O título deste artigo é uma expressão idiomática mas é também uma private do meu círculo de amigos mais próximos, aplicada em jeito de brincadeira, quando estamos perante algo muito especial. Daquelas coisas que nos deixam uma marca pela positiva. E aconteceu-me, há dias, quando voltei a um lugar que adoro e onde me sinto em casa, mas ao qual cheguei tarde para jantar. Motivo: estradas cortadas devido a nevão.
Ora a história começa assim e pensa-se, naturalmente, que lá fomos nós aos pacotes de bolachas para enganar a fome… a quantos de nós já aconteceu isto?! Errado. Esse episódio não faz parte desta história. Na Casa das Penhas Douradas chega-se tarde mas janta-se como se fosse 8h da noite. E com a mesma simpatia com que recebem o cliente à dita hora normal. Mais, no fim da refeição, já a entrar no dia seguinte, ainda vem à mesa o chef para saber se estava tudo do nosso agrado e desejar uma óptima estadia!
Sim. Isto é conquistar um cliente. Sim, isto é fazer a diferença e levar à repetição de compra. E sim, não foi a primeira vez que lá fui nem será a última.
Mas afinal, o que tem isso a ver com o título? Tem tudo. Porque esse momento, foi todo ele, na nossa private joke, especialmente bom! O vinho era óptimo. O jantar estava delicioso. A receção foi fantástica. Os pratos eram apelativos… portanto, estávamos perante algo razoavelmente disparatado.
A questão é que dei comigo, desta vez, e por outra experiência, a aplicar a expressão por motivos menos positivos. Também é razoavelmente disparatado assistir a coisas que não fazem mesmo sentido nenhum. A um verdadeiro disparate!
E o que é senão um enorme disparate o que se passa atualmente na Estância da Serra da Estrela?! Depois de 2 anos de conquistas não é que agora parece estar tudo a voltar atrás? Depois de um plano estratégico que parecia fazer sentido, de apostarem num profissional com larga experiência em estâncias internacionais para diretor (e ainda por mais um português apaixonado pelo nosso país e conhecedor do comportamento das serras), de porem em prática uma estratégia coerente de conquista de clientes e de os fazerem acreditar que havia nova vida na Serra da Estrela, deixa-se ir tudo numa avalanche?
A Estância da única serra que temos em Portugal com as suas características (mesmo sabendo que não se compara a nenhuma outra das vizinhas Espanha ou França, é certo) está a ser alvo de inúmeras reclamações nas redes sociais, no local (a que assisti, in loco), em diversas frentes, e parece que não tem havido suficiente intervenção que pare esta situação.
Depois das conquistas, de lançados produtos apelativos que levavam pais e filhos ao local a preços sustentáveis, de acordos com hotéis e escolas com tarifas adaptadas à idade dos miúdos e graúdos, entre tantas outras coisas, ouve-se e lê-se uma quantidade de indignações que deveriam preocupar as entidades competentes. Onde está o problema da Serra da Estrela? Afinal, é ou não, viável fazer daquele local o que ele permite, levando a uma opção para os iniciados ou para matar saudades numa escapadela de fim de semana? Porque, depois de se ter investido e chamado público, se desinveste de novo?
As perguntas são comuns a muitos que apreciam este tipo de turismo e se estão a deixar de encantar com a nossa neve. O que é profundamente lamentável. Ou, neste caso, também razoavelmente disparatado… mas sem brincadeiras! Onde lembra ao diabo dar a cenoura ao coelho e depois tirá-la? Faz isto algum sentido? Não. Não faz mesmo até porque conheço muita gente que lá voltou nos últimos 2 anos – e que foi reconquistada – e agora está, de novo, a voltar o discurso ao contrário, dizendo que a Serra da Estrela não vale a pena, que é sempre a mesma coisa, que os “tipos” aplicam preços inaceitáveis… entre muitas coisas que não me apetece sequer ouvir, de tristeza que me causa enquanto defensora e apaixonada pelo meu país.
Razoavelmente disparatada foi aquela refeição deliciosa que me serviram fora de horas, mas também as reclamações que li e ouvi na Estância da Serra da Estrela. O bom e o mau no mesmo fim de semana, no mesmo local.
Entidades competentes: não querem mesmo ver o que estamos a perder turisticamente? Hotelaria local, não querem mesmo perceber a quantidade de turistas que podem perder se a Estância voltar a ficar moribunda? Tenho vontade de pedir, por favor, para salvarem este projeto que faz de nós um país único onde, no mesmo fim de semana, se faz esqui na Estrela e se toma banho de mar no Algarve.
É nestas pequenas coisas que faz falta mais visão e vontade de ir mais longe, de fazer melhor, de acreditar que somos únicos e não termos de ser iguais aos outros.
Salvem a Estância para que os pequeninos de 3 anos possam, aos 20, ir para os Alpes, mas que aos fins de semana possam encontrar, no nossa serra, uma oferta que vai muito para além de uma experiência. Mexe com as emoções de ter sido ali que aprendeu a dar os primeiros passos! E isto, meus amigos, nunca mais se esquece nem nunca mais sai do coração. Querem melhor marca do que esta? Seria razoavelmente disparatado perder-se esta aposta.