A ideia que os suplementos vitamínicos são bons para a saúde está generalizada. Na mente dos consumidores – constantemente “bombardeados” com mensagens publicitárias sobre os potenciais benefícios das vitaminas – é uma medida de prevenção eficaz e segura. De resto, a indústria ligada a estes produtos anuncia habitualmente no horário nobre das televisões as vantagens para a saúde de um comprimido diário de vitaminas para reduzir a mortalidade, as complicações de doenças ou simplesmente para melhorar o “estado geral e de bem estar”.
Mas a ingestão regular destes compostos terá alguma base científica que permita garantir ao consumidor que fará “mais bem que mal”?
Os resultados de estudos recentemente publicados em várias das mais importantes revistas médicas mundiais, comparando pacientes saudáveis ou com doenças crónicas a fazer ou não multivitamínicos, sugerem que os suplementos de vitaminas e sais minerais não têm impacto na diminuição da incidência de doenças crónicas, havendo até sugestão que a tomada destes complexos vitamínicos possa aumentar o risco de cancro ou de doenças cardiovasculares.
As provas mais claras derivam de uma revisão sistemática da Cochrane, que integrou 78 ensaios clínicos com quase 300.000 pacientes/doentes, em que se comparou o impacto na taxa de mortalidade global (cardiovascular, oncológica, infecciosa, etc.) da tomada crónica (1 mês a 12 anos) de suplementos vitamínicos e antioxidantes (beta carotenos e vitaminas A, C, E e selénio) com a tomada de placebos inertes (ou nada). Os resultados sugerem que esta medida preventiva não só não diminui a mortalidade global, como parece aumentá-la: tudo o resto sendo igual, os indivíduos a tomar multivitamínicos tinham 1,03-1,04 mais hipótese de morrer do que os que tomavam placebo (ou nada). Por outras palavras, em cada 100 doentes a tomar multivitamínicos, 3 teriam risco elevado de morrer por este facto (Cochrane Database Syst Rev. 2012;3:CD007176).
O comité de normas de orientação clínica (guidelines) mais respeitado a nível mundial – o United States Preventive Services Task Force (USPSTF) – publicou recentemente uma das suas análises, confirmando analogamente à revisão Cochrane a ausência de benefício da suplementação vitamínica na prevenção cardiovascular ou oncológica (Ann Intern Med. 2013;159:824-834).
É importante referir que este tipo de investigação apenas pode determinar riscos potenciais, ou seja, probabilidades de que alguma coisa aconteça (neste caso, morte com os multivitamínicos), pelo que é impossível determinar quais as pessoas específicas que vão ter problemas, de entre todas as que tomam estes suplementos. Por outro lado, uma boa parte dos estudos tem problemas metodológicos (isto é, são de qualidade moderada), pelo que os resultados devem ser olhados com precaução.
Todos sabemos que, no que à nutrição concerne, raramente as decisões são preto-branco – antes matizes de cinzento. Dito isto, e dado que estes resultados têm sido confirmados em outros estudos, a mensagem é clara: se não tiver uma deficiência vitamínica específica, ou se não estiver a tomar um medicamento que possa alterar o metabolismo vitamínico, não deve tomar os suplementos com a composição acima referida.