Um dos meus sonhos de criança era conduzir um Porsche 911. Eu sou a prova viva de que alguns sonhos acabam mesmo por acontecer e juro que não precisei de andar meses seguidos no pulso com uma pulseira da nossa Senhora do Bonfim.
A história conta-se de uma forma breve. Tinha 21 anos e aproveitei a generosidade de um amigo mais velho, que vivia no meu bairro, e confiou em mim para conduzir de casa até ao café. Como sabemos, a década de 80 foi vivida de uma forma intensa, a alta velocidade, com alguns excessos pelo meio.
Compreendi desde logo a razão pela qual o 911 é considerado por muitos como o desportivo mais emblemático. A segunda vez que tripulei um Porsche 911 acabou por acontecer no Autódromo do Estoril. Uma barrigada de condução, um dia inteiro a testar carros diferente a trabalhar para a revista Turbo.
Desta vez consegui agendar um ensaio com Porsche 911 durante quatro dias. Aproveitei para desfrutar do carro, sozinho, sem ninguém a travar ao meu lado com o pé no chão.
O Porsche 911 GTS é um súper desportivo agradável de conduzir no dia a dia. O som rouco do motor, situado na traseira, é bem audível, não incomoda. Acordamos para o sonho no momento em que abrimos a capota de lona, o GTS transforma-se num cabrio com comportamento dinâmico do Porsche GT3 R.
A base do GTS é semelhante ao Carrera S, no entanto, é mais largo, as vias estão otimizadas, os guarda lamas são mais encorpados. A suspensão é mais baixa, mais dura, eficaz. Não se julgue que conduzir um Porsche é complicado, antes pelo contrário, a facilidade de condução é surpreendente, claro que a responsabilidade é grande. Afinal estamos na presença de um carro que vale 140 mil euros.
A posição de condução é perfeita, está tudo no sitio, a começar pelo volante desportivo revestido a Alcântara. O comportamento dinâmico é espetacular. As jantes negras da RS Spyder de 19 polegadas, os pneus Bridgestone de baixo perfil, as pinças encarnadas que mastigam os enormes travões de disco ventilados.
O interior é uma maravilha. É incrível como um carro de “competição” pode ser ao mesmo tempo luxuoso. Temos tudo, ligação para o telefone, sistema de navegação.
O bom gosto é consensual. No interior, os lugares traseiros são simbólicos. A mala está situada na frente do carro e, apesar de ser reduzida, dá para transportar duas malas de viagem.
A suspensão ativa PASM varia entre o modo Normal, Sport e Sport Plus. É possível controlar os diferentes sistemas de ajuda à condução, a dureza da suspensão, a rigidez da caixa. Para o meu test drive tradicional de domingo de manhã escolhi como banda sonora os ZZ Top. Ligo o iPod ao GTS (um opcional que custa 345 euros), acelero a bom ritmo ao som do tema Sharp Dressed Man. Um clássico!
O motor é um 3.8 litros com seis cilindros opostos de 408 CV que mesmo no modo normal impõe respeito. A gestão do motor foi alterada – em relação ao bloco que equipa o Carrera S com 385 CV – para trabalhar acima das 8000 rpm. A velocidade máxima anunciada é de 306 km/h. Procurei não ultrapassar o limite máximo permitido por lei. As multas estão caras, a gasolina também, e nunca consegui baixar dos 10 litros para percorrer 100 quilómetros. As acelerações são poderosas. O GTS demonstra toda a sua raça no modo Sport Plus. É preciso ter tino e mãozinhas.O binário de 420 Nm não deixa margem para dúvidas, estamos na presença de um bólide selvagem, um exercício de condução no seu estado mais puro, um carro exclusivo criado para cortar a respiração dos condutores mais afoitos! Os engenheiros da marca anunciam 4,6 segundos dos 0 aos 100 kms.
Fiquei surpreendido com a forma segura como o Porsche 911 GTS curva e também a eficácia na travagem. A tração é traseira, a caixa manual de seis velocidades é de série. Opcionalmente, temos a possibilidade de escolher a caixa automática PDK com dupla embraiagem e sete velocidades que vale bem a pena mas que custa praticamente 4.000 euros. O Porsche 911 GTS que conduzimos tem um valor anunciado de 138.068 euros.
O novo Porsche 911 foi revelado ao mundo na edição mais recente do salão automóvel de Frankfurt. Chega aos principais mercados europeus no próximo dia 3 de Dezembro.