Como é sabido para quem já viveu nos países da Europa Central, Novembro é um mês difícil de passar. É cinzento e frio, anunciando o Inverno, mas ainda sem neve, o que torna as pessoas carrancudas e muito pouco sociáveis. Pois é, em Portugal não conhecemos tão bem como cá o que as estações nos podem afectar psicologicamente. E talvez por isso seja um mês sensacional para ir ao Cinema, aliás vezes sem conta.
E é uma altura muito boa para o fazer pois é o mês do LiFFE, o festival internacional de cinema de Ljubljana. Todos os anos esta festa da 7ª arte brinda o seu público com o melhor do Cinema internacional, com conversas com os realizadores, e muitos eventos paralelos. E funciona como uma espécie de Óscares eslovenos também, embora hajam outros festivais de cinema mais focados no produto nacional. Este festival que já vai na 29ª edição também acompanha de perto o festival Indie Lisboa e já contou em tempos com um dos seus diretores como selecionador.
Há que lembrar que não estamos assim tão mal servidos aqui em Ljubljana relativamente ao cinema, uma vez que nem os filmes nem a televisão são dobrados (como acontece nos países vizinhos como a Itália ou a Áustria), mas quando se apanha um bom filme coreano, há que escolher entre absorver a língua original ou tentar captar as legendas em esloveno, o que outrora (quando cheguei em 2007) era quase a mesma coisa.
No início de Dezembro há uma outra oportunidade para ir ao Cinema, mas desta vez para ver desenhos-animados (tecnicamente, filmes de animação) na grande tela. E isto para miúdos e graúdos, uma vez que as projeções vão desde longas metragens como o polémico Breadwinner, sobre as limitações da vida quotidiana no Iraque de hoje, até ao cinema experimental. E já são uma tradição as noites de animação da Animateka, e em particular o karaoke pós cinema que tem sido um sucesso nos últimos anos.
Como é habitual aqui na Eslovénia, há sempre espaço para a criançada, até nos eventos dos mais velhos. Tanto o LiFFE como a Animateka organizam vários ateliers e projeções para as crianças se integrarem nesta festa do Cinema. Há um pouco de tudo e para todas as idades. Há também várias exposições pelas galerias e museus da cidade para dar a conhecer ao público as criações de cenários e personagens que vemos nos filmes.
E por falar em animação, aproveito para mencionar a talentosa artista eslovena Kaja Avberšek Também é Luso-falante, e até tem um livro na Texto Editora com a sua ilustração chamado Nos Açores, que aliás foi o seu trabalho de final de curso que recebeu o prémio Prešeren aqui na Eslovénia. Realizou recentemente uma exposição num mural da cidade de Ljubljana para celebrar o lançamento do seu novo livro Mili <3 Disko. Tem um impacto grande, a cada desenho cravado naquela parede, que me emociona sempre que o vejo, e não me canso de o ficar a ver sempre que lá passo. Conta a bonita história da sua experiência de ser mão, que de alguma forma coincidiu com a minha paternidade. É sem dúvida uma boa surpresa a descobrir pelos amantes de animação portugueses, e talvez a trazer um dia para as cidades brancas de Lisboa.
E por falar em cinema não posso deixar de falar no encantador festival internacional de Cinema Motovun, numa pequena cidade com o mesmo nome no topo de um monte na região croata de Istria, Outrora conhecido pelas suas festas depois dos filmes, este festival projeta as obras internacionais maioritariamente ao ar livre. E anualmente, durante a última semana de Julho, junta os amantes do cinema e dos festivais num ambiente único.
Também a Revista Sardinha tem tido a preocupação de trazer a 7ª arte ao seu público, com uma boa seleção de filmes Portugueses que tem vindo a projetar durante 2018. Este ciclo de Cinema foi apoiado pelo Instituto Camões através da Embaixada de Portugal em Viena. Foi acompanhado por eventos paralelos de promoção da Cultura Portuguesa. Um bom exemplo foi a celebração do dia internacional da Língua Portuguesa, com a projeção do filme Alentejo, Alentejo, antecedido pela palestra sobre o Cante Alentejano pelo leitor do Instituto Camões em Viena, Alcides Murtinheira. Este evento aconteceu no já extinto espaço cultural Ziferblat.
Entretanto, o espaço criativo e colaborativo Poligon apoiou a iniciativa cinematográfica, que agora é gerida pelas portuguesas Catarina Cornejo e Jéssica Lima. É uma plataforma de formação e trabalho colaborativo para comunidades criativas e autónomas que operam no campo das economias criativas, do empreendedorismo social e da cultura. Tem vido a acolher com gratidão alguns dos eventos da Comunidade Portuguesa na Eslovénia, promovidos pela revista Sardinha em colaboração com a Associação de Amizade Luso-Eslovena, abertos a participantes de todas as origens e idiomas. Em Dezembro há mais, vemo-nos lá.