Já toda a gente o sabe: um jovem de 29 que sofreu um derrame cerebral acabou por morrer depois de ter estado três dias à espera de poder ser operado no Hospital de S. José.
Sobre o assunto, disse o bastonário da Ordem dos Médicos, durante o programa de debate das manhã na TSF, que o resultado dramático se ficou a dever aos cortes cegos e pesados que sofreu o Serviço Nacional de Saúde durante os últimos anos. Médicos e outros profissionais da especialidades de neurocirurgia vascular deixaram de ser pagos e, com todo o direito que lhes assiste enquanto funcionários, passaram a estar indisponíveis para trabalhar ao fim de semana.
O ouvinte seguinte fez outra leitura. Sem contrariar ao bastonário, acrescentou que se o enfermo fosse um médico sempre se teria encontrado uma equipa capaz de se reunir de emergência e fazer a intervenção ao fim de semana.
O mais certo é terem ambos razão. O mais certo é estarem os dois a retratar os dois países que temos, sendo que nenhum nos serve.
Temos de recusar este segundo país, porque isto de o Estado e do que lhe está anunciado funcionar a favores é insuportável. O jeitinho nacional está mais do que descrito, debatido, condenado… e permitido.
O primeiro país também não é aceitável. Não são admissíveis cortes cegos nem complacências que permitam que as situações cheguem a casos extremos. As medidas tomam-se preventivamente. Se os três responsáveis pelo funcionamento dos hospitais que se demitiram depois de conhecido o caso de David Duarte o tivessem feito em abril de 2014 (14, não é gralha) quando foram confrontados com uma situação que os obrigava a não ter piquetes daquela especialidade, talvez o assunto tivesse sido logo resolvido, como o foi agora. Neste país que não nos serve é sempre necessário que a casa seja roubada antes de chamar o homem das trancas.