Não é surpresa para quem tem estado atento às notícias de tecnologia que a Eslovénia tem uma posição importante no desenvolvimento da Inteligência Artificial a nível mundial. Sim, este país pequenino é cheio de grandes surpresas como o guarda-redes Oblak, a famosa estrela da NBA Luka Doncic, e Ivan Bratko, um pioneiro na Inteligência Artificial a nível mundial. Mas as estrelas da seleção eslovena de Inteligência Artificial multiplicam-se e este Novembro a UNESCO reconhece este compromisso e estabelece seu o primeiro Instituto de Inteligência Artificial (IRCAI) em Ljubljana.
![A contribuição de John Shawe Taylor, líder do recém-criado instituto da UNESCO para a Inteligência Artificial (IRCAI), a quando em Março de 2019 se começava a preparar a sua criação. O instituto que será sediado na capital eslovena já no início de 2020, é o primeiro instituto da UNESCO dedicado à Inteligência Artificial e às cada vez mais proeminentes transformações da nossa sociedade através dela.](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/5/2019/12/Fig2-1024x576.jpg)
A contribuição de John Shawe Taylor, líder do recém-criado instituto da UNESCO para a Inteligência Artificial (IRCAI), a quando em Março de 2019 se começava a preparar a sua criação. O instituto que será sediado na capital eslovena já no início de 2020, é o primeiro instituto da UNESCO dedicado à Inteligência Artificial e às cada vez mais proeminentes transformações da nossa sociedade através dela.
Explicado de forma lisonjeira, a Inteligência Artificial (representada pela sigla IA em Português, e AI internacionalmente) é uma área das Ciências da Computação que foca a optimização de funcionalidade e inclui a aprendizagem de máquina (machine learning) – que usa os dados de forma iterativa para “aprender” comportamentos, assim como sistemas lógicos de apoio à decisão. É uma área do conhecimento em enorme crescimento uma vez que potencia a digitalização e automação numa variedade de indústrias. A Wikipédia refere-se à IA como “uma inteligência similar à humana exibida por mecanismos ou software” o que não podia estar mais longe da realidade e tem até vindo a fomentar medos de robots contra a Humanidade e histórias assim. De uma certa perspectiva é apenas a probabilidade condicionada que aprendemos em estatística do final do liceu, mas levada a níveis muito sufisticados de aplicação. E vai sem dúvida ser parte das nossas vidas nos próximos anos, se aliás já não o é.
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Marko Grobelnik, o CEO da empresa Quintelligence e coordenador (a par com Dunja Mladenić) do laboratório de Inteligência Artificial do Instituto Jozef Stefan (de importância semelhante ao nosso Instituto Gulbenkian Ciência). É ele um dos principais responsáveis pelas recentes conquistas. (para ler mais em http://bit.ly/2shXJZ1)
Uma das figuras fundamentais para chegar aqui é Marko Grobelnik que, com Mitja Jermol e John Shawe Taylor, tem vindo a alcançar conquista atrás de conquista no âmbito científico internacional. Começou como estudante de Ivan Bratko e fundou com Dunja Mladenić o laboratório de Inteligência Artificial (AI LAb) do Instituto Jozef Stefan (instituto fundado em 1972 no tempo da ex-Jugoslávia, de importância semelhante ao nosso Instituto Gulbenkian Ciência). Marko tem feito muito pelo desenvolvimento desta área científica e pela sua aplicação na indústria, na eficiência energética e até na saúde, de reconhecida excelência a nível mundial. O seu filho Adrian Mladenic Grobelnik já dá os primeiros passos na investigação científica tendo tido a sua primeira apresentação académica em Outubro, na conferência SIKDD2019, sobre um trabalho feito nos tempos livres do liceu com base nos dados do Microsoft Academic Graph, com vista a prever o próximo grande acontecimento científico (“Next Big Thing in Science”, a ver por completo em http://bit.ly/AdrianIJS).
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Gregor Strojin nas Nações Unidas, a 28 de Outubro de 2019, para defender a posição de que a tecnologia deve servir a Humanidade, a certificação de algoritmos de inteligência artificial, prevendo o seu impacto, por exemplo, na formalização legal (para ver mais em http://bit.ly/CAHAIun).
A dedicação eslovena à Inteligência Artificial vem dos anos ‘90 quando se investigava temas como pesquisa heurística, aprendizagem de máquina ou raciocínio qualitativo. Ivan Bratko, fundador da pesquisa em Inteligência Artificial na Eslovénia, foi diretor do departamento de inteligência artificial da Universidade de Ljubljana entre 1985 e 2017, e é uma das principais figuras internacionais na idealização do que é hoje a Inteligência Artificial. Coordenou também o já mencionado AI lab entre 1995 e 2002, que gerou uma grande diversidade de investigadores de grande qualidade e projetos de reconhecida excelência científica, que hoje contribuem para o posicionamento da Eslovénia como país pioneiro na adoção e gestão da Inteligência Artificial.
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Ivan Bratko, professor na Universidade de Ljubljana e uma das personagens chave na conceptualização do que vem a ser hoje a Inteligência Artificial. Um pioneiro fundamental no longo percurso que fizemos para aqui chegar, internacionalmente reconhecido pelo seu empenho científico nesta área.
Gregor Strojin é o presidente do Comité Ad hoc sobre Inteligência Artificial (CAHAI) que veio para defender a posição de que a tecnologia deve servir a Humanidade. Vem no contexto de um mais amplo movimento de ciência de dados para o bem comum (conhecido internacionalmente como data science for good) que tem vindo a ter cada vez maior exposição, numa altura em que a adoção de mecanismos inteligentes e automatizados se expande pela maior parte das indústrias. É de particular interesse o papel que alguns algorítmos começam a ter na nossa sociedade e o seu potencial impacto, por exemplo, na formalização legal (para ver a sua discussão nas nações unidas em http://bit.ly/CAHAIun). E é nesse sentido que é precisa a certificação de algoritmos e da sua utilização, que Gregor tem vindo a defender. E não nos podemos esquecer das quentes discussões à volta da ciência explicável, preferencial a “caixas negras” (como é muitas vezes o caso do amplamente usado deep learning) onde não conseguimos ter a certeza da razão pela qual as decisões são feitas. É que a Inteligência Artificial não é um botão mágico que se carrega e coisas incríveis acontecem. Depende muito da qualidade dos dados recebidos e como são processados. Um exemplo engraçado e simples é o do gerador de frases inspiradoras através de IA, Inspirobot.
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A panorâmica noturna da UNESCO em Paris, com a torre Eiffel ao fundo, na noite de Março de 2019 em que se deram os primeiros passos para o estabelecimento deste primeiro centro da UNESCO dedicado à Inteligência Artificial.
Jure Leskovac, que terá sido dos mais novos a integrar os quadros da Universidade de Stanford, agora a trabalhar também para a Pinterest, é sem dúvida outra estrela no mapa astral esloveno da Inteligência Artificial, que veio do grupo de Marko Grobelnik e tem vindo a promover importantes abordagens à sua utilização. Não é pouco comum ver colaboradores no AI Lab a seguirem para a Google, Amazon, Microsoft, e receber em Ljubljana personagens chave na fronte científica mundial. E são também várias as iniciativas de emprendedorismo que saem desta relação saudável entre o centro de investigação e a indústria. Um bom exemplo é Gregor Leban, que também fez parte do grupo de Marko Grobelnik, premiado pela Google pela inovação tecnológica Event Registry que utiliza a Inteligência Artificial para identificar entidades e relações em mais de 100 mil notícias mundiais diárias publicadas em mais de 60 línguas, para transformar a informação em discernimento e combater as notícias falsas. Lançamos recentemente uma versão deste sistema aplicada à saúde pública no contexto do projeto MIDAS que permite aos profissionais de saúde monitorizar notícias mundiais em tempo real utilizando as mesmas classes de pesquisa – MeSH Headings – que já utilizam no amplamente adotado sistema PubMed (veja aqui a sua apresentação pública pelo autor deste artigo: http://bit.ly/ERMeSH).
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A primeira apresentação académica de Adrian Mladenic Grobelnik na conferência SIKDD2019, apresentado pelo seu pai Marko Grobelnik. O trabalho apresentado é o resultado de uma investigação científica feita nos tempos livres do liceu com base nos dados do Microsoft Academic Graph, com vista a prever o próximo grande acontecimento científico (“Next Big Thing in Science”, a ver por completo em http://bit.ly/AdrianIJS)
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Gregor Leban, que faz parte do grupo de Marko Grobelnik, a ser novamente premiado pelo inovador Event Registry que utiliza a Inteligência Artificial para identificar entidades e relações em mais de 100 mil notícias mundiais diárias publicadas em mais de 60 línguas, para transformar a informação em discernimento e combater as notícias falsas. (veja aqui a sua aplicação à saúde pública no contexto do projeto MIDAS pelo autor deste artigo: http://bit.ly/ERMeSH)