O jogo do Benfica em Munique tinha tudo para correr mal. Do outro lado, uma das maiores potências do futebol mundial, recheada de campeões do mundo e outras estrelas, orientada por um dos melhores (senão mesmo o melhor) treinadores da atualidade. E começou da pior maneira, sofrendo um golo logo nos instantes iniciais, que parecia confirmar que a equipa portuguesa não escaparia de mais uma página negra, igual às que vivera sempre que visitara a capital bávara.
O que se assistiu, porém, na restante hora e meia de futebol foi surpreendente e é a prova de que a recuperação que o Benfica tem vindo a fazer desde o início da temporada é tudo menos obra do acaso. A forma digna, personalizada e empenhada com que a equipa respondeu ao golo foi impressionante. Não se desmanchou, foi capaz de se recompor e fazer frente ao poderoso Bayern. Talvez a equipa alemã tenha facilitado por acreditar que o jogo ia ser um passeio, mas a verdade é que apanhou alguns sustos, foi beneficiado por um penalti não assinalado e, mais do que tudo, percebeu que vai ter de se empenhar a sério, se quiser garantir a qualificação para as meias-finais da Champions, na próxima semana, quando visitar o Estádio da Luz.
Que fique claro que esta realidade não esconde o facto de o Benfica ter saído com uma derrota de Munique. E que as derrotas, pelos menos em grandes equipas, não se festejam. Mas a desta terça-feira foi um mal menor para o Benfica. Obriga o clube da Luz a vencer por mais de um golo de diferença no jogo da segunda mão, o que torna a passagem às meias-finais uma tarefa ainda mais complicada do que já era. Mas quem é que, há uns meses, acreditaria sequer que o Benfica iria, nesta altura da época, estar entre as oito melhores da Europa, quanto mais em posição de poder integrar o lote das quatro semifinalistas, depois de já ter jogado em Munique?
Só o facto de não ter sido, como se se esperava, arrasado pelo Bayern já seria, por si só, um dado muito positivo. Mas a capacidade demonstrada de enfrentar o adversário olhos nos olhos e de conseguir disputar o jogo até ao último minuto foi surpreendente. Mais ainda quando se percebe que, entre os onze titulares do Benfica, dois deles (Renato Sanches e Lindelof), no início da temporada, jogavam na equipa B e outro (Ederson), na época passada, defendia as redes do Rio Ave. Se a isto acrescentarmos o facto de a equipa que alinhou em Munique ter sido a mesma que quatro dias antes defrontara o Sporting de Braga e que, provavelmente, enfrentará no próximo sábado a Académica, percebemos facilmente que o resultado foi mesmo o único dado negativo da deslocação a Munique. Tudo o resto foi positivo e pode ser determinante para o que falta da temporada.
Em primeiro lugar pela imagem internacional que o Benfica projeta. Depois, pela demonstração de força, saúde física e disponibilidade mental que, a manterem-se, serão determinantes para a equipa continuar à frente na luta pelo título de tricampeão nacional. E finalmente – e porque estas coisas também contam -, por ter sido uma resposta categórica de Rui Vitória ao antecessor Jorge Jesus. É que convém não esquecer que o Benfica chega a esta fase da época à frente sem nunca ter feito a gestão do plantel, selecionando a prioridade dos objetivos da equipa. Ao contrário do treinador do rival de Alvalade, que tanto gosta de rodar as equipas e poupar jogadores numas competições para apostar noutras. E que, se bem se lembram, quando o fez, esta temporada, no Sporting, viu a equipa ser afastada das competições europeias e perder toda a vantagem que levava no campeonato…