, parecendo que não, “a vida não é só estudar”. Pois não. Há muita coisa para aprender fora da escola. Podem estar fechados em casa, impedidos durante semanas a fio de fazer desporto na rua, estar com os amigos, andar de skate ou ir à praia. Mas os miúdos devem ter, tal como os adultos, o mesmo direito ao aborrecimento. Do tédio nasce a criatividade, sempre ouvi dizer.