Não aconteceu depois das redes sociais. Osório Honrado era bisbilhoteiro desde que aprendeu a falar. Esse comércio de import-export de pequenos segredos sempre foi o centro da sua vida. Tornou-se um mestre do leva-e-traz, um virtuoso do diz-que-diz. A tragédia era o melhor tempero dos seus boatos: fulano está nas últimas, fulana tem um cancro, Margarida está grávida, os vizinhos separaram-se.
A verdade pouco importava. O coração da arte do mexerico estava naquele momento em que Osório se tornava finalmente uma pessoa, um mensageiro vindo dos céus, um anunciador de breaking news. Naquele instante, o invisível Osório transbordava de existência. A mentira não tem dono, é verdade. Mas o mentiroso é, por um segundo, o prestidigitador que suspende a alma dos outros entre a espada do nada e a lâmina do esplendor.