Julgo que não há ninguém no Porto que não saiba onde fica a rua de Gonçalo Cristóvão. Duvido, no entanto, que todos os portuenses saibam quem foi esse cidadão ilustre que teve honras de ter o seu nome na toponímia local. Vou dar uma ajuda: o homem chamava-se Gonçalo Cristóvão Teixeira Coelho de Melo Pinto de Mesquita. Assim mesmo, sem tirar nem pôr. E era muito rico. Aqui, no Porto, era senhor da Quinta do Bonjardim uma vasta propriedade ao longo da qual, já no tempo de seu filho, José António, foram construídas, a partir de 1831, além da rua a que foi dado o seu nome, mais as ruas de João das Regras e de Camões.
Gonçalo Cristóvão viveu no século XVIII. No tempo do governo do célebre Marquês de Pombal que um dia o mandou prender e atirar para o desconforto das célebres prisões da Junqueira, em Lisboa, sem que o fidalgo do Bonjardim, como era conhecido o Gonçalo Cristóvão soubesse quais as verdadeiras causas de sua detenção. Aventaram-se inúmeras hipóteses, como, por exemplo, a de que o fidalgo teria facilitado a fuga do país a um dos intervenientes no atentado contra a vida de D. José I. Ao que parece, no entanto, os motivos foram outros, bem mais fúteis e são revelados, por Camilo Castelo Branco, na sua obra “Perfil do Marquês de Pombal”.
A Quinta do Bonjardim era uma bela propriedade. Como o próprio nome deixa adivinhar possuía um dos mais belos jardins, não apenas do Porto mas do país inteiro com belas espécies arbóreas, muito bem tratado e melhor cultivado. Ao que parece, o Marquês de Pombal, a quem Gonçalo Cristóvão chamava simplesmente, com algum desdém, Sebastião José, pretendeu casar um filho seu com uma filha do riquíssimo fidalgo do Bonjardim que recusou a proposta dizendo que “não porque um carvalho não ficaria bem num bom jardim…”.
A fazer fé na sabedoria popular terá sido a mordacidade da resposta que irritou o ministro todo poderoso de D. José e custou ao Gonçalo Cristóvão o ter penado longos anos nas masmorras da Junqueira.