Alguns olhares, expressões, palavras, decisões, atitudes, comportamentos, reações do seu namorado/a ou companheiro/a tem o poder de a/o fazer perder a cabeça sem saber onde a encontrar?
E o que costuma fazer com a irritação que sente? Verbaliza-a ou mete-a para dentro e vai acumulando em “paletes”?
Como a interpreta? Como um perigo? Como um aviso e/ou algo natural?
Se a interpreta como um perigo para a sua relação, é natural que sinta vontade de a reprimir, de se calar e de a guardar só para si. O medo e receio das consequências podem impeli-lo ao silêncio.
Se a perceciona como um aviso de que algo precisa de ser “olhado” com maior atenção e conversado, e que dialogar sobre o que nos irrita no outro faz parte de uma relação a dois e não é sinónimo de uma catástrofe relacional, antes pelo contrário, é revelador de maturidade afetiva e desejo de crescimento conjunto, então parabéns!
Se assim for, a forma de percecionar a sua irritação será seguramente muito diferente, e vista como uma oportunidade única para compreender o que o irrita e porque o irrita, sem pânicos, nem temores de discussões, conflitos, guerras, perdas e/ou afins.
Se no inicio do encantamento e enamoramento, estas irritações não existem ou são mascaradas porque a própria paixão as mascara, à medida que o tempo vai passando as diferenças vão surgindo e tornando-se cada vez mais notórias, e o “somos tão parecidos e iguaizinhos em quase tudo” pode transformar-se na interrogação “se somos tão diferentes e isso, francamente, irrita-me, o que fazemos juntos?”
É precisamente aí que reside o problema: É que a diferença não tem de ser necessariamente irritante. Pode ser outras coisas! Só o é, quando um, ou os dois querem, ainda que inconscientemente, exercer poder, controlar e dominar o outro. Isto é, que o outro seja seu “clone”, pense como ele, decida como ele, faça como ele, seja como ele. E por vezes, mesmo que o seja, ainda assim não chega!
Não é o comportamento do seu companheiro/a que o irrita, é você que decide, ainda que inconscientemente, irritar-se. E a prova é que muitos dos comportamentos dele/dela que não o irritavam no início da relação, passaram a irritá-lo/a com o decorrer do tempo. E, porque é que isso aconteceu? Porque não conversaram sobre essas mútuas irritações, com medo da reação do outro e receio que a relação saísse a voar pela janela, ou fosse por água abaixo. Como não conversaram sobre tanta coisa que era importante para cada um de vós e para os dois! E como o medo é quase sempre mau conselheiro, foram os dois colecionando irritações até não aguentarem mais. Um grande armazém cheiinho de “paletes” de irritações, à espera de serem vistas e conversadas.
Sentir irritação com aquilo que o seu companheiro diz ou faz é natural e até é bom que sinta. Significa que a relação está viva e que os dois se estão a conhecer de verdade. Se estivesse morta, e ele/ela lhe fossem indiferentes não se importaria. Ser-lhe-ia “igual ao litro”.
Assim, há que reconhecer a emoção “irritação” em si, e especialmente tentar perceber qual a sua origem.
Será que essa irritação que sente está relacionada com alguma experiência ou experiências que viveu? Será que está associada a algumas pessoas que conheceu no passado? Algumas atitudes e comportamentos que o irritam no seu companheiro podem ser muito idênticas às atitudes de pessoas com as quais teve intimidade ou se relacionou, na infância, adolescência ou mesmo fase adulta, e a sua mente poderá acionar mecanismos de defesa no sentido de o defender de situações idênticas.
Será que o que o irrita é algo que partilha também? Uma dificuldade sua? Ansiedade, insegurança, medo, desconfiança, insatisfação, falta de proatividade e iniciativa, perfeccionismo…?
Tente descobrir o que lhe causa verdadeiramente irritação, que comportamento especifico a causa, como é essa irritação, desde quando, como se manifesta, sinta-a, questione-a e pergunte-se “seria possível não me irritar?” e “ o que me impede de me manter tranquilo?”
Se vier a descobrir que o que lhe causa tamanha irritação tem muito mais a ver com a sua história de vida do que com o seu companheiro, com a sua personalidade, com o seu desejo de moldar o seu companheiro, com a sua incapacidade de gerir a diferença e as suas emoções, faça uma listagem do que o irrita e não consegue aceitar e questione cada um dos itens com base nas interrogações do parágrafo anterior.
Depois de o fazer, então sim, estará preparado para identificar o que o seu companheiro faz que sente dificuldade em aceitar e que precisa de ser conversado e melhorado. A maioria desses pedidos terão por base as suas necessidades afetivas, sexuais, emocionais, físicas ou outras, e não quaisquer outras razões.
Tenha em atenção que talvez o que o irrita, irrita-o porque já está irritado por qualquer outra situação que está a viver ou viveu. Os companheiros são as pessoas mais expostas à projeção de todo o tipo de emoções menos positivas.
Pergunte-se: o que me causa irritação é mesmo importante? Tem um propósito? Servirá para crescermos enquanto adultos e casal? Aprenda a decidir quando se irritar, porque é verdadeiramente importante para si, e a distinguir do que é banal e sem importância. Aprenda a diferenciar a irritação que pode ser fator de mudança positiva na relação, maior gratificação e crescimento, da irritação que faz perder o tempo e energia dos dois.
Verbalizem e conversem sobre as vossas irritações! Aquelas sobre as quais vale a pena conversarem. Próprias ou conjugais! Não tenham medo de conversar sobre elas. Conversar sobre elas pode reforçar os laços existentes, contribuir para o vosso autoconhecimento e conhecimento do outro e ainda elevar a vossa relação para patamares de maior aceitação, cumplicidade e respeito pela diferença, engrandecendo e fortalecendo o vosso Amor.
Verbalizarem o que vos irrita um no outro, de forma adequada e respeitosa, e também com uma pitada de sentido de humor, porque isso contribuirá, igualmente, para reforçar a vossa confiança na expressão adequada das vossas emoções e sentimentos e procura de soluções e comportamentos recíprocos mais ajustáveis às expetativas um do outro.
Sentir irritação não é um problema, é um aviso para evitar aquilo que pode vir a tornar-se um problema!
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