O verão mostrou, de várias maneiras umas tristes outras trágicas, o que o “fim da austeridade” destapou. O Orçamento do Estado de 2018 está aí para confirmar a mesma falta de rumo.
Nos últimos meses ficou claro, para quem não tinha percebido o que são as cativações, para que servem. São, tão só, o enfraquecimento de funções e serviços do Estado sacrificados em nome da devolução de rendimentos.
O horror dos 107 mortos nos incêndios, o burlesco do assalto de Tancos, os esquemas maviosos do ministro da Saúde com as listas de espera das cirurgias ou o bloqueio das obras no bloco operatório do Instituto de Oncologia pelo ministro das Finanças, são tudo sintomas da mesma doença.
A geringonça está aos poucos a matar não só o Estado social, que anunciou vir salvar mas todo o Estado garantia de que depende a segurança e sobrevivência.
Isto mesmo se a economia, por razões completamente alheias e até avessas ao programa do Governo sai do buraco em que a tinham deixado na última vez que estiveram ao leme e outras, muito diferentes, escolhas eram possíveis.
Podemos ter, outra vez, mais crédito e uns tostões no bolso, mas alguém consegue honestamente dizer que a educação, a saúde e a justiça – só para pegar no centro das promessas que nos foram feitas – estão melhores? Que a escola pública tem qualidade para que os mais pobres subam a escada da igualdade? Que a justiça deixou de ser travão ao investimento, que está mais célere, mais próxima, mais acessível? Alguém consegue disfarçar o aumento da lista de espera dos hospitais, a falta de médicos e enfermeiros, as operações oncológicas que chegam cada vez mais tarde para serem eficazes?
Por respeito aos que ainda estão em choque e pela evidência do que ocorreu não quero voltar, também, ao detalhe do completo desnorte da administração interna durante o verão. Ali, concordo, não há só falta de meios, há também muita falta de mando e de cabeça como demonstram os relatórios que o Governo, agora, fez programa na esperança de que ninguém repare como deles sai diminuído, enxovalhado.
Mas no fim dessa tragédia sem paralelo é, graças ao Presidente da República, que sobreveio o conhecimento de um País que o Governo do litoral queria fazer esquecer. Um País pobre, cada vez mais pobre e mais esquecido.
O País das centenas de milhares de portugueses do interior que não se enquadram na narrativa do progresso trazido pelo homem socialista.
Aquelas pessoas que dependem do seu pequeno souto, vinha ou olival para matar a fome. Aqueles portugueses a quem uma camisola serve vários invernos. Aqueles que não berram o suficiente para que para eles se governe, ilustram agora, porque a tragédia obriga e o Presidente os ampara, melhor que ninguém o farisaísmo do Governo das esquerdas e o bodo às suas clientelas como único programa político.
O que aí vem é mais do mesmo. Ou pior. A despesa orçamentada é um embuste. Para cumprir as metas propostas sem beliscar a devolução de rendimentos aos grupos de eleitores identificados vamos ter mais dois mil milhões de euros de cativações. Até o Bloco sabe disso. Agora. Ou sempre soube. Não interessa.
Na hora da verdade este Governo já demonstrou que entre o descongelamento das carreiras na função pública ou a operações no IPO escolhe sempre os primeiros. Que entre a integração dos alegados precários que nem se sabe quanto custa ou um módico de respeito e investimento nos do interior este Governo escolhe sempre a sua clientela.
São escolhas. As da geringonça estão feitas. Escolheram trabalhar para a eleições. Cá os esperamos para fazer também as nossas.
(Artigo publicado na VISÃO 1288, de 9 de novembro de 2017)