A primeira vez que usei a World Wide Web foi num computador da universidade. Com os parcos conhecimentos que tinha na altura (não é que agora também tenha muitos mais), fui ao AltaVista e fiz uma pesquisa sobre Korn. Entrei numa página de fãs, naveguei e até participei numa sondagem sobre qual era a melhor música da banda (recordo-me que votei em “Blind”). Estava em 1997 e pensei “Está giro isto!”. Já no último ano da licenciatura tive uma cadeira onde um dos objetivos do professor era que criássemos o hábito de consultar o email uma vez por dia. Hoje não consigo conceber o quão diferente seria a vida de todos nós sem a WWW, principalmente para as gerações que não conheceram o mundo sem ela.
A criação de Sir Tim Berners-Lee celebrou recentemente o 30º aniversário e recomendo vivamente a leitura da carta que o inventor da Web escreveu para assinalar a data (pode lê-la neste link). A data pedia uma reflexão e Berners-Lee fê-la. Os tempos do entusiasmo pueril – de que é exemplo a minha primeira experiência com a WWW – já lá vão e agora é preciso avançar com as alterações próprias da idade adulta, é preciso mudar para melhor. O balanço do impacto da web é claramente positivo. Citando Berners-Lee, a web transformou-se «em praça pública, biblioteca, consultório médico, loja, escola, estúdio de design, escritório, cinema, banco e muito mais» e, ao mesmo tempo «foi criando oportunidades, dando voz aos grupos marginalizados e facilitando nossas vidas diárias».
Mas, como o inventor reconhece, também facilitou a perpetração de crimes e foi usada para espalhar ódio. Além disso, está a mudar-nos igualmente por dentro. Numa das conferências mais surpreendentes a que assisti no último Web Summit, Parneet Pal, Chief Science Officer da Wisdom Labs, falava sobre como os jovens estão a perder a capacidade de empatia, de como a preponderância das vidas digitais não os deixava assimilar esse conceito e que isso já tinha impacto nos seus relacionamentos – um badalado exemplo recente foi o do estudo que indicava que os jovens tinham perdido interesse no sexo quando comparado com outras gerações.
Um dado particularmente preocupante é o de como a dopamina gerada pelo cérebro quando se obtêm Gostos nas redes sociais pode acabar por conduzir a uma epidemia de solidão a longo prazo, o que, por sua vez, provocaria stress, sendo que, nessas situações, as pessoas têm tendência para ficar com “visão de túnel” e tomar piores decisões. As informações apresentadas forneciam uma comparação impressionante: a nível de saúde, esta dependência de Gostos e afins era o equivalente a fumar 15 cigarros por dia…
Talvez esteja na altura de acelerarmos o passo nesta corrida que decorre entre a criação de tecnologia e a nossa capacidade de dominá-la para melhorar a WWW para os próximos 30 anos. Porque, como afirma Berners-Lee, «se desistirmos agora de construir uma web melhor, então a web não terá falhado connosco, nós é que teremos falhado para com a web». Falhemos melhor então, como sugeria Samuel Beckett.