Depois de uma maravilhosa semana nos Açores (da qual irei falar adiante), regresso a casa e aos não-assuntos da Comunicação Social. E cá me espera o drama do apoio, ou não-apoio, dos responsáveis partidários às candidaturas presidenciais. Cada vez consigo aceitar menos este tipo de telenovela. E vou explicar a razão.
Entendo que um dirigente partidário não deve apoiar candidatos presidenciais. Quando muito, poderá dizer, em minha opinião, que um ou mais destes preenchem os requisitos que considera fundamentais para o desempenho do cargo, de acordo com a interpretação que esse dirigente faz da função presidencial. E isto porque entendo que a vantagem desta eleição presidencial é aproximar o eleitor dos cargos públicos, pois elege pessoas de forma directa e não pelo intermédio de um partido político. É a única eleição em que se vota numa cara e num nome. Por outro lado, e visto que podem existir muitos candidatos, o eleitor tem muito mais liberdade de escolha. Deixa de ter uma opção de tipo bipolar: entre o que lá está e o que lá esteve antes (há quarenta anos que só dois partidos são eleitos para governar em Portugal) – no caso dos eleitores mais desiludidos, é como escolher entre o “patilhas” e o “ventoinha”. Nestas circunstâncias, penso que os partidos se deviam manter tanto quanto possível afastados do assunto, visto que esta eleição foi imaginada precisamente com esse objectivo de disjunção.
Mas os partidos, claro, não querem perder o seu poder, pelo que tentam condicionar a eleição presidencial, dando a entender que os candidatos só têm hipóteses se receberem o seu apoio. Do estilo: “só ganhas se eu quiser”. O que, felizmente, não é verdade – veja-se o que aconteceu com Soares e Alegre.
No entanto, tenho de ser lúcido: os dirigentes partidários não partilham desta minha opinião, precisamente pelas razões que expliquei, e acha que deve apoiar um só candidato. Neste caso, terá toda a lógica (apesar de ser uma lógica ingénua) fazer outra pergunta: qual o sentido de o dirigente se manifestar antes de todos os candidatos se apresentarem? O natural seria dizer: “deixem terminar as candidaturas e eu depois logo digo qual prefiro”. Mas ninguém responde assim. Porquê? Muito simples: os políticos voltam a querer que o poder partidário domine a eleição, dando a entender que, quando derem um apoio, mais ninguém daquela área política se candidatará.
Nas minhas divagações filosóficas, diria – usando os meus conceitos – que a eleição presidencial é a única de “esquerda” (pelo menos, formalmente), pois é a única em que o poder individual se sobrepõe ao poder colectivo. Ou, pelo menos, se autonomiza em relação a este. Consequentemente, acho que as regras estruturais desta eleição deviam ser protegidas.
Acho ainda mais outra coisa: esta atitude paternalista do “votam em quem eu aconselhar” é um rescaldo salazarista, de quando se pensava que o povo devia ser ignorante e devia estar afastado da mobilização política. São sempre estes os critérios que explicam os colectivos que nos são constantemente impostos, como a tradição, a moral, a religião, as associações, os clubes, os partidos, no fundo, todos aqueles sistemas gregários que planeiam o que devemos pensar e decidir.
Não quero terminar sem elogiar uma semana de férias em várias ilhas dos Açores. Quando cheguei a Lisboa, pensei: onde poderia encontrar uma alternativa com este conjunto simultâneo de características? Vou enumerar: beleza natural; preservação ambiental; diversidade paisagística; sossego e calma; pouca gente em Agosto; preços favoráveis; boa gastronomia. Deixei para o fim o mais importante: encontrei gente simpática e afável, pronta a ajudar, maleável (quer dizer, desejosa de agradar), competente nas suas profissões e com amizade sincera (e não aquele recalcamento a que outros nos habituaram) pelos indivíduos que moram em Lisboa e, neste caso, no Continente.
O pior? Não vou alongar-me, mas perdi a paciência com uma função pública lenta e improdutiva – por vezes quase a roçar o desmazelo -, recheada de uma burocracia inacreditável que serve para dar emprego a muita gente e, assim, aumentar o clientelismo partidário local. Se contasse dois episódios que se passaram comigo, transformaria esta crónica numa comédia – o que faria de bom grado se o assunto não fosse trágico. É um filme que já conhecemos e que continua a aterrorizar-me cada vez que ouço falar em regionalização…