Numa altura em que estão disputadas dez jornadas do campeonato, o topo da classificação não podia ser a tradução mais fiel do que se tem passado em campo. O Sporting comanda porque merece e, sobretudo, porque tem tido aquilo mais tem faltado aos dois principais adversários: o treinador.
Desde o dia em que foi confirmada a contratação de Jorge Jesus por parte do Sporting que se esperava a confirmação desse efeito. E, para já, ela ai está. O Sporting lidera porque vem demonstrando tudo aquilo que as equipas orientadas por este treinador no passado evidenciaram: entrega total, objetividade, trabalho e competência. O resto tem vindo por arrasto. Houve jogos ganhos com superioridade total (o da Luz foi o mais evidente), outros com mais sofrimento e menos talento, alguns com sorte e até beneficiando com erros de arbitragem. Mas em todos eles se viu a determinação característica das equipas de Jesus. Se não se conseguir ganhar com nota artística, há que ganhar à força, na raça, com menos um ou no remate final.
É evidente que os erros de arbitragem de que beneficiou nas últimas duas vitórias tangenciais do Sporting para o campeonato (frente ao Estoril e o Arouca) já fizeram levantar o coro das críticas. E é óbvio que muitos vêem nestes acontecimentos a decorrência lógica da campanha feroz que Bruno de Carvalho lançou contra a arbitragem e os alegados favorecimentos ao Benfica. É verdade que a pressão sobre a arbitragem tem vindo a beneficiar o Sporting. Em caso de dúvida, os árbitros pendem sempre para não prejudicar quem mais se queixa. A estratégia é conhecida e nem sequer foi inventada por Bruno de Carvalho. Mas reduzir a liderança do Sporting a estes acontecimentos seria desvalorizar o papel da equipa e do seu treinador. É um risco que Bruno Carvalho tem corrido. Ao tentar fazer crer que o Benfica ganhava porque era favorecido pelos árbitros, corre agora o risco de que lhe digam que o Sporting não ganha porque tem Jesus, mas porque o “colinho” mudou de lado da Segunda Circular. Ora, o que era injusto ontem é injusto hoje.
Jorge Jesus trouxe ao Sporting o pragmatismo e a determinação dos vencedores. Com um plantel muito mais curto do que os principais concorrentes, tem conseguido focar-se no essencial, impondo-se semana após semana, no campeonato. E mostra, com isso, ser uma verdadeira mais-valia. Algo que, nos seus adversários, manifestamente, não acontece. O que o Sporting tem de sobra, falta claramente no FC Porto e Benfica.
No Dragão reside, uma vez mais, o melhor plantel em Portugal. A grande vendas no defeso vieram juntar-se contratações certeiras. À exceção da posição de ponta-de-lança, todos os setores da equipa foram reforçados. Casillas dá mais tranquilidadedo que Fabiano. Máxi e Layun fazem esquecer Danilo e Alex Sandro. No centro do terreno, Imbula, André André e Danilo juntaram-se a Ruben Neves, Herrera e Evandro e permitem infinitas combinações. E, na frente, também sobram opções: Tello, Brahimi, Corona, Bueno, Varela… O que falta, afinal? Falta Lopetegui. Ou melhor, continua a prevalecer a inconsistência de um treinador que insiste numa rotatividade exagerada, não conseguindo tirar todo o partido de um grande plantel.
Na Luz, o que se passa é diferente. Rui Vitória continua a ser um peixe fora de água. Amarrado por uma estrutura que apostou tudo no viveiro do Seixal e tem perdido demasiado tempo preocupada com o treinador que saiu e menos com o que lá está, o treinador do Benfica tem sentido enormes dificuldades em construir uma equipa sólida. Tem feito uma boa carreira na Liga dos Campeões, vai conseguindo vencer os jogos menos exigentes, mas falhou em momentos decisivos (no Dragão e contra o Sporting). E, pior que isso, não consegue ver a equipa a controlar as partidas. O modelo de jogo é errático. Está demasiado dependente dos rasgos de Gaitán, Jonas e, agora, do menino Gonçalo Guedes. E sempre à mercê de um adversário mais consistente.
Tudo isto pode mudar, é verdade. Nada está definido à décima jornada. Lopetegui pode finalmente acertar e passarmos a ver um FC Porto demolidor. O Benfica pode estabilizar e, com um ou outro retoque de Inverno, recuperar o tempo perdido. E, no Sporting, pode perceber-se que a manta é mesmo curta e que só Jesus não chega. Tudo isso é verdade, mas são suposições. O que conta, para já, é que o Sporting lidera isolado e que, nunca nas épocas em que foi campeão, Jesus somava tantos pontos à décima jornada.