PS e PSD parecem apostados em fazer das próximas eleições legislativas uma espécie de corrida ao pé coxinho. Tantos são os tiros no pé que, de um e de outro lado da barricada, vão dando nos respetivos pezinhos.
Esta semana foi a vez do PM. O episódio mais caricato foi o da biografia autorizada de Passos a quem alguém já chamou uma confissão de infidelidade feita logo dias depois do casamento. Talvez a ideia tenha sido humilhar Paulo Portas. Escusada mas, julgo, relativamente inconsequente do ponto de vista eleitoral.
Já o episódio do rasgado elogio a Manuel Dias Loureiro é mais perturbador e, eventualmente, mais carregado de consequências eleitorais. Confesso que não consigo (culpa minha) encontrar uma explicação definitiva para aquilo que, à primeira vista, parece um incomensurável disparate. Concebo (com esforço) quatro hipóteses alternativas.
A primeira vai na linha do “que se lixem as eleições”. Passos estaria, genuinamente, a borrifar-se, para as eleições. Acharia que deve dizer tudo o que pensa, quando pensa, mesmo que isso seja inconveniente. Este tipo de atitude pode ser uma enorme vantagem, sobretudo num país em que passamos a vida a acusar a classe política de viver refém de um taticismo eleitoral de muito curto prazo. Além do mais, a tese encaixa bem na imagem de frieza e determinação que Passos foi criando para si mesmo. Pequeno detalhe: a coragem de fazer uma afirmação incómoda não faz desta, necessariamente, uma afirmação com nexo. A coragem de ser inconveniente só é uma verdadeira qualidade se usada para dizer verdades inconvenientes.
A segunda hipótese é de uma perfídia absoluta. Passos, por razões que a razão desconhece, quereria relembrar, urbi et orbi, que Dias Loureiro existia. Trouxe-o para a ribalta mediática oferecendo-lhe um envenenadíssimo presente. Não foi aliás preciso esperar muito para que a imprensa viesse relembrar que o processo contra o antigo ministro da Administração Interna estará parado desde 2009. Se a ideia foi essa, pode dizer-se que foi eficaz. Mas foi tão rebuscada que ninguém verdadeiramente a compreendeu.
A terceira hipótese é a velha teoria de que “Passos não deixa cair os amigos”. É uma tese com que, confesso, simpatizo. Admiro quem tem a coragem de não esquecer os amigos só porque se tornaram incómodos ou porque caíram em desgraça. Admiro quem continua a ser capaz de lhes estender a mão e admiro quem não cai na tentação de reescrever o passado, fingindo que a amizade nunca verdadeiramente foi. Mas, isto dito, uma coisa é a afirmação pública de uma estima pessoal, de uma amizade que não escolhe timings nem conveniências, outra coisa é a fidelidade acrítica. Afirmar publicamente uma amizade incómoda é um ato de coragem. Erigir em exemplo um amigo que, seja por que razão for, o não deve ser para ninguém é, to say the least, uma prova de falta de lucidez.
Mas é a quarta hipótese que é verdadeiramente perturbadora. Nesta hipótese, Passos veria efetivamente em Manuel Dias Loureiro um empresário modelo e um exemplo para as gerações vindouras. O País com que o PM sonharia, o País que imaginaria a renascer das cinzas do ajustamento, seria efetivamente reconstruído por empresários moldados à imagem e semelhança de Manuel Dias Loureiro.
Hipóteses há portanto muitas. O problema é que nenhuma é boa.