É inegável o tempo de incerteza e inquietude que vivemos.
E não obstante a experiência destes quase 4 meses decorridos desde o início da pandemia nos permita perceber que a Covid-19 não é uma questão, na sua generalidade, grave, a mesma levou-nos, leva-nos e continuará a levar-nos a violentas restrições a todos os níveis da nossa essência.
A incerteza sobre o vírus, a dificuldade em tomar decisões políticas e sociais que agilizem processos e nos façam aprender a viver com o vírus (pois se a cura não ocorrer, teremos de aprender a viver com ele, correndo o risco, mas mitigando-o, sob pena de morrermos escondidos nas trincheiras) e o natural receio que se instalou em muitos de nós, tem-nos feito reféns e tem-nos privado de tanta coisa que, nos antigos dias normais, tínhamos o privilégio de viver, de sentir….
A mim, pessoalmente, faz-me falta o desporto que há tantos anos, quase todos os dias, faz parte da minha vida: Tenho falta do rugby!
De ver centenas de miúdos a superarem-se a cada treino, de ver os nossos séniores a darem no duro a cada treino para, fim-de-semana após fim-de-semana, levarem aos nossos relvados momentos únicos e “batalhas” épicas entre as leais e corajosas equipas que preenchem os nossos campeonatos nacionais.
Saudades de cumprimentar, nesses dias de jogos, os antigos rivais e com eles assistir, lado a lado, aos jogos das nossas equipas, cada um torcendo pela sua, sabendo no final dar os parabéns ao justo vencedor.
É uma saudade física e psíquica…. Que se agrava à medida que o tempo vai passando e pela falta de decisões sobre o futuro que se mantém.
Dizem que tudo vai ficar bem…. não tenho dúvidas, até porque o ser humano, em si mesmo, tem uma capacidade de adaptação e superação que ultrapassa sempre todas as expectativas….
Mas a pergunta que faço é se temos de ficar de braços cruzados* à espera que fique tudo bem?
Julgo que não. E julgo-o de uma forma conscienciosa e indo ao encontro das políticas de enorme prudência e cuidado que temos estado a ser sujeitos. Nomeadamente, indo ao encontro de políticas e de um plano de desconfinamento progressivo que nos permitam, aos poucos, voltar à vida normal.
E digo-o depois de assistir à forma como, perante as primeiras autorizações de desconfinamento, as pessoas (e em primeiro lugar os jovens) tem vivido esses dias (e noites).
E compreendendo a forma espontânea como tantos jovens voltaram à “rua” (sem regras com aplicação prática), não compreendo como os nossos governantes não têm utilizado o desporto como um meio importante, decisivo, para fazer parte desse processo, desse regresso.
Mas estamos a tempo e devemos estar a tempo…..
Na verdade, quem melhor que os clubes para educar, monitorizar, incentivar, ajudar tantos jovens nas regras e convivência social nesta era da Covid-19? Clubes que estão cada vez mais apetrechados de gente competente e conhecimentos técnicos que podem ser, de borla ou praticamente de borla para o governo**, alguém que implemente as regras, controle e as adapte junto dos jovens que, treino após treino, podem sair dali com mais conhecimento, mais procedimentos, etc. em relação a esta chata realidade.
É nos clubes que os jovens podem aprender a reviver em sociedade. Não nas festas privadas, nos encontros privados, etc., etc…
Reitero: os nossos governantes, ao não tomarem medidas de apoios e incentivo de um regresso sério e real aos clubes, à competição, à prática do desporto, está a perder uma enorme oportunidade de acelerar esse regresso no que concerne à vida em sociedade em geral.
Nos clubes, além das regras que aprendem, os jovens fazem atividade física (mente sana em corpo são), os jovens estão monitorizados, os jovens saem da noite e de tudo o que isso acarreta.
E porque estes jovens, na sua maioria (para não ser fundamentalista não direi a totalidade), são em si um grupo de muitíssimo pouco risco, este apoio aos clubes e regresso ao desporto para o qual agora apelo, deve ser um regresso sincero, corajoso e real. Com regras sanitárias que a cautela impõe (exames de despiste; etc., etc.) mas sem restrições ou receios de praticar o desporto tal como ele é. Sem medo do contacto, etc., etc…
Entre a morte lenta a que todos estamos a ser expostos diariamente ou o risco de ocorrer um ou outro caso de Covid-19 durante a prática do desporto (que para ocorrer já é reduzida – pois há testes; quem está mal fisicamente naturalmente não consegue praticar desporto – e se ocorrer a sua consequência é, todas os dados estatísticos e científicos para aí apontam, em principio nula), não tenho dúvidas qual é a minha decisão.
E a dos nossos políticos, se refletirem sobre o assunto, também tenho a certeza qual é.
Vamos devolver o desporto aos jovens, vamos fazer o Desporto um dos veículos essenciais para voltarmos a viver o passado…..
O rugby está preparado para isso!!
Que todos os clubes, de todas as modalidades, se juntem em uníssono e, em pouco tempo, estejamos todos a poder viver e sentir esta parte da nossa vida que tanto nos é importante, em qualquer idade.
*nota: não é justo dizer de braços cruzados pois, e no que toca ao rugby, o esforço e entusiasmos dos clubes, em retomarem a actividade com treinos adaptados e com limitações, tem sido exemplar)