– E, mais uma vez, Portugal cresce por causa do meu clube.
– O seu clube foi claramente beneficiado.
– Não foi, não. Foi um crescimento limpinho, limpinho.
– O seu clube foi escandalosamente beneficiado por uma conjuntura favorável que, aliás, se deve ao meu clube.
– Então não vinha aí o diabo? Eu sei bem o que se disse e o que se escreveu quando nós começámos a repor rendimentos. Que vinha aí o diabo. Afinal não veio. O sotôr desiludiu milhares de satânicos.
– Não veio o diabo porque vocês cortaram o investimento público. Olhe para as estatísticas em câmara lenta, que se vê melhor. Olhe ali o investimento público a ser claramente ceifado.
– É falso, o governo nem lhe toca.
– Toca, toca. Leia os técnicos do Conselho de Finanças Públicas. São unânimes.
– São unânimes porque estão todos ligados ao seu clube. Também diziam que o défice não ia cair.
– O défice caiu porque foi empurrado.
– Não foi, não.
– Foi, foi. Foi claramente empurrado pelos empréstimos do BCE.
– No máximo há um encosto, mas não é um empurrão. O que conta é a intensidade, e não houve intensidade suficiente da mão do BCE para fazer o défice cair.
– Houve, houve. É um empurrão claríssimo. Sem o colinho do BCE o défice não caía. É um escândalo, este colinho. O crescimento deve-se sobretudo às reformas operadas pelo meu clube.
– Quais? Diga uma.
– Várias.
– Diga uma!
– São inúmeras.
– Diga uma!
– Não interessa estar agora a dizer. As pessoas lá em casa sabem.
– Você está permanentemente a adulterar a verdade económica. Agora temos uma verdadeira descida do desemprego. Consigo, era causada pela emigração. Você não apostava nos jovens.
– Nós sempre apostámos nos jovens. Mas também precisamos de estrangeiros. O turismo é fundamental. Tem de haver um equilíbrio.
– O nosso clube conseguiu esse equilíbrio. O seu clube criou um ambiente de grande crispação, ao passo que nós sempre contribuímos para a pacificação. Repare que agora não há greves nem contestação.
– Mas isso é porque o seu clube tem duas claques ilegais que o apoiam. O meu clube estava a pôr Portugal no caminho certo.
– Então porque é que perderam as últimas eleições?
– Não perdemos, vocês ganharam essas eleições na secretaria.
– Cá está você a alimentar o clima de suspeição que afasta as pessoas das urnas.
– Não lhe agrada. Não quer ouvir.
– Não se irrite. Acalme-se.
– Não quer ouvir. Isto é lamentável.
– Está muito nervoso. Tenha calma.