Começam por tomar café, depois jantam, depois vão para a cama, depois viajam na maionese, e dizem: “vamos ver o que dá!”.
E pergunto: Ver o que dá, o quê? Estamos a falar do cultivo agrícola de quê? Abóboras, brócolos, batatas, cenouras, espinafres?
Não, estamos a falar de relações amorosas. Então, que sentido faz afirmá-lo? Como é que alguém, e são muitos “alguéns”, se não a maioria, a afirmá-lo, começa uma relação a dizer “vou ver o que dá?”
Que representação ou representações mentais essa pessoa/pessoas têm na cabeça? A de uma quinta, de terrenos com as mais variadas culturas hortícolas ou frutíferas, ou a de uma relação?
O exemplo da quinta é apenas um dos muitos que poderia dar. Poderia ser o de um batido, de um bolo, de um cocktail, um molotof ou um souflé… vamos misturar, colocar o forno com temperatura baixa e ver o que dá!
O que é que pensam verdadeiramente as pessoas que o afirmam e cujos comportamentos são consonantes com esses mesmos pensamentos?
Da minha experiência acompanhando casais, a história que estas pessoas se contam a elas próprias, consciente ou inconscientemente, é a de que ter uma relação fora da maionese pode ser muito perigoso. Porquê? Bem, os porquês são muitos, tantos quantos os fantasmas que vivem na sua mente! O fantasma da rejeição, do abandono, da traição, da repetição, da agressão, da solidão, da desconfiança, do egoísmo e egocentrismo, do individualismo, da não aceitação da diferença, da dificuldade em se entregar, comprometer e criar um projeto de vida a dois, da necessidade de controlar, da dependência emocional, da dor e do sofrimento, entre muitos outros.
E enquanto viajam e “amam” na maionese, os fantasmas estão sob controle. Sob o seu controlo e poder, pensam! Mas é exatamente o contrário! São os fantasmas que os escravizam a eles. Alguns, quando as coisas começam a querer sair da maionese, inventam defeitos no outro, que mais não são do que desculpas para continuar na maionese.
E as suas emoções? Como se sentem estas pessoas que vivem o Amor e uma relação, não vivendo nem o Amor nem uma relação? Como vivem o seu dia a dia, querendo viver aquilo que se contam que não podem viver? E quem decide que não o podem viver? A antecipação do sofrimento que deambula cronicamente pela sua mente, numa delirante procura de proteção contra um sofrimento que não têm, nem ninguém tem, forma possível de saber se acontecerá hoje, amanhã, daqui a um mês, um ano, ou nunca.
Das centenas de relatos que ouvi ao longo dos anos, pude concluir que depois de poucas semanas, muitos destes “vamos ver o que dá”, transformam-se em obsessivos “isto não dá nada”, mais uma vez sem sequer perceberem o que é o “isto”, muito menos o “dá”. Saltam para a próxima maionese, depois para outra, depois para outra… ou acabam sozinhos.
Quando permite que o medo e o receio tomem conta da sua vida, e especialmente da sua vida amorosa, seja pelas experiências menos boas que viveu no passado, seja pelas catástrofes que prevê que possam acontecer no futuro, ou por aquilo que os outros lhe dizem e fazem crer, a insatisfação, a frustração, a ansiedade, a angustia, a insegurança, a revolta e o desespero podem tornar-se os seus companheiros de vida, e a sensação de que “ama” na maionese pode tornar-se uma constante.
As relações amorosas não são para ser experienciadas e vividas na maionese. Sim, esta sociedade materialista, de descartabilidade e de “incomunicação” pode fazê-lo acreditar que “o vamos ver o que dá” é “cool”, pois blinda-o contra a dor e deixa uma porta aberta para encontrar a Senhora ou o Senhor Melhor, enquanto se continua a viajar na maionese e não se assume qualquer compromisso.
Quanto ao “isto não vai dar nada”, justifica e atenua alguns sentimentos de culpa quanto às mais variadas incursões nas quintas e quintais alheios, descobrindo outras culturas.
Se está a experienciar uma relação de “amar” na maionese, que já dura há algum tempo e em que o seu companheiro repetidamente lhe diz “vamos ver o que dá” ou “isto não vai dar nada”, agindo como se não existisse qualquer relação ou compromisso ou ameaçando/batendo com a porta a cada instante, voltando como se nada tivesse acontecido, e tem a sensação que os dois e a vossa “relação” viajam na maionese, pense seriamente em ter uma conversa esclarecedora o mais breve possível.
Não tenha medo de falar, de dizer o que sente, de afirmar aquilo que quer e pensa ser o melhor para si. E, se ele/ela não quiser “saltar” da maionese, comprometer-se e viver um Amor de Verdade, “salte” você e escolha para ter ao seu lado, quem queira o mesmo.
O medo atrai o medo, o Amor atrai o Amor!
Escolha para Amar quem sabe o que isso é!