O templo de St. James, vulgarmente conhecido por “igreja dos ingleses“, no largo da Maternidade de Júlio Dinis, antigo Campo Pequeno, quando olhado do alto não deixa dúvidas quanto às funções a que foi destinado: as de ser igreja. A forma de cruz, que a construção apresenta, assim o evidencia. Mas não devia apresentar aquela forma de cruz.
Já lá vamos.
Antes, a história, muito resumida, claro, da presença dos ingleses no norte do país. Começaram por se estabelecer no Candal, uma freguesia de Vila Nova de Gaia, na margem esquerda do rio Douro, situada mesmo em frente ao casco histórico do Porto. Nos meados do século XIX a colónia britânica era ali numerosíssima e enfrentava muitas dificuldades quando pretendia cumprir preceitos religiosos; e mesmo quando tinha que enterrar os seus mortos que, não podendo ser sepultados nas igrejas católicas romanas, como era costume naqueles tempos, eram enterrados nas margens dos rios ou à beira dos caminhos.
Tudo mudou quando em 19 de Fevereiro de 1810 foi redigido, no Brasil, onde estava a corte, um tratado de comércio entre Portugal e a Inglaterra. Uma das clausulas do documento estabelecia que, dali em diante, “a prática da religião seria livre para os súbditos britânicos, não só nas casas de habitação mas também nas igrejas e capelas que agora, e para sempre, sua alteza real e sua majestade britânica conceder permissão de edificar, conquanto que exteriormente se devem assemelhar a casas de habitação “.
A curiosidade do assunto que trouxemos à crónica está aí: no condicionamento que foi imposto aos cidadãos britânicos quando, em 1842 deram início à construção da igreja de St. James – uma das mais antigas igrejas anglicanas ainda existente fora do império britânico. Exteriormente tinha que parecer uma simples casa de habitação; não podia ter torre, nem sino, nem cruz; interiormente o espaço dedicado ao culto devia assemelhar-se a um salão e não parecer um lugar de oração; e toda a construção devia ficar resguardada do exterior por um muro com a altura necessária para impedir que da parte de fora se visse a igreja. O muro ainda hoje lá está. A forma de cruz dada ao edifício não constava das condicionantes que constam do tratado de 1810.