Em tempos idos houve, no Porto, uma festa que chegou a ombrear com a do S. João. Foi a festa aos três Reis Magos, também referenciados como “três santos reis Magos”, que se celebra entre os dias 1 e 6 de Janeiro.
O costume é antigo e evoca os três reis do oriente que, segundo uma antiquíssima tradição, mais ou menos fantasiosa, se chamavam Baltasar, Gaspar e Belchior. Estes Magos aparecem tratados como santos, pela primeira vez (1133), nas obras do arcebispo Hildeberto, do Tours, em França. A palavra Mago é de origem indo – europeia e não hebraica, como às vezes se tem escrito, e significa “grande, ilustre”.
Os Magos da lenda eram originários da Pérsia. Logo nos começos da era cristã uma tradição conferiu – lhes o título de “reis”. A lenda diz que eram três. Mas os cristãos orientais contaram doze e, nas pinturas e nos mosaicos primitivos, aparecem dois, três, quatro ou mais. A Igreja fixou-lhe o número de três.
Pois era a e estes três reis Magos que, em tempos antigos, o Porto fazia uma grande festa. Grupos de pessoas, mais ou menos organizados, por ruas, a “trupe das Eirinhas ”; por profissões, “o grupo dos empregados da Carris”; por coletividades, “os reiseiros dos Unidinhos da Sé ”, percorriam as ruas da cidade cantando os reis de porta em porta, sempre de noite, em atenção ao pormenor de os Magos terem sido guiados por uma estrela, logo de noite. A festa era animada e chegou, em certas épocas, a rivalizar, em popularidade e entusiasmo popular, com a do tradicional S. João tripeiro.
O costume era antigo. Na ata de uma reunião camarária do século XV, por exemplo, aparece referenciada a petição de um grupo de cidadãos, moradores à Cruz do Souto, que solicitam da Câmara autorização para, no sítio onde moram, montarem um tablado a fim de sobre ele realizarem uma pantomina em louvor dos três reis Magos.
O costume chegou até aos primeiros anos do século XX. Por essa altura os festejos eram organizados em torna da capela dos Três Reis Magos que existiu, contigua ao palácio onde, na praça de D. Pedro, atual praça da Liberdade, funcionou, por quase um século, a Câmara Municipal do Porto. Tudo agora é passado: o edifício onde esteve a Câmara e a capela, apeadas para a abertura da avenida dos Aliados e a própria festa que já só é recordada em louváveis evocações de ranchos folclóricos.