E se acabássemos com a Selecção Nacional? Calma. É só uma ideia. Para já. Espero que, um dia, possa ser projecto-lei. Se o propósito da equipa das quinas é unir os portugueses, creio que está (estamos) a falhar redondamente. A Selecção Nacional tem sido o seu próprio adversário. Não consigo lembrar-me dos países com quem jogámos ultimamente, mas tenho perfeita recordação dos seguintes embates: Cristiano Ronaldo contra Fernando Santos; Fernando Santos contra o Fisco; adeptos contra substituição de Ronaldo; adeptos a favor da substituição de Ronaldo contra adeptos contra a substituição de Ronaldo; família de Cristiano Ronaldo contra portugueses ingratos; portugueses (ingratos ou não) contra a Federação, por ter contratado um espanhol desconhecido, que ficou muito grato pelo convite; Roberto Martínez contra a chamada de Pote à Selecção; sportinguistas contra Martínez pela ausência de Pote; benfiquistas contra Martínez pela ausência de Neves; portistas e sportinguistas contra o benfiquista Rafa, exigindo a sua presença; sportinguistas contra João Mário, no Estádio de Alvalade, porque era do Sporting e agora é do Benfica; benfiquistas e sportinguistas contra Otávio, no Estádio da Luz, porque era do Porto e continua a ser do Porto; portugueses contra João Mário, por este ter renunciado à Selecção, roubando-lhes assim a oportunidade de o assobiar; portugueses contra CR7, por não renunciar à Selecção e já ter garantido a sua presença nas próximas 15 competições;
xenófobos contra Otávio, porque não perceberam que a razão dos assobios era a cor azul e não a cor de pele, sotaque ou terra natal; portugueses (nascidos em diferentes latitudes) contra a escala de António Costa em Budapeste, para ver a Selecção ao lado de Viktor Orbán. Será que não éramos um povo mais unido sem a equipa que nos representa?! É que parece que ninguém está a sentir-se bem representado. As selecções tinham a ganhar em ser como as grandes bandas rock. E nem me refiro às drogas recreativas, mas a saber sair de cena. Fazia-se um espectáculo de despedida, tocavam-se os greatest hits, como o golo do Nuno Gomes frente aos ingleses, Abel Xavier aparecia para mostrar a sua famosa mão, Ricardo fazia o mesmo, lembrando que Deus dá com uma mão e tira com a outra, e o encore era, obviamente, o golo do Éder. E, depois, fim. Ficavam as boas recordações. E também a daquela final com os gregos. Contávamos aos nossos netos que, em tempos, existiu uma equipa com os melhores futebolistas do País, que foi extinta porque ninguém se entendia em relação a quem eram os melhores. Um cronista do Expresso sugeriu que a camisola portuguesa só possa ser envergada por aqueles que, “em todos os momentos, e não apenas quando estão ao serviço da Selecção”, mostrem desportivismo, respeito e consideração pelos adversários. Sugiro que acrescentemos respeito pelo árbitro e senhora sua mãe, pela autoridade tributária, pelo Código da Estrada e regras de etiqueta (acabou-se a mania de cuspir para o chão). Formava-se assim uma selecção de cidadãos exemplares, dignos de canonização. Depois, perdiam 17-0 com o Liechtenstein, mas não faz mal.
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