Boston faz-nos sentir que o mundo é pequeno. Incrivelmente, ainda mais do que Portugal. Pequeno, inteligente e competente. Parece que os grandes crânios decidiram todos que Boston é a melhor cidade para se viver. Apesar dos invernos rigorosos e dos preços exorbitantes para tudo. Encontramos aqui os melhores médicos, investigadores, cientistas, etc. E claro, a acompanhá-los tudo o que está ligado ao financiamento. O negócio da moda passou a ser as descobertas científicas no mundo das farmacêuticas e o centro desse negócio é exatamente em Boston. Aqui encontramos startups a descobrir a cura para todas e quaisquer doenças – desde o cancro à gripe.
Há pouco, mencionei os invernos rigorosos pelo qual a Costa Leste dos EUA é conhecida. Definitivamente é um tema do qual se fala muito por cá. Aqui sentimos as quatro estações do ano de uma forma muito decidida e cada estação é mais bonita do que a anterior. O outono com as folhas encarnadas, amarelas, cor-de-laranjas… O Inverno com tudo coberto de neve, mas com o sol a brilhar e uma luminosidade incrível… A Primavera imprevisível, mas com as flores cheias de cor a aparecer por todos os lados. E o Verão? Ainda não sabemos – mas com certeza que terá os seus encantos.
Tivemos sorte com este Inverno, acho que foi o que teve menos neve desde há pelo menos dez anos para cá… Também mereciam um descanso depois do Inverno passado que não deu tréguas. A verdade é que senti bem menos o Inverno cá do que sentia em Portugal. Para mim o Inverno em Portugal é caracterizado pela aquela chuva miudinha, dias cinzentos e a ausência de cor. Depois as casas com correntes de ar e quartos aquecidos, mas corredores gelados. Por aqui, desde que se tenha um casaco bem quente, umas botas do melhor que há, gorro e luvas; podemos andar de t-shirt por baixo. As casas e os interiores são muito bem aquecidos e acabamos por viver muito dentro de casa, mas em ótimas condições.
Quando cá cheguei, fiquei fascinada com o chamado “melting pot” americano. Em Portugal há varias nacionalidades mas há uma clara maioria. Aqui de facto há de tudo – nacionalidades, religiões, preferências sexuais, you name it. No principio fartei-me de fazer gaffes – perguntava a todos de onde eram. Parece que pode ser ofensivo… Eu como tenho muito orgulho em ser portuguesa, não percebia porque. Um dia perguntei a uma asiática e quando me respondeu num tom muito ofendido – “I am american”, percebi finalmente que algo não estava bem com a minha pergunta… Disseram que quanto mais, podemos perguntar qual o ancestry de uma pessoa e mesmo assim… Na verdade o que eu acho divertido é tentar adivinhar de onde podem ser. Os brasileiros, por exemplo, topo a milhas. Mesmo que tenham um sotaque perfeito. Mas por exemplo, os iranianos podem perfeitamente ser confundidos com portugueses ou espanhóis. E claro, há aqueles casos de – “a minha mãe é sueca, o meu pai chinês, mas eu cresci na Argentina.” Cidadãos do mundo portanto, mas contentes em serem americanos agora.
A religião é outro tabu, onde temos de ter pezinhos de lã. Há de tudo e é difícil adivinhar o que cada um é. Eu por mim, se um judeu levar o meu filho à Sinagoga fico toda contente – é uma nova experiência que só acrescenta ao mundo do meu filho. Por cá, percebi que se os meus filhos têm amigos a dormir cá em casa e nós queremos ir à missa ao Domingo às 10, os pais preferem vir busca-los mais cedo. Falta-me ainda descobrir porquê. Não percebi se não querem ter nada haver com a religião católica ou se acham que pode ser inconveniente para nós. Claro está que pode ter algo haver com o escândalo dos padres, tema do filme “Spotlight”, vencedor dos Óscares. Sei que perguntar de uma forma direta pode ser mal interpretado, por isso terei de fazê-lo de outra forma. Alguém tem uma sugestão para eu resolver o mistério?
VISTO DE FORA
Dias sem ir a Portugal: 75
Nas notícias por aqui: Trump, trump e mais trump
Sabia que por cá… não há licença de maternidade. Dependendo das empresas, as pessoas no geral têm autorização para não ir trabalhar durante seis semanas. Mas sem ordenado.