Tenho visto com muito agrado o programa Reset, da Mariana Cabral (popularmente conhecida por Bumba na Fofinha). É um programa de YouTube de conversas e, por ser no YouTube (ou, pelo menos, por não ser num canal de televisão), as conversas fluem normalmente, como são as conversas, sem um auricular ditador a gritar sentenças ao ouvido da apresentadora, da anfitriã, neste caso. Na televisão não se consegue conversar, ou pelo menos não se consegue conversar normalmente, sem obedecer ao ritmo, à forma, aos soundbites, aos padrões dos programas da televisão. Por isso é que eu gosto deste programa, as conversas são normais, soam a conversas normais, parecem conversas normais. O programa tem como conceito principal o fracasso. Fala-se dos fracassos, das coisas que não correram bem, dos flops das carreiras e das vidas de pessoas de sucesso reconhecido. Fala-se de cólicas, medos, ansiedades, prejuízos, contratos não renovados, rombos financeiros, desaires de ordem vária. Mas o sucesso e o fracasso, aos meus olhos, não são antónimos, não são duas faces opostas de uma mesma moeda, não são “either/or”, duas possibilidades contrárias. Eu penso no sucesso e no fracasso como gémeos verdadeiros, idênticos, formados a partir do mesmo óvulo, gémeos que se confundem. O sucesso pode convidar a namorada do fracasso para tomar um café sem ser desmascarado. O fracasso pode ir fazer um exame à faculdade com o cartão de cidadão do irmão gémeo. Confundem-se, passam muitas vezes um pelo outro, é preciso estar constantemente a perguntar qual dos dois é qual. São feitos da mesma massa. Podemos encarar um deles como sendo o outro, enganadamente. Uma pessoa acha que um é o outro e outra pessoa tem a certeza de que é o contrário. Ambas têm a certeza de não estarem enganadas. “My love, she speaks softly / she knows there’s no success like failure”, palavras sábias de um Bob Dylan de 24 anos. Deus Nosso Senhor nos livre do sucesso, diria uma bisavó não menos sábia. O que será o sucesso senão uma soma volumosa de aparentes fracassos, que, afinal, vendo bem, vendo melhor, com mais sabedoria, nunca o foram? Os sucessos e os fracassos vão andando por aí de mãos dadas, esbarrando contra as pessoas que fogem de uns e perseguem os outros, deixando-se atormentar pelo pesadelo de os tentar distinguir.
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